A alegria que provém do nosso Rei-Pastor

Em Deus está a nossa alegria

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O que nos alegra?

A alegria é algo habitual ou excepcional em nossa vida?

Podemos nos alegrar com pequenas e grandes coisas sem que necessariamente sejamos provados com a ausência de algo. Explico: É possível nos alegrar com nossa saúde, sem que necessariamente – após suspeita médica −, passemos por exames para descobrir que tudo está bem com o nosso organismo; foi apenas um “susto”.

Não preciso enfrentar o desemprego para valorizar o trabalho que tenho, e que me proporciona o meio para sustentar minha família, além de me sentir abençoado em poder glorificar a Deus por meio do exercício dos talentos que Ele graciosamente me concedeu.

Cuidado com observações supostamente piedosas

O nosso olhar, em geral, determina a possibilidade de nos aprazermos com pequenas e grandes coisas. Já vi pessoas ficarem extremamente alegres pelo simples fato de terem recebido uma ligação. Já vi pessoas infelizes em seu relacionamento por serem incapazes de valorizar verbalmente o que recebem, mas, conseguem externar o desagrado porque a despensa tem gelatina demais. As férias foram as do sonho. Contudo, o ponto que será sempre mencionado é o aborrecimento que teve em um determinado dia no passeio.

Obviamente aqui não estou propondo a falta de juízo crítico que consiste em deixar de avaliar um serviço que poderia ser feito de forma mais elaborada e ou dentro do prazo estabelecido, desviando desse modo a atenção de um real problema que está em foco. Esse tipo de perspectiva nos leva por um caminho romanticamente superficial e com a áurea de piedoso. Assim, podemos exemplificar:

Quando compramos um pão que deveria ter sido feito hoje mas é adormecido e, reclamamos, alguém nos diz: pense em tantas pessoas que não têm pão para comer.

Quando você se incomoda em ser mal atendido em um serviço público, outro fala: ainda bem que temos esse serviço em nossa região.

Tais afirmações podem ser verdadeiras. No entanto, não avaliam corretamente o possível problema. Gratidão não exclui necessariamente a avaliação dos fatos.

Retornando à nossa argumentação positivamente bíblica, enfatizamos que a rotina da bênção de Deus em nossa vida deve ser motivo de júbilo e grata alegria diante de Deus.

A Palavra compreendida nos alegra

Já mencionamos que a Palavra de Deus devidamente compreendida em sua amplitude e implicações, alegra o coração. Essa é a experiência do salmista: “Os preceitos (piqqud) (= Estatutos) do SENHOR são retos (yashar) (justos, íntegros, corretos) e alegram (samach) o coração” (Sl 19.8).

Essa alegria é resultante do verdadeiro conhecimento de quem é Deus; o nosso Pastor que cuida de nós.

Alegramo-nos na convicção de que a sua Palavra é verdadeira e os seus preceitos, por serem retos, não trazem armadilhas nem contradições. Podemos, portanto, caminhar seguros por eles.

A Palavra não tem como propósito final trazer tristeza ou pesar. A tristeza que pode ser causada por sua correção, é um remédio divino para a cura e nos trazer de volta à alegria da comunhão com Deus.

A alegria está em Deus

Portanto, a genuína alegria está em Deus, de onde parte o sentido do verdadeiro regozijo; a alegria frutificante. Portanto, a genuína alegria está condicionada à consciência da presença de Deus.

Por isso o salmista dizer: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11/Gl 5.22).

Calvino comentando essa passagem, escreveu:

O sereno regozijo não é a porção de nenhum outro, senão daquele que aprendeu a pôr sua confiança unicamente em Deus, bem como a confiar sua vida e sua segurança à proteção dele. Quando, pois, nos virmos cercados de todos os lados por inumeráveis dificuldades, sintamo-nos persuadidos de que o único remédio é dirigirmos nossos olhos para Deus; e se agirmos assim, a fé não só tranquilizará nossas mentes, mas também as encherá da plenitude de alegria. E não é sem motivo, porque os verdadeiros crentes só possuem essa alegria espiritual na afeição secreta de seu coração, mas também ela se manifesta através da língua, visto que se gloriam em Deus como Aquele que os protege e lhes assegura a salvação.[1]

Pela Palavra aprendemos a nos alegrar em Deus, na sua contínua e abençoadora presença. É deste modo que o salmista se expressa:

Alegrar-me-ei (samach) e exultarei em ti; ao teu nome, ó Altíssimo, eu cantarei louvores. (Sl 9.2).

Regozijem-se (samach) todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome. (Sl 5.11/Sl 30.2; 31.7; 32.11; 33.21; 35.27, etc.).

A alegria cristã não deve ser regida pelas circunstâncias; antes, orientada e motivada pela consciência da presença de Deus em todas as circunstâncias.

É por isso mesmo que a genuína alegria cristã está associada à compreensão adequada da doutrina.[2] Por exemplo: A certeza do cuidado providente Deus sobre nós em toda e qualquer situação deve nos confortar e consolar especialmente nos momentos de dor e incompreensão, quando não conseguimos entender, por exemplo, porque estamos sendo provados dessa maneira.

Considerar a força de Deus em nossa salvação nos motiva a nos alegrar em nosso livramento: “Na tua força, SENHOR, o rei se alegra (samach)! E como exulta com a tua salvação! (Sl 21.1/Sl 30.2).[3]

Por isso, o recordar e refletir sobre a misericordiosa aliança de Deus conosco é motivo de júbilo. Davi assim se alegra em Deus a despeito de várias calúnias contra ele: “Eu me alegrarei e regozijarei (samach) na tua benignidade (hesed), pois tens visto a minha aflição, conheceste as angústias de minha alma” (Sl 31.7).

O fato de podermos confiar em Deus é motivo de júbilo: “Nele, o nosso coração se alegra (samach), pois confiamos no seu santo nome” (Sl 33.21).

Deus nos acode em nossa aflição, nos livra e traz alento à nossa alma:

30 Louvarei com cânticos o nome de Deus, exaltá-lo-ei com ações de graças. 31 Será isso muito mais agradável ao SENHOR do que um boi ou um novilho com chifres e unhas. 32 Vejam isso os aflitos e se alegrem (samach); quanto a vós outros que buscais a Deus, que o vosso coração reviva. 33 Porque o SENHOR responde aos necessitados e não despreza os seus prisioneiros. (Sl 69.30-33).

Após Davi ver-se livre das mãos de Abimeleque, tendo se fingido de louco, escreve: “Bendirei o SENHOR em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios. 2 Gloriar-se-á no SENHOR a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão (samach)” (Sl 34.1-2).

O salmista considerando os feitos do Deus criador bendiz ao Senhor (Sl 104.1). Essa meditação é motivo de louvor e alegria perante o Senhor: “Seja-lhe agradável a minha meditação; eu me alegrarei (samach) no SENHOR” (Sl 104.34)

Davi em situação adversa − fugindo de Saul que deseja matá-lo −, para falar de sua alegria, faz uma comparação assaz interessante: “Mais alegria (samach) me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho” (Sl 4.7).

Enquanto seus perseguidores se alegravam apenas quando tinham fartura, a alegria do salmista não dependia simplesmente de circunstâncias favoráveis.

Ele sabia que Deus não é indiferente ao seu clamor: “Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração. (…) Sabei, porém, que o SENHOR distingue para si o piedoso; o SENHOR me ouve quando eu clamo por ele” (Sl 4.1,3).

Mesmo perseguido, continuava confiando em Deus o cultuando e estimulando os seus à assim procederem.

Não devemos permitir que as nossas tribulações nos afastem de nossa comunhão com Deus e que lhe ofereçamos um culto ritualístico, sem o exercício de nossa fé: “Oferecei sacrifícios de justiça, e confiai no Senhor” (Sl 4.5).

Em outro lugar, o salmista considerando a grandeza de Deus (misericórdia e fidelidade) e seus feitos, se alegra no Senhor, conduzindo o povo a louvá-lo: “Pois me alegraste (samach), SENHOR, com os teus feitos; exultarei (ranan) nas obras das tuas mãos” (Sl 92.4).

O salmista exorta o povo expressar a sua alegria cantando a Deus considerando a sua proteção: Exultem (‘alaz) de glória os santos, no seu leito cantem de júbilo (ranan) (Sl 149.5).

Moisés exulta pelo fato de Deus em sua misericórdia pactual suprir todas as suas necessidades: “Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que cantemos de júbilo (ranan) e nos alegremos (samach) todos os nossos dias” (Sl 90.14)

Sentindo-se protegido por Deus, o salmista se alegra e canta: “O SENHOR é a minha força e o meu escudo (magen); nele o meu coração confia (batach), nele fui socorrido (‘azar); por isso, o meu coração exulta (‘alaz ),[4] e com o meu cântico o louvarei (yadah)(Sl 28.7).

Outra vez: “Porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso (ranan). (Sl 63.7).

A alegria é uma expressão dos que amam a Deus na certeza do seu cuidado: “Mas regozijem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo (ranan) para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome” (Sl 5.11).

Liberto das mãos de Saul, Davi canta a Deus com alegria considerando a sua misericórdia: “Eu, porém, cantarei a tua força; pela manhã louvarei com alegria (ranan) a tua misericórdia; pois tu me tens sido alto refúgio e proteção no dia da minha angústia” (Sl 59.16).

Alegria que redunda em missão

A nossa alegria e louvor devem ter uma conotação missionária:

Vinde (yalak), cantemos (ranan) ao SENHOR, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação (yasha). (Sl 95.1).

Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos (ranan) e cantai louvores (zamar).[5] (Sl 98.4).

Certamente, ser pastoreado pelo Senhor é motivo de grande alegria ainda que não tenhamos a todo momento essa percepção. Por meio de sua Palavra Ele nos guia nos dando a direção certa.

Pelo seu Espírito – que procede do Pai e do Filho – que nos selou, habitando em nós, temos a sua presença conosco testificando que somos seus filhos; ovelhas do seu pastoreio.

Por certo, ao considerarmos os feitos de Deus, poderemos dizer com o salmista: “Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos alegres (samach) (Sl 126.3).


[1]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 16.9), p. 319.

[2]Veja-se: D. Martyn Lloyd-Jones, A Vida de Paz, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2008, p. 26.

[3]Converteu o mar em terra seca; atravessaram o rio a pé; ali, nos alegramos (samach) nele” (Sl 66.6)

[4] Veja-se: Carl Schultz, Alaz: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1122.

[5] Sobre a palavra “Zamar”, veja-se: Hebert Wolf, Zãmar: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 396-397.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.