Um blog do Ministério Fiel
Contar aos nossos filhos as maravilhas do Rei e Pastor – parte III
Compreensão correta do poder de Deus
Não basta contar para os nosso filhos as histórias bíblicas e aquelas que fazem parte de nossa experiência pessoal com Deus; é necessário ter uma compreensão corretamente bíblica dos atos poderosos de Deus.
O salmista aprendeu com seus pais, que: “Não foi por sua espada que possuíram a terra, nem foi o seu braço que lhes deu vitória, e, sim, a tua destra, e o teu braço, e o fulgor do teu rosto….” (Sl 44.3). Seus pais lhes contou os fatos e apresentaram uma interpretação teológica fruto de sua vivência madura de fé em Deus.
Davi e o salmista testemunham algo semelhante:
Uns confiam em carros, outros em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do Senhor nosso Deus. (Sl 20.7).
Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; nem por sua muita força se livra o valente. O cavalo não garante vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar (…) Nossa alma espera no Senhor, nosso auxílio e escudo. Nele o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome. Seja sobre nós, Senhor a tua misericórdia, como de ti esperamos. (Sl 33.16,17,20-22).
Pequenas e grandes conquistas dependem de Deus
O que é uma grande conquista? Para a maioria ou talvez, todos nós, termos ao menos quatro refeições diárias seja algo natural. Para outros, trocar de carro anualmente também o é. Certamente, aquela e principalmente esta, é uma experiência de uma pequena minoria da população brasileira. O nosso nicho social não serve de parâmetro para a amplitude da realidade nacional.
Há alguns anos, um grande amigo, que finalmente conseguiu colocar a esposa como dependente no seu plano de saúde – ainda que não soubesse como iria pagar –, me dizia com uma alegria contagiante, que após a cirurgia complexa nas cordas vocais, foi a primeira vez que ela conseguiu comer metade de uma banana e um pedaço de maça. Tinha sido uma grande conquista. Eles estavam radiantes.
Retornando ao contexto do salmo, precisamos entender que as grandes conquistas bíblicas, os avanços, preservação e resistência, como também as nossas, dependem de Deus; não de nossa astúcia e sabedoria, mas de Deus usar de sua misericórdia.
Vitórias concessivas e altivez
É possível que o progressivo sucesso em nossa carreira, marcada por alguns truques e espertezas; algumas concessões aqui e ali que conflituam com a nossa fé mas, que fazemos vista grossa, vão nos fazendo confiar em nossa habilidade… Assim, sem percebermos, Deus vai saindo de cena e, quando percebemos, estamos praticando um ateísmo funcional, desconsiderando a Deus e a sua Palavra. Isso é mais factível e perigoso do que pode nos parecer.
No salmo 44 os pais contavam com ênfase. E os filhos se lembravam em meio às dificuldades: “Não foi por sua espada que possuíram a terra, nem foi o seu braço que lhes deu vitória, e, sim, a tua destra, e o teu braço, e o fulgor do teu rosto….” (Sl 44.3).
Recorrer ao método de Deus
Portanto, devemos estar prontos a recorrer ao método de Deus conforme revelado em sua Palavra, não aos nossos, ou aos atalhos propostos por uma sociedade corrompida que aponta sempre na direção do levar vantagem, esperteza, prejudicar o outro, ter um lucro extorsivo, etc.
“Não foi por sua espada que possuíram a terra, nem foi o seu braço que lhes deu vitória, e, sim, a tua destra, e o teu braço, e o fulgor do teu rosto….” (Sl 44.3).
Faz-se necessário, inúmeras vezes, que tornemos aos feitos de Deus, recorramos aos seus caminhos e moldemos os nossos recursos e métodos aos propostos por Deus em sua Palavra.
Compreensão correta das motivações de Deus
“Porque te agradaste deles” (Sl 44.3). “Levanta-te para socorrer-nos, e resgata-nos por amor da tua benignidade” (Sl 44.26).
Nesse processo, vamos conhecendo mais a Deus aprendendo a confiar na sua Palavra e descansar em suas promessas.
O salmista aprendeu com seus pais que a vitória que Deus lhes concedeu não se amparava em supostas qualidades do povo ou no fato de seus pais terem realizado determinadas obras, mas no amor benigno de Deus.
Assim, vemos que Deus escolheu livre e soberanamente a Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Josué, Sansão, Jefté, Samuel, Davi, Pedro, Paulo. Tudo isso porque foi do soberano e santo agrado de Deus.
O salmista crendo no livramento de Jerusalém por parte de Deus, assume o santo compromisso: “Quanto a nós, teu povo e ovelhas do teu pasto, para sempre te daremos graças; de geração em geração proclamaremos (rp;s’) (saphar) os teus louvores” (Sl 79.13).
Notemos que esta compreensão o fortaleceu em momentos de angústia, sofrimento e incompreensão.
A lição é: mesmo que passemos por dificuldades e provações, jamais nos esqueçamos de que Deus se agrada de nós. Portanto, Ele age sempre de forma educativa a fim de que possamos amadurecer em nossa fé, tornando-a cada vez mais operosa.
O resultado de tudo isso foi muito instrutivo e edificante: O salmista ouviu as histórias contadas por seus pais e as assimilou; agora ele pode declarar a sua própria fé:
- Deus é o Senhor: Ele Reina: (4);
- Aprendeu a confiar inteiramente na provisão de Deus: (5-7);
- Aprendeu a se gloriar em Deus em todas as situações, louvando o seu nome: (8). Deus nos chamou para isso, para que com nossa vida e testemunho proclamemos as suas virtudes e seus feitos gloriosos (1Pe 2.9-10).
- Aprendeu que o amor e o cuidado de Deus não nos impedem de passar grandes provações: (22/Rm 8.36).
Por vezes, como nos lembra Kidner (1913-2008),
O sofrimento pode ser uma cicatriz de batalha e não um castigo; é o preço da lealdade num mundo que está em pé de guerra contra Deus. Se for o caso, um revés, e não somente uma vitória, pode ser um sinal da comunhão com Ele, e não de alienação.[1]
No Novo Testamento o Escritor de Hebreus recorreu ao Antigo Testamento – relatando o testemunho de fé dos Patriarcas –, para admoestar e encorajar a Igreja de seus dias de incertezas. (Hb 11).
O testemunho de fé dos patriarcas é uma herança rica que fortalece a nossa caminhada cristã.
Assim, somos chamados a entender que a nossa fé é continuamente lapidada pelas provações. Elas não são sinais de abandono divino, mas oportunidades de crescimento e amadurecimento espiritual. Ao enfrentarmos desafios, somos lembrados das promessas de Deus e de sua fidelidade ao longo da história. A vida de fé é uma jornada de aprendizado constante, onde cada situação adversa pode se transformar em um testemunho poderoso do amor e do cuidado de Deus.
[1]Derek Kidner, Salmos 1-71: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1980, p. 190.