O Senhor e Pastor que não rejeita nem desampara o seu povo

Em todas as situações nosso Deus está conosco

Samuel, entristecido após proferir o discurso de despedida diante do povo − que pedira para ser governado por um rei como acontecia com as demais nações (1Sm 8.4-6; 19-20)[1] −, continua demonstrando a sua integridade.

Agora, traz palavras de orientação e conforto: “Pois o SENHOR, por causa do seu grande nome, não desamparará (natash) o seu povo, porque aprouve ao SENHOR fazer-vos o seu povo” (1Sm 12.22).

Movido por seu amor sábio, santo e soberano, Deus constituiu a Israel como sua propriedade especial. Por isso, jamais abandonaria seu povo de forma definitiva a despeito de seus pecados.

No Salmo 37 o salmista declara a sua confiança na presença amparadora de Deus: “Pois o SENHOR ama a justiça e não desampara (azab) os seus santos; serão preservados para sempre” (Sl 37.28).

Essa confiança não deve ficar restrita apenas ao salmista mas, deve ser a de todos nós. Afinal, a promessa de Deus continua e se estende a nós. O nosso Deus é fiel. Como Igreja, somos o Israel de Deus; o povo da Aliança.

Portanto, se buscarmos a Deus com integridade bíblica, Ele nos ouvirá e jamais nos desamparará. Essa convicção motiva e permeia a fé de todos que conhecem a Deus. Essa é a certeza do salmista:

Em ti, pois, confiam os que conhecem o teu nome, porque tu, SENHOR, não desamparas (azab) os que te buscam. (Sl 9.10).

O SENHOR sustém (samak) (= segurar,[2] apoio,[3] estável,[4] firme,[5] amparo[6]) os que vacilam e apruma (zaqaph) (= levanta[7]) todos os prostrados. (Sl 145.14).

O SENHOR abre os olhos aos cegos, o SENHOR levanta (zaqaph) os abatidos, o SENHOR ama os justos. (Sl 146.8).

Essa confiança conduz o fiel a louvar a Deus com alegria e integridade, consciente da grandeza do seu nome e de suas maravilhas: “Louvar-te-ei, SENHOR, de todo o meu coração (leb); contarei todas as tuas maravilhas. 2 Alegrar-me-ei e exultarei em ti; ao teu nome, ó Altíssimo, eu cantarei louvores” (Sl 9.1-2/Sl 8.1).

Confiança desde a infância reverbera ainda na velhice

Essa confiança é aprendida desde a infância. Nem sempre nos damos conta do privilégio de termos sido educados em um lar cristão. Como pais, devemos ensinar aos nossos filhos por meio de nossa instrução e testemunho, a importância de se aprender a confiar e descansar em Deus.

Na velhice, o salmista reflete a sua fé que, aprendida desde cedo, foi usufruída durante toda a vida e, agora, é registrada em louvor como um ato de fé experimentada.

A “maioridade” espiritual não significa independência de Cristo, antes, uma convicção mais profunda e experimental de que em todo o tempo e em todas as circunstâncias, sempre dependemos de Deus:        “Em ti me tenho apoiado (samak) desde o meu nascimento; do ventre materno tu me tiraste, tu és motivo para os meus louvores constantemente” (Sl 71.6).

Em outros contextos, os salmistas revelam a sua história vivenciada de fé:

Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado (azab), nem a sua descendência a mendigar o pão. (Sl 37.25).

 Pois o SENHOR ama a justiça e não desampara (azab) os seus santos; serão preservados (rm;v’) (shamar) para sempre. (Sl 37.28).

Pois o SENHOR não há de rejeitar (natash)  (= abandonar) o seu povo, nem desamparar (azab)  a sua herança. (Sl 94.14)

Podemos recorrer a Deus em toda situação

Não é estranho a nós em período de bonança e fartura, nos depararmos com declarações e promessas de ajuda, socorro, emprego, amizade, cuidado, etc. Especialmente se tivermos algo para barganhar; estabelecer um caminho de via dupla… Até quando de fato precisamos e nada teríamos a oferecer dentro de uma avaliação fria de nossos potenciais benfeitores.

Nesses momentos, quer por circunstâncias especiais, quer por ofertas e promessas infundadas, não é estranho nos vermos em apuros.

Nessas situações é comum termos a sensação de que quando mais precisamos, a ajuda não veio. Descobrimos para surpresa, frustração e angústia, que as coisas não eram bem assim.

Quando falamos de Deus, no entanto, podemos ter a certeza de que em quaisquer circunstâncias, podemos recorrer ao sustento divino, na certeza de seu amparo. Podemos confiar totalmente em Deus.

Mais uma vez recorremos ao salmista: “A ti se entrega o desamparado (azab); tu tens sido o defensor (azar) (= acude, socorre, ajuda) do órfão” (Sl 10.14).

Do mesmo modo,    quando pecamos e por graça nos arrependemos sinceramente e confessamos a Deus a nossa falta, podemos ter a certeza de que Ele nos perdoa, ampara e dirige. (2Sm 12.13).

Davi confrontado pela Palavra, arrepende-se de seu pecado. Então, confessa a sua falta e suplica a Deus para que não o desampare: Não me desampares (azab), SENHOR; Deus meu, não te ausentes de mim” (Sl 38.21).

Em outro momento, em profunda angústia, clama ao Senhor e, ao mesmo tempo revela a sua confiança em Deus:

Não me escondas, SENHOR, a tua face, não rejeites (natah) com ira o teu servo; tu és o meu auxílio, não me recuses (natash), nem me desampares (azab), ó Deus da minha salvação.(…) Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem (azab), o SENHOR me acolherá. (Sl 27.9-10).

 Deus não nos deixa nas mãos de nossos inimigos que impiamente querem nos fazer mal:    “Mas o SENHOR não o deixará (azab) nas suas mãos, nem o condenará quando for julgado” (Sl 37.33).

Velhice e vulnerabilidade

Na velhice ficamos mais vulneráveis: nossos reflexos tornam-se mais lentos, enxergamos menos, caminhamos com maior dificuldade, a digestão é mais lenta, uma noite mal dormida tem efeitos mais evidentes no dia seguinte, as doenças aparecem com mais frequência, nosso raciocínio já não é tão ágil, nossas mãos tornam-se menos resistentes e sensíveis.

Muito do que cultivamos durante a nossa juventude e mesmo maturidade, se manifestará em suas consequências, nessa fase de vida: hábitos alimentares, perspectiva de vida, valores e, especialmente a nossa relação com Deus.

O salmista, na velhice, sendo observado pelos ímpios que buscavam uma ocasião para destruí-lo, ora:

 9 Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares (azab)10 Pois falam contra mim os meus inimigos; e os que me espreitam a alma consultam reunidos,  11 dizendo: Deus o desamparou (azab); persegui-o e prendei-o, pois não há quem o livre. (…) 18 Não me desampares (azab), pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs; até que eu tenha declarado à presente geração a tua força e às vindouras o teu poder. (Sl 71.9,10,18).

Notemos que o seu propósito é nobre. Ele não desejava se ver livre das armadilhas de seus inimigos por uma questão simplesmente de longevidade. Antes, pretendia ter uma vida mais longa para continuar proclamando o poder de Deus às novas gerações.

O salmista compromete-se com Deus e solicita o seu amparo: “Cumprirei os teus decretos; não me desampares (azab) jamais” (Sl 119.8).

À frente demonstra sua indignação contra aqueles que abandonam a lei de Deus: “De mim se apoderou a indignação, por causa dos pecadores que abandonaram (azab) a tua lei” (Sl 119.53).

Ao mesmo tempo, revela a sua perseverante fé em seu compromisso com a Palavra a despeito das perseguições: “Quase deram cabo de mim, na terra; mas eu não deixo (azab) os teus preceitos” (Sl 119.87).

Temos aqui uma demonstração prática de que o Senhor, nosso Pastor, nos guia e sustenta em todos os sentidos e em todas as etapas de nossa vida. O Deus que não nos desampara também nos ensina a perseverar; a manter-nos firmes na sua Palavra.

Por isso mesmo, se Ele é o nosso Pastor, nada nos faltará.

 


[1]O arrazoado dos anciãos estava correto. Os filhos de Samuel cometeram os mesmos pecados – independentemente de grau e extensividade − dos filhos de Eli. O equívoco foi aproveitar a situação para propor uma mudança de governo. O que os distinguia como povo de Deus não foi levado em conta; queriam ser como as demais nações: 4 Então, os anciãos todos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá,  5 e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações.  6 Porém esta palavra não agradou a Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos governe. Então, Samuel orou ao SENHOR. (…) 19 Porém o povo não atendeu à voz de Samuel e disse: Não! Mas teremos um rei sobre nós.  20 Para que sejamos também como todas as nações; o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós e fazer as nossas guerras” (1Sm 8.4-6; 19-20).

[2] Sl 37.24.

[3] Sl 71.6.

[4] Sl 111.8.

[5] Sl 112.8.

[6] Sl 119.116.

[7] Sl 146.8.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.