O Senhor e Pastor pode se agradar de seu povo?

Deus quer se relacionar com seu povo

Uma das coisas costumeiramente difíceis de descobrir, é, sem exorbitância, como agradar alguém com algum presente ou mesmo, uma atitude, quer seja pelo seu gosto exótico, quer refinado ou, porque, de alguma forma, o presenteado nos parecer ter um gosto com variáveis um tanto indecifráveis.

Experimentamos isso no nosso dia a dia. Quantos de nós já não se pegou dizendo com lamento algo nesses termos: “pensei que estava agradando e, na realidade, trouxe constrangimento”.

Parece que alguns presentes específicos parecem mais difíceis:

  • Uma gravata para um homem.
  • Um perfume. Esse, é quase impossível acertar se já não tivermos uma referência certa. (Sem falar que há aqueles que não gostam de perfume).
  • Um tênis para um adolescente. Quem sabe as nossas referências sejam ainda: Conga, Bamba e o hiper confortável e versátil “kichute”? Não se iluda. Se isso for assim, certamente não contentaremos os jovens de hoje com um gosto naturalmente mais apurado.

Descobrimos outras variáveis:

  • O pé de nosso filho ou neta aumentou. Temos que trocar. Mas com o preço daquela promoção não tem o tamanho dele ou dela, o que fazer? Será que vai gostar do outro modelo?
  • A sobrinha cresceu, está com 13 anos e compramos uma boneca “Lu Patinadora” ou uma cozinha “bankuka”.
  • O sobrinho também cresceu. Quem sabe ele goste de um videogame Atari?,

Não é estranho acontecer, em geral, por influência do presenteado, trocarmos por outro modelo ou mesmo outro produto. É difícil saber o gosto das pessoas.

Creio que em parte devido a isso, é que algumas lojas criaram os “vales-presentes” com os quais podemos presentear com um valor preestabelecido e a pessoa presenteada comprar em determinada loja o que lhe agradar dentro do valor adquirido. O que exceder ao valor, a pessoa poder completar com seus recursos. É uma solução razoável.

Voltemos à Escritura.

Miquéias

Cerca de 725 a.C., Deus fala ao Reino Norte demandando com o seu povo rebelde por intermédio do profeta Miquéias. Diante disso, o profeta faz a pergunta: “Com que me apresentarei ao Senhor?” (Mq 6.6).

Essa certamente é a grande pergunta com a qual todo o ser humano se deparará um dia. O homem foi criado para se relacionar com o seu Criador. Deus ao criar o homem conferiu-lhe uma identidade própria que o distinguiria de toda a criação.

É justamente pelo fato de o homem ter a impressão pessoal de Deus no mais alto grau, é que tendo rompido com o Criador, necessita voltar-se para Ele.

A nossa fome espiritual nada mais é do que o revelar do nosso vazio e a necessidade de que ele seja preenchido com algo que ultrapassa as nossas possibilidades.[1] Daí o vazio ser o tema recorrente da humanidade.[2]

Ateísmo que não satisfaz

Frame escreveu:

O argumento bíblico a ser mencionado aqui é que ninguém é realmente ateu, no sentido mais sério desse termo. Quando as pessoas se afastam da adoração ao Deus verdadeiro, elas não rejeitam o absoluto em geral. Antes, em vez do verdadeiro Deus, eles adoram ídolos, como Paulo ensina em Romanos 1.18–32. A grande divisão na humanidade não é que alguns adorem um deus e outros não. Pelo contrário, é entre aqueles que adoram o Deus verdadeiro e aqueles que adoram falsos deuses, ídolos. A adoração falsa pode não envolver ritos ou cerimônias, mas sempre envolve o reconhecimento da asseidade, honrando alguns que não dependem de mais nada.[3]

O ateísmo sempre incorre em contradição. Destruímos a fé e a religião, e idolatramos os nossos sistemas de pensamento.

Marx (1818-1883) que entendia a religião como ópio do povo,[4] fazendo o possível para destruí-la como uma pressuposição fundamental ao progresso,[5] recebe como observação crítica a constatação do agnóstico Russell (1872-1970), que diz: “Marx se dizia ateu, mas conservava um otimismo cósmico que somente o teísmo poderia justificar”.[6]

Retomando o nosso ponto, a questão permanece não como algo retórico, mas, ontologicamente real e, por isso, existencial: Como nos colocaremos diante do Deus absolutamente santo e justo? Como agradá-lo?

6 Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?  7 Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma?  8 Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus. (Mq 6.6-8).

Voltaremos a esse assunto no próximo post.

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[1]“O tédio é um dos meios seguros de medir o seu próprio vazio interior! Ele tem a precisão de um termômetro para revelar a extensão do vazio do seu espírito. A pessoa que está por completo entediada, vive e trabalha em um vácuo. Seu eu interior é um vácuo, e não há nada que ofenda mais à natureza do que um vácuo. É uma das regras infalíveis deste universo que todos os vácuos devem ser preenchidos e preenchidos de imediato.” (Billy Graham, Em Paz com Deus, Rio de Janeiro, Record, © 1984, p. 18). “Por que estamos vazios? Porque o Criador nos fez para Si; e nunca encontraremos a perfeição e a plenitude longe de Sua comunhão” (Billy Graham, Em Paz com Deus, p. 19).

[2] Ver: Alister McGrath, O Deus Desconhecido: Em Busca da Realização Espiritual, São Paulo: Loyola, 2001, p. 7. “A perda total de significado implícita no ateísmo é de mais para que muitos suportem. As pessoas precisam de alguns valores, alguns padrões, algumas maneiras para orientar suas vidas. Entre essas pessoas, aqueles que continuam a resistir à crença no verdadeiro Deus tornam-se inconsistentes quanto ao seu ateísmo, ou tornam-se idólatras. Se não querem o verdadeiro Deus, terão de procurar outro” (John Frame, Apologética para a Glória de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 150).

[3]John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology, Phillipsburg, New Jersey: P & R Publishing, 2015, p. 7.

[4] “A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo.

            “A supressão [Aufhebung]* da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real. A exigência de que abandonem as ilusões acerca de uma condição é a exigência de que abandonem uma condição que necessita de ilusões” (Karl Marx. Crítica da filosofia do direito de Hegel (Coleção Marx e Engels) (Locais do Kindle 2056-2059). Edição do Kindle).

*Essa palavra alemã comporta sentidos distintos e, até mesmo contraditórios. Contudo, o que parece claro é que a doutrina “superada”, tornou-se “antiquada”, (Veja-se: Superar: In: José Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, São Paulo: Edições Loyola, 2001, v. 4, p. 2794-2795

[5] Em 1846, Marx e F. Engels (1820-1895) escreveram:

“Até o presente os homens sempre fizeram falsas representações sobre si mesmos, sobre o que são ou deveriam ser. Organizaram suas relações em função de representações que faziam de Deus, do homem natural etc. Os produtos de sua cabeça acabaram por se impor à sua própria cabeça. Eles, os criadores, renderam-se às suas próprias criações. Libertemo-los, pois, das quimeras, das ideias, dos dogmas, dos seres imaginários, sob o jugo dos quais definham. Revoltemo-nos contra este predomínio dos pensamentos” (Karl Marx; Friedrich Engels, A Ideologia Alemã, 3. ed. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1982, p. 17).

            A conclusão de Marx, é que a religião deve ser suprimida. Na sua tese de doutorado, procurou provar que no país da razão, não há lugar para Deus:

           “Leva o papel-moeda para um país onde não se conhece esse uso do papel e cada qual se rirá de tua representação subjetiva. Vai com teus deuses para um país em que vigoram outros deuses e terás a prova de que padeces de imaginações e abstrações. Com razão. Quem tivesse levado um deus eslavo para os gregos antigos teria encontrado a prova da não existência desse deus. Porque para os gregos ele não existia. O que um país bem determinado foi para deuses estrangeiros bem determinados o país da razão é para o Deus em geral, ou seja, um território em que ele deixa de existir” (Karl Marx,  Diferença entre a filosofia da natureza de Demócrito e a de Epicuro (Locais do Kindle 2895-2899). (Boitempo Editorial).

[6]Bertrand Russell, História da Filosofia Ocidental, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967, v. 3, p. 339.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.