Um blog do Ministério Fiel
O Senhor e Pastor que nos conduz à vitória e prosperidade verdadeiras
Não é vitorioso aquele que não anda em integridade
Moisés, que morreu no deserto depois de conduzir o povo de Israel durante 40 anos passando por intensas provações, “….quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, 25preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; 26 porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão”, foi um homem sábio? (Hb 11.24-26).
O apóstolo Paulo que abandonou a sua carreira certamente promissora e se tornou em um homem algemado por causa do Evangelho e, provavelmente morreu assim, foi vitorioso ou fracassou?
John Huss (c. 1369-1415) pregador da Capela de Belém e professor e Reitor da Universidade de Praga, foi excomungado em 1412 por ter aderido às ideias de Wycliff, tendo pregado contra as indulgências, desafiado a autoridade do papa e enfatizado a autoridade das Escrituras e a supremacia de Cristo sobre a Igreja. A Igreja não pertence a homens. Ela deve ser governada por Cristo que o faz por meio de sua Palavra.
Em 1415 compareceu no Concílio de Constança (1414-1418), na Alemanha, sendo supostamente protegido por um salvo-conduto do Imperador, que terminou por ser suspenso pelo papa, sob a alegação de que “não era necessário manter a palavra dada a um herege” e que “ele jamais concedera qualquer salvo-conduto, e que não estava obrigado a seguir aquele que fora emitido pelo imperador alemão”. Huss morreu por suas convicções bíblicas, sendo queimado vivo em 1415.[1] Podemos dizer que Huss foi um homem bem-sucedido?
João Calvino (1509-1564) que abandonou a sua carreira que deveria ter sido brilhante como humanista e literato de nobre estilo. A tradução francesa de 1541 de suas Institutas – tradução que, juntamente com outros dos seus muitos e belos escritos, contribuiu para modelar essa língua[2] para se dedicar à pregação da Palavra e, depois de um profícuo ministério, que abençoa a igreja de Cristo até os nossos dias, morre deixando uma parca herança que não envolvia nenhum imóvel, foi vitorioso?[3]
Lloyd-Jones (1899-1981) que tinha diante de si um futuro magnífico como médico já que com pouco mais de 20 anos integrava a Equipe médica[4] da rainha da Inglaterra e tudo abandonou, dedicando-se ao ministério, foi bem-sucedido mantendo uma vida confortável, porém modesta?
Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), independentemente de aspectos de sua teologia, prejudicou toda a sua carreira acadêmica, ao se opor ao Nazismo e à igreja oficial que se aliara inicialmente a Hitler,[5] foi preso, passando anos em prisões e campos de concentração até morrer enforcado 10 dias antes das tropas soviéticas libertarem o campo. Podemos dizer que ele fracassou?
Boanerges Ribeiro (1919-2003), a maior mente que o presbiterianismo produziu no século XX, fez o que era certo, quando não aceitou a coordenação de uma Escola de Sociologia Política por entender que o seu antecessor foi imoralmente demitido, tendo por isso que sair da Escola?
Muricy Ramalho que não aceitou o convite para ser técnico da Seleção Brasileira em 2010 porque tinha dado à palavra, ainda que não houvesse contrato escrito, ao time do Fluminense que permaneceria por dois anos, provavelmente fechando suas portas para uma nova oportunidade dessas, será que isso se constitui em fracasso?[6]
É vitorioso quem renuncia a uma atitude bíblica, fazendo concessões para obter cargos ou perpetuar-se, praticando tráfico de influência, mantendo uma suposta duradoura paz cujo preço é um evidente menosprezo à verdade bíblica?
Reavaliação da vitória
É preciso que o conceito de vitória seja avaliado contraculturalmente conforme, por exemplo, o Sermão do Monte nos ensina e apreciamos em nossas leituras devocionais, mas, cujas verdades são encerradas quando fechamos a Bíblia.
O escritor de Hebreus depois de fazer uma sucinta descrição de irmãos nossos, dos quais muitos anônimos, conclui lançando um desafio para nós:
39 Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, 40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados. Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, 2 olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. 3 Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma. (Hb 11.39-12.3).
Olhando para Jesus Cristo, aquele que aparentemente fracassou na cruz mas, cuja vitória, marcada pela ressurreição, envolvia o seu sofrimento e morte em obediência ao Pai (Jo 17.4).
Davi, em situação totalmente adversa, fugindo de seu filho que com superior poder bélico queria matá-lo, pôde escrever: “Porém tu, SENHOR, és o meu escudo (magen), és a minha glória e o que exaltas a minha cabeça” (Sl 3.3).
Quando agimos com integridade diante de Deus, devemos aprender a confiar no seu cuidado protetor.
Isso não significa que não passemos por adversidades, injustiças e perseguições, porém, Ele nos protege a despeito disso e, por vezes, por meio dessas circunstâncias, nos conduzindo a uma maior confiança nele.
Isso explica o conforto confiante do salmista: “Deus é o meu escudo (magen); ele salva os retos de coração (lebh)” (Sl 7.10).
O sucesso de Josué em sua vida e condução do povo de Israel, estava relacionado à meditação e prática da Palavra:
Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita (hãgãh) nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar (tsaleah) o teu caminho e serás bem-sucedido (śâkal).[7] (Js 1.8).
A força e a coragem de Josué se revelariam, não simplesmente em atos de bravura, estratégias e comando, mas, no apego irrestrito à Palavra. Ele necessitaria de muita coragem, como de fato necessitou, para não ceder às pressões do povo que, em muitas ocasiões, rumava em direção ao paganismo. O seu testemunho final foi de uma profunda coragem e força em perseverar no serviço do Senhor (Js 24.14-15).[8]
[1] Fox narra as suas palavras ditas ao carrasco: “Vais assar um ganso (pois o nome Huss significa ganso na língua Boêmia), porém dentro de um século surgirá um cisne que não poderão nem assar e nem ferver”. Fox interpreta: “Se Huss neste momento disse uma profecia, deve ter se referido a Martinho Lutero, que apareceu ao final de aproximadamente cem anos, e em cujo escudo de armas tinha a figura de um cisne” (John Fox, O Livro dos Mártires, 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD., 2002, p. 166). Antes de morrer, recitou diversos salmos, principalmente o 51 e 53 (Cf. John Ker, Psalms in History and Biography, Edinburgh: Andrew Elliot, 1886, p. 54-55. https://archive.org/details/psalmsinhistoryb00kerj/).(Consulta feita em 23.07.2024). (Vejam-se: Mark A. Noll, Momentos Decisivos na História do Cristianismo, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000, p. 192; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 39; Robert G. Clouse; Richard V. Pierard; Edwin M. Yamauchi, Dois Reinos – A Igreja e a Cultura interagindo ao longo dos séculos, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 216; John Fox, O Livro dos Mártires, p. 162-166; John MacArthur, Por que ainda prego a Bíblia após quarenta anos de ministério: In: Mark Dever, ed. A Pregação da Cruz, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 142-143; John MacArthur, Escravo: A verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2012, p. 65-75. Veja-se o excelente e ilustrativo capítulo sobre tais perseguições e o arrefecimento de muitas igrejas em relação à autoridade suficiente das Escrituras, in: Iain Murray, Como a Escócia perdeu sua firmeza na Palavra: In: John F. MacArthur, org. A Palavra Inerrante, São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 149-171.
[2]Aludindo à tradução francesa das Institutas de 1541 – tradução que, juntamente com outros dos seus muitos e belos escritos, contribuiu para modelar essa língua, comenta Claretie (1862-1924):
“O livro é um dos primeiros monumentos duradouros da prosa francesa. De um estilo sóbrio, claro, de uma eloquência incomparável, de uma linguagem firme, de um entusiasmo ardente, de uma convicção imperativa, de uma dialética firmada numa razão rígida, além disso, percebe-se um pouco de graça a fim de amaciar a linguagem difícil e tensa. Todavia, Calvino “é um dos pais do nosso idioma”, como cita Pasquier, tendo feito pela prosa francesa, o que Lucrécio fez pela poesia latina: suavizou a língua para ela expressar as ideias sérias e duras” (Léo Claretie, Histoire de la Littèrrature Française (900-1900), Tome Premier: des origines au dix-septième siècle, Paris: Socièté d’Èditions Littèraires et Artistiques, 1905, p. 252).
Na mesma linha, escreve Lefranc (1863-1952):
“Depois de passados quatro séculos, a voz unânime da posteridade tem consagrado o texto francês das Institutas da Religião Cristã como uma das mais nobres e perfeitas obras-primas da nossa literatura” (Abel Lefranc, Grands Écrivains Français de la Renaissance, Paris: Librairie Ancienne Honoré Champion, 1914, v. 2, p. 305).
Willemart afirma que “Calvino foi, de um certo modo, fundador da prosa francesa com a Institution e seus tratados” (Philippe Willemart, A Idade Média e a Renascença na literatura francesa, São Paulo: Annablume, 2000, p. 43). Schaff (1819-1893) diz que Calvino “escreveu em duas línguas com igual clareza, força e elegância” (Philip Schaff, History of the Christian Church, v. 8, p. 267). Vejam-se também, entre outros, o testemunho do erudito Joseph Scaliger (1540-1609) e dos católicos Etienne Pasquier (1528-1615) em Philip Schaff, History of the Christian Church, v. 8, p. 272-274 e Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A Reforma Protestante, São Paulo: Quadrante, 1996, p. 384-386. Mais recentemente, dois artigos devem ser mencionados que apontam na mesma direção, escritos por dois professores que atuam na França: Marjolaine Cuénod Chevallier (https://www.amidumir.ch/wp-content/uploads/2019/06/amidumir_2009_calvin-et-langue-francaise-1.pdf) e Olivier Millet (https://books.openedition.org/pufr/7770). Millet escreveu um trabalho volumoso e respeitável sobre o assunto. (Olivier Millet, Calvin Et La Dynamique de la Parole: Étude de Rhétorique Réformée: 28, Paris: Classiques Garnier, 2019, 983p.). Vejam-se também: Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 8, p. 266; T. George, Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 181-182; T.H.L. Parker, The Oracles of God: an Introduction to the Preaching of John Calvin, Cambridge, England: James Clarke & Co., 1947, (2002) Reprinted, p. 30; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim, São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968, p. 100; Jacques Pannier, Introdução às Institutas (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 1, p. 25; Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 157-160.
[3] Veja o seu testamento. João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 182-183; Theodoro de Beza, A Vida e a Morte de João Calvino, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 2006, p. 115-116.
[4] Era assistente do médico Sir Thomas Horder (1871-1955). Sobre Horder, veja-se: https://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Horder,_1st_Baron_Horder (Consultado em 23.07.2024).
[5]Em 1933, os chamados “Cristãos Alemães” endossavam a atividade de Hitler, entendendo ser os seus atos a manifestação da direção benfazeja e providencial de Deus na história. “Pastores protestantes por toda a Bavária concederam uma bênção oficial ao nazismo no domingo de Páscoa, no dia 16 de abril de 1933. Clérigos coletaram ofertas em homenagem ao aniversário de Hitler, hastearam a bandeira do Reich em feriados nacionais e marcharam em desfiles com suásticas bordadas nas roupas” (David A. Noebel, As diversas cosmovisões de destruição no século XX. In: Mal Couch, ed. ger. Os Fundamentos para o Século XXI: examinando os principais temas da fé cristã, São Paulo: Hagnos, 2009, p. 496). Nesse sentido, em 1934 foi redigido um documento, com aprovação de 600 pastores e 14 professores de teologia, que dizia: “Somos muito gratos a Deus por Ele, como Senhor da história, ter-nos dado Adolf Hitler, nosso líder e salvador em nossa difícil situação. Reconhecemos que nós, de corpo e alma, estamos obrigados e dedicados ao estado alemão e a seu Führer. Essa servidão e obrigação contêm para nós, cristãos evangélicos, seu significado mais profundo e santo em sua obediência ao comando de Deus” (G.C. Berkouwer, The Providence of God, 2. ed. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1961, p. 162-163. Veja-se também: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 51-52).
[6]https://www.terra.com.br/esportes/lance/muricy-relembra-nao-a-selecao-brasileira-e-diz-nao-senti-firmeza,f0d0a391939e4fc4f174ac4af0a9a5282wwbcz1c.html (Consulta feita em 24.04.2021). Posteriormente esbarrei com a informação de que o Muricy não aceitou o convite pessoal do Tite, técnico da Seleção Brasileira de futebol, para ser o auxiliar dele no comando da Seleção na Copa do Mundo a ser realizada no Catar que ocorreria dentro de uns 50 dias. Ele não teria aceitado para honrar o seu contrato que tinha com o clube São Paulo. (Veja-se: Nilson Cesar ABRE O JOGO após VICE – YouTube).(20:25). (Consulta feira 02.10.2022).
[7]A palavra aqui traduzida por “bem-sucedido”, é traduzida também por “entendimento” (Gn 3.6; Sl 14.2; 53.2; 2Cr 30.22); “instrução” (Sl 32.8); “inteligência” (Jr 3.15); “atentar” (Sl 106.7); “prudência” (1Sm 18.5; Sl 2.10; 94.8; 111.10; Is 52.13); “êxito” (1Sm 18.14,15,30; 2Rs 18.7); “discernimento” (Sl 36.3); acudir (Sl 41.1). Por meio de Jeremias sabemos que o fracasso de Judá estava no fato dos príncipes (pastores) se desviarem da instrução do Senhor: “Porque os pastores se tornaram estúpidos e não buscaram ao SENHOR; por isso, não prosperaram (lk;f’), e todos os seus rebanhos se acham dispersos” (Jr 10.21). Vejam-se: William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3. ed. Michigan: WM. Eerdmans Publishing Co. 1978, p. 789-790; Louis Goldberg, Sakal: In: R. Laird Harris, et. al. eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1478-1480; Robert B. Girdlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (1897), Reprinted, 1981, p. 74, 224-225.
[8]“11Passando vós o Jordão e vindo a Jericó, os habitantes de Jericó pelejaram contra vós outros e também os amorreus, os ferezeus, os cananeus, os heteus, os girgaseus, os heveus e os jebuseus; porém os entreguei nas vossas mãos. 12 Enviei vespões adiante de vós, que os expulsaram da vossa presença, bem como os dois reis dos amorreus, e isso não com a tua espada, nem com o teu arco. 13 Dei-vos a terra em que não trabalhastes e cidades que não edificastes, e habitais nelas; comeis das vinhas e dos olivais que não plantastes. 14 Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao SENHOR. 15 Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js 24.11-15).