Um blog do Ministério Fiel
O Senhor e a sua Palavra vivificadora
O aspecto vivificante da Palavra de Deus
Ainda que não detalhe as circunstâncias, o fato é que o salmista está em situação de grande angústia. Ora então ao Senhor: “Estou aflitíssimo (anah ad) (= intensamente aflito, humilhado, oprimido); vivifica-me (hayah), SENHOR, segundo a tua palavra” (Sl 119.107).
Quando estamos muito aflitos, conforme o salmista, ficamos como que sem vida, entregues e prostrados. Perdemos o vigor e a tendência é de irmos sucumbindo ao desespero. As soluções caseiras e mesmo milagrosas de solução de problemas se mostram inúteis.
Aqui o salmista, tendo a Palavra de Deus como fundamento de sua fé e, por isso mesmo, de sua esperança, clama a Deus, porque somente Ele poderá conceder vida à sua alma tão enfraquecida e sem ânimo, quase que totalmente entregue.
O caminho buscado pelo salmista é o da Palavra que nos conduz à oração. A Palavra nos instrui, dirige e consola, reforçando em nosso coração a confiança que devemos ter em Deus em todas as circunstâncias.
Por meio da Palavra e da oração cobramos ânimo não com pensamentos de autoajuda ou ficções vazias, como pensar positivo ou seguindo o conselho de que devemos ter fé, ainda que não saibamos em que ou em quem. Não. Cobramos ânimo em Deus. Ele que é o autor, preservador e fonte da vida. Por meio de sua Palavra, em retidão e veracidade, nos faz reviver, nos restaurando em nosso vigor, confiante em suas promessas.
Por isso, suplicam os salmistas:
A minha alma está apegada ao pó: vivifica-me (hayah) segundo a tua Palavra. (Sl 119.25).
Muitas, SENHOR, são as tuas misericórdias; vivifica-me (hayah), segundo os teus juízos. (Sl 119.156).
Vivifica-me (hayah), SENHOR, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira da tribulação (tsarah) a minha alma” (Sl 143.11)
Ao mesmo tempo, temos o testemunho do salmista a respeito do poder vivificador da Palavra: “O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica (hayah)” (Sl 119.50). “Nunca me esquecerei dos teus preceitos, visto que por eles me tens dado vida (hayah)” (Sl 119.93).
Essa não é uma experiência única. Ele a tem vivenciado em outras ocasiões. Já enfrentou muitas aflições mas, ao mesmo tempo, o alívio de Deus por meio da Palavra tem sido seu companheiro. Por isso suplica: “Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia (tsar), me tens aliviado (rachab);[1] tem misericórdia de mim e ouve a minha oração” (Sl 4.1).
Angústia, estreiteza
Davi fala de sua angústia que o fazia buscar a Deus. A palavra é usada de forma literal e figurada, apresentando a ideia de atar, ser estreito,[2] por isso o sentido de aflição, tribulação.
Descreve a situação aflitiva de alguém na adversidade, sentindo-se comprimido, apertado, preso. Portanto a sensação de ficar num canto apertado, espremido, amargurado.
A nossa palavra angústia é procedente do latim, sendo documentada desde o século XIV. Significa estreiteza, limite, restrição, situação crítica.
A importância do espaço
Notemos que a questão espacial é muito importante para a nossa qualidade de vida e sobrevivência. Deus quando formou o homem o colocou num belo jardim criado especialmente para este fim (Gn 2.8-15). O pecado fez com que o homem perdesse aquele maravilhoso espaço (Gn 3.23-24). Agora o espaço é outro, com lutas e dificuldades (Gn 3.17-19). O espaço do Éden, o homem já não pode mais recuperar.
Figuradamente dizemos que nos sentimos sem espaço dentro da empresa na qual trabalhamos ou que há ou não espaço para nos desenvolvermos. Do mesmo modo, alguém diz que se sente sufocado no casamento, bem como falamos de oxigenar os negócios ou a nossa empresa com novas ideias. Reparem a relação entre espaço, ar e vida.
Espairecer
Quando permanecemos muito tempo dentro de casa, ou em um ambiente fechado executando muito intensamente determinada atividade que exige uma intensa concentração, falamos de sair para “espairecer”, voar calmamente, andar ao acaso.
Davi diz que Deus lhe tem concedido espaço, alívio, leveza, largueza.[3] Numa linguagem mais figurada ainda, Deus torna o nosso coração como que uma praça, ou seja, um amplo e largo lugar.[4]
Somente Deus por meio de suas promessas e instruções pode nos vivificar de forma genuína e duradoura.
O Senhor é o nosso pastor que nos guia calmamente em justiça, nos orientando, corrigindo o nosso caminhar, nos vivificando por meio de suas promessas, e pelo aprendizado do andar confiante pelos seus caminhos. De fato, nós não precisamos de mais nada.
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[1] Sl 25.17.
[2]Palavra derivada de (tsarar), sendo empregada para referir-se a um lugar pequeno demais para as pessoas morarem (2Rs 6.1; Is 49.19-20); cobertor estreito (Is 28.20). Daí, diversos outros sentidos: prender a pedra na funda (Pv 26.8) (A palavra não aparece na edição de ARA); remendar um odre de vinho velho (Js 9.4). (Ver: John E. Hartley, Tsãrar: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1309-1310; I. Swart; Robin Wakely, Srr: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 851-856).
[3]“Alargaste (רחב) (râchab) sob meus passos o caminho, e os meus pés não vacilaram” (Sl 18.36). “….não me entregaste nas mãos do inimigo; firmaste os meus pés em lugar espaçoso (merchab) (largo, folgado)” (Sl 31.8). Ver também: Sl 35.21 (escancarar); Sl 119.32 (alegrar) (literalmente: “alargou”, concedendo-lhe entendimento); Pv 18.16 (alargar). Quanto ao emprego e dificuldade da tradução da expressão, ver: William White, Rãhab: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1415-1416. Consulte também: Louis Jonker, Rhb: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 1085-1087).
[4] Sl 144.14; Pv 1.20; 5.16; 7.12.