Como John Piper faz as anotações de suas leituras?

Episódio do Podcast John Piper Responde

Transcrição do vídeo

Recentemente folheei sua cópia do clássico “Como ler livros“, de Mortimer Adler, achei instrutivo ver quais frases você sublinhou no livro de Adler, quais seções você marcou e como você fez anotações na frente e no verso do livro. Percebi que você fez um índice próprio para suas descobertas. Você pode nos orientar sobre sua estratégia de marcação de livros? Quando você começou a prática? Por que você faz isso? Que tipos de comentários você adiciona aos seus livros? E claro que todos queremos saber: lápis ou caneta?

A resposta é um lápis e há razões. Eu uso uma lapiseira para que nunca tenha que usar um apontador, lapiseira 0,5 milímetros.

O livro de Mortimer Adler, “Como ler livros”, é um dos poucos livros que li duas vezes. Note que a maneira como uma pessoa sublinhou e escreveu em um livro – seja nas margens, índices ou qualquer outra coisa – vinte ou quarenta anos atrás pode ser muito diferente do que ele faria hoje.

Esse é o meu caso. Fico surpreso quando olho para trás e vejo quantos livros que li, digamos, trinta ou quarenta anos atrás, que não têm nenhuma indexação minha nas abas frontais, porque hoje essa é a forma de acompanhar os pensamentos e lições importantes que estou obtendo com o livro.

Índices feitos à mão

Por “indexar” (essa não é uma expressão muito precisa, e eu gostaria de ter uma melhor), quero dizer simplesmente anotar, com um lápis em uma caligrafia minúscula, uma descrição ou indicador muito curto de três a oito palavras em algum lugar do livro, na orelha ou atrás da capa ou quarta capa. Escrevo sobre o que li, junto com o número da página. Escrevo sobre o que encontro lá. Em um livro curto, pode haver de 30 a, digamos, 150 ou mais dessas pequenas notas em meus livros, e como eu disse, posso usar a orelha, e partes de trás da capa e quarta capa.

Acho que a razão pela qual não fiz isso no passado, pode ser porque eu não estava pensando em ler para escrever. Ou ler para ajudar na minha pregação, ou ler para aumentar minha compreensão de verdades específicas, ou ler para descobrir e preservar alguma maneira impressionante e convincente de dizer alguma verdade, e é em tudo isso que estou tão atento agora.

Então agora, praticamente todos os livros que leio – e estou falando de livros impressos, não ebooks, que nunca uso, ou audiobooks, esses eu escuto o tempo todo. Estou falando dos livros que leio o tempo todo, aqueles que pego, sento em uma cadeira para ler. Estou sempre lendo algo impresso. Isto é o que eu faço. E todos esses livros – eu os deixo cheios de notas.

Até em livros de ficção. Sim eu faço. Não consigo ler sem um lápis na mão. Não vou perder tempo lendo, mesmo ficção, se não houver uma visão vivificante ou uma expressão marcante da realidade que valha a pena preservar. Sério, eu não leio apenas por prazer. Leio por um prazer que transborda para outras pessoas, porque esse é o maior prazer. “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber. ” (Atos 20:35).

Leio muito devagar, e minha vida é muito curta para ler sem a esperança de que o que estou lendo me ajudará a pensar com mais clareza, a sentir mais plenamente e a expressar de maneira mais convincente as glórias de Deus na Palavra e no mundo – e tudo isso vale a pena preservar de alguma forma. Foi bom descobrir isso sobre mim.

Lendo como um professor

A propósito, não pretendo sugerir que todos deveriam ser assim, mas percebi ao longo do caminho que meu impulso, dado por Deus, meu impulso dominante, não é ler, mas escrever e falar. Em termos mais gerais, a minha tendência não é absorver o que os outros criaram, mas ser um criador. Essa é apenas a minha inclinação. Quero fazer algo novo, geralmente com palavras, o que significa que toda a minha ingestão se tornou cada vez mais combustível para a minha própria criação – para sermões, artigos, livros, poemas e devoções.

Agora, eu sei que isso pode ser perigoso. Há uma grande bandeira amarela aqui. Avisei meus alunos do Seminário Bethlehem: “Não leiam a Bíblia pela manhã apenas para produzir um sermão no domingo. Cristo é glorioso e precioso e digno de confiança nas últimas horas de nossas vidas, quando não podemos fazer nada com sua beleza, a não ser apreciá-la em nosso caminho para o céu.” Sim e amém. Portanto, não seja apenas um usuário. Seja um apreciador do que você lê. Saboreie. Adore. Exulte com isso.

Contudo, acredito que uma das evidências do dom espiritual de ensinar é que uma pessoa dificilmente consegue evitar que sua mente pegue tudo o que lê e instintivamente, sem sequer tentar, se pergunta: “Como eu diria isso? Como eu diria isso com minhas próprias palavras? Como eu explicaria isso para outras pessoas? Como eu iria ilustrá-lo e vivê-lo? Como isso se encaixa na estrutura do meu próprio pensamento – ou não? Preciso mudar minha estrutura?”

É por isso que não apenas faço anotações nos meus livros, mas também mantenho um caderninho na minha mesa. Dessa forma, quando tenho um pensamento ou ideia tenho um lugar para anotar. Tenho um lugar para anotar rapidamente.

Há algo na mente de um professor que não pode simplesmente ouvir ou ler coisas e abandoná-las. Ele tem que fazer algo com isso. Então, você pode ver o enorme impacto que isso tem na forma como eu marco meus livros.

Três coisas para indexar

Agora, o que anoto quando leio?  Aqui estão apenas alguns pensamentos.

Um: novas percepções sobre minha vida ou sobre a vida em geral. Minhas anotações em uma biografia de C.S. Lewis tem uma anotação no início onde ele diz: “Sem esquecer de si mesmo, não pode haver prazer”. Isso tem três asteriscos na margem. Tem uma anotação na orelha deste livro e venho pensando nisso há vinte anos. Quero dizer, se isso for verdade, que importante é este pensamento para aqueles que buscam o prazer na vida. Portanto, novos insights – nós os marcamos, anotamos, meditamos neles, tentamos crescer neles.

Dois: fatos essenciais. Se estou lendo uma biografia e sei que preciso dar uma palestra sobre ela, ou se quero usá-la em uma devocional, quero ser capaz de identificar nascimento, conversão, casamento, emprego, controvérsias, morte e impacto da pessoa da biografia. Dessa forma, quando passo os olhos pelas anotações, posso ter um esboço da vida daquela pessoa, e rápido. Não preciso pesquisar por todo lado e dizer: “Agora, quando ele morreu? Quando nasceu? Quando se converteu? Quando se casou?

Três: grandes ilustrações, que podem ser úteis para dar uma impressão marcante de um ponto de vista, mesmo um ponto de vista do qual discordamos. Por exemplo, estou lendo um livro agora chamado “Teoria Crítica Bíblica”. Já li cerca de duzentas páginas e, na página 196, escrevi um pequeno índice na capa sobre Jean-Paul Sartre acerca do ateísmo. Ele disse: “Tudo é realmente permitido se Deus não existe, e o homem fica, em consequência, desamparado, pois ele não consegue encontrar nada em que depender, seja dentro ou fora de si mesmo”. Isso é uma citação.

Agora, pensei, esta é uma confissão séria de um ateu. Saiu da boca dele, está em uma nota de rodapé e é trágico. É simplesmente trágico e provavelmente algum dia aparecerá em algum sermão, artigo ou livro. (Embora eu não pretenda dar a impressão, com esta ideia de anotação, de que isso é tudo que faço. Sublinho, e ainda faço comentários na margem, qualifico alguns como “ótimo” ou “bobagem”.)

Por que anotar

E sim, eu uso um lápis, não uma caneta. Aqui está o que aconteceu. Há cerca de trinta anos, levei uma caixa de livros usados à Livraria Loome em Stillwater, Minnesota, para vendê-los. Eles nem sequer olhavam para os livros que tinham marcações de caneta de tinta. Era um princípio, uma lei. Não sei todas as razões para isso, mas essa é uma das razões pelas quais eu não usa caneta e sim lápis.

Minha principal razão para o uso do lápis é que sou falível. Eu cometo erros. Quero voltar e apagar a palavra “bobagem” porque duas páginas depois ele se explica e eu me enganei. Não era uma bobagem. Não quero imortalizar meu erro com uma caneta.

Uma das principais funções de sublinhar e fazer anotações é simplesmente ajudar-me a prestar mais atenção. Essa é a grande razão para sublinhar, pelo menos para mim, e para colocar notas nas margens: preste atenção, esteja engajado, seja um leitor ativo – mesmo que você nunca mais olhe essas páginas (o que é verdade para a maioria das páginas que eu leio).

Então, acho que a principal conclusão deste episódio é esta: saiba porquê você lê. Saiba o que você está lendo agora. Em seguida, adapte suas marcações para atender ao seu propósito.

 


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Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: How John Piper Marks Up His Books  | Traduzido por DB Studios (Arthur Baguera). Revisão e Edição por Vinicius Lima.