O Senhor e Pastor que não é indiferente à nossa dor

O Deus que nos guia é o mesmo que nos ouve

Vivemos um tempo no qual as pessoas estão ansiosas por falar e, talvez, por haver diversas vozes destoantes e disponíveis, poucas estão dispostas a ouvir com real atenção. A fartura, por vezes, dá-nos a falsa sensação de riqueza e, quando isso ocorre, pode nos levar ao desperdício pelo mal uso e as escolhas erradas. Quanto temos gastamos usando o celular com vídeos e mensagens que pouco ou nada acrescentam? Há fartura e, ao mesmo tempo, pobreza.

Tenho a nítida impressão de que em muitíssimas ocasiões é mais fácil conversar com alguém significativamente (isso, é claro, de forma relativa) via telefone ou redes sociais do que pessoalmente. Isso pode ser desesperador, especialmente, se estivermos necessitando de uma ajuda ou, simplesmente de alguém que nos ouça com atenção frente a frente.

Conheci pessoas extremamente prestativas, mas conversar com elas sobre algo que nos preocupava se tornava um exercício até certo ponto aflitivo porque elas transpareciam que estavam o tempo todo aguardando uma mensagem, uma ligação ou, tinham um compromisso daqui a dez minutos, nos dando a sensação de que estávamos tomando o seu tempo.

Outro aspecto associado a esse, é conseguir a atenção de um ouvido benigno, que ouça com simpatia a nossa causa. Você percebe isso, especialmente quando a pessoa em questão depois de você ter falado por cinco minutos, ela faz uma pergunta que denota não ter entendido o início da conversa.

Deus presente e atuante

Atanásio (295-373), Bispo de Alexandria (328-373), que devido à sua fé comprometida com a plenitude da revelação bíblica, sofreu muitas perseguições e exílio, tem registrado em sua lápide:            “Atanásio; Deus foi por você, mesmo que mundo inteiro estivesse contra você”.[1]

Pedro escreve de forma consoladora e estimulante às igrejas perseguidas: “Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males” (1Pe 3.12).

Deus não é um Senhor distante, alheio às orações de seus servos, antes, Ele está atento às nossas necessidades. Podemos e devemos falar com Ele em toda e quaisquer circunstâncias.

As Escrituras trazem o testemunho de diversos servos de Deus que, em suas angústias, se fortaleceram na certeza de que Deus ouve as suas orações.

Davi expõe a sua causa considerada justa

Davi com um senso ético apurado (expõe a Deus a sua causa considerada “justa”) e plena confiança em Deus, ora: “Ouve, SENHOR, a causa justa, atende ao meu clamor, dá ouvidos à minha oração, que procede de lábios não fraudulentos” (Sl 17.1).

O Senhor mantém os seus ouvidos atentos à nossa súplica e às nossas reais necessidades objetivas e subjetivas: “Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. (…) Os olhos do SENHOR repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor” (Sl 34.6,15).

Não há distância que impeça o Senhor de nos ouvir

Davi, em outro momento, clama ao Senhor sabendo que Ele habita os céus; no entanto, isso não o impede de ouvir o seu clamor: “Na minha angústia, invoquei o SENHOR, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos” (Sl 18.6).

A despeito de Deus ser o Senhor de todas as coisas, o Santo, Ele nos ouve. A santidade do Senhor não nos é empecilho, antes, motivo de adoração e sincera reverência:

Com a minha voz clamo ao SENHOR, e Ele do seu santo monte me responde (anah). (Sl 3.4).

O SENHOR está no seu santo templo (heykal); nos céus tem o SENHOR seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens. (Sl 11.4).

A figura indicando que os olhos de Deus estão atentos, conforme já afirmamos, quer demonstrar que Deus observa com real interesse. A sua soberania não é distante ou indiferente.

A consideração da santidade e soberania, ao invés de nos distanciar de Deus, deve ser um estímulo à nossa confiança no seu santo e poderoso cuidado.  Muitas vezes, a nossa reação pode ser equivocada diante da realidade de nossa pecaminosidade e indignidade, nos afastando de Deus e da oração. A santidade de Deus, por exemplo, não nos deve afastar dele, antes, procurar em Deus o perdão e a santificação.

Deus não é indiferente à nossa dor

Como temos enfatizado, o Senhor, por graça, não ignora as nossas aflições e injustiças sofridas. Ele está atento às nossas súplicas por socorro e livramento: Este é o testemunho do salmista: “Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações” (Sl 34.6/Sl 39.12; 69.13). “Porque o SENHOR responde aos necessitados e não despreza os seus prisioneiros” (Sl 69.33).

O salmista rememora os atos de misericórdia de Deus para com o povo de Israel, repetindo a sua declaração: “Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e ele os livrou das suas tribulações” (Sl 107.6,13). Por isso o seu convite ao louvor: Rendam graças ao SENHOR por sua bondade (hesed) e por suas maravilhas (pala) para com os filhos dos homens!” (Sl 107.8).

Um dos ingredientes fundamentais concedidos por Deus para o nosso fortalecimento, é a oração. A certeza de que Deus ouve os seus servos sempre foi um estímulo à oração perseverante e descanso nas promessas de Deus.

 


[1]R.C. Sproul, Estudos bíblicos expositivos em Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 274.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.