Como lidar com as oscilações emocionais em minha leitura da Bíblia?

Episódio do Podcast John Piper Responde

Transcrição do vídeo

Temos uma pergunta sobre um assunto muito falado em nosso podcast, o assunto da leitura bíblica. Mas a pergunta de hoje é sobre as nossas emoções durante nossas leituras da Palavra de Deus. Vamos à pergunta:

 “Olá, pastor John! Todos os dias pareço ficar feliz e me sentir confortado. E todos os dias me sinto triste e preocupado. Quase como se mudasse em um momento. A razão para isso são as palavras de conforto e advertência de Jesus e Paulo. Por exemplo, fico feliz em ouvir Jesus dizer: ‘Quem vem a mim, eu nunca o lançarei fora’ (João 6.37). Mas então eu o ouço dizer: ‘Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o reino de Deus’ (Lucas 9.62). Então ouço Jesus dizer à igreja aparentemente madura de Éfeso que, se eles não se arrependerem, ele tirará o candelabro do lugar (Apocalipse 2.1-7). É certo sentir-se emocionalmente empurrado para frente e para trás assim com tanta regularidade na minha leitura da Bíblia? É saudável e normal para a vida cristã se sentir assim – confortado, depois advertido, depois ameaçado? A vida cristã neste mundo caído deve ser assim mesmo?

Essa é uma pergunta tão boa. Existem mais de quatrocentos imperativos nos escritos de Paulo, mais de mil nos quatro Evangelhos. Agora, o que isso significa é que quando Paulo diz em Romanos 8.29 que Deus predestinou os cristãos para serem conformados à imagem de Cristo – isto é, para serem santos como ele é santo, para amar como ele ama, para serem moralmente perfeitos como ele é moralmente perfeito – os meios pelos quais Deus realiza isso, essa realidade predestinada, é por centenas de mandamentos dados a esses santos predestinados. Essa é a chave. Ele usa mandamentos que devemos levar a sério porque são os meios que ele designou para nosso aperfeiçoamento moral, nossa glorificação.

Comandando o Justificado

Há pessoas que pensam que, porque somos justificados somente pela fé, não há imperativos que devemos obedecer para mostrar que nossa fé justificadora é genuína e que somos verdadeiros cristãos. Mas, na verdade, a maneira como Deus nos leva ao estado final de glória, a perfeição moral, é por meio de nos ordenar a permanecer no caminho estreito que leva à vida. O cumprimento desses mandamentos está enraizado no fato, agora, de que já somos justificados, já perdoados, já aceitos por causa do que Cristo fez por nós e nosso apego a ele pela fé. Mas não é bíblico dizer que, porque já estamos perdoados, já aceitos, não há necessidade de Deus nos ordenar a fazer nada. Não é bíblico dizer isso.

É antibíblico e tolo dizer que Deus não faz ameaças de destruição por desobediência. Isso não é verdade. O meio de Deus realizar o que ele predestinou para acontecer – ou seja, nossa santidade, nossa glória, nossa perfeição – é nos ordenar a ser santos e então, pelo Espírito, nos capacitar a fazer o que ele nos ordena a fazer. Santo Agostinho estava certo quando orou: “Ordena o que tu queres, ó Deus, e dá o que tu ordenas” (Confissões 10.29.40).

Mandamentos da Nova Aliança

E aqui está o que nosso amigo, que enviou esta pergunta, está chamando nossa atenção: Deus usa promessas e ameaças para motivar essa obediência aos seus mandamentos. Para que ninguém diga: “Uau, uau, uau. Eu nem preciso da palavra mandamentos. Não devemos nem usar a palavra mandamentos no Novo Testamento. Essa é uma ideia do Antigo Testamento. Não vivemos de acordo com os mandamentos do Novo Testamento. Isso é lei. Vivemos sob a graça.” A isso eu respondo:

  • “Nisto conhecemos que o conhecemos, se guardarmos os seus mandamentos” (1 João 2.3).
  • “Quem guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus nele” (1 João 3.24).
  • “Este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5.3).
  • Jesus disse em João 14.15: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos”.

E assim por diante. As pessoas precisam ler suas Bíblias e não apenas fazer pronunciamentos teológicos sobre o que a Bíblia significa sem prestar muita atenção aos textos. A diferença entre a antiga aliança e a nova aliança não é a ausência de mandamentos, mas a presença de poder para guardá-los. “Escreverei a minha lei no teu coração e farei com que andes nos meus estatutos” (ver Jeremias 31.33). Esse é o coração da nova aliança. A obediência aos mandamentos é fruto do Espírito Santo e fruto da fé. Paulo chama isso de “obediência da fé” (Romanos 1.5).

Promessas e ameaças

O que nosso amigo está apontando é que Deus nos motiva a essa obediência usando promessas e ameaças. E sua experiência é que as ameaças o fazem se sentir triste e preocupado, enquanto as promessas o fazem se sentir feliz e confortado. E ele se pergunta se isso é normal. É assim que Deus projetou a vida cristã para ser neste mundo caído? Agora, não consigo entrar em sua cabeça ou coração para fazer qualquer julgamento com confiança sobre se essa experiência cristã em particular é saudável e normal. Pode ser, então não vou basear meu conselho em sua experiência, mas no padrão bíblico.

O padrão bíblico é que Deus motiva positivamente com promessas e negativamente com ameaças e advertências. O padrão positivo é assim: a promessa de Deus leva à fé confiante, que leva à obediência. E o padrão negativo é assim: a ameaça de Deus leva ao medo, que nos leva de volta à fé confiante, que leva à obediência.

Aqui está um exemplo do positivo. Hebreus 13.5–6:

Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.

Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?

Então, a promessa é esta: “Eu vou ajudá-lo e nunca abandoná-lo”. A fé confiante: “Assim, podemos dizer com confiança: ‘O Senhor é o meu ajudador; não temerei.'” E então a obediência: paramos de amar o dinheiro, abandonamos a avareza quando acreditamos nessa promessa.

E aqui está o lado negativo. Romanos 11.18, 20–21:

Não te glories contra os ramosBem! Pela sua incredulidade, foram quebrados; tu, porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará.

Então, a ameaça é esta: Deus não poupará quebrar seu galho se você for arrogante. Isso causa medo. Eu não quero ser um galho quebrado. Esse medo nos afasta da jactância e da autossuficiência e nos leva de volta à fé humilde em Cristo.

Como a fé e o medo se relacionam

Aqui está o que é importante ver sobre a maneira como as duas emoções se relacionam – fé confiante de um lado, medo do outro lado. Eles não são iguais ou equilibrados na vida cristã. A fé confiante é a condição contínua, duradoura e normal do coração cristão nesta época. Mas por causa do pecado, Deus também usa o medo como um aviso temporário para nos levar de volta a Cristo, sua cruz, seu perdão, sua aceitação, seu amor e fé quando somos tentados a pecar.

Mas essa não é a única diferença entre essas duas emoções. Não é apenas que a fé deve ser contínua e o medo deve ser temporário, mas também que um sentimento confiante de fé é o fim, e um sentimento ameaçado de medo é um meio de nos levar ao objetivo.

Então, sim, a vida cristã nesta era caída é um padrão de fé confiante contínua junto a uma ocasional ameaça de medo. É assim que toda família saudável cria filhos. Queremos que nossos filhos sejam esmagadora e predominantemente felizes e confiantes de que há uma confiança contínua e contínua na bondade e ajuda de seus pais. Mas também queremos que eles conheçam os limites – que eles podem ser mortos na rua ou em uma tomada elétrica – e para seu próprio bem, eles não devem cruzar os limites. Eles sentem medo da disciplina que virá a eles se cruzarem os limites e forem tentados a cruzá-los.

Deus é um bom Pai para conosco. Ele sabe como trazer seus filhos predestinados para a sua glória e usa tanto a fé confiante quanto o sentimento de medo que vem por meio de suas advertências.

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Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: The Emotional Roller Coaster of Bible Reading | Tradução, revisão e edição por Vinicius Lima.