Um blog do Ministério Fiel
Transcrição do vídeo
Este é um tema importante: homens menosprezando as mulheres, tratando-as como inferiores, talvez até em nome do complementarismo. Eu gostaria que não tivéssemos que resolver isso, mas temos.
“Querido Pastor John, meu marido e eu estamos casados há quase trinta anos. Ele está convencido de que há algo errado comigo. Sou cristã desde os 10 anos de idade. Ele está convencido de que Deus me vê como subserviente a ele, e em todos os sentidos. Esta noite, perguntei se ele acredita que as mulheres são subservientes aos homens na Criação, e ele respondeu sem hesitação: ‘Sim’. Ele sempre me tratou como se fosse superior a mim em todos os sentidos. A maneira como ele me trata é muito dolorosa e não acho que posso aguentar mais seu jeito raivoso e agressivo com que me trata. Quando ele fica bravo comigo por qualquer coisa, ele me tranca fora do nosso quarto e ou até mesmo da nossa casa. Eu quero fugir! Eu não aguento mais viver assim! Por favor, ajude a encorajar esposas como eu que são tratadas como inferiores!”
Talvez seja de alguma ajuda se eu explicar, do ponto de vista bíblico, cinco erros pecaminosos e prejudiciais que este homem está cometendo, e pelos quais ele deveria ser responsabilizado. Ela não diz se ele afirma ser cristão ou não. Ele certamente não está agindo como um cristão. Mas algum homem ou homens precisam entrar em sua vida e responsabilizá-lo por esses cinco pecados.
Centrado em si mesmo
Agora, antes de mencionar os cinco erros pecaminosos e prejudiciais que ele está cometendo, deixe-me olhar por trás destes erros, e mostrar algo mais profundo, porque há sempre algo mais profundo do que os princípios a partir dos quais nos comportamos. Ele claramente tem alguns princípios a partir dos quais se comporta, e é claro que por trás deles há algo mais profundo; ou seja, ele está significativamente preso ao pecado raiz do egoísmo e do orgulho. O seu “eu” ocupa um lugar tão central em suas próprias preferências que não consegue ver ou sentir a beleza de sair de si mesmo e encontrar alegria em viver para o bem e a alegria de outra pessoa.
Agora, há um nome chique para isso hoje; isso se chama narcisismo. Ele está tão fixado em si mesmo, em seus prazeres, em seus privilégios e em seus direitos, que considerar outra pessoa mais significativa do que ele é literalmente inconcebível. Filipenses 2.3 diz que devemos considerar todas as pessoas superiores a nós. Se você falasse essas palavras para ele, seria como se estivesse ouvindo grego ou alguma outra língua bem diferente da dele! Elas nem sequer fariam sentido. Entrariam por um ouvido e sairiam pelo outro.
Então, aí está a raiz. A palavra bíblica é pecado, não narcisismo. As palavras bíblicas são sólidas e para sempre: pecado, orgulho e exaltação própria. Até que Deus intervenha e revele a este homem a profunda feiúra de sua alma, para que ele chore sinceramente com convicção e contrição, sem a intenção de manipular nada nem ninguém, estas cinco outras marcas que caracterizam esse pecado não mudam. Esse é o milagre pelo qual devemos orar. Todo cristão já experimentou esse milagre. É chamado de novo nascimento, e Deus pode causar isso no pior dos pecadores. Então, essa é a direção pela qual oro.
Aqui estão meus cinco erros pecaminosos e prejudiciais que ele está cometendo:
1. As mulheres não são subservientes aos homens
Ele pensa que existe, na Criação – isto é, na forma como o mundo o mundo foi criado por Deus – uma subserviência inerente às mulheres. Ela diz: “Esta noite perguntei a ele se ele acredita que as mulheres são subservientes aos homens na Criação, e ele respondeu sem hesitação: ‘Sim’”.
Agora, estou assumindo, a partir da palavra subserviente e do fruto da convicção deste homem, que o que ele vê na Criação é muito diferente daquilo que a Criação realmente ensina. Se formos para Gênesis 2–3 e observarmos a Criação se desenrolar sequencialmente após a declaração fundamental em Gênesis 1:.27, de que homens e mulheres são criados igualmente à imagem de Deus, eis o que vemos. (E há mais. Estou apenas resumindo alguns.)
- O homem foi criado primeiro e recebeu instruções para a vida no jardim, de modo que, pelo desígnio de Deus, ele tenha um tipo de responsabilidade única que será diferente da responsabilidade de sua esposa.
- Deus diz em Gênesis 2.18: “Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea”. Assim, a mulher é criada — ao contrário dos animais — do lado de Adão: “ é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gênesis 2.23). Homem e mulher são profundamente parecidos e, ainda assim, maravilhosamente diferentes. A mulher é chamada de “uma ajudadora idônea” – isto é, adequada, completa, que complementa. A propósito, é daí que se originou a palavra “complementarismo”: daquela palavra adequada ou complementar em Gênesis 2.
- O tentador veio e o homem falhou em assumir a responsabilidade que Deus lhe havia dado. Você pode ver isso em Gênesis 3.6: “Vendo a mulher. . . tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.” Estas são palavras cruciais no versículo 6: “. . . tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.” Em outras palavras, ele estava ali, alinhando-se com o ataque do diabo contra a ordem sábia e boa de Deus, ao ficar em silêncio quando o inimigo atacava sua esposa.
- O pecado destrói o lindo relacionamento que Deus criou, esse relacionamento complementar. O pecado destrói esse relacionamento, e você vê isso porque o homem culpa a mulher e diz: “Olha, se você vai punir alguém, castigue-a porque você a deu para mim e ela me tentou” (veja Gênesis 3.12). . Em outras palavras, Adão coloca Deus como o problema aqui. É uma descrição devastadora da Queda nas relações humanas e nas relações entre Deus e o homem.
Então, o que a Criação ensina é que o homem foi projetado para se maravilhar com sua parceira-ajudadora. Paulo a chama de a “glória” do homem em 1 Coríntios 11.7. O homem tem de bom grado a responsabilidade única de tomar uma iniciativa especial para protegê-la. Quem era superior a quem e em que aspectos era algo irrelevante para a questão central do amor e da proteção. Eles eram à imagem de Deus e perfeitamente adequados à fecundidade e alegria um do outro. Eles estavam nus e não tinham vergonha. Eles não se envergonharam um do outro. O fato de serem profundamente iguais e maravilhosamente diferentes no desígnio de Deus não causou vergonha. Então, esse marido sobre quem estávamos sendo questionados interpretou profundamente errado a Criação. Esse é o erro pecaminoso número um.
2. As diferenças não diminuem o valor
Seu segundo erro pecaminoso é inferir da Criação que existe um relacionamento superior-inferior. Ela diz: “Ele sempre me tratou como se fosse superior a mim em todos os sentidos”. Ele está dizendo que os homens são superiores e as mulheres são inferiores. E ela diz que isso é “em todos os sentidos”. Existem dois tipos de erros aqui, e ambos são graves.
Um deles é não conseguir distinguir se as palavras superior e inferior referem-se à questão do valor de cada um. Ele nem aborda isso. Ele tem algo assim em mente?
E a outra é não conseguir distinguir capacidades e competências em que as mulheres são, em geral, superiores aos homens, e competências e capacidades em que os homens são, em geral, superiores às mulheres. E essas diferenças não implicam maior ou menor valor na personalidade – quem você é à imagem de Deus. Portanto, este marido está inferindo pecaminosamente uma superioridade indiferenciada para os homens – para si mesmo em particular – que não existe.
3. A Bíblia exorta os maridos a honrarem as suas esposas, e não a humilhá-las
O terceiro erro pecaminoso que ele comete é inferir do seu modelo de “superioridade masculina” que ele pode, portanto, tratar a sua esposa de forma humilhante e que isso é correto. Assim, ele passa de uma leitura errada da Criação para uma compreensão errônea do significado de superioridade e inferioridade, para justificar um comportamento humilhante. Isso é maligno em vários níveis. Vou apenas mencionar um:
Em 1 Pedro 3.7, Pedro diz: “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida.”
E aqui está o ponto que falta totalmente a este homem: mesmo quando nos concentramos numa área onde as mulheres são mais frágeis, a resposta bíblica e cristã de um marido não é humilhar, mas honrar. Aí está o problema. Isso é algo profundo, profundo e sério, algo para o qual ele está completamente cego. Na forma como 1 Pedro 3.7 está estruturado, você tem o termo central, “tendo consideração”, e de um lado está a “mulher como parte mais frágil”, e do outro lado está a mulher como “herdeiros da mesma graça de vida”. O que significa que este marido a qual nossa ouvinte está reclamando está totalmente alheio a isto: quer você se concentre em alguma fraqueza específica ou no fato de que tanto homens quanto mulheres estão destinados à glória, o chamado é o mesmo: honra – não vergonha. O chamado é honrar, não rebaixar, e ele não consegue perceber isso.
4. A raiva e a agressão contradizem o desígnio de Deus
Seu quarto erro pecaminoso é que ele vive agora com raiva e agressividade. Esta é a sua cela de prisão. Dado o que ele vê e sente, a raiva é inevitável. Ele está vivendo fora do bom desígnio de Deus, e a inevitável dissonância causa agravamento contínuo.
Tiago 1.19–20 diz algo que se aplica a todos, inclusive a este marido: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar; Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus”. Oh, meu Deus – que texto importante para o casamento!
5. Deus não tolerará agressores
O resultado de viver na escravidão do pecado e da ilusão é agir como um carcereiro. Deixe-me apenas ter certeza de que você ouviu o paradoxo aí: o resultado de estar preso ao pecado faz com que ele aja como um carcereiro, para esconder o fato de que está na prisão. Ele se tornou um valentão infantil, trancando-a para fora do quarto e de casa.
Isso é algo simplesmente patético. É como uma criança fazendo birra, só que agora ele está maior, então, em vez de correr para o quarto e bater a porta contra os pais, ele pode entrar correndo e trancá-la do lado de fora.
Procure ajuda
Agora, ela não me pediu nenhum conselho; ela só queria que eu dissesse algo que pudesse ser útil em geral quando as mulheres estão lidando com um sujeito como esse. Mas deixe-me ir em frente e dizer o que penso. Presumo que não houve abuso físico. Ela não disse que houve. E a razão pela qual estou lhe contando isso é porque o que estou prestes a dizer seria diferente se tivesse ocorrido algo assim. Por outras palavras, se ele a estiver sendo fisicamente violento, então penso ser dever dela – correta e legalmente falando – recorrer à polícia e a às leis que o governo estabeleceu para ajudar mulheres a lidar com esse tipo de violência.
Mas, quer esteja ocorrendo violência física ou não, ela deveria dar um passo à frente – e espero que ela esteja em uma boa igreja onde isso seja possível. Ela deve procurar por pastores e líderes de confiança em sua igreja local, contar a sua situação a eles e pedir que intervenham. Penso que faz parte do trabalho da liderança da igreja intervir na vida das ovelhas – homens e mulheres – e ser para elas um escudo protetor, dando proteção, orientação e sabedoria sobre como seguir em frente em situações tão difíceis como esta.
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