Como o cristão deve lidar com a política?

Episódio do Podcast John Piper Responde

Transcrição do vídeo

Bem-vindo de volta ao podcast John Piper Responde. Regularmente respondemos perguntas sobre coisas como separação igreja-estado, sobre ativismo político, sobre cristãos e patriotismo, sobre bandeiras dos EUA dentro das igrejas e cultos – coisas assim. Aqui está outra pergunta sobre esse tema de um ouvinte chamado Mateus:

“Pastor John, anos atrás, você postou um tweet que eu imprimi, guardei e gostaria que o senhor o explicasse melhor agora. Você postou o seguinte em 17 de abril de 2021, começando com Marcos 6.18: ‘Pois João estava dizendo a Herodes: ‘Não te é lícito ter a mulher de teu irmão.'” Um texto muito ousado de João falando a verdade às autoridades para confrontar o adultério de Herodes. Então você disse o seguinte: “Por todos os meios, esteja disposto a perder sua vida para falar a verdade às autoridades. Mas sempre tenha em mente a grande diferença entre isso e agitar bandeiras políticas.” Você pode expor isso? O que marca essa grande diferença entre falar a verdade às autoridades e agitar bandeiras políticas? Que fatores distinguem os dois em sua mente?”

 

Deixe-me começar dando seis descrições do que quero dizer com “agitar bandeira política” que deve ser evitada e, em seguida, me voltar e tentar dizer algo construtivo sobre falar a verdade às autoridades.

Não agite essa bandeira

Então, no tweet, eu disse: “Por todos os meios, esteja disposto a perder sua vida para falar a verdade às autoridades. Mas sempre tenha em mente a grande diferença entre isso e agitar bandeiras políticas.” E aqui está o que quero dizer com “agitar bandeiras políticas” nessa afirmação.

Lembre-se de que estou tratando o agitar da bandeira política aqui como algo ruim, embora saiba que existe uma definição de agitar bandeira política que não é em si uma coisa ruim. Eu não estou falando sobre isso. Então, para deixar isso claro, vou usar a palavra ruim para designar o agitar da bandeira política de que estou falando. E descreverei um bom agitar de bandeiras políticas em apenas um minuto. Aqui está o que quero dizer com má agitação de bandeira política.

  1. Agitar bandeira política de modo ruim significa agitar a bandeira da lealdade partidária – isto é, lealdade partidária – como uma lealdade final e última. Isso é ruim.
  2. Agitar bandeiras políticas de modo ruim significa afirmar uma posição moral ou social sem fazer uma diferença clara entre defender a posição e defender o partido que também pode defender a posição. Você está defendendo a posição ou está defendendo o partido? Faça a distinção.
  3. Agitar bandeiras políticas de uma má forma significa expressar uma esperança indevida pelo bem comum nas estratégias da política partidária. Agora, existem aspectos do bem comum que podem de fato vir por meio da política partidária. Sim, existem. Mas também há um nível indevido e injustificado de esperança que deve ser evitado.
  4. Agitar de forma ruim bandeiras políticas significa fundamentar posições morais em plataformas partidárias, e não em uma cosmovisão bíblica.
  5. O mau agitar da bandeira política reflete também uma convicção equivocada de que a mudança moral chegará a uma população por meio de ação política ou defesa partidária. E não, isso não vai acontecer.
  6. Agitar de maneira errada bandeiras políticas significa colocar em primeiro plano a política partidária em ambientes onde eles não pertencem – por exemplo, no culto cristão. Defender a plataforma política de um partido que você pertence, por exemplo, deve ocorrer na convenção nacional do partido. É lá que você pode agitar sua bandeira política corretamente, mas não no culto cristão.

Então, isso é um pouco do que eu queria que evitássemos quando disse: “Por todos os meios, esteja disposto a perder sua vida para falar a verdade ao às autoridades. Mas sempre tenha em mente a grande diferença entre isso e agitar bandeiras políticas.”

Que separação?

Agora, e o dizer a verdade às autoridades? Neste ponto, parece-me que realmente precisamos esclarecer a frase “separação entre igreja e estado”. Onde quer que você diga: “Fale a verdade às autoridades”, as pessoas se perguntam se você está tentando estabelecer sua religião como uma que o governo deve apoiar com a força e com a espada. É isso que você está fazendo quando diz: “Fale a verdade às autoridades” – tentando inserir sua própria religião como uma religião que o governo usaria sua espada para estabelecer ou defender?

Portanto, precisamos esclarecer a frase “separação entre igreja e Estado”. E parece-me que esta frase está hoje rodeada de confusão. Acho que sempre foi cercado de confusão e não acho que seja culpa de ninguém em particular. É apenas um daqueles códigos americanos que é intrinsecamente ambíguo. Então, quando temos uma frase como essa – e há muitas delas – aqueles que as usam (como eu agora) têm a obrigação de dar alguma orientação sobre o que querem dizer com essa frase. Você não pode simplesmente jogá-lo como se todo mundo soubesse do que você está falando.

Tempos atrás, publiquei um artigo no Desiring God chamado ‘Meu Reino Não É Deste Mundo’, no qual tentei dar uma declaração cuidadosa e biblicamente argumentada de separação entre a força do governo e a esfera religiosa, que eu acho que está bem no cerne da questão. Aqui está a tese – vou apenas lê-la.

A tese deste ensaio é que Jesus Cristo, o absolutamente supremo Criador, Sustentador e Governante do universo, pretende realizar seus propósitos salvíficos no mundo sem depender dos poderes do governo civil para ensinar, defender ou difundir a religião cristã como tal. Os seguidores de Cristo não devem usar a espada do governo civil para promulgar, impor ou espalhar qualquer ideia ou comportamento como explicitamente cristão – como parte da religião cristã como tal… É precisamente nossa suprema lealdade ao senhorio de Cristo [não devido a qualquer tipo de neutralidade secular] que nos obriga a não usar a espada do governo civil dada por Deus para ameaçar a punição, ou reter as liberdades, de pessoas que não confessam a Cristo como Senhor.

Então, a implicação disso é esta: nenhum governo humano deve usar seu direito bíblico de empunhar a espada para impor uma religião ou se opor a uma religião como tal. E a razão pela qual usei a frase como tal é para distinguir entre a má ação de estabelecimento forçado ou manutenção forçada da religião e a boa ação de criar leis que possam se encaixar na moralidade de uma religião, mas não fazer parte da prescrição ou proscrição de uma religião como tal.

Verdade às autoridades – e aos socialmente vulneráveis

Com esse pano de fundo, digo novamente que não é apenas um direito do cristão, mas o chamado do cristão para falar a verdade às autoridades e falar a verdade aos socialmente vulneráveis e a todos os outros.

Devemos dizer ao presidente dos Estados Unidos, e devemos dizer ao mendigo na rua: “Creia no Senhor Jesus e você será salvo”. Se você não acredita, Sr. Presidente, Sr. José, você está sob a ira de Deus. Pare de matar bebês no útero. Pare de usar drogas na rua. ‘Seja justo… pratique o amor e a bondade… anda humildemente com o teu Deus’ (Miquéias 6.8).” Devemos dizer isso e uma centena de outras coisas. Somos a voz das Escrituras quando lemos e falamos fielmente o que a Bíblia ensina.

Mesmo que o tipo de obediência que agrada a Deus só seja possível no poder do Espírito Santo por meio da fé em Cristo, no entanto, chamamos a todos – crentes e incrédulos – ao mais alto padrão bíblico de atitude e comportamento, porque chamamos todos a se arrepender e confiar em Jesus e receber o Espírito Santo. Não apenas isolamos o comportamento e oramos para que presidentes e mendigos tenham o comportamento correto. Queremos que eles creiam e sejam cheios do Espírito Santo, e então ajam com esse comportamento de uma maneira que agrade a Deus por meio da fé. Falar a verdade às autoridades de uma maneira verdadeiramente cristã é sempre um chamado para se arrepender e confiar na graça perdoadora de Jesus.

Os cristãos sabem que o maior problema a ser resolvido na vida de cada pessoa – do presidente ao mendigo – é o problema da ira de Deus contra eles em seu pecado sem perdão. Portanto, a principal coisa que os cristãos devem falar às autoridades é Romanos 3.25: a propiciação da ira de Deus pelo sangue de Cristo recebido pela fé. Então, vou dizer de novo, assim como fiz no tweet: Por todos os meios, esteja disposto a perder sua vida para falar a verdade às autoridades e aos socialmente vulneráveis. Mas sempre tenha em mente a grande diferença entre isso e agitar bandeiras políticas.

 

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Por: JOHN PIPER. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Political Flag-Waving Isn’t Enough | Tradução, revisão e edição por Vinicius Lima.