Qual é a essência do amor?

Episódio do Podcast John Piper Responde

Transcrição do vídeo

Olá e bem-vindos de volta ao podcast nesta sexta-feira. Bem, o que é o amor? Essa é uma pergunta atemporal. Como você sabe, Pastor John, de tempos em tempos recebemos perguntas sobre a natureza do amor – o amor de Deus por nós, nosso amor por Deus, nosso amor uns pelos outros – e o que significa que “Deus é amor”, como 1 João 4.8 nos diz. Além disso, também recebemos perguntas sobre como a alegria se relaciona com o amor, o que faz parte do que entendemos por hedonismo cristão. Você mencionou um tempo atrás que estava trabalhando em 2 Coríntios recentemente e viu algo que se relaciona a todas essas perguntas que eu acabei de mencionar e as une de uma maneira surpreendente. Você pode resumir sua descoberta de 2 Coríntios e explicar como ela toca todas essas perguntas sobre amor e alegria?

 

Eu posso tentar isso. Essa descoberta foi surpreendente, não só por ser tão simples, mas por possuir vastas implicações para a natureza do próprio Deus, em como ele ama a si mesmo, em como nós o amamos, em como ele nos ama – mas também, foi surpreendente porque o que eu vi não foi algo complicado, inacessível e de difícil entendimento nos escritos de Paulo, mas algo que ele menciona em uma interação prática com os coríntios acerca de seus planos de viagem. Você não espera encontrar grandes implicações desta natureza da realidade quando alguém está falando sobre seus planos de viagem.

Alegria de Paulo e Deles

Deixe-me ler 2 Coríntios 2.1-4 e fazer três observações enquanto passamos por este texto. E essas três observações são incrivelmente vastas em suas implicações.

  1. A alegria dos outros é a sua alegria.

Aqui está o que ele escreveu: Isto deliberei por mim mesmo: não voltar a encontrar-me convosco em tristeza. Porque, se eu vos entristeço, quem me alegrará, senão aquele que está entristecido por mim mesmo? (2 Coríntios 2.1-2).

Assim, a primeira observação que faço é que a razão pela qual Paulo decide não fazer uma visita dolorosa é porque, se a alegria deles diminui, a alegria de Paulo diminui, o que implica em que alegria dos coríntios é, em alguma medida, a alegria de Paulo. Ele encontra sua alegria na alegria deles. Se a deles sobe, a dele sobe; se a deles desce, a dele desce. Essa é a observação número um. A alegria de Paulo é, em certa medida, a deles, ou a deles é, em alguma medida, a dele, de modo que, se a deles cair – o que uma visita dolorosa causaria – a dele cairia. Ele não quer isso, então ele não vai.

  1. A sua alegria é a alegria dos outros.

Ele continua, “E isto escrevi para que” – então ele está escrevendo esta carta em vez de ir – “quando for, não tenha tristeza da parte daqueles que deveriam alegrar-me”. Agora, por que Paulo não queria ficar triste? Ele diz o seguinte: “confiando em todos vós de que a minha alegria é também a vossa.” (2 Coríntios 2.3).

Então, minha segunda observação é que a razão pela qual Paulo escreveu uma carta em vez de fazer essa visita dolorosa é que a alegria dele era a alegria dos coríntios. Isso é o que ele diz. Eu não estou eu mesmo deduzindo isso como uma implicação. Ele apenas diz: “minha alegria seria a alegria de todos vocês.” Assim, se a alegria dele diminuísse por conta de uma visita dolorosa, a alegria deles também iria diminuir, porque sua alegria é, em alguma medida, diz ele, a alegria deles. Essa é minha segunda observação.

  1. O amor encontra alegria na alegria dos outros.

Agora, aqui está o resto do texto, 2 Coríntios 2.4. Ele descreve o mesmo desejo agora – não fazer uma visita dolorosa, mas sim escrever a eles – apenas desta vez em termos de ser motivado não pela alegria, mas pelo amor. Aqui está o que ele diz: “Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida.”

Então, minha terceira observação é que, na mente de Paulo, amor significa encontrar nossa alegria na alegria do outro, naquele que é amado. Ele não queria que sua alegria fosse prejudicada porque a alegria deles era a alegria de Paulo. E ele não queria que a alegria dele fosse prejudicada porque a alegria dele era a alegria dos coríntios. E depois recua e diz: “para que vocês conheçam o amor”.

Sabemos que Paulo está escrevendo como cristão e, de outras coisas que ele diz até mesmo neste livro, que a alegria cristã é a alegria que tem Deus em Cristo como seu foco. Então, a definição de amor que ele dá aqui é esta: amor é encontrar a nossa alegria na alegria do amado em Deus. Quando eles têm alegria em Deus, essa é a nossa alegria, e estamos dispostos a dar nossas vidas para trazer sua alegria em Deus. Deus está disposto a dar sua vida para trazer a nossa alegria em Deus.

O amor dentro da Trindade

Agora, precisamos dar um passo atrás e testar isso, para ver se estamos em algo aqui, e acho que estamos em algo muito significativo.

Vamos começar testando isso com o amor supremo – “Deus é amor” (1 João 4.8). Antes que houvesse criação, Deus era Deus, e Deus era amor. O que significa que na comunhão da Trindade, antes de haver pessoas para amar, Deus era amor. E na comunhão da Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – Deus estava amando a Deus. Em Mateus 3.17, Deus diz a seu Filho: “Este é o meu Filho amado. E então ele diz: “em quem me comprazo” – isto é, encantado, alegre. É isso que significa para o Pai amar o Filho. “Eu gosto do meu Filho infinitamente. Ele é perfeitamente agradável, e é isso que significa amá-lo.” Diz a mesma coisa em João 14.31 sobre o Filho amar o Pai.

Assim, dentro da Trindade, amar é estar infinitamente satisfeito, infinitamente encantado, infinitamente alegre uns com os outros. E o que os torna agradáveis? O que torna o Pai agradável ao Filho e o Filho agradável ao Pai? O que os torna agradáveis é que eles são o tipo de pessoa – cada um deles é o tipo de pessoa – que está perfeitamente satisfeito com o que é perfeitamente agradável. Isso é o que significa ser justo, santo, justo, bom – ou seja, Deus. Eles encontram sua alegria na alegria do amado em Deus. O Pai se deleita no Filho porque o Filho está se deleitando perfeitamente no Pai (e vice-versa). Assim, a definição que Paulo usou funciona eternamente na Divindade.

Amor entre Deus e nós

Agora, o que dizer do amor de Deus por nós? Aqui está o Salmo 147.10-11: “Agrada-se o Senhor”. Fixe isso em sua mente: o deleite de Deus. O que agrada a Deus? “[Ele] Não faz caso da força do cavalo, nem se compraz nos músculos do guerreiro. Agrada-se o Senhor dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia.”Agora, se a esperança é o anseio e a expectativa de algo no futuro com o qual você se deleita – que o faria feliz -, então esse salmo ensina que Deus se deleita naqueles que se deleitam nele.

Ou seja, o amor de Deus por nós é o fato de Deus encontrar sua alegria em nossa alegria nele. E podemos acrescentar, então, a ação: Deus age para garantir nossa alegria nele, e age à custa da vida de seu próprio Filho, que é o que a Bíblia enfatiza sobre o aspecto surpreendente desse amor.

E quanto ao nosso amor por Deus? 1 Timóteo 1.11 diz que Deus é um Deus feliz, um Deus bendito (Makarios). E vimos que, na comunhão da Trindade, Deus é um Deus feliz. Ele está se deleitando na comunhão da Trindade. Deus é um Deus eternamente feliz. Então, para nós, amar a Deus é ser feliz por ele ser Deus. Amar a Deus é dizer: “Deus, você é Deus, e eu estou feliz, e você me satisfaz. Você é maravilhoso. Você é perfeito. Eu adoro, eu valorizo, estou satisfeito em você.” E nosso amor por Deus, então, é encontrar nossa alegria na alegria de Deus, que é alegria em Deus – Pai, Filho e Espírito Santo.

Amor entre nós e os outros

Mais uma aplicação. E o nosso amor um pelo outro? Em 2 Coríntios 8.2, Paulo diz que os macedônios tinham uma abundância de alegria na graça de Deus. Era abundante, transbordava. E então ele chama de amor em 2 Coríntios 8.8 quando esta alegria – esta alegria na graça, na graça de Deus – transborda em generosidade para os santos pobres em Jerusalém.

E o que é generosidade? Generosidade é o anseio de dar para que os outros experimentem mais alegria. É isso que você faz quando é generoso. Você quer que as pessoas tenham suas vidas melhoradas. Você quer que elas tenham mais alegria, alegria mais duradoura, alegria mais profunda no que deve dar-lhes a alegria mais profunda – neste caso, mais alegria na vida (eles eram pobres, estavam sofrendo, estavam morrendo). Ele quer mais alegria na vida e mais alegria em Deus em como eles vivem. Assim, o amor é o transbordamento da alegria dos macedônios à medida que se expande para incluir os pobres santos em Jerusalém nessa mesma alegria na graça de Deus.

Então, para meu espanto – e eu ainda estou impressionado com isso – uma simples definição de amor, aparecendo na explicação de Paulo de seus planos de viagem em 2 Coríntios 2, acaba por ser tão profundo e de longo alcance quanto possível. O amor é encontrar a nossa alegria na alegria do amado em Deus – e a nossa vontade de morrer para que isso aconteça – o que prova ser a essência do amor na Trindade, o amor em Deus por nós, o nosso amor por Deus e o nosso amor uns pelos outros. E mostra como a alegria é central na definição da realidade final.

 


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Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: What’s the Essence of Love? | Traduzido por DB Studios (Arthur Baguera). Revisão e Edição por Vinicius Lima.