O Senhor e Pastor que é o nosso escudo

Nosso Deus providencia nossa segurança

A questão então que permanece para nós, de grande relevância é: O que consideramos o nosso escudo, a nossa proteção?

Nossa habilidade? Inteligência? Capacidade política? Sagacidade? Capacidade de negociação? Suposta esperteza: “Não colocar a mão em combuca” mesmo que a injustiça seja patente?

Lealdade pecaminosa a amigos apenas por serem considerados amigos e familiares mesmo que isso traga prejuízos à igreja?

Demonizar os que pensam diferente de nós como se todos quisessem destruir a igreja?

Fazer arranjos com os excludentes em nome de uma suposta e mentirosa paz?

O salmista tinha o Senhor como seu baluarte e protetor

 “O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador (palat); o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo (magen), a força da minha salvação (yasha), o meu baluarte” (Sl 18.2).

Deus nos protege integralmente. A vulnerabilidade de uma fortificação, por vezes, está naquele ponto que julgávamos inacessível. O inimigo, com tempo, estuda esse flanco e vai procurar invadir a cidadela justamente por ali, por estar menos vigiada.

Na proteção de Deus não há pontos vulneráveis justamente porque Deus sabe quem somos. Conhece as nossas inclinações, carências, temores, pretensões e arrogância.

Não precisamos temer o inimigo. Deus nos protege em todos os flancos. Não há pontos cegos ou frágeis no caminho de Deus. O seu caminho é perfeito, a sua palavra é provada. O seu escudo nos cobre em todas as áreas; nada fica exposto ou fragilizado: “O caminho de Deus é perfeito; a palavra do SENHOR é provada; ele é escudo (magen)[1] para todos os que nele se refugiam” (Sl 18.30).

Seguir o caminho de Deus é uma fortaleza para nós visto que nos desviamos do pecado, das armadilhas que escapam à nossa percepção, e nos orientamos pela Palavra:

O caminho do SENHOR é fortaleza (maoz) para os íntegros, mas ruína aos que praticam a iniquidade. (Pv 10.29).

O SENHOR é a minha luz e a minha salvação (yasha`); de quem terei medo? O SENHOR é a fortaleza  (maoz) da minha vida; a quem temerei? (Sl 27.1/Sl 27.9/Sl 18.2).

Outros escudos

A tentação do povo de Deus sempre foi buscar auxílio fora de Deus; paradoxalmente, proteção em seus inimigos que agora, criam, poderiam lhes ajudar. Deus insistentemente advertiu o povo contra essa atitude, mostrando a sua ingratidão para com Ele e que as consequências seriam terríveis em sua história, como de fato foram.

Conforme já citamos em outros momentos, na iminência do cativeiro assírio, Israel foi desafiado a confiar em Deus, não na suposta força de alianças feitas com outras nações.

A suposta fortaleza, lugar seguro e de proteção  propiciada pelos egípcios, se tornaria em vergonha e humilhação para Israel. Adverte Isaías:

Mas o refúgio (maoz) de Faraó se vos tornará em vergonha (bosheth), e o abrigo na sombra do Egito, em confusão (kelimmah)(= Insulto, ignomínia, humilhação). (Is 30.3).

Todos se envergonharão (bosh)  de um povo que de nada lhes valerá, não servirá nem de ajuda nem de proveito, porém de vergonha (bosheth) e de opróbrio (cherpah). (Is 30.5).

Maquiavel

Lembro-me aqui de Maquiavel (1469-1527), que considerava excludentes o amor e o temor. Entende que como o povo é ingrato e mau, não conseguindo ambas as coisas, é melhor o governante ser temido (mas, evitando ser odiado) do que amado, porque “os homens hesitam menos em ofender aos que se fazer amar do que aos que se fazem temer”.[2]

Conforme já citamos, Deus fala por intermédio de Isaías a respeito do futuro dos egípcios e os etíopes, povos nos quais Israel depositava a sua confiança:

3 Então, disse o SENHOR: Assim como Isaías, meu servo, andou três anos despido e descalço, por sinal e prodígio contra o Egito e contra a Etiópia,  4 assim o rei da Assíria levará os presos do Egito e os exilados da Etiópia, tanto moços como velhos, despidos e descalços e com as nádegas descobertas, para vergonha do Egito. 5 Então, se assombrarão os israelitas e se envergonharão por causa dos etíopes, sua esperança, e dos egípcios, sua glória.  6 Os moradores desta região dirão naquele dia: Vede, foi isto que aconteceu àqueles em quem esperávamos e a quem fugimos por socorro, para livrar-nos (jl;m’) (malat) do rei da Assíria! Como, pois, escaparemos nós? (Is 20.3-6).

Deus e os agentes secundários

Mesmo Deus provendo socorro por meio de agentes secundários, a nossa confiança está na proteção de Deus. Ele mesmo é o nosso escudo e salvação. É o que nos diz o salmista:

Também me deste o escudo (magen) da tua salvação, a tua direita me susteve, e a tua clemência me engrandeceu. (Sl 18.35).

Porque o SENHOR Deus é sol e escudo (magen); o SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente. (Sl 84.11).

Pois ao SENHOR pertence o nosso escudo (magen), e ao Santo de Israel, o nosso rei. (Sl 89.18).

Deus nunca se esquece de nós. Por vezes, o esquecimento de nossos atos, paradoxalmente, é propositadamente lembrado por parte de nossos inimigos. No entanto, Deus não nos deixa à deriva, antes nos protege com o seu escudo.

Por isso, Salmo77, o salmista em meio à angústia, busca forças para o presente  na memória dos feitos de Deus. Então, faz uma pergunta retórica: “Esqueceu-se Deus de ser benigno?” (Sl 77.9).

No entanto, ele se alimenta do meditar nos feitos de Deus.

O ímpio presume o esquecimento de Deus

O ímpio contrariamente, conta com o presumido esquecimento de Deus para reforçar os seus atos maus (Sl 10.11).[3] Ledo engano. Dois nomes que nunca apareceram nas Escrituras é dos magos que enfrentaram Moisés mas, Deus julgou por bem, que esses nomes fossem registrados como advertência para nós: Janes e Jambres (2Tm 3.8).[4]

A Palavra como escudo

Deus por meio de sua Palavra pura, não contaminada, é o nosso escudo. É o que atesta Agur: “Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo (!gEm’) (magen) para os que nele confiam” (Pv 30.5)

Os princípios bíblicos reunidos e aplicados, são suficientes para nos dirigir sabiamente de forma preventiva e protetora.

Pela Palavra Deus nos ensina a andar no caminho da verdade e da justiça nos prevenindo de uma série de males (Pv 13.6).[5]

 Ela sendo meditada e guardada no coração, é preventiva contra o pecado: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl 119.11).[6]

Deus é o Senhor providente

Deus é soberano. Sabemos que há inúmeros males que podem vir sobre o mundo e sobre a igreja. Dentro de uma visão escatológica, o salmista em adoração e louvor a Deus, reafirma que Deus é poderoso para reunir os poderosos da terra sob o seu Reino e, também, Ele tem escudos para nos proteger de toda e qualquer situação:

Os príncipes dos povos se reúnem, o povo do Deus de Abraão, porque a Deus pertencem os escudos (magen) da terra; ele se exaltou gloriosamente” (Sl 47.9).[7]

Calvino comentando o Salmo 47.9, faz uma confortadora aplicação:

Visto que é somente Deus quem defende e preserva o mundo, a sublime e suprema majestade que é suficiente para tão exaltada e difícil obra que é a preservação do mundo, é com razão contemplada com admiração. O escritor sacro expressamente usa a palavra escudos no plural, porque, considerando os vários e quase inumeráveis perigos que incessantemente ameaçam cada parte do mundo, a providência de Deus deve necessariamente interpor-se de muitas maneiras e faz uso, por assim dizer, de muitos escudos.[8]

No próximo post, analisaremos qual deve a nossa atitude para com o nosso Pastor que nos protege.

 


[1] “O substantivo magen refere-se a um objeto que proporciona cobertura e proteção durante um combate. (,,,) Magen  indica o tipo menor e mais comum de escudo redondo usado na infantaria ligeira e por oficiais” (James E. Smith, Ganab: In: L. Harris, et. al.  eds.  Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, [p. 277-279], p. 279.

[2]Nicolau Maquiavel, O Príncipe, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 9), 1973, XVII, p. 76.

[3]“Diz ele, no seu íntimo: Deus se esqueceu, virou o rosto e não verá isto nunca” (Sl 10.11).

[4]E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé”  (2Tm 3.8). Esta relação devo à nota da Bíblia de Estudo Herança Reformada, in loc.

[5]A justiça guarda ao que anda em integridade (tom), mas a malícia subverte ao pecador” (Pv 13.6).

[6] Vejam-se: Sl 37.31;119.2,57,69; Pv 2.10-12. “A mente que entesoura as Escrituras tem seu gosto e juízo educados por Deus”  (Derek Kidner, Salmos 73-150: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1981, (Sl 119.11), p. 437).

[7] Israel que tem um eficiente sistema antimíssil, projetou associado aos Estados Unidos  “um sistema de defesa denominado Domo de Ferro (Iron Dome, em inglês) que tem sido um elemento fundamental para a proteção de Tel Aviv e outras cidades de Israel, uma vez que este sistema funciona como um escudo contra ataques de mísseis lançados de Gaza. Durante os recentes confrontos entre israelenses e palestinos, militantes palestinos dispararam mais de 1.600 foguetes, disse Jonathan Conricus, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF). “Aproximadamente 400 ficaram aquém da Faixa de Gaza e a taxa de interceptação continua em uma média de 90%”, disse ele”  (https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/domo-de-ferro-e-assim-que-funciona-o-sistema-antimisseis-do-exercito-israel/). (Consulta feita 22.07.2024).

[8]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 47.9), p. 350.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.