O Senhor e a sua Palavra para ser refletida

Devemos desejar conhecer

Como nos referimos, a oração do salmista é: “Faze-me, SENHOR, conhecer  (yada) os teus caminhos (derek), ensina-me (lamad) as tuas veredas (orach)” (Sl 25.4).

Um dos perigos para nós cristãos é simplesmente não usar a nossa mente.

A nossa conversão a Deus envolve também uma nova mente, uma nova maneira de perceber a realidade, vendo o real como de fato é ainda que não exaustivamente. Nosso coração e mente precisam ser convertidos ao Senhor.[1]

É necessário que usemos a nossa mente em submissão a Deus.[2]

A nossa oração pode ser totalmente fantasiosa se o que peço a Deus nada tem a ver com a minha postura. Se peço a Deus discernimento devo me colocar atento aos sinais da instrução de Deus. A sua Palavra deve ser o alvo de minha meditação contínua e a modeladora de meu pensar e agir.

O salmista narra que orava ao Senhor e permanecia vigilante à sua resposta: “De manhã, SENHOR, ouves (shama) a minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando” (Sl 5.3).

Agir diferentemente, seria o equivalente a um filho que pedisse o pai para ajudá-lo na compreensão de um complexo exercício escolar e quando o pai começasse a explicar, ele ligasse o seu poderoso “Sony Plastation 5 825gb”, colocasse o fone de ouvido e pedisse ao pai  para falar mais baixo senão iria atrapalhá-lo em sua concentração da busca de seu recorde…

Se pedimos a Deus que nos ensine o seu caminho devemos permanecer atentos à resposta de Deus e, à compreensão do caminho já apresentado por Ele mas, que ainda não havia atentado para aquela direção proposta.

O nosso Deus não está em silêncio. Ele continua a falar por meio de sua Palavra e a nos conduzir pelo Espírito da Palavra na compreensão e aplicação dessa Palavra na condução de nossa vida.

Contudo, as coisas não são tão simples como permanecer dormindo, em “stand-by” aguardando uma manifestação de Deus que nos tire de nosso marasmo e comodismo espiritual. Não é assim que Deus age. Portanto, não deve ser assim o nosso comportamento.

A nossa oração, sendo sincera, exige engajamento santo com aquilo que solicitamos.

Se pedimos a Deus que nos dê um emprego, devemos procurar intensamente um lugar para trabalhar.

Se pedimos a Deus que nos capacite a cumprir nossas tarefas, devemos acordar cedo, trabalhar arduamente usando intensamente da inteligência que Ele mesmo nos deu.

Se queremos conhecer os caminhos de Deus devemos estar atentos à sua Palavra em oração e aos sinais do tempo.

Devemos aprender a entender a vontade de Deus em todas as circunstâncias e submetermo-nos a ela.

A nossa mente deve ser tão devotada a Deus como o nosso coração. Excluí-la, significa não amar a Deus como Ele requer. Deus deseja que o amemos e o sirvamos também com nossa inteligência: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mt 22.37-38).

Cristianismo é radical

O Cristianismo, ao contrário do que muitos nos querem fazer pensar, é extremamente radical e singular. Ele se fundamenta na pessoa histórica e central de Jesus Cristo, não somente em seus e ensinamentos.[3] A fé cristã é uma Pessoa. Nessa profissão de fé há toda uma inclusiva complexidade doutrinária revelada por Deus nas Escrituras.

O caminho da heresia passa necessariamente por desejar algo além de Cristo, o Deus encarnado conforme é-nos oferecido na Escritura.[4]

Além de Cristo nada temos. Nele habita a plenitude da divindade. Nele temos a convergência de todo conhecimento e sabedoria de Deus, onde tudo subsiste (Cl 1.16-17; 2.3,8).

Cristianismo sustenta verdades distintivas

Há o perigo de nós cristãos, justamente em uma arrogante pretensão por algo mais, praticarmos um “subcristianismo”,[5] destituído de sua mensagem central: Jesus Cristo.

O Cristianismo, como não poderia deixar de ser, sustenta verdades que – ainda que nós cristãos, possamos divergir em muitos pontos – o distingue das demais religiões. Deste modo, sustentando a fé cristã, bem como qualquer outra religião ou sistema de crenças, estaremos nos colocando em oposição a outras formas de perceber e, por isso mesmo, de crer.

Assim sendo, a tentativa ingênua de criar uma compatibilidade universal de nossa fé consiste justamente em negar os seus aspectos distintivos e particulares. Se fosse para ser assim, para que serviria a fé cristã?

A fé cristã sustenta que outras tradições podem conter verdades parciais, mas, naquilo que o Cristianismo crê de forma distintiva, é a verdade e as demais compreensões estão erradas.[6]

O Cristianismo, partindo da revelação do Deus transcendente e pessoal, apresenta o caminho da salvação em Jesus Cristo. A fé cristã é bastante objetiva quanto a isso. Sem Cristo, não há caminho redentor para o homem ser reconciliado com Deus. Por isso, fora de Jesus Cristo, o Deus-Encarnado, não há salvação (Jo 3.16; 14.6; At 4.12; 1Tm 2.5).

No entanto, essa fé além de consistente, é capaz de apresentar respostas às indagações mais profundas da existência humana, demonstrando a sua fundamentação metafísica, a sua compreensão (epistemologia) e valores condizentes com a vida do homem em sua integridade (ética).

Sem sentimento de arrogância ou superioridade

Isso não significa senso de superioridade, arrogância ou inimizade. A firmeza cristã envolve gratidão a Deus, respeito ao nosso próximo e missão amorosa que redunda no testemunho amoroso-confrontador da Palavra de Deus com o mundo.

Usando uma figura do teólogo luterano de Johann C. Blumhardt (1805-1880), citada por Bavinck (1854-1921), podemos dizer que o cristão precisa passar basicamente por duas conversões: converter-se da vida natural para a vida espiritual e depois, da vida espiritual para a vida natural. Isso pode ser ilustrado no salmo: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra” (Sl 73.25).[7]

O nosso estudo e testemunho exigem o uso abalizado de nossa inteligência, a vivência de nossa fé na história, dentro das circunstâncias nas quais estamos inseridos.

Temos uma estrutura de pensamento consistente, coerente e demonstrável. Precisamos ter clareza quanto a isso a fim de não sucumbirmos a uma estrutura de pensamento e valores pagãos. Sem uma sólida fundamentação teórica nos tornaremos joguetes fáceis e ingênuos nas mãos de teóricos e teorias totalmente incompatíveis com a fé cristã e, portanto, com a totalidade da realidade.

“Ser radicalmente cristão, escreve Poythress, significa não aceitar mais ingenuamente a mensagem cultural da secularidade”.[8] De fato, pressuposições seculares, com referenciais materialistas e pretensões autônomas, não poderão ser compatíveis com a fé cristã.

Rejeição do racionalismo autônomo e negação da razão

Por sua vez, a rejeição de um racionalismo autônomo cuja única referência seria o eu pensante, uma egorreferência apelidada de “maioridade”,[9] tão sonhada pelo iluminismo, não significa o abandono da racionalidade na compreensão e transmissão da mensagem do evangelho.

Indicando a responsabilidade que temos de consagrar as nossas mentes ao serviço de Deus, em 1980, Charles Habib Malik (1906-1987), filósofo e diplomata cristão de origem libanesa, declarou na inauguração do Billy Graham Center no campus do Wheaton College:

Devo ser franco com vocês: o maior perigo que o cristianismo evangélico americano enfrenta é o anti-intelectualismo. A mente, compreendida em suas maiores e mais profundas faculdades, não tem recebido suficiente atenção. No entanto, a educação intelectual não ocorre sem uma profunda imersão por alguns anos na história do pensamento e do espírito. Aqueles que estão com pressa de saírem da faculdade e começarem a ganhar dinheiro ou a servir na igreja ou a pregar o evangelho não têm ideia do valor infinito de se gastar anos conversando com as maiores mentes e almas do passado, desenvolvendo, afiando e ampliando seu poder de pensamento. O resultado é que a arena do pensamento criativo é abandonada e entregue ao inimigo. Quem, entre os acadêmicos evangélicos, pode enfrentar os grandes pensadores seculares em seus próprios termos acadêmicos? Quem, entre os acadêmicos evangélicos, é citado pelas maiores autoridades seculares como fonte normativa em história, filosofia, psicologia, sociologia ou política? O modo evangélico de pensar teria a menor chance de se tornar dominante nas grandes universidades da Europa e América que moldam toda nossa civilização com seu espírito e suas ideias? Por uma maior eficácia no testemunho de Jesus Cristo, assim como pela sua própria causa, os evangélicos não podem se dar ao luxo de viver na periferia da existência intelectual responsável.[10]

Reflexão e oração

Na Segunda Epístola destinada a Timóteo, Paulo se despede. Apresenta instruções finais e palavras de encorajamento ao seu discípulo mais próximo. Escreve então: Pondera (= atentar, compreender, pensar, entender) o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão (= entendimento, inteligência, discernimento)[11] em todas as coisas” (2Tm 2.7).

Pensar, pensar sobre o pensar é algo salutar e muito desafiante e abençoador. Somos destinados ao pensar. Devemos nos valer deste privilégio, próprio do ser humano, concedido pelo Criador.

Precisamos aprender que a fé não elimina a nossa responsabilidade de pensar.

Pensar não exclui a nossa fé. Ambas as atitudes devem caracterizar a vida do cristão a fim de que a nossa fé seja compreensível e a nossa razão seja guiada pela fé. A piedade para tudo é proveitosa. Portanto, o nosso raciocinar deve também ser acompanhado pela piedade.

A nossa fé e a nossa inteligência devem caminhar de mãos dadas em submissão a Deus. O pensar confuso, destituído de fundamento, leva-nos à confusão de ideias, conclusões, deliberações, prática e ensino.

O seu repetir e propagar cria uma estagnação social em todos os níveis. A confusão intelectual é uma das raízes de repetições infindáveis que sufoca a possibilidade de crescimento, ajudando a perpetuar o erro, o equívoco e o que é obsoleto em sua constituição e prática.

Calvino (1509-1564), o maior expoente da Reforma Protestante, escreveu com propriedade demonstrando que é o Espírito quem deve guiar nossa razão:

Chamo serviço não somente o que consiste na obediência à Palavra de Deus, mas também aquele pelo qual o entendimento do homem, despojado dos seus próprios sentimentos, converte-se inteiramente e se sujeita ao Espírito de Deus. Essa transformação, que o apóstolo Paulo chama renovação da mente [Rm 12.2], tem sido ignorada por todos os filósofos, apesar de constituir o primeiro ponto de acesso à vida. Eles ensinam que somente a razão deve reger e dirigir o homem, e pensam que só a ela devemos ouvir e seguir; com isso, atribuem unicamente à razão o governo da vida. Por outro lado, a filosofia cristã pretende que a razão ceda e se afaste, para dar lugar ao Espírito Santo, e que por Ele seja subjugada e conduzida, de modo que já não seja o homem que viva, mas que, tendo sofrido com Cristo, nele Cristo viva e reine.[12]

Compreensão vem do Senhor

O Senhor nos dá compreensão, nos faz ter entendimento de toda a realidade. O real não é uma mera utopia, antes, é acessível e, portanto, conhecível.

Não vivemos num mundo de imagens, mas, de realidade, por mais desagradável que essa possa se configurar a nós em determinadas circunstâncias. No entanto, precisamos refletir a respeito.

Não basta ler, é preciso refletir. O que me faz pensar que o caminho para a compreensão das coisas é um pensar intenso, humilde e submisso a Deus. Nem sempre as coisas se mostram a nós de forma clara e evidente. Precisamos pensar a respeito.

Por vezes pensamos que o pensar com intensidade é uma tarefa exclusiva para profissionais, quem sabe, filósofos. No entanto, o Cristianismo apresenta um desafio constante ao pensamento, à análise e ponderação.[13]

O homem é destinado ao pensamento. Na Criação vemos que Deus planeja, executa e avalia a Sua obra (Gn 1.26-31). Ao mesmo tempo, lemos que Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Por isso não podemos conceber o ser humano no emprego adequado de seus dons, não se valer naturalmente dessa característica divina que lhe foi concedida e, que o caracteriza.[14]

Adler (1902-2001), resume assim a vocação do ser humano ao pensamento, à filosofia:

Não podemos deixar de repetir que a filosofia é assunto para todos. Ser um ser humano é ser dotado com a propensão de filosofar. Em certa medida, todos nos ocupamos de pensamentos filosóficos durante o curso de nossas vidas. Reconhecer isso não é o bastante. Também é necessário compreender por que é assim e qual é o negócio da filosofia. A resposta, em uma palavra, é ideias. Em duas palavras, é grandes ideias – as ideias básicas e indispensáveis para compreendermos a nós mesmos, nossa sociedade e o mundo em que vivemos.[15]

Outro aspecto que quero destacar é que pelo fato de nosso pensamento fluir com certa facilidade sobre determinados assuntos, termos opiniões formadas ou uma linha de pensamento que nos parece coerente e sensata, nem por isso podemos nos acomodar em nossos pensamentos.

É preciso que desenvolvamos a arte de pensar sobre o pensar. O pecado também afetou a nossa estrutura de pensamento e consequentemente o ato de pensar e, necessariamente, o processo de reflexão.[16] Muito do que vemos e priorizamos está associado não ao que vemos, mas, à nossa predisposição intelectual para ver como vemos.[17]

Como cristãos, talvez por partirmos do pressuposto equivocado de que a fé cristã é apenas uma questão de sentimento, corrermos o risco de reduzir a nossa fé e as Escrituras a apenas esta esfera da realidade. Deste modo, o nosso cultuar limita-se ao que sentimos, ainda que nada compreendamos ou mesmo, nos esforcemos por isso. Não podemos ser cristãos autênticos sem o cultivo de uma mente que também busque o amadurecimento.[18]

Piper é preciso:

Pensar não é o alvo da vida. Pensar, como o não pensar, pode ser o alicerce para a vanglória. Pensar, sem oração, sem o Espírito Santo, sem obediência e sem amor ensoberbecerá e destruirá (1Co 8.1). Mas o pensar em submissão à poderosa mão de Deus, o pensar saturado de oração, o pensar guiado pelo Espírito Santo, o pensar vinculado à Bíblia, o pensar em busca de mais razões para louvar e proclamar as glórias de Deus, o pensar a serviço do amor – esse pensar é indispensável em uma vida de pleno louvor a Deus.[19]

Sabemos que cada época é, de certa forma, cativa de valores que são apresentados com status de racionalidade, objetividade, universalidade e perpetuidade. É extremamente difícil escapar dos encantos sedutores de nossa geração.[20]

Contrariamente, o que Paulo instrui a Timóteo é no sentido de que ele reflita sobre o que o Apóstolo lhe escreveu buscando a compreensão no Senhor. Reflexão e oração caminham juntas. Devemos, portanto, pensar sobre o pensar rogando a Deus a sua iluminação.[21]

Deus, por graça, nos dará o discernimento sobre todas as coisas. O pensar, orar e discernir, deve ser um prelúdio à submissão sincera. Pense sobre isso.

Calvino comenta:

A essência da sabedoria celestial consiste nisto: que os homens, tendo seus corações fixos em Deus através de uma fé genuína e não fingida, o invoquem; e que, com o propósito de manter e nutrir sua confiança nele, se exercitem em meditar sinceramente nesses benefícios; e que, então, se lhe entreguem em obediência sincera e devotada.[22]

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[1]Ver: Oliver Barclay, Developing a Christian Mind, Great Britain: Christian Focus, 2006, p. 16-17; Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 133-138.

[2]“A razão é boa e necessária enquanto souber submeter-se à verdade” (William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 15).

[3] Vejam-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 23, 32-33; Steven J. Lawson, O tipo de pregação que Deus abençoa,  São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 59; Alister E. McGrath, A Gênese da doutrina: fundamentos da crítica doutrinária, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 195ss. “Qualquer coisa que se apresente como cristianismo, mas que não insista na absoluta e essencial necessidade de Cristo, não é cristianismo. Se Ele não for o coração, a alma e o centro, o princípio e o fim do que é oferecido como salvação, não é a salvação cristã, seja lá o que for” (D. M. Lloyd-Jones, O Supremo propósito de Deus: Exposição sobre Efésios 1.1-23, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 143). “O evangelho nos confronta com fatos. Ele se baseia completamente numa pessoa; está fundamentado em fatos definidos que ocorreram ao longo da história. (…) Ele me conduziu por entre os fatos, ao longo do túnel das trevas em direção à aurora que ilumina a outra extremidade” (D.M. Lloyd-Jones, Não se perturbe o coração de vocês, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2016, p. 29).

[4] “Todos os erros, consequentemente, que se encontram no papado devem ser tidos como procedentes desta ingratidão – que, não descansando satisfeitos tão-somente com Cristo, se entregaram a doutrinas estranhas” (João Calvino, Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2010, (Cl 2.4), p. 533).  Veja-se João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.17), p. 100.

[5] Expressão de Schaeffer. (Francis A. Schaeffer, Poluição e Morte do Homem, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 59).

[6] Como afirmou Lewis: “O cristão tem de admitir que, nos pontos em que o Cristianismo diverge de outras religiões, ele é verdadeiro, e as outras religiões são falsas” (C.S. Lewis, A Essência do Cristianismo Autêntico, São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, [s.d.], p. 19).

[7]H. Bavinck, The Philosophy of Revelation, New York: Longmans, Green, and Co., 1909, p. 242.

[8] Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 19. No entanto, à frente admite: “Os cristãos não são totalmente consistentes com a fé que professam” (p. 61).

[9] Kant (1724-1804), ilustrou bem o espírito da sua época, na sua famosa definição de Iluminismo. Em 1784, em um artigo para uma revista, Kant se perguntou: “O Que é o Iluminismo?”. Ele respondeu:

“O Iluminismo é a emancipação de uma menoridade que só aos homens se devia. Menoridade é a incapacidade de se servir do seu próprio intelecto sem a orientação de  outro. Só a eles próprios se deve tal menoridade se a causa dela não for um defeito no intelecto, mas a falta de decisão e de coragem de se servir dele sem guia. ‘Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio intelecto!’ é o lema do Iluminismo”. (E. Kant, Que es la Ilustracion?: In: E. Kant, Filosofía de la Historia, 3. reimpresión, México: Fondo de Cultura Económica, 1987, p. 25. O mesmo texto encontra-se também: In: I. Kant, A paz perfeita e outros opúsculos, Lisboa: Edições 70, (1988), p. 11-19. Tillich interpretando esta concepção de Kant, diz: “Kant achava que as pessoas vivem mais despreocupadas quando se deixam guiar por líderes religiosos, chefes políticos ou orientadores educacionais. Queria, porém, acabar com essa segurança. Achava que essa dependência contradizia a verdadeira natureza humana” (Paul Tillich, Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX, São Paulo: ASTE, 1986, p. 47).

Quase de 100 anos depois, essa “maioridade” foi saudada jubilosamente por Nietzsche (1844-1900), que em 1882 escreveu:

            “O maior dos acontecimentos recentes – que ‘Deus está morto’, que a crença no Deus cristão caiu em descrédito – já começa a lançar suas primeiras sombras sobre a Europa. Para os poucos, pelo menos, cujos olhos, cuja suspeita nos olhos é forte e refinada o bastante para esse espetáculo, parece justamente que algum sol se pôs, que alguma velha, profunda confiança virou dúvida: para eles, nosso velho mundo há de aparecer certo dia a dia mais poente, mais desconfiado, mais alheio, mais ‘velho’. (…) De fato, nós filósofos e ‘espíritos livres’ sentimo-nos, à notícia de que ‘o velho Deus está morto’, como que iluminados pelos raios de uma nova aurora; nosso coração transborda de gratidão, assombro, pressentimento, expectativa – eis que enfim o horizonte nos aparece livre outra vez, posto mesmo que não esteja claro, enfim podemos lançar outra vez ao largo nossos navios, navegar a todo perigo, toda ousadia do conhecer é outra vez permitida. O mar, nosso mar, está outra vez aberto, talvez nunca dantes houve tanto ‘mar aberto’” (F. Nietzsche, Gaia Ciência, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 32), 1974, § 343, p. 219-220. Vejam-se: F. Nietzsche, O Anticristo: Ensaio de uma Crítica do Cristianismo, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 32), 1974, § 16, p. 357-358; F. Nietzsche,  Assim Falou Zaratustra, São Paulo: Hemus, 1977,  p. 238-239, 264-265).

[10]Apud Garrett J. DeWeese; J.P. Moreland, Filosofia Concisa: uma introdução aos principais temas filosóficos, São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 154-155. (Do mesmo modo em: J.P. Moreland; William L. Craig, Filosofia e Cosmovisão Cristã, São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 15; William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 14-15).

            Cerca de 20 anos antes deste pronunciamento, Blamires, em sua obra clássica, A mente Cristã, constatava com tristeza (1963):

            “Não existe mais uma mente cristã. Existe ainda, naturalmente, uma ética cristã, uma prática cristã e uma espiritualidade cristã. O cristão moderno, como ser moral, subscreve a um código diferente daquele do não cristão. Como membro da igreja, ele assume obrigações e observâncias ignoradas pelo não-cristão. Como ser espiritual, em oração e meditação, ele se esforça para cultivar uma dimensão de vida inexplorada pelo não-cristão. Mas como um ser pensante, o cristão moderno já sucumbiu à secularização” (Harry Blamires, A Mente Cristã: como um cristão deve pensar? São Paulo: Shedd Publicações, 2006, p. 15-16). Sobre este ponto, veja-se a excelente e densa obra de Carson: D.A. Carson, O Deus amordaçado: o Cristianismo confronta o pluralismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2013.

[11] Su/nesij, ocorre 7 vezes no NT.: Mc 12.33; Lc 2.47; 1Co 1.19; Ef 3.4; Cl 1.9; 2.2; 2Tm 2.7, significando, discernimento, inteligência, envolvendo, conforme vimos, a ideia de reunir as evidências para avaliar e chegar a uma conclusão. Este “entendimento” deve ser fruto de uma reflexão, recorrendo, contudo à iluminação de Deus (2Tm 2.7).

[12] João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.17), p. 184 (Veja-se a nota 5 in loc).

[13]“Pensar não é tarefa somente para grandes filósofos. Nós estamos todos envolvidos. “Precisamos pensar profundamente no que significa o cristianismo e sua relação com as questões culturais” (H.R. Rookmaaker, A Arte não Precisa de Justificativa, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 32).

[14]“Não posso conceber um homem sem pensamento: seria uma pedra ou um animal” (Blaise Pascal, Pensamentos, São Paulo: Abril Cultural, 1973 (Os Pensadores, v. 16), VI.339. p. 127. Veja-se também, p. 128 e 130).

[15]Mortimer J. Adler, Como pensar sobre as grandes ideias, São Paulo: É Realizações, 2013, p. 21.

[16] “Os cristãos precisam pensar sobre o pensamento. (…) A maioria dos seres humanos, contudo, nunca pensa profundamente sobre o ato de pensar. (…) Devido à devastação intelectual causada pela queda, temos a obrigação de pensar sobre o ato de pensar. Essa é a razão pela qual o discipulado cristão é, também, uma atividade intelectual” (R. Albert Mohler Jr., O modo como o mundo pensa: Um encontro com a mente natural no espelho e no mercado. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 44,45,54).

[17] “Você não precisa acreditar em tudo o que pensa, e a razão é simples: nós vemos o que queremos ver. (…) O nervo óptico, o único nervo com ligação direta com o cérebro, na verdade transmite mais impulsos do cérebro para o olho do que vice-versa. Isto significa que seu cérebro determina o que o olho vê. Você já está precondicionado. É por isso que, se quatro pessoas presenciarem um acidente, cada uma vai relatar algo diferente. Precisamos nos lembrar, e ensinar aos outros, que não devemos acreditar em tudo o que pensamos” (Rick Warren, A batalha pela sua mente. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 27). “Em suas Memórias, Ludwig Richter [1803-1884] lembra uma passagem de sua juventude, quando certa vez, em Tivoli, ele e mais três companheiros resolveram pintar um fragmento de paisagem, todos firmemente decididos a não se afastarem da natureza no menor detalhe que fosse. E embora o modelo tivesse sido o mesmo e cada um tivesse sido fiel ao que seus olhos viam, o resultado foram quatro telas completamente diferentes – tão diferentes quanto as personalidades dos quatro pintores. O narrador concluiu, então, que não havia uma maneira objetiva de se verem as coisas, e que formas e cores seriam sempre captadas de maneira diferente, dependendo do temperamento do artista” (Heinrich Wölfflin, Conceitos Fundamentais da História da Arte, 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, (2. tiragem) 2006, p. 1).

[18]“Nossas igrejas estão cheias de pessoas que são espiritualmente nascidas de novo, mas que ainda pensam como não cristãs” (William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 14). À frente: “Nossas igrejas estão cheias de cristãos intelectualmente preguiçosos” (p. 26).

[19]John Piper, Pense – A Vida da Mente e o Amor de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 41.

[20]“Cada época caracteriza-se por determinadas crenças responsáveis por sua visão de mundo” (Alister E. McGrath, Fundamentos do Diálogo entre Ciência e Religião, São Paulo: Loyola, 2005, p. 19).

[21]“Pensar intensamente sobre a verdade bíblica é o meio pelo qual o Espírito nos mostra a verdade” (John Piper: In: John Piper; D.A Carson, O Pastor Mestre e O Mestre Pastor, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 64).

[22]João Calvino, O livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3 (Sl 78.7), p. 202.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.