Um blog do Ministério Fiel
O complementarismo leva ao abuso?
Compreendendo o verdadeiro problema que leva aos abusos
Minha tarefa oficial é de responder a dois capítulos da terceira edição de Discovering Biblical Equality: Biblical, Theological, Cultural, and Practical Perspectives [Descobrindo a igualdade bíblica: perspectivas bíblica, teológica, cultural e prática]: “Helping the Church Understand Biblical Equality” [Ajudando a igreja a entender a igualdade bíblica] de Mimi Haddad e “Complementarianism and Domestic Abuse: A Social-Scientific Perspective on Whether ‘Equal but Different’ Is Really Equal at All” [Complementarismo e abuso doméstico: uma perspectiva científica-social sobre se ‘igual, mas diferente’ é realmente igual de qualquer forma].
O capítulo de Haddad possui um propósito pastoral – ajudar os leitores a liderarem uma igreja em direção a aceitarem e seguirem sua visão de uma igualdade de gênero bíblica. O capítulo de Pidgeon tem um propósito polêmico – persuadir os leitores de pesquisa científica social que o complementarismo cria e nutre práticas discriminatórias que, por sua vez, “facilitam violência de gênero” (p. 595).
Ambos os capítulos oferecem um tom afável àqueles que, como eu, adotam uma posição complementarista de “iguais, mas diferentes”. Ambos apresentam seu caso em tons comedidos sem falar demais ou caricaturar. E ambos, creio eu, buscam o bem do corpo de Cristo. Sou grato por tudo isto e espero seguir seus exemplos nestas maneiras.
No entanto, não estou convencido que nenhuma das duas autoras entende autoridade ou igualdade adequadamente e por isso refletem a fraqueza do igualitarismo de forma geral. Ao invés de responder linha por linha de seus argumentos, portanto, eu gostaria de formular minha resposta em torno da seguinte questão: o complementarismo leva ao abuso? Considerarei as alegações das duas autoras ao longo do caminho, contudo, a resposta mais abrangente requer que pensemos mais cuidadosamente sobre autoridade e igualdade, o que significa que não estou meramente tentando responder, mas oferecer minha própria contribuição significativa para a conversa. Farei tudo isto em sete pontos.
- O complementarismo deve trabalhar mais arduamente em se opor a abuso.
Os Igualitaristas podem criticar o complementarismo de tornar as mulheres suscetíveis ao abuso. No entanto, a primeira palavra de resposta de um complementarista deveria ser, “Obrigado por se opor a abuso. Estamos com você contra isso”, ainda que alguns igualitaristas irão rejeitar essa parceria.[1] Usar autoridade para ferir pessoas, que é como eu defino “abuso”, é terrível tanto para o que faz à vítima quanto para a forma em como mente a respeito de Deus. Isso desumaniza tanto o abusador quanto o abusado e destrói a fé. É perverso.
Não estou argumentando que devemos adotar definições e vastas acusações de um igualitarista. “Concept creep“[i] pode ser um problema ao localizar e definir o que é abuso.[2] Ainda assim, concept creep é um problema, se não por qualquer outra razão, porque não queremos menosprezar casos reais de abuso; um erro de conceito não invalida o problema real que possa estar por trás deste conceito.
Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) baseado em dados de 161 países entre 2000 e 2018 mostra que 26–28 por cento de “mulheres que casaram alguma vez/se juntaram” entre as idades de 20–44 “foram sujeitas a violência física e/ou sexual pelo seu atual ou ex-marido ou parceiro masculino íntimo pelo menos uma vez em sua vida”.[3]
Outro estudo compilado de 66 pesquisas em 44 países, representando 481.205 mulheres entre 2000 e 2013, diz que quase uma em três mulheres experimenta violência com o parceiro íntimo em sua vida, com menos de 4 por cento de prevalência em países de alta renda e pelo menos 40 por cento de prevalência em alguns cenários de baixa renda.[4]
Complementaristas devem se importar e destacar esse tipo de informação. Dentro de suas próprias igrejas, ademais, complementaristas devem estar na linha de frente da luta contra maridos e pastores abusivos. Cremos que Deus especificamente encarregou os homens a protegerem esposas e rebanhos. Portanto, devemos ser os primeiros em linha tanto em treinar homens a não abusarem de sua autoridade tanto quanto em disciplinar e até mesmo excluir da membresia igreja aqueles que abusam.
Em outras palavras, se presumirmos ensinar sobre a bondade da boa autoridade, teremos a responsabilidade especial de também ensinar contra a maldade da má autoridade. Jesus faz isto (Marcos 10.42). Paulo e Pedro também (Ef 6.4; 1 Pe 3.7).
Nesse sentido, o capítulo de Pidgeon distingue de maneira útil entre tipos de abuso (físico, sexual, financeiro, espiritual, emocional e assim por diante). Como pastor eu vi todos eles. Seu capítulo faz um bom trabalho em contar alguns efeitos de abuso. E mira corretamente os vieses inconscientes e conscientes que homens cristãos (sejam complementaristas ou igualitaristas, devo acrescentar) podem carregar pecaminosamente em relação às mulheres.
Uma forma crucial de trabalhar contra tais vieses é reconhecer o papel “essencial e indispensável” que as mulheres exercem no trabalho da igreja e na propagação do evangelho.[5] O capítulo de Haddad, nesta questão, conta de forma útil as maneiras maravilhosas em que Deus usou mulheres na Escritura e na história da igreja para expandir o alcance do evangelho. Em muitos pontos, minha nota na margem diz “Amém!”. Ela também lista seis práticas que igrejas podem usar para fazer a transição para o igualitarismo: usar casais como recepcionistas; colocar mulheres para lerem a Escritura em voz alta na igreja; dar oportunidades às mulheres de orarem publicamente quando oportunidades surgirem; encorajar mulheres a participarem das reuniões administrativas da igreja; pedir a mulheres que sirvam em comitês e comissões da igreja; colocar mulheres para liderar pequenos grupos. O que é engraçado disso é que, com exceção do último exemplo, toda igreja complementarista que eu conheço pratica os primeiros cinco. Talvez nossas igrejas não negligenciem o ministério de mulheres tanto quanto a autora imagina.
Em resumo, complementaristas e igualitaristas concordam nisso: odiamos o abuso. A diferença se encontra em nossa solução. Os Igualitaristas dizem, “Vamos desmontar as estruturas”. Complementaristas dizem, “Boas estruturas podem ser utilizadas para o abuso. Tornemos-nos melhores em ensinar a estrutura e disciplinar quem fizer mal uso dela”. Eu retornarei a isso.
- Os dados sobre a correlação entre o homem ser o cabeça e abuso são confusos.
Que abuso conjugal acontece é claro. Será que as visões de que o homem é o cabeça ou normas hierárquicas de gênero contribuem para essa violência?
Pidgeon diz que sim e eu não creio que ela esteja completamente errada. Ela aponta para um Ficha Técnica da OMS que diz, “normas de comunidade que privilegiam ou atribuem status superior a homens e status inferior a mulheres” agem como um fator de risco para violência contra mulheres.[6] Apesar dessa afirmação não oferecer as bases de pesquisa para alegar isso, não é difícil de imaginar que homens que consideram que suas esposas possuem um “status inferior” podem achar mais fácil de justificar um comportamento abusivo (para ser claro, complementarismo não ensina que mulheres possuem um “status inferior”). Ela também aponta em um artigo de quatro pesquisadoras australianas que conduziram entrevistas com líderes e membros de várias comunidades de fé (cristãs, muçulmanas, budistas, hinduístas e judaicas) e determinaram que o abuso é pouco compreendido nessas comunidades.[7] Muitas vezes elas tratam abuso como um tabu. Muitas vezes tais comunidades podem minimizar o abuso, culpar as vítimas, enfatizar demais o perdão a ponto de negligenciar a proteção das mulheres, ou encorajar mulheres a permanecerem em situações abusivas. Não creio que essas coisas aconteçam somente em igrejas complementaristas, mas às vezes elas acontecem em igrejas complementaristas. Isso não deveria ser assim.
Além do que Pidgeon destaca, não é difícil encontrar estudos que demonstrem algum tipo de conexão entre normas hierárquicas de gênero e abuso. Um dos grandes estudos que citei na seção 1 acima observa que normas “especialmente preditivas” de violência à parceira “são normas relacionadas a autoridade masculina sobre o comportamento feminino, normas que justificam espancar a esposa e a extensão em que a lei e prática colocam mulheres em desvantagem em comparação aos homens em acesso a terra, propriedade e outros recursos de produção”.[8] Nenhum complementarista justificaria espancar a esposa, é claro, mas o que o relatório quer dizer por “normas relacionadas à autoridade masculina sobre comportamento feminino”? Para responder, ele aponta para um outro estudo do Centro de Desenvolvimento da OCDE[iii] que mede vários itens: casamento precoce para mulheres de idade entre 15 a 19 anos, normas que toleram violência doméstica, mutilação de genitália feminina, preferência em relação aos filhos homens, como observados em taxas de abortos (pense em Índia e China), leis de herança, acesso a posse de terras e serviços financeiros, igualdade em liberdades civis e participação política. O único critério que poderia ser aplicado potencialmente ao complementarismo é o de “trabalho de cuidado não pago”, referindo-se a maior taxa de mães cuidando de filhos em casa do que os pais.[9]
O melhor que posso dizer é que tais critérios são típicos em um mundo de pesquisas de ciências sociais. Eles indicam que, sim, normas de gênero que garantem status superior e poder a homens ao invés de mulheres, desde o útero até a cova, tendem a ser correlacionar a taxas comparativamente mais altas de abuso.
Dito isso, estes estudos agem como enormes redes de pesca que capturam, a partir de uma perspectiva cristã, tanto o atum que devem capturar quanto os golfinhos que não devem, por assim dizer. Isto é, eles medem uma série de coisas que o complementarismo bíblico (ou melhor dizendo, o cristianismo) se opõe totalmente, bem como algumas coisas poderiam ser apoiadas (embora um pesquisador da OMS ou da OCDE não o faça). Tal é o caso para as pesquisas que Pidgeon cita também. Ela menciona que “normas comunitárias que privilegiam ou atribuem status superior a homens” da Ficha Técnica da OMS, que em si é deixada indefinida. No entanto, bem ao lado deste critério está um outro: “comportamentos masculinos prejudiciais, incluindo ter múltiplas parceiras ou atitudes que toleram violência”. Tirar lições para o complementarismo de tais estudos, em outras palavras, é um pouco como pesquisar “ataques felinos em humanos” e incluir em seu conjunto de amostras ambos gatos selvagens e gatos domésticos, mas sem especificar a diferença.
Existem quaisquer estudos que cheguem perto de fazerem comparações justas — casamentos cristãos complementaristas versus casamentos cristãos não-complementaristas? Na verdade, existem, e esses estudos tratam casamentos tradicionais como apresentando as taxas mais baixas de violência doméstica ou, pelo menos, diferenças que são estatisticamente irrelevantes. Simultaneamente, tais estudos apresentam as assim chamadas “mulheres tradicionais” como as mais felizes.
Bradley Wilcox, sociólogo da Universidade da Virgínia, em seu livro de 2004 Soft Patriarchs, New Men: How Christianity Shapes Fathers and Husbands, baseia em seus estudos o argumento:
Ao contrário das afirmações de feministas, muitos estudiosos da família e críticos públicos, os homens conservadores protestantes que frequentam a igreja não podem ser justamente descritos como homens familiares “abusivos” e “autoritários”, ligados às “formas estereotipadas de masculinidade”. Eles superam os homens protestantes moderados e que não frequentam nenhuma igreja quanto à dedicação emocional e prática aos filhos e esposas… e são os menos propensos a abusar fisicamente de suas esposas.[10]
Além disso,
homens conservadores Protestantes que vão à igreja “passam mais tempo com seus filhos; são mais propensos a abraçar e elogiar seus filhos; suas esposas relatam níveis mais altos de satisfação com a apreciação, afeição e compreensão que recebem de seus maridos; e eles passam mais tempo socializando com suas esposas”.[11]
Em relação a própria violência doméstica:
homens conservadores protestantes que vão à igreja registram os mais baixos níveis de violência em qualquer grupo neste estudo. De fato… homens de família conservadores protestantes que vão à igreja tem os mais baixos níveis de violência doméstica de qualquer grande grupo religioso no Estados Unidos.[12]
Curiosamente, Wilcox conclui que valores conservadores não são o problema; nominalismo é, como mostra o gráfico abaixo:
Figura: Maridos que cometem violência doméstica | Fonte: NSFH2[iv] (1992–1994)
Porque seria assim? O ensino da Bíblia sobre o homem ser o cabeça parece restringir homens cristãos fiéis, enquanto homens cristãos nominais são mais propensos a torcer isso para seus próprios propósitos autoritários. Não se esqueça: o diabo também sabe como usar a Bíblia (Mt 4.6). Homens cristãos progressistas, enquanto isso, estão em algum lugar no meio desta pesquisa.
Em 2017, críticos da pesquisa na qual Wilcox dependia comentaram que a pesquisa usou dados de mais de vinte anos atrás, que ela era restrita ao Estados Unidos e que dependia do relato próprio dos homens, e não do relato das mulheres vítimas.[13] Em 2019, no entanto, o Institute for Family Studies [Instituto para Estudos sobre Família] publicou descobertas semelhantes às relatadas no livro de Wilcox de 2004 no Mapa Mundial da Família, que se baseia em onze países e que se baseia tanto no relato das mulheres quanto dos homens [14]. Quando se trata das medições de violência por parceiro íntimo (VPI) [vi], o Mapa Mundial da Família[vii] afirma os estudos de Wilcox de 2004 no que diz respeito à distinção entre homens cristãos nominais e fiéis.
A religiosidade, ou compromisso religioso, parece ser o fator determinante, não a tradição religiosa, e sugere-se que a religiosidade nominal pode representar o maior risco. Tanto os não religiosos quanto os religiosamente devotos apresentam menor probabilidade de envolvimento em violência entre parceiros íntimos (IPV, na sigla em inglês) em comparação com aqueles que raramente frequentam cultos religiosos.[15]
No que diz respeito a distinção entre tradicionais e progressistas a respeito de VPI, o mapa cita diferenças que são estatisticamente insignificantes:
Relatos populares sugerem que a ideia da submissão de esposas a seus maridos fornece uma cobertura teológica para relacionamentos abusivos – ou pelo menos para homens que abusam de mulheres. Contudo, vemos pouca evidência disso aqui. Mulheres dentro de casamentos significantemente religiosos, sejam eles patriarcais ou igualitaristas, não são estatisticamente diferentes de qualquer outro grupo de mulheres… As crenças do homem como cabeça (ou seja, não em combinação com a religiosidade do casal) não estão associadas a vitimização de mulheres.[16]
Críticos também culparam a pesquisa de 1990 de apenas apontar para o abuso físico. O que é interessante, no entanto, é que as pesquisas que informam o Mapa Mundial da Família descobriram que mulheres e casamentos “altamente religiosos de gênero tradicional” expressam as taxas mais altas de “contentamento, satisfação e estabilidade” em seus casamentos (17.02 em seu indicador) relativas a todos os grupos, incluindo mulheres em casamentos “altamente religiosos de gênero progressista” (16.76). Além disso, mulheres em casamentos “menos religiosos, ou mistos, de gênero tradicional” (15.59) pontuaram mais alto que mulheres que fazem parte de casais “menos religiosos, ou mistos, de gênero progressista” (15.22).[17]
Talvez as diferenças mais significantes apareceram nas pesquisas sobre a satisfação sexual da mulher. O estudo relata, “em relação a satisfação sexual, um padrão diferente emergiu com mulheres altamente religiosas tradicionais sendo significativamente mais prováveis de serem satisfeitas sexualmente do que mulheres em todos os outros grupos – incluindo mulheres altamente religiosas progressistas”.[18] Em termos de mulheres que concordaram fortemente com a afirmação “estou satisfeita com meu relacionamento sexual com meu parceiro”,
- 56% das mulheres “altamente religiosas de gênero tradicional” contra 37% das “altamente religiosas de gênero progressista” fortemente concordaram;
- 36% das mulheres “menos religiosas ou mistas de gênero tradicional” contra 29% das “menos religiosas ou mistas de gênero progressista” fortemente concordaram;
- E 31% das mulheres “seculares de gênero conservador” contra 32% das “seculares de gênero progressista” fortemente concordaram.
No New York Times, Wilcox resumiu o que as pesquisas por trás do Mapa Mundial da Família ensinam: mulheres de gênero conservador que frequentam a igreja regularmente são, de longe, as mais felizes de qualquer grupo. Dentre as que frequentam a igreja regularmente, 73% das mulheres de gênero conservador relatam casamentos felizes contra 60% das mulheres igualitaristas. Curiosamente, esposas seculares progressistas são mais felizes que esposas seculares conservadoras: 55% a 33%, respectivamente. Enquanto isso, 46% das esposas do meio religioso, que não vão à igreja com frequência ou têm maridos que fazem isso, relatam casamentos felizes.[19]
Porque esposas de gênero tradicional dentre o subconjunto das que frequentam a igreja e as esposas igualitaristas dentre o subconjunto secular são as mais felizes em seu subconjunto? Wilcox observa em seu artigo para o Times, “Acontece que o feminismo e a fé, ambos têm grandes expectativas em relação a maridos e pais, mesmo que por razões ideológicas bem diferentes, e ambos resultam em casamentos de maior qualidade para as mulheres”.
O que podemos concluir desses dados? A autoridade é uma ferramenta que pode ser usada para o bem ou para o mal, como computadores, bisturis ou dinamite. Com dinamite, por exemplo, você pode explodir uma casa ou estabelecer uma linha férrea. De igual forma, a agenda feminista e igualitarista relata corretamente o dano causado por normas de gênero sexistas ao redor do mundo. Portanto, elas buscam erradicar essas normas se desfazendo de aspectos importantes junto com os indesejáveis. A parte valiosa da qual elas se desfazem é todo o bem que a autoridade de um marido e um pastor pode fazer. Concluindo, a análise delas é unilateral.
Ao ler o capítulo de Pidgeon, esperei que ela apresentasse evidência de que homens complementaristas abusam suas esposas em uma taxa mais alta do que os homens igualitaristas e não cristãos, mas isso não acontece em momento algum. Ainda assim, ela conclui o capítulo, “Não é mais pausível simplesmente afirmar do púlpito que o complementarismo, devido a sua misericórdia, não facilita a violência de gênero”. Como ela chega a essa conclusão sem evidências? Está embutido nas premissas de seu argumento geral. Em última análise, seu argumento não é baseado em ciências sociais, mas em ideologia. Seu argumento não é, “Olhe todas essas igrejas complementaristas onde a taxa de abuso é comparativamente mais alta”. Em vez disso, seu argumento é que o complementarismo e o abuso doméstico operam pela mesma dinâmica de poder: ambos limitam as mulheres. E uma vez que a afirmação de autoridade que limita o que uma mulher pode fazer é algo ruim (a premissa implícita), é óbvio que o complementarismo leva ao abuso. Ela então aposta nesse instinto quando diz que se recusa a reconhecer que a “desigualdade de gênero” (ela emprega a definição das Nações Unidas) é a base para o abuso, antes que “é em si mesmo um ato de abuso”.
Observe, então, como funciona o seu argumento presunçoso: a premissa se torna a conclusão. A saber, uma vez que limitar mulheres é abuso (premissa), limitar as mulheres leva ao abuso (conclusão). Isso resume o capítulo. Outra forma de descrever essa premissa seria que a autoridade é nociva porque impõe limites sobre pessoas, retornarei a esse ponto a seguir.
Contudo, e se ela acreditasse na bondade da boa autoridade, que algumas limitações sobre as pessoas nem sempre é algo ruim e que a autoridade do homem na casa e na igreja realmente pode servir para o bem da mulher?
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Argumentos igualitaristas sobre o abuso colocam a autoridade sob uma luz completamente negativa.
Essa análise unilateral significa que os argumentos igualitaristas sobre abuso tendem a colocar a autoridade em si sob uma luz completamente negativa.
O capítulo de Pidgeon, por exemplo, dedica três páginas à história de Davi e Bate-Seba a fim de ensinar a lição de que “cada grau de poder e privilégio que uma pessoa tem amplia o escopo para o abuso” (p. 581). O poder corrompe, ela observa. Até aí, tudo bem. Contudo, para onde ela vai a seguir parece infeliz para o seu argumento. Davi foi capaz de tirar vantagem de Bate-Seba, ela observa, porque “Bate-Seba não possuía a mesma autoridade que Davi”. Então ela traça um paralelo: no complementarismo, “é negada a mesma autoridade às mulheres que os homens”. Então a solução é tirar a autoridade do homem, para que ela não leve ao abuso doméstico. A implicação, operando de trás para frente para Davi e Bate-Seba, porém, é de que a autoridade nunca deveria ter sido dada a Davi.
Quer ela queira ou não, seus argumentos culpam a própria autoridade. Se continuarmos a seguir essa lógica, deveríamos remover a autoridade do governo para que ela não possa ser abusada. O mesmo com a autoridade paterna, a autoridade administrativa e toda e qualquer autoridade. Até mesmo a autoridade de Deus, francamente, começa a parecer um pouco suspeita.
Estou destacando os instintos completamente negativos em direção a autoridade que estão em jogo aqui porque é um viés profundo e arraigado da nossa geração pós moderna. A tradição iluminista, da qual a pós-modernidade ironicamente depende, é um argumento sustentado contra todas as formas de autoridade, seja epistemológica, religiosa, política, moral, científica, linguística e, finalmente, de gênero. Fixamos nossos dois olhos na maldade da má autoridade.
No entanto, a solução para a má autoridade não é a ausência de autoridade, mas a boa autoridade. Os defensores dos direitos civis nos anos 60 responderam às autoridades racistas locais e do estado apelando às autoridades federais. De igual forma, aqueles que se opõem ao abuso infantil em casa ou igreja apelam às autoridades do estado na forma de serviços de proteção a criança.
Só porque o poder pode ser corrompido não faz da autoridade algo menos dado por Deus. A própria agência humana é corrupta, mas Deus ainda a concede. A lição de Davi e Bate-Seba é que Davi usou erroneamente de sua autoridade e precisou ser disciplinado, como o profeta Natã o fez. A lição não é que Davi possuir autoridade é algo completamente ilegítimo e que ninguém deveria possuir autoridade de governo. Afinal, Deus o fez rei. A autoridade de Davi era legítima, mesmo se usada erroneamente.
Pidgeon está certa: mais poder e privilégio ampliam o escopo para abuso. Vamos sempre manter um olho fixo nessa realidade. No entanto, não se desfaça de aspectos importantes junto com os indesejáveis, como eu disse. Como cristãos, também precisamos manter um olho na boa autoridade. Falando nisso…
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A autoridade, segundo a intenção de Deus na criação e na redenção, é boa e vivificante.
A Bíblia ensina que toda autoridade no período da queda é má e destrutiva. O Igualitarismo acerta em cheio nesse ponto. Estar “debaixo” de uma pessoa caída pode ser desvantajoso. Pode tornar vulneráveis os filhos, cidadãos, membros da igreja e mulheres. Tanto os complementaristas como os igualitaristas não podem negar isso, mas prestar atenção a isso. A má autoridade desencoraja, aleija, murcha, suga, desumaniza, apaga, aniquila. Ela usa, mas não dá. É o imperialismo político, exploração econômica, degradação ambiental, monopolização de negócios, opressão social, conjugal e abuso infantil.
Contudo, o que as pessoas hoje ignoram é que a autoridade na criação e a autoridade na redenção são boas e vivificantes. Boa autoridade dá origem à vida. Odiar autoridade é odiar o ato de criar, porque criar algo—um jogo, um computador, um carro, um casamento, uma casa, um livro — requer princípios de design que então governam (regem) aquilo que é criado. A criação e a autoridade são totalmente entrelaçadas. Deus, o governador, é o Deus criador, porque o bom governo cria e a criação requer governo.
Boa autoridade não apenas opera do topo para baixo, mas também de baixo para cima. A boa autoridade diz, “Permita-me ser a plataforma na qual você edificará sua vida. Eu irei prover, financiar, dar recursos e guiar você. Apenas me dê ouvidos”. A boa autoridade liga a fim de soltar, corrige a fim de ensinar, poda a fim de gerar crescimento, disciplina a fim de treinar, legisla a fim de edificar, julga a fim de redimir, estuda a fim de inovar. As regras para um jogo, as linhas na estrada, uma aliança para amantes.
A boa autoridade ama. A boa autoridade doa. A boa autoridade distribui poder.[20]
É vantajoso para uma pessoa estar “debaixo” de uma boa autoridade pois ela é fortalecida e cresce. Todos que já tiveram um bom professor, treinador ou mãe sabem bem disso. Por exemplo, meu chefe, Ryan, compartilha a responsabilidade final dos desafios e ansiedades da nossa organização. Eu posso ir para casa e deixar tudo isso para trás. Ele não. Enquanto isso, ele constrói uma pista para que eu corra em minha escrita, ensino e fala. Sua autoridade não me prejudica, ela me liberta.
Em outras palavras, a autoridade na criação e redenção é boa não apenas para o que a pessoa no topo recebe, mas de igual forma para o que a pessoa de baixo recebe. A pessoa no topo, na verdade, deve carregar os maiores pesos e custos de tudo. Ele ou ela possui poder não para dominar, mas para ser usado em favor dos outros. Assim como o nosso Senhor Jesus, que deu sua vida em resgate de muitos, também deve o marido, pastor, governador, pai, professor, piloto ou oficial do exército. Bons diretores de escola tendem a serem os primeiros a chegar e os últimos a sair. Bons donos de comércio absorvem os custos dos erros dos empregados e oferecem uma segunda chance. Bons pastores ouvem e choram mais pelos pecados da igreja do que qualquer outra pessoa. Bons maridos não imprimem ansiedades e temores em suas esposas e filhos, mas os tomam para si mesmos.
Davi teve seus momentos terríveis, mas também teve bons. Ouça essas “últimas palavras” duramente conquistadas de Davi:
Aquele que domina com justiça sobre os homens,
que domina no temor de Deus,
é como a luz da manhã, quando sai o sol,
como manhã sem nuvens,
cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva. (2 Sm 23.1, 3–4).
Os cristãos, novamente, devem manter um olho na má autoridade e um olho na boa autoridade—um olho em Davi com Bate-Seba, um olho no chamado para “[dominar] no temor de Deus” como sol e chuva que “faz brotar da terra a erva”. Não podemos abandonar estes dois olhares. Sem dúvida, os complementaristas podem se esquecer de dar atenção à má autoridade quando elogiam a liderança de um marido. Contudo, argumentos igualitaristas como os de Pidgeon, enquanto postura, parece se esquecer de dar atenção à boa autoridade possível.
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Ao visar a autoridade ao invés do uso egoísta do poder, o igualitarismo escolhe o inimigo errado e, com isso, enfraquece os casamentos.
Algo crucial para o entendimento do debate entre o complementarismo e o igualitarismo é a distinção entre autoridade e poder. Poder é a habilidade ou capacidade de fazer algo – a habilidade, por exemplo, de levantar uma pedra ou solucionar um problema de matemática ou consertar um vazamento de uma torneira. Autoridade, por outro lado, é o direito moral ou licença para tomar decisões com esse poder. É uma autorização para fazer algo. A razão pela qual a distinção é tão crucial é que, não é porque você toma a autoridade de alguém que isso signifique que você tomou o seu poder.
A Bíblia estabelece ofícios de autoridade nos lugares onde o poder existe por natureza, ou seja, pelo design da Criação de Deus. Em outras palavras, a lei revelada de Deus mapeia sua lei natural. Os pais naturalmente têm poder sobre seus filhos. Portanto, a Bíblia dá estrutura, ordem e propósito ao poder dos pais (p. ex. Dt 6; Ef 6.1–4).
Os seres humanos possuem naturalmente poder sobre os recursos da Terra. Portanto, a Bíblia dá estrutura aos governos e regras à medida em que os seres humanos caídos lutam por esses recursos (p. ex. Gn 9.5–6).
Pela regularidade estatística e também devido ao design da Criação, maridos e esposas possuem naturalmente formas variadas de poder físico, emocional e social e seus papéis procriativos diferem necessariamente. Portanto, Deus mapeia sobre marido e mulher conjuntos distintos de deveres, responsabilidades e obrigações, que correspondem amplamente às suas distintas possibilidades e poderes que lhes são concedidas.
Suponha, então, que você tenha um homem que abusa fisicamente de sua esposa. Nem o complementarista nem o igualitarista diriam que ele possui a autoridade – o direito moral – de golpeá-la, ameaçá-la ou intimidá-la. A autoridade, pelo menos formalmente, não é o problema. O que é então? É o fato de que, mesmo que você tome sua autoridade como marido, você não pode tomar seu poder físico, e ele está usando esse poder de forma egoísta e orgulhosa. Então, diga o que quiser sobre sua autoridade, o verdadeiro monstro permanece sem solução: um uso egoísta e orgulhoso do poder. O igualitarismo, em outras palavras, oferece uma espécie de diagnóstico errado, apontando a autoridade como o problema.
No entanto, o problema é pior do que apenas um diagnóstico errado. Remover a autoridade ou o cargo do homem remove as restrições ao poder. Por que Deus estabelece ofícios autoritativos? Ele os estabelece tanto para capacitar quanto para restringir. Tanto para dar liberdade quanto para dar responsabilidade. Tanto para dar oportunidade quanto para impor prestação de contas. A autoridade de um cargo vincula os detentores de cargos tanto quanto os solta. Se a autoridade são as linhas na estrada, como eu disse acima, o igualitarismo tira essas linhas e sinais de limite de velocidade sem fazer nada para desacelerar o carro.
Na Escritura, a concessão de autoridade vem com uma maior responsabilidade. Observe:
- o aumento da responsabilidade de um ancião: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas” (Hb 13.17);
- o aumento da responsabilidade de um marido: “vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (1 Pe 3:7);
- o aumento da responsabilidade dos pais: “Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados” (Cl 3:21);
- e o aumento da responsabilidade de um mestre ou empregador: “E vós, senhores, de igual modo procedei para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos céus e que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef 6:9).
Repetidamente, a Bíblia enfatiza que a figura de autoridade carrega o julgamento mais pesado (ver também Tg 3.1).
A trágica ironia do igualitarismo é que, na tentativa de proteger as mulheres, ele na verdade alivia a responsabilidade dos homens. Uma coisa que observei entre homens casados imaturos em situações de aconselhamento é seu instinto de culpar suas esposas por dificuldades no casamento. Eles brigam como crianças: “Mas ela…” “Mas ele…” “Mas ela…” Mesmo que esses homens afirmem ser complementaristas, eles argumentam como igualitaristas funcionais, ou seja, como se todos possuíssem igual responsabilidade quando o relacionamento passa por águas mais agitadas.
Um complementarismo mais bíblico, no entanto, reconhece que, embora homens e mulheres possam igualmente pecar, os homens têm a maior responsabilidade de consertar o problema e encontrar uma solução, como todo líder faz. Um marido não pode dizer: “Mas ela…” Em vez disso, ele deve sempre olhar para a situação como um todo. Talvez eles estejam brigando sobre “x”. Ele deve se perguntar: o que ele poderia ter feito para evitar “x” em primeiro lugar? Ou, se “x” estava além de seu controle, como Deus pretende que ele ame e conduza sua esposa através de “x”? Em outras palavras, ele não deve mais jogar o jogo infantil de pagar na mesma moeda. Em vez disso, ele não pode passar essa bola. Quando algo dá errado em um casamento, Jesus baterá na porta dele primeiro – assim como Deus fez no jardim quando veio procurar Adão quando ele e Eva pecaram. Portanto, um homem deve morrer para seu ego, absorver qualquer culpa ou custo necessário e começar a trabalhar a prática de assumir a responsabilidade pelo todo.
Acabar com o ofício de autoridade, em outras palavras, na verdade enfraquece o casamento e o coloca em perigo. Temos certeza de que o abuso é um problema muito sério. Mas provavelmente o problema mais comum que um pastor como eu observa diariamente é o velho e claro problema de homens imaturos e egoístas que não tomam responsabilidade em encerrar a discussão, de se colocarem no caminho do dano, de usarem sua força para o bem de sua esposa, de serem os primeiros a pedirem perdão, de reconhecerem que Jesus os encarregou de carregar o fardo e de tomar a iniciativa em fazer as pazes, que se recusam a absorver uma injustiça, que insistem em pagar na mesma moeda, que, resumindo, agem como crianças de seis anos de idade ao insistirem que tudo é “justo” e “igual”, especialmente quando suas vontades não são atendidas e a vida se torna difícil.
Contudo, esses são os tipos de homens que o igualitarismo habilita – homens de pavio curto, defensivos, que passam a responsabilidade. Ele não os chama a algo mais elevado, mais difícil, mais duro, mais altruísta, mais generoso, que pensa menos em si mesmo, que toma mais iniciativa, de mais peito e mais sacrificial. Em vez disso, é uma cosmovisão que ensina ambos homens e mulheres a pensarem em termos de meus dons, meus direitos de usá-los, minha auto-descoberta e minha auto-expressão. E dessa forma todos nos tornamos mais centrados em nós mesmos.
Quantas vezes eu me sento sozinho com um homem casado que não para de falar, “Mas ela…” A minha resposta é algo como, “Sinto muito, sei que isso pode ser difícil de ouvir. Mas, irmão, estou te chamando para ser homem e morrer para si mesmo. Chega de joguinho de culpa. Jesus está batendo em sua porta. Esqueça todas as coisas de criança. Como você está se responsabilizando? O que você está fazendo para edificar, encorajar, unificar e liderar? Você a convenceu de que você é 100 por cento por ela, ou você dá a ela razão para pensar que você só vive para si mesmo?”
Maridos e esposas caídos, ambos usaram seu poder físico, emocional e social de maneira egoísta. Isso é verdade em todas as culturas em cada era e local. A solução igualitarista e feminista é de se livrar de todas as hierarquias e estruturas a fim de proteger o eu e suas ambições. A solução bíblica é colocar marido e esposa em uma estrutura que insiste que cada pessoa tire o foco de si mesmo e sirva o outro, cada um de acordo com suas concessões naturais de força, seja física, emocional ou social.
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O igualitarismo não reconhece que a igualdade, assim como a autoridade, se divide entre versões boas e más.
O igualitarismo, como o nome indica, é movido por uma visão de igualdade entre homens e mulheres. Não é preciso ler mais do que o título de Haddad para enxergar isso: “Ajudando a igreja a entender a igualdade bíblica”. O problema é que ela, como os igualitaristas em geral, não reconhece que a igualdade, como a autoridade, se divide entre versões boas e más. A versão boa tem raízes em Gênesis 1 e em nossa criação à imagem de Deus. A versão má é um produto de Gênesis 3 [ACF]: “Sereis como Deus”, a qual é a versão mais comum de igualdade em nosso mundo caído.
A versão má presume ser igual a Deus. Diz que seus instintos e desejos básicos são bons. Você pode definir e criar o universo por si mesmo. Você se torna igual por auto-descoberta e auto-afirmação.
Isso nos leva aonde precisamos nos envolver com o capítulo de Haddad. O objetivo do artigo de Haddad é ajudar os líderes da igreja a persuadir suas congregações do igualitarismo. O ensino sobre a igualdade bíblica tem circulado por quase quinhentos anos, ela observa, mas a maioria das igrejas ainda pratica padrões de liderança que dão preferência a homens ou permite apenas homens. O que os líderes da igreja devem fazer então? Seguindo o livro de Everett Rogers, Diffusion of Innovations [Difusão de inovações], o capítulo de Haddad estabelece os cinco elementos básicos que Rogers diz serem necessários para ajudar uma nova ideia ou mudança a se difundir através de um grupo: usar linguagem compreensível, mostrar como a nova ideia melhora a vida das pessoas, conectar a ideia às crenças centrais das pessoas, modelar e fornecer pontos de partida fáceis.
No entanto, à medida que Haddad percorre esses cinco elementos, surge um tema comum: o foco nos dons das pessoas. Como o primeiro elemento da ciência da difusão é usar uma linguagem simples, Haddad aconselha: “em vez de usar o termo igualitarismo, podemos falar de ministério baseado em dons” (p. 541). Uma vez que o elemento dois é mostrar como uma nova ideia melhora a vida das pessoas, Haddad incentiva perguntar aos membros da igreja: “A visão tradicional da liderança masculina e da submissão feminina proporcionará o desenvolvimento mais completo dos dons que Deus deu [às nossas filhas]?” (p. 544). Como o elemento três é conectar uma ideia às crenças centrais, Haddad sugere, “também podemos falar da rica tradição das mulheres ao longo da história da igreja que levaram muitos à fé usando seus dons de pregação e ensino” (p. 547). Como o elemento quatro é modelar, Haddad observa: “Não podemos subestimar nossa necessidade de observar as mulheres usando seus dons na igreja” (p. 549). Como o elemento cinco é fornecer pontos de partida fáceis, Haddad oferece: “Os igualitaristas podem ajudar seus irmãos e irmãs em Cristo a experimentar ou demonstrar a mensagem, empoderando-os a usarem seus dons” (p. 552).
O foco nos dons de um indivíduo é o fio que amarra o capítulo. Os dons – a linguagem dos dons, a demonstração dos dons, a conexão dos dons, a modelagem dos dons, a descoberta dos dons – fornecem o conceito que deve suportar o peso da persuasão. Como ela diz, ela pretende substituir um ministério que é “baseado em gênero” por um que é “baseado em dons” (p. 544).
Dessa forma, o capítulo de Haddad soa totalmente consistente com grande parte da literatura evangélica de discipulado da segunda metade do século XX. Quantos programas da escola dominical e guias de liderança enfatizaram “testes de dons espirituais” e “ministérios de todos os membros” que chamavam as pessoas a empregar seus dons? Os membros da igreja dissecaram Romanos 12 e 1 Coríntios 12, perguntando qual dom eles tinham. Os pastores de jovens e faculdades falaram sobre o dom da solteirice de 1 Coríntios 7 e o chamado para missões. No mínimo, Haddad conhece bem seu público.
Bem antes de ler o capítulo de Haddad, de fato, notei que essa ênfase no discipulado das décadas de 1980 e 90 havia migrado para conversas questionando o complementarismo nas décadas de 2000 e 2010. O tópico dos dons se tornou um dos dois sinos (o primeiro sino é a questão do abuso) sendo tocado repetidamente por amigos piedosos que conhecem suas Bíblias, que aceitam tacitamente as leituras complementaristas, que sinceramente pretendem servir à igreja e, no entanto, que se perguntam: e as mulheres que têm o dom de pregar, ensinar ou liderar? A resposta “elas devem ensinar outras mulheres” é insatisfatória. Ainda assim, acredito que a pergunta geralmente é sincera e enraizada no amor por outras mulheres, seu desenvolvimento e o bem da igreja e do reino.
Para responder mais plenamente, então, há uma maneira certa e errada de pensar sobre os dons que Deus nos dá. Uma visão correta dos dons de uma pessoa mantém o controle sobre eles. É melhor descobri-los e empregá-los do que não. Devemos encorajar os jovens cristãos a fazer isso. No entanto, não devemos dar um valor primário a eles, como se nosso senso de nossos dons determinasse as estruturas de nossas igrejas ou os ministérios aos quais temos direito. Essa é a maneira errada de vê-los: “Eu sou uma cantora incrível; você deve me apresentar lá na frente”. “Eu não sou bom com crianças; você não deve me pedir para servir no ministério infantil”. Em vez disso, devemos colocar todos os nossos dons, talentos e recursos aos pés de Deus e pedir-lhe que os use como quiser para seus propósitos e glória. “Ok, talvez eu não tenha o dom de trabalhar com crianças. Mas isso permitirá que os pais da criança de dois anos se sentem no culto e sejam revigorados e edificados? Beleza, pode contar comigo. Eu posso servir a igreja dessa maneira” (ver 1 Co 14.12). É por isso que os presbíteros da minha igreja, os quais são apenas homens, servem no ministério infantil. Além disso, não descobriremos as versões melhores e mais verdadeiras de nós mesmos por meio da auto-expressão, mas por meio do auto-sacrifício: “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto” (Jo 12.24).
Muitas vezes, Deus prefere nos usar onde somos fracos e não dotados, como com Moisés, que não foi dotado para falar, exigindo que Deus o suprisse com a boca de Arão; ou com Gideão, que não foi dotado de grandes forças, mas Deus determinou dar-lhe a vitória de qualquer maneira; ou com a pessoa dotada de línguas, mas que escolhe dar prioridade à profecia, uma vez que a profecia edifica a igreja (1Co 12.2–5). Dessa forma, Deus recebe a glória. Nossos dons são apenas ferramentas a serem usadas a critério do Senhor. Eles não são a identidade ou a ostentação de um cristão. Nossa identidade e orgulho já estão seguros na dignidade, justiça e dons recebidos vicariamente de Cristo.
Minha preocupação com a ênfase ou orgulho dado aos dons é que isso soa menos como a Bíblia e mais como o individualismo expressivo de nosso momento histórico – a suposição pós-Rousseau, pós-Marx, pós-Freud, pós-moderna de que meu eu interior mais profundo é o meu eu mais verdadeiro, que todo o meu potencial depende de me livrar das restrições socialmente construídas que são obstáculos para esse eu emergente. Essa ênfase pode depender muito facilmente de uma antropologia atomística de “apenas deixe cada flor florescer”, que opera lado a lado com uma visão de mundo romantizada. Ariel quer andar na terra, Bela quer mais do que uma vida provinciana e a rainha Elsa emprega todos os seus poderes de gelo. Essa é a vida plena. O mundo inteiro deve estar disponível para mim se eu acreditar que algo está de acordo com meus dons e meu eu interior.
Todo esse construto abre pouco espaço para a possibilidade de que Deus possa ter propósitos comuns que transcendam qualquer um de nós, indivíduos, e que ele possa colocar diferentes grupos de pessoas para trabalhar de maneiras diferentes para que todo o corpo possa ser edificado. Considere a imagem bíblica da igreja como “família”, com mães, pais, irmãs e irmãos (1Tm 5.1–2); ou a igreja como um “corpo”, no qual os olhos não podem dizer à mão: “Não precisamos de ti”, nem a cabeça aos pés: “Não preciso de vós”, com as partes mais fracas consideradas indispensáveis e as partes menos honrosas recebendo maior honra (1Co 12.21–23).
Quão mais colorida e resplandecente é a imagem de Deus do que a imagem da Disney da rainha Elsa, declarando que ela não esconderia mais quem é, mas tomaria sua posição e então “livre estou”, sendo a auto-descoberta e a expressão o bem supremo.
Haddad quer um ministério baseado em dons. Acho que o melhor modelo é um ministério baseado na obediência, na família, na responsabilidade e no amor sacrificial, no qual o chamado à obediência, à família, à responsabilidade e ao amor determina como e quando usamos nossos dons e não o contrário.
Ou deixe-me usar uma linguagem estrutural. A “estrutura” de uma igreja é nada mais nada menos do que um conjunto de regras ou obediências exigidas pelo Rei Jesus para a forma como vivemos nossa vida juntos: “Batizando-os…”; “Quando vos reunis para comer…”; “Presbíteros … que [sejam]…”; “…dize-o à igreja”. A estrutura da igreja, em outras palavras, é a ética de toda a igreja. E a lição aqui é que as estruturas bíblicas devem determinar como usamos nossos dons. Elas tanto capacitam quanto restringem o uso de nossos dons. No entanto, Haddad e a agenda igualitarista nos pedem para fixar nossos olhos em nossos dons e deixar que eles determinem nossas estruturas de igreja – nossas obediências necessárias. Temo que isso seja retrógrado. Corre o risco de se tornar uma versão cristianizada do expressivismo do indivíduo.
Tudo isso nos leva de volta à maneira certa e errada de pensar sobre igualdade. O caminho errado olha para dentro, lista os ativos e virtudes do eu e, em seguida, se afirma comparando-se com os outros. “Sou tão inteligente quanto ele”. Possui um forte senso de direito. Ele vive fazendo exigências. “Eu mereço isso. Eu tenho direito a isso”. Tem pouco ou nenhum espaço para funções, responsabilidades, diferenças e, acima de tudo, hierarquias atribuídas. Em vez disso, procura nivelar todas as hierarquias porque o sentido do eu está enraizado no eu e, portanto, pode tolerar poucas limitações impostas externamente. Despreza qualquer papel de submissão ou fala de limitação. Ele vive de auto-afirmação contínua.[21]
Enquanto isso, a maneira correta de pensar sobre a igualdade começa com o fato de que Deus atribuiu a todos nós um valor inestimável e igual, criando-nos à sua imagem. Todos os seres humanos possuem igual valor como imagem de Deus – desde o embrião no útero até o rei no trono. Nesse sentido, o cristianismo oferece um igualitarismo mais radical do que qualquer outra coisa. No entanto, Deus coloca a todos nós para trabalhar e não está tão preocupado com nossa posição e status quanto nós, como se nosso valor dependesse das hierarquias deste mundo. Em vez disso, Deus está fazendo algo maior. Aceitar sua agenda significa estar disposto a ser o último em vez de o primeiro, o mais baixo em vez de o mais alto. É a pessoa que diz: “Senhor, estou feliz por ser o mais baixo e o último”, a quem Deus agarra e diz: “Você é exatamente o tipo de trabalhador que estou procurando. Eu o colocarei em primeiro lugar” (Mt 20.16).
A igualdade piedosa não se sente ameaçada por papéis, responsabilidades ou mesmo hierarquias dadas por Deus. Deleita-se na diferença, confiando que toda distinção atribuída por Deus possui propósito e contribui para as inúmeras refrações de sua glória. Não pressupõe que as designações de diferentes mordomias e posições, responsabilidades e papéis de Deus prejudiquem a igualdade. Em vez disso, as enxerga como tantas partes de um corpo, cada parte destinada a fazer o trabalho de todo o corpo. Segue o pensamento de longo prazo e, em última análise, reforça a igualdade sob e no governo de Deus.
Cada um de nós deve dirigir dentro de nossas faixas na pista, quer sejamos um líder ou um seguidor. Cada um de nós deve manter o limite de velocidade e dirigir na direção em que Deus nos diz para dirigir. Todos devemos nos submeter a ele e à sua lei. Líderes lideram e seguidores seguem – tudo em submissão a ele. Nesse sentido, não há diferença entre liderar e seguir para um ser humano. Liderar de acordo com a lei de Deus é seguir de acordo com a lei de Deus. Eles são iguais, porque sua lei é uma só.
Em suma, uma boa igualdade funciona em conjunto com uma boa autoridade. As pessoas ouvem “autoridade” e pensam imediatamente em uma hierarquia unidimensional – superior ou inferior. Essa dimensão existe. No entanto, o quadro maior é multidimensional e comunal. Estabelecer uma autoridade é estabelecer um cargo, completo com responsabilidades, obrigações, propósitos e mecanismos de prestação de contas. E Deus coloca todos nós para trabalhar em vários cargos, porque cada escritório serve a um propósito muito maior do que ele mesmo. Ele dá um trabalho ao marido, outro à esposa; um ao pastor, outro ao membro; um aos pais, outro ao filho; um ao governador, outro aos governados; alguns “superiores”, alguns “inferiores”, mas tudo por causa de seus propósitos maiores em nossa vida, na igreja e na criação. Cada cargo, além disso, vem com uma lição teológica. O cargo de pai terreno nos ensina algo sobre nosso Pai celestial (Ef 3.15). Os cargos de marido e mulher nos ensinam algo sobre Cristo e a igreja (Ef 5.22–31). Cargos de filho e filha, sobre serem filhos de Deus e nossa herança prometida (Gl 4.1–7). Cargos de irmão e irmã, sobre ser um co-herdeiro com Cristo, nosso irmão primogênito (Rm 8.17). O cargo de governador, sobre a ira de Deus contra o pecado (Rm 13.4).
Os exercícios de autoridade e submissão, dois lados de uma moeda para um ser humano, sempre ensinam teologia, quer estejamos ensinando certo ou errado. Para estar em autoridade, você deve estar sob autoridade, e estar sob ela é estar nela. Por estarmos sob ou dentro, então, ensinamos ao mundo como é Deus, assim como o Cristo encarnado governou, submetendo-se inteiramente ao seu Pai celestial, mostrando ao mundo como é o Pai celestial.
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Os complementaristas devem ensinar que a autoridade de um marido e de um presbítero não inclui o direito à disciplina.
Finalmente, os complementaristas devem fazer um trabalho melhor de ensinar em suas igrejas que Deus não dá aos maridos e presbíteros o direito ou o poder de disciplinar. E tal ensino também deve funcionar de forma a prevenir abusos.
Permita-me explicar. Deus estabeleceu dois tipos de autoridade na terra. Ambos os tipos de autoridade possuem a autoridade para emitir mandamentos vinculativos. No entanto, apenas um tipo pode obrigar a obediência externamente com a ameaça da disciplina (exemplos: estado com o poder da “espada”; pais com o poder da “vara”; igreja com o poder das “chaves”). O outro tipo não pode aplicar pressão externa. Em vez disso, é uma forma de autoridade adequada à nova aliança e ao evangelho. Busca, portanto, compelir a ação apelando para o desejo interno (exemplos: maridos pelo poder do amor e da empatia; pastores pelo exemplo de uma vida justa). Rotulei esses dois tipos de autoridade como autoridade de mandamento e autoridade de conselho em outro lugar,[22] e expandi isso extensamente em meu livro sobre autoridade.[23]
O pai de uma criança de três anos pode decretar unilateralmente as consequências da desobediência. Assim como um policial. Assim como uma igreja sobre seus membros. Um marido não pode e um presbítero não pode (digo isso como congregacional). Em vez disso, estes dois últimos possuem uma autoridade de conselho.
Uma autoridade de conselho é uma autoridade real, porque Deus ordena que a esposa e o membro da igreja se submetam. Esposas e membros possuem uma obrigação moral real que Deus um dia imporá. No entanto, o marido e o presbítero/pastor, no aqui e agora, carecem de um mecanismo de fiscalização. Em vez disso, sua forma de autoridade os força a amar, a viver com compreensão, a ensinar com grande paciência, a esperar, a cortejar e, em todas as coisas, a se esforçar para provocar esse desejo interno (ver 1 Tm 1.5; Fm 8, 9, 14).
Como tal, uma autoridade de aconselhamento não usa a força, mas renuncia à força porque, para o fazer, tem de se apoiar na beleza do que quer que seja que leva a esses novos desejos. Funciona melhor apontando para essa beleza. Convidando. Convidando com bondade. Então, os corações “debaixo” dela querem segui-la. É uma forma de autoridade adequada à parceria, à colegialidade e à unidade.
Mais especificamente, Deus dá aos maridos a oportunidade de exercer esse tipo de autoridade com o poder de atração de um amor semelhante ao Cântico dos Cânticos de Salomão. Este é o seu dom de graça comum para toda a criação e parte da lógica subjacente da conexão tipológica entre maridos e esposas e Cristo e a igreja. Em seguida, Deus dá aos presbíteros a oportunidade da graça especial de exercê-la por meio de uma vida de retidão convincente. Sua retidão deve ser atraente para uma congregação nascida de novo, de modo que os presbíteros possam dizer com Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1).
Um bom marido ou pastor não quer forçar decisões agora, como um pai de uma criança de três anos deve de tempos em tempos. De que adianta o “amor forçado” de uma esposa? E quão justa é a “justiça forçada” de um membro? Isso não é a justiça do evangelho. Em vez disso, bons maridos e pastores jogam o jogo longo. A pergunta deles não é: “Como posso fazer com que ela seja uma esposa perfeita hoje, ou que eles sejam membros perfeitos?” A pergunta deles é: “Como posso ajudar ela e eles a se parecerem mais com Jesus nos próximos cinquenta anos, agindo eu como o próprio Jesus?” Esse é o trabalho para o qual o complementarismo bíblico chama os homens.
Tudo isso significa que uma autoridade de conselho é essencialmente evangelística. Você convida. Você não força. Você exercita uma mão comparativamente leve, não pesada. Você trabalha para estar presente e com a pessoa. Você não faz pronunciamentos autoritários ou sem investir no relacionamento e ganhar confiança. Às vezes você corrige, mas principalmente você compele com esperança. Você aponta para a lei, mas principalmente anuncia a graça. Você fala claramente, mas também fala gentilmente, porque seu objetivo é conquistar as pessoas – esposas para a unidade, membros da igreja para a justiça, não cristãos para o evangelho. Você não deve ser um ingênuo, assim como Jesus não era um ingênuo, nem deve desistir, assim como Jesus não desistiu. No entanto, como Jesus chamou seus discípulos de suas redes de pesca, maridos e presbíteros exercem autoridade iniciando e apontando em amor para o caminho a seguir. Esposas e membros, por sua vez, possuem a obrigação de seguir sempre que o marido ou presbítero liderar, assim como o ouvinte não cristão do evangelho.
O tipo de autoridade que Deus dá aos presbíteros e maridos, em outras palavras, não é matéria-prima de abuso. Quando exercido como Deus pretende, é matéria-prima de amor, ternura, compaixão, força e uma direção para Deus.
Conclusão
O complementarismo leva ao abuso? Não. Quando praticado biblicamente, é um preventivo de abusos e protetor de mulheres.
Os homens abusivos adoram usar a Escritura e a teologia complementarista para manter o controle? Sim. Novamente, Satanás gosta de usar a Bíblia para seus propósitos perversos (Mt 4.6), porque o abuso sempre mente sobre Deus. Nos ensina que Deus usa sua autoridade para propósitos perversos e enganosos e que não podemos realmente confiar nele.
Isso significa que os pastores têm uma responsabilidade especial de falar contra o abuso. Aqui está uma dica prática para os pastores: Ao preparar um sermão, pergunte-se como um abusador pode usar indevidamente seu texto bíblico e, talvez, incluir uma advertência contra tais usos indevidos em seu sermão. Inclua especialmente as advertências com os textos favoritos do agressor, como “volta-lhe também a outra [face]”; “fazei tudo sem murmurações nem contendas”; “suportai-vos uns aos outros”; “mulheres sejam submissas ao seu próprio marido”; e assim por diante.
Sou grato a Pidgeon por querer prevenir o abuso e Haddad por querer ajudar as mulheres a perceber e empregar plenamente seus dons. Eu só acho que há uma maneira melhor de realizar ambos os objetivos, que começa com todos nós, homens e mulheres, nos submetendo às estruturas — isto é, mandamentos — da Palavra de Deus. Isso inclui ensinar os outros a fazer o mesmo e corrigir, até mesmo excomungar, os abusadores que não o fazem.
[1] Ver tanto a declaração contra abuso como o artigo explicando a rejeição dos cristãos igualitarista de tal parceria na página 3 desse boletim: https://cbmw.org/wp-content/uploads/2013/05/1-1.pdf.
[2] Nick Haslam “Concept Creep: Psychology’s Expanding Concepts of Harm and Pathology.” Psychological Inquiry: An International Journal for the Advancement of Psychological Theory 27 (2016): 1–17.
[3] Organização Mundial de Saúde, “Violence against women prevalence estimates, 2018 – Executive summary,” modificado pela última vez 7 de Março, 2021, https://www.who.int/publications/i/item/9789240026681.
[4] Lori L Heise e Andreas Kotsadam, “Cross-national and multilevel correlates of partner violence: an analysis of data from population-based surveys,” The Lancet Vol 3 (June 2015): 332–340, https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S2214-109X%2815%2900013-3.
[5] Jonathan Leeman, “Essencial e indispensável: Mulheres e a missão da Igreja”, Voltemos ao Evangelho, modificado pela última vez em 1 de Novembro, 2020, https://voltemosaoevangelho.com/blog/2020/11/essencial-e-indispensavel-mulheres-e-a-missao-da-igreja/.
[6] Organização Mundial de Saúde, “Violence against women,” modificado pela última vez em 9 de Março, 2021, https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/violence-against-women.
[7] Mandy Truong, Bianca Calabria, Mienah Zulfacar Sharif, and Naomi Priest, The Conversation, “New study finds family violence is often poorly understood in faith communities,” modificado pela última vez em 17 de Abril, 2019, https://theconversation.com/new-study-finds-family-violence-is-often-poorly-understood-in-faith-communities-115562.
[8] Heise and Kotsadam, “Cross-national and multilevel correlates of partner violence,” The Lancet, https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S2214-109X%2815%2900013-3.,
[9] Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, Social Institutions & Gender Index: Synthesis Report (OCDE, 2014), 9, 16, https://www.oecd.org/dev/development-gender/BrochureSIGI2015-web.pdf.
[10] W. Bradford Wilcox, Soft Patriarchs, New Men: How Christianity Shapes Fathers and Husbands (Chicago: University of Chicago Press, 2004), 199–200.
[11]Wilcox, Soft Patriarchs, New Men, 206–207.
[12] Wilcox, Soft Patriarchs, New Men, 207.
[13] Pidgeon aponta para as críticas metodológicas do argumento que “homens que frequentam a igreja tem menores taxas de violência” listado nesse artigo: Mandy Truong, Naomi Priest, and Nicholas Biddle, The Conversation, “Domestic violence and Australian churches: why the current data have limitations,” July 23, 2017, “https://theconversation.com/domestic-violence-and-australian-churches-why-the-current-data-have-limitations-81467. Para ser claro, nem ela nem as autoras aqui fornecem evidência contrária. Suas preocupações são metodológicas.
[14] Institute for Family Studies and Wheatley Institution, World Family Map 2019: Mapping Family Change and Child Well-Being Outcomes. https://ifstudies.org/ifs-admin/resources/reports/worldfamilymap-2019-051819.pdf.
[15] World Family Map 2019, 33.
[16] World Family Map 2019, 36.
[17] World Family Map 2019, 26.
[18] World Family Map 2019, 26–27.
[19] W. Bradford Wilcox, Jason S Carroll, and Laurie DeRose, “Religious Men Can Be Devoted Dads, Too: Faith, like Feminism, Sets High Expectations for Husbands,” New York Times, May 18, 2019, accessed May 31, 2023, https://www.nytimes.com/2019/05/18/opinion/sunday/happy-marriages.html?unlocked_article_code=WoMOBdI6MyC1Yab1Xn9fwLihFxewlUqD2E_GKDFVfY2N4pM4w1FhbQjcaj4lsyCVtMMGBcO5C5OAqwbZWItsOJZ8niUBcNGuVXzlObnFRbCgGJliKvPQyGlJ_bYuACdSt6bLLv5AbDgqECc2hcu5d8XeMJCnUi7YwxJH1u8rC7-kMzbSFXVaoQNu4iuXOlFXCQJkGaCyuu2CbRKdDfvN5LOhf3WB45gMd_HYBynBEZxFWkLdZxIvi_OtjqOAtSJccY7mZd72aKUUcdKQWBLMk-jn6zO5Q9BXGW6x06E_cyyc75noDEx73X2htgPNPkqDU-ov9vd8MUAgr8sunA2gDw&smid=url-share.
[20] Esse parágrafo e o anterior fazem parte do meu livro Authority: How Godly Rule Protects the Vulnerable, Strengthens Communities, and Promotes Human Flourishing (Wheaton, IL: Crossway, lançamento em Setembro, 2023).
[21] Esse parágrafo e alguns dos seguintes adotam bastante do meu próximo livro Authority: How Godly Rule Protects the Vulnerable, Strengthens Communities, and Promotes Human Flourishing (Wheaton, IL: Crossway, lançamento em Setembro, 2023).
[22] Jonathan Leeman, “Complementarismo: um momento de acerto de contas (Parte 3/5): Como avançar? Uma melhor compreensão da autoridade e da igualdade”, Voltemos ao Evangelho, modificado pela última vez em 4 de Maio, 2020, https://voltemosaoevangelho.com/blog/2020/05/complementarismo-um-momento-de-acerto-de-contas-parte-3-5/.
[23] Jonathan Leeman, Authority: How Godly Rule Protects the Vulnerable, Strengthens Communities, and Promotes Human Flourishing (Wheaton, IL: Crossway, lançamento em Setembro, 2023).
Observações do tradutor:
*As notas numeradas com algarismos arábicos são do próprio autor e se encontram ao fim do artigo. Por isso, optei por enumerar minhas notas com algarismos romanos.
[i] “‘Concept creep’ é a expansão semântica progressiva de conceitos relativos a dano tais como bullying, distúrbio mental, preconceito e trauma”. HASLAM, Nick, e DAKIN, Brodie C, et al. “Harm inflation: Making sense of concept creep”. EUROPEAN REVIEW OF SOCIAL PSYCHOLOGY, vol.31,no.1, 2020, pp. 254-286. Disponível em: https://findanexpert.unimelb.edu.au/scholarlywork/1457784-harm-inflation–making-sense-of-concept-creep. Acesso em: 15 jul. 2023.
[iii] Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
[iv] Pesquisa Nacional de Famílias e Casas, Segunda Onda (National Survey of Families and Households, Wave 2).
[v] Institute for Family Studies.
[vi] Intimate partner violence (IPV).
[vii] World Family Map.