O Senhor e Pastor que ampara e acode os desvalidos

Amparemo-nos no Senhor e não em homens

No Salmo 146, entoando um hino de louvor e confiança, o salmista escreve:  “O SENHOR guarda (shamar) o peregrino (ger)[1] (= forasteiro, estrangeiro), ampara  (‘wd) o órfão (yathom)[2] e a viúva (almanah),[3] porém transtorna o caminho dos ímpios” (Sl 146.9).

No Êxodo, já na entrada de Canaã, o povo deveria recitar a síntese dos ensinamentos de Deus. Na reafirmação da Lei, a maldição contra aqueles que pervertiam o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva foi ressaltada: “Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém!” (Dt 27.19/Jr 7.5-6; 22.3; Ez 22.7).

Por essas três classes Deus tipifica as múltiplas situações de seu povo, refletindo condições mais vulneráveis. Onde não há situação compensatória é difícil alguém se propor a ajudar e socorrer.

O ímpio, a despeito de seu planejamento maligno, percorrendo por caminhos que lhe parecem fáceis e engenhosos, tendo o seu resultado como “favas contadas”, ou seja: certa, no entanto, Deus frustra tais caminhos.[4]

Por outro lado, a certeza do salmista é de que é o Senhor quem dá sustento, quem mantém de pé o seu povo, indistintamente; quer seja o pobre, quer seja o rei. Por isso, é fundamental que mantenhamos a nossa fé no Senhor e adotemos uma postura condizente com esta confiança. Tendo experimentado isso, o salmista canta com gratidão na certeza de que Deus é quem concede a vitória ao rei: 7Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do SENHOR, nosso Deus. 8Eles se encurvam e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos de pé (dW[) (‘wd) (Sl 20.7-8).

Deus está atento. Ele nos toma para si, dá testemunho a nosso respeito e nos fortalece.

Ponto de apoio – importância

Quem nunca se sentiu tonto, bambeou as pernas, tropeçou ou escorregou – tendo sido providencialmente amparado –, não sabe avaliar adequadamente a importância de um ponto de apoio: um corrimão, um braço forte ou mesmo uma mesa.

Em geral, coisas simples ou, pouco percebidas, se tornam importantes em momentos extremos. Os momentos críticos nos fazem perceber a realidade de forma diferente.

 A ideia da palavra “amparar”, é de continuidade. É nesse sentido que Jacó, já velho, testemunha diante de José, a respeito de Deus: “E abençoou a José, dizendo: O Deus em cuja presença andaram meus pais Abraão e Isaque, o Deus que me sustentou durante (‘uwd) a minha vida até este dia” (Gn 48.15).

Jacó não diz que a sua vida foi tranquila, que não passou temores, que não colheu frutos de seus pecados, que não chorou durante anos a perda de seu filho querido… O que ele diz é que em todas as suas aflições, temores e inseguranças, o Senhor o sustentou.

Por vezes nos sentimos tão humilhados e aflitos devido a circunstâncias nas quais nos encontramos, que parece que as nossas energias se esvaem e nos sentimos sem força para caminhar. A certeza do salmista, no entanto, era: “O SENHOR ampara (‘uwd) os humildes e dá com os ímpios em terra” (Sl 147.6).

Mantém a causa do oprimido e necessitado

Em geral, quando não temos como pagar ou barganhar, a nossa causa, independentemente de sua pertinência, tenderá a ser esquecida. Essa, por certo, é a experiência de muitos de nós em determinadas situações.

A causa ou julgamento do oprimido com frequência é esquecido, engavetado. No entanto, Deus manterá a sua causa. Este é o testemunho de Davi, diante de grandes embates e armadilhas de seus adversários: “Sei que o SENHOR manterá (`asah) a causa (diyn) (= julgamento);  do oprimido e o direito do necessitado” (Sl 140.12).

Deus mesmo, o nosso Pastor, levará a bom termo as nossas santas expectativas. Por isso o ensinamento de Davi: “Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará (`asah) (Sl 37.5). Em outro salmo, Davi, de forma doxológica, professa a sua fé: Ele acode (`asah) à vontade dos que o temem; atende-lhes o clamor e os salva” (Sl 145.19).

Em outro momento, Davi após ver-se livre de seus inimigos conforme o contexto de 2Sm 21, canta ao Senhor: “Assaltaram-me no dia da minha calamidade (`eyd) (destruição,[5] perdição,[6] desventura,[7] adversidade[8]), mas o SENHOR me serviu de amparo (mish`em)” (Sl 18.18).

A ideia da palavra (mish`em) é de apoio, sendo usada literal e figuradamente. O ensino bíblico é para que nos amparemos no Senhor não em homens. Nele podemos confiar.

 


[1] Dt 27.19; Sl 10.17-18.

[2] Sl 10.14.

[3] Dt 10.18; Jr 22.3; Zc 7.10.

[4] “Ele estende sua mão aos que constituem o seu povo e os conduz através de todos os obstáculos e caminhos intransitáveis, mas, por outro lado, destrói a vereda dos perversos quando esta se mostra aparentemente bem aberta e clara diante deles” (João Calvino, Salmos, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2009, v. 4, (Sl 146.9), p. 570).

[5]Jó 30.12; Pv 6.15.

[6] Jó 31.3; Pv 24.22.

[7] Pv 1.26.

[8] Pv 27.10.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.