Um blog do Ministério Fiel
Aconselhamento é uma tarefa para todo cristão
Não pense que isso é apenas para pastores e conselheiros formados
Um homem em seu pequeno grupo pede aconselhamento a você. Nas últimas semanas, ele tem sofrido de dores debilitantes nas costas. Ele sabe que a fragilidade de nossa saúde é uma parte inescapável deste mundo caído, mas ele também se pergunta se Deus o está disciplinando por alguma coisa. O que ele precisa — uma sondagem cuidadosa do coração em busca de pecado, ou uma garantia de que seu sofrimento, embora misterioso, não é em vão?
No seu grupo de irmãos da igreja que prestam contas um ao outro sobre suas lutas e pecados, um irmão confessa ter olhado pornografia novamente. Ele diz que está lutando e brigando. Ele também parece envergonhado. Mas ele já pareceu envergonhado antes, com pouca mudança. O que ele precisa — um aviso amoroso, mas firme, ou outro lembrete de que não há condenação em Cristo?
Uma jovem que você conhece sentiu uma escuridão crescente sobre seu coração e a mente. Em sua depressão, ela começou a se afastar da comunhão cristã e de outros meios de graça. Ela se pergunta em voz alta para você se ela é realmente uma cristã. O que ela precisa — um encorajamento de que Deus está com ela, uma exortação para retornar à igreja, um encaminhamento para um médico ou todos estes três conselhos?
“Admoeste os indolentes, anime os desanimados, ajude os fracos”, nos diz o apóstolo Paulo ( 1 Tessalonicenses 5.14 ). Mas às vezes os desanimados parecem ociosos e os ociosos parecem desanimados; às vezes os fracos parecem obstinados e os obstinados parecem fracos. Se ao menos as pessoas viessem com um sinal na testa: “Admoestação necessária”; “Encorajamento, por favor”; “Uma pequena ajuda será suficiente.”
Mas elas não o fazem. Em vez disso, as pessoas vêm até nós assim como nós chegamos aos outros: compostos e complexos, confusos e desconcertantes. As pessoas são mares, com corações escondidos profundamente. E Deus nos chama para sermos mergulhadores destes mares.
Águas de um mar mais profundo
Deus realmente nos chama , a todos nós, para discernir o coração profundo de nossos irmãos e irmãs. Não, não somos todos pastores ou conselheiros profissionais. Mas o trabalhar do coração e o cuidado da alma não pertencem somente a pastores e conselheiros. Paulo escreveu 1 Tessalonicenses 5.14 para toda a igreja, não apenas para seus líderes. O que significa que Deus nos chama, nós todos, para admoestar, encorajar, ajudar — e discernir quando fazer o quê. Ele nos chama a todos para aconselhar.
E se ele nos chama para aconselhar, ele nos chama para crescer no aconselhamento, o que geralmente começa com a percepção de nossas tendências de não aconselhar tão bem. Talvez você se identifique com algumas falhas comuns das quais sou vítima, pelo menos quando estou sozinho.
Quando estou sozinho, eu aconselho rapidamente . Posso dar uma demonstração de boa escuta enquanto você fala, mas frequentemente já terminei suas frases e estou elaborando minha resposta. “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar”, escreve Tiago ( Tiago 1.19 ). Mas por que eu deveria desacelerar meu discurso quando já sei o que dizer? Então eu aceno com impaciência educada, deixo de lado perguntas complementares e dou a resposta que já está esperando em meus lábios.
Quando aconselho sozinho, também aconselho superficialmente . “Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los.”, nos diz o sábio (Provérbios 20.5 ), mas meu medidor de profundidade natural é curto. Muitas vezes, aconselho em águas rasas — abordando um comportamento isoladamente, desenvolvendo um plano para mudança de algum hábito, enquanto o coração do aconselhado ainda se esconde nas profundezas.
Quando aconselho sozinho, aconselho desequilibradamente. O conforto vem facilmente à minha língua; não com a correção. Sem dúvida, todos temos em nossas igrejas alguns irmãos que corrigem os outros com muita facilidade. Como Elifaz, o temanita, eles lutam para deixar as palavras para o vento soprar ( Jó 6.26 ), mas as agarram, fixam-se nelas e moldam sua repreensão. Eles falam com confiança. Eles falam corajosamente. Mas como Elifaz, eles nem sempre falam “o que é certo” ( Jó 42.7 ).
Mas geralmente caio do outro lado. O puritano John Owen alertou sobre conselheiros como eu em meu pior momento – conselheiros que “têm boas palavras prontas para todos os que chegam”, não importa quem seja o visitante. Nós afirmamos, incentivamos, asseguramos, consolamos e elevamos. Refletimos um Jesus sempre terno, raramente (ou nunca) duro. A avaliação de Owen sobre esse tipo de conselho não era animadora: “raramente útil, muitas vezes nocivo” (Works of John Owen, 6:568).
Então, buscamos crescer. Buscamos substituir nossas loucuras comuns pela sabedoria lenta, profunda e completa do Espírito. Mas como?
1. Aprenda com o Conselheiro Maravilhoso.
Isaías 50.4 nos dá um objetivo de longo prazo e uma prática diária. Isaías fala mais imediatamente do servo do Senhor, o Cristo do Senhor, mas seu padrão dá forma ao nosso.
O SENHOR Deus me deu língua de eruditos,
para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado.
Ele me desperta todas as manhãs,
desperta-me o ouvido
para que eu ouça como os eruditos.
Os conselheiros mais sábios falam com “a língua de eruditos”. Eles podem encher espíritos cansados de coragem; podem corrigir e restaurar corações desviados. E tudo isso simplesmente abrindo a boca . Em um reflexo turvo da própria fala de Deus, eles trazem luz e vida “com uma palavra”. Ter uma língua assim é nosso objetivo de longo prazo.
Não atingiremos esse objetivo, no entanto, sem ouvir diariamente — e ouvir não primeiro os outros, mas a Deus. Ele mesmo é o “Maravilhoso Conselheiro” (Isaías 9.6), e “manhã após manhã”, ele desperta nossos ouvidos para aprender mais sobre seus caminhos maravilhosos — seus caminhos maravilhosos e surpreendentes .
Considere o aconselhamento do próprio Senhor Jesus, aquele com a língua perfeitamente ensinada por Deus. Quem entre nós teria dito ao jovem rico para ir vender tudo o que tinha (Marcos 10.21)? Ou quem saberia quando repreender gentilmente Pedro, quando ignorá-lo e quando se dirigir a ele como Satanás (Mateus 14.31; 16.23; 17:4–5)? Ou quem teria alertado o paralítico curado para “não pecar mais, para que não te aconteça nada pior” (João 5.14)? Ou quem teria restaurado um discípulo caído sem repreensão (João 21.15–19 )?
Uma certeza que podemos ter é que não temos a profundidade de percepção que Jesus tinha. Mas, ao ouvi-lo — e às palavras de Deus em todo o resto das Escrituras — começamos a ganhar novos instintos. Vemos novos lados para velhos problemas. Encontramos novas chaves para velhas fechaduras. Percebemos que nosso armário de remédios espirituais tem apenas uma ou duas prateleiras, enquanto o de Deus é uma farmácia completa. E assim, lentamente, nos tornamos mais como o próprio Bálsamo de Gileade, que contém dez mil bálsamos.
Para aqueles que desejam ser ensinados, a leitura da Bíblia e a meditação oferecem uma tutela diária sob nosso Maravilhoso Conselheiro, dando-nos palavras tão profundas quanto os corações humanos podem ser.
2. Ouça — realmente ouça — os outros.
Então, com o tempo, surgem oportunidades de aconselhamento. Sentamo-nos à mesa com um membro do pequeno grupo, ou dirigimos ao lado de um parceiro de responsabilidade, ou falamos ao telefone com um amigo em necessidade. E antes de nos aventurarmos a falar, nos deparamos com uma tarefa que muitas vezes pode parecer mais difícil do que abrir a boca: mantê-la fechada. Então, nós ouvimos. Nós realmente ouvimos.
A verdadeira escuta pode facilmente nos iludir, mesmo depois de termos permanecido em silêncio na presença de Deus. Tiago aconselha ouvir rápido e falar devagar porque frequentemente invertemos as velocidades (Tiago 1:19 ). Então, podemos sentir uma coceira interna para oferecer um conselho agora, antes de realmente ouvirmos. Podemos querer interromper impulsivamente. Podemos nos concentrar tão intensamente em nossa resposta que as palavras de outra pessoa se tornam abafadas, perdidas em algum lugar entre sua boca e nossos ouvidos. E mesmo ouvindo, não ouvimos.
Duas resoluções podem ajudar a abrir nossos ouvidos. Primeiro, podemos resolver não terminar as frases de outra pessoa — seja na mente ou na boca. Terminar uma frase pode assumir muitas formas. Ensaiar uma resposta enquanto outra pessoa ainda fala; presumir que sabemos para onde uma história está indo; permitir que os pensamentos vaguem porque achamos que já “pegamos a essência” do que a pessoa está falando — todas essas podem ser maneiras sutis de terminar frases que ainda não ouvimos. E elas nos levam perigosamente perto da falta de sabedoria de Provérbios 18.13: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha.”
Segundo, podemos resolver fazer perguntas. Perguntas são como lombadas de uma rua para um carro que está em alta velocidade. Elas nos desaceleram, nos forçando a esclarecer em vez de assumir, permitindo aos outros a dignidade de terminar e explicar suas próprias frases. Feitas com sabedoria, as perguntas também nos guiam em direção ao coração oculto do fundo do mar, à medida que aprendemos a sondar abaixo da superfície do comportamento e ponderar sobre profundezas mais sombrias. E lentamente, à medida que nadamos neste mar de palavras, começamos a agarrar uma pérola. Ouvindo, nós verdadeiramente ouvimos .
Quaisquer outras estratégias que possamos usar para ouvir bem, conselheiros sábios entram em uma conversa prontos para serem surpreendidos, confrontados e atraídos pela humanidade complexa do outro.
3. Ore, discirna, responda.
O processo até aqui pode parecer um tanto passivo, mas o verdadeiro ouvinte é tudo menos isso. Por trás das perguntas e do comportamento calmo, há um espírito de oração. Ele tenta encaixar as peças. Ele “pondera como responder” nas pausas da conversa (Provérbios 15.28). E ele discerne. Ele começa a traçar a lentidão de um preguiçoso vindo à tona; ele vê uma fraqueza do coração aparecendo; ele toca em alguma fraqueza profunda.
Nem sempre discerniremos corretamente, é claro. Nossa escuta e nossas perguntas podem revelar o coração, mas não podem ler o coração. E se até mesmo os apóstolos puderam julgar mal os corações dos homens (Atos 8.13, 20–23 ; 2 Timóteo 4.10), certamente faremos o mesmo.
Mas podemos crescer. E saberemos que estamos crescendo, em parte, quando nos surpreendermos com o que dissermos. Ao abordar uma certa luta, sempre falávamos sobre conforto; agora nos ouvimos exortando. Ao abordar uma certa pessoa, geralmente a corrigíamos; agora nos encontramos oferecendo ajuda prática. Cada vez mais, nossas palavras, como as das pessoas à nossa frente, ganham profundidade. Respondemos à complexidade com sabedoria e criatividade. Refletimos, em pequena medida, o que David Powlison chama de “amor hábil do nosso Redentor” (The Pastor as Counselor, 15).
E quando estivermos em dúvida — quando não tivermos certeza do que dizer, quando estivermos perplexos e com a língua presa — ainda podemos simplesmente recitar as próprias palavras de Deus, sabendo que cada sílaba, corretamente manuseada, contém poder espiritual. Sim, cuidar uns dos outros pode ser complexo, mas não tão complexo que os crentes comuns não possam ministrar profundamente uns aos outros por meio de humildes citações das Escrituras e orações fervorosas. As palavras da Bíblia, não as nossas, são inspiradas por Deus, e às vezes o melhor conselho é uma simples respiração do sopro divino.
Mas, quer falemos palavras moldadas por Deus ou as próprias palavras de Deus, quanto mais crescemos em sabedoria, mais frequentemente veremos o provérbio se cumprir: “O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra, a seu tempo, quão boa é!” (Provérbios 15.23). Quão bom, de fato, é sentir o coração amorosamente sondado, gentilmente sondado e então habilmente abordado com a maravilhosa sabedoria do nosso Conselheiro.