O quanto de erros teológicos uma pessoa pode acreditar e ainda assim ser salva?

Episódio do Podcast John Piper Responde

Transcrição do vídeo

O que devo acreditar para ser salvo? E que verdade, se eu negar, provará que não sou salvo? Teologia e salvação pessoal é um tema muito pedido em nosso podcast. E é uma categoria ampla também, que engloba muitas perguntas relacionadas, como veremos hoje.

Desta vez, a pergunta vem de uma mulher de vinte anos que escreve: “Pastor John, olá! Já fui a muitos funerais na minha jovem vida – muito mesmo! O discurso comum em todos eles é que a pessoa no caixão era legal e, portanto, agora está em um lugar melhor. Sempre ocorre este tipo de clichê sofisticado. Tal cenário me confronta repetidamente com uma enorme pergunta. E eu acho que sei a resposta intuitivamente, mas eu gostaria de suas palavras para isso.

“Que papel as convicções teológicas pessoais desempenham na salvação pessoal? É o que eu nunca ouço nesses funerais. Um texto como Romanos 10.9-10 sempre vem à minha mente. Por acaso haveriam outros textos? E como você sugeriria que uma pessoa normal como eu, que não prega ou escreve livros, documentasse minhas próprias convicções teológicas do coração, as confissões da minha boca, de uma forma que possa ser lembrada no meu funeral, quando esta pobre língua gaguejante ficar em silêncio?”

Antes de entrar no assunto, gostaria de informar aos nossos ouvintes que estão em outro país e cultura uma coisa. Aqui nos EUA temos uma cultura de funeral que talvez possa ser diferente de seu país e cultura. Nossos funerais costumam demorar alguns dias; várias homenagens são feitas durante estes dias antes do sepultamento, e é importante você saber disso para compreender melhor o que vou dizer a seguir. Então, vamos agora às respostas para a nossa ouvinte…

Esta é uma questão de várias camadas. E cada uma das camadas — vejo três, pelo menos — é muito importante. E aqui estão eles (como eu os ouço) na ordem que se move do menos para o mais importante, mesmo que todos sejam importantes.

Número um, a primeira camada refere-se ao tipo de coisas que são ditas em um funeral que parecem tão desconectadas do que realmente importa na vida de uma pessoa, especialmente no que diz respeito às convicções teológicas que uma pessoa tinha.

Número dois, outra camada é como viver sua vida de tal forma que você documente suas mais profundas convicções para que possam ser lembradas em seu funeral.

E a terceira camada da questão (para usar suas próprias palavras) é esta: “Que papel as convicções teológicas pessoais desempenham na salvação pessoal?” Agora, isso é realmente grande. Então, deixe-me tratar um de cada vez.

Viva Suas Convicções

Duas coisas têm que acontecer se você quer que a verdade seja dita sobre sua vida espiritual e suas convicções de coração em seu próprio funeral. Uma é que você vive essa vida (que é a mais importante) e que você mantém essas convicções. A outra é que as pessoas espiritualmente perspicazes precisam falar em seu funeral, porque, se não estão discernindo espiritualmente, você sabe o que vão dizer. “Ela tinha um bom senso de humor.” “Ela fazia sobremesas muito boas.” “Ela fazia as pessoas se sentirem em casa.”

Agora, essas são coisas boas. É bom ser lembrado por essas coisas. Mas honestamente, quando estamos em um funeral é como se estivéssemos à beira da eternidade, olhando para o céu e para o inferno, e quando o falecido foi uma pessoa que viveu uma vida de devoção a Jesus e obediência à sua palavra e adoração de sua glória e avanço de sua missão — essa pessoa deve ter alguém que é capaz de articular o que ela acreditava e como ela viveu, e mostrar essas coisas como mais importante do que todo o resto sobre suas habilidades na cozinha e outras coisas que sabia fazer.

Ativo e Verbal

Em segundo lugar, ela pergunta: “Como eu vivo minha vida de tal maneira que eu possa deixar evidentes as minhas convicções para que elas possam ser lembradas em meu funeral?” E eu acho que a resposta é esta: Seja ativo em sua obediência a Jesus, e seja verbal sobre suas convicções bíblicas fundamentais. A Bíblia ensina ambos: ativo em sua obediência, verbal em articular o que você acredita biblicamente.

Jesus disse que devemos “deixar que [nossa] luz brilhe diante dos outros, para que eles possam ver [nossas] boas obras e dar glória ao [nosso] Pai que está no céu” (Mateus 5.16), que é o que você gostaria que as pessoas fizessem em seu funeral: dar glória a Deus por causa de suas boas obras (1 Pedro 2.12). E na primeira epístola de Pedro, ele disse que nós, cristãos, temos sido misericordiosos para que possamos “proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9). Assim, nossas vidas devem ser visíveis em suas boas ações e audíveis quando declaramos a verdade de nossas convicções bíblicas sobre Deus, que são o fundamento dessas boas ações visíveis.

Muitas pessoas pensam que tudo o que os cristãos precisam fazer é viver uma vida de boas ações, e isso será suficiente para abençoar o mundo. Isso não é absolutamente verdade. Não é suficiente. Ninguém vai receber a mensagem salvadora apenas através de nossas boas obras. Uma vida de amor e boas ações é essencial, mas não é suficiente para levar alguém a fé salvadora em Jesus. Deve haver uma mensagem verbal sobre a verdade de Deus e Cristo, o verdadeiro caminho da salvação.

Paulo disse que a salvação “vem de ouvir e ouvir através da palavra de Deus” (Romanos 10.17). “A palavra”. “A palavra” significa declarações, proposições que carregam um significado claro sobre a realidade de Deus e sua obra no mundo, sua obra em Cristo e a necessidade da fé.

O que devo acreditar?

O que me leva agora à terceira e mais difícil questão. Que papel as convicções teológicas pessoais desempenham na salvação pessoal? Há duas coisas (eu acho) cruciais em resposta a essa pergunta.

Primeiro, há declarações verdadeiras sobre a obra salvadora de Deus que, se uma pessoa nega, mostra por essa negação que não é um cristão. A segunda coisa a dizer é que a Bíblia ensina que acreditar que essas declarações são verdadeiras na Bíblia não é suficiente para mostrar que você é um cristão.

O apoio bíblico para a primeira declaração é 1 João 4.2-3: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus”. Em outras palavras, existem doutrinas como a encarnação (Cristo veio em carne) que são essenciais. Se uma pessoa nega que o Filho de Deus se tornou humano, não pode ser cristão.

O apoio bíblico para a segunda declaração é Tiago 2.26: “a fé sem obras é morta”. Os demônios têm fé nesse sentido – que as coisas são verdadeiras; nós acreditamos que as coisas são verdadeiras. Então, não é suficiente para a salvação apenas acreditar que as coisas sobre Deus são verdadeiras. Existem algumas afirmações doutrinárias que são necessárias que sejam afirmadas por um cristão, mas essa afirmação não é suficiente para provar que a fé salvadora em Jesus é genuína. Precisa haver uma lealdade de coração profunda a Jesus e uma vida de amor que confirme a realidade da nossa fé.

Nas Mãos de Deus

Há outro assunto relacionado que talvez tenhamos tempo para falar. As pessoas vão perguntar neste momento: “Quanta verdade bíblica você precisa acreditar para ser um cristão? E em quanto erro você pode acreditar até que você não seja um cristão?” Agora, eu tenho duas respostas para essas duas perguntas.

Primeiro, não vamos focar em mínimos, mas em máximos. Em outras palavras, vamos levar o maior número possível de pessoas para a verdade bíblica, em vez de insistir na questão: Quão pouco as pessoas podem acreditar e ainda ser salvas?

E minha segunda resposta é esta: Eu acho que só Deus pode responder a pergunta, “Quanto erro você pode acreditar até que isso mostre que você não está salvo?” Agora, eu não estou contradizendo 1 João 4.2-3 quando digo isso. Existem algumas doutrinas tão essenciais que ao negá-las você não é pode ser um cristão. O que estou dizendo é que há centenas de declarações e mandamentos na Bíblia — éticos, teológicos, históricos e eles são mais ou menos essenciais para preservar o Evangelho salvador. Quantas dessas pessoas podem negar que estão em rebelião até que mostrem que seu coração não está certo com Deus? E eu acho que só Deus, no final, pode responder a essa pergunta.

Temos que tomar decisões. Sim, temos. Praticamente falando, todos nós temos que tomar decisões sobre como vamos definir doutrinariamente a nossa igreja sobre como alguém pode ser um membro dela, pertencendo à nossa organização ou ministério. Mas quando se trata da salvação final e do julgamento de quem é finalmente salvo e quem não é, depois de termos levado em conta 1 João 4, eu acho que é melhor deixar para Deus o chamado de quanta negação da verdade bíblica uma pessoa pode crer ao ponto de que isso mostre que ela não é salva, que seu coração está realmente em rebelião contra Deus.


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Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: How Much Error Can I Believe and Still Be Saved? | Traduzido por DB Studios (Arthur Baguera). Revisão e Edição por Vinicius Lima.