Um blog do Ministério Fiel
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Seja bem-vindo a mais um episódio do nosso podcast John Piper Responde! Hoje, veremos sobre o papel da aplicação no sermão. Veja esta ótima pergunta de uma jovem do estado de Washington: “Olá, pastor John! Estou escrevendo para dizer que meu pastor faz um ótimo trabalho nos ensinando os detalhes da Bíblia. Mas os domingos também são muito marcados por palestras acadêmicas. Embora eu saia da igreja com a cabeça cheia de conhecimento, história e fatos, muitas vezes não saio com uma mensagem que possa aplicar à minha vida e que me ajude a crescer como cristão. Pedi que ele considerasse adicionar alguma aplicação aos seus sermões, mas a sugestão não levou a nenhuma mudança que eu pudesse perceber.Então, pastor John, quão importante é a aplicação à vida das pessoas em um sermão? É possível ter um sermão sem aplicação? Ou a aplicação é opcional e desnecessária?”
Duvido que seja possível dar uma resposta quantitativa à pergunta “Quanto de aplicação à vida um pregador deve dar em um sermão?” Mas creio que chegaremos a isso analisando o que é a aplicação na pregação. Não é algo simples. Como a aplicação se relaciona com a exposição? Também gosto de chamar a exposição de explicação, só para deixar claro.
Expondo pela aplicação
Quero defender que toda boa aplicação é uma exposição aprofundada. Ou seja, faz parte da explicação do significado do texto. Não é algo meramente acrescentado à exposição ou explicação. Uma boa aplicação explica mais profundamente — torna o significado original mais claro, mais nítido, mais convincente. E quero argumentar que o contrário também é verdadeiro — ou seja, nenhuma exposição ou explicação do texto é completa como exposição sem aplicação à vida contemporânea real.
Agora, isso pode parecer que estou contradizendo meu padrão de vida, mas me escute. A comunicação de Deus conosco nunca deixa de ter implicações na maneira como vivemos nossas vidas. Essas implicações são parte do que ele está tentando comunicar na Bíblia. Elas não são uma coisa separada. É parte do que ele está tentando comunicar — as implicações para nossas vidas do que ele ensina. Portanto, a exposição dessa comunicação não estará completa se essas implicações não tocarem a vida das pessoas sentadas nos bancos da igreja. E esse toque nós frequentemente chamamos de aplicação.
Então, você pode ver que não estou feliz com a linha divisória rígida entre explicação e aplicação. Uma exposição boa e completa inclui aplicação, e uma aplicação boa e útil aprofunda a exposição. Não há uma linha divisória rígida entre elas.
Exemplo de exposição simples
Acho que posso mostrar isso pegando um texto de exemplo e descrevendo três estágios ou tipos de exposição mesclados com aplicação. Então, vamos pegar Romanos 8.13. Paulo diz: “Se viverdes segundo a carne, morrereis.” Vamos pegar apenas essa frase. O resto diz: “mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”, mas não tenho tempo para lidar com as duas metades.
“Se viverdes segundo a carne, morrereis.” Agora, a primeira tarefa do pregador é explicar o que isso significa. O que Deus está tentando comunicar ao seu povo? Para fazer isso, precisamos explicar o que é “carne”, precisamos explicar o que é “morrer” e precisamos explicar o que é “viver segundo a carne”. Então, carne, morrer, viver — isso tem que ser explicado. Pelo menos essas três coisas precisam ser expostas, abertas ou explicadas — não com ideias que saem da nossa cabeça, mas com as ideias de Paulo, para que pensemos nos pensamentos dele, não apenas inventando nossos próprios pensamentos e colocando-os na boca dele.
Então, para explicar o significado de “carne”, o pregador pode voltar alguns versículos e ver como a palavra “carne” foi usada nos versículos 7 e 8. Ou ele poderia ir para Gálatas 5:19 e mostrar a partir das “obras da carne” o que a carne é. Com relação ao significado de “morte”, ele poderia observar que todos morrem de morte física, quer vivam segundo a carne ou não. E assim, a morte neste versículo deve ser mais do que a morte física, porque somente aqueles que vivem segundo a carne morrerão esta morte. Ele poderia argumentar dessa forma e recorrer a Romanos 6.23 para desenvolver o assunto. Em terceiro lugar, ele pode observar que “viver segundo a carne” significaria que os impulsos da carne que ele agora definiu ganham vantagem e controlam a vida.
Agora, o pastor pode levar cinco, dez ou quinze minutos para fazer isso. Acabei de considerar duas. E ele destrincha as três ideias explicativas de carne, morte e vida, e pode fazer isso sem nenhuma referência às pessoas sentadas à sua frente. Acredito que é isso que dá à pregação uma sensação de palestra e faz a pessoa pensar que sua mente está sendo ensinada, mas sua vida não está sendo moldada.
Exposição aplicativa
Então, o que eu acho melhor do que isso é que o pregador, em cada ponto da exposição, da explicação, olhe as pessoas nos olhos repetidamente na exposição usando o pronome você — elas estão no terceiro banco — e pergunte a elas: “Você vê essas realidades? Você consegue enxergar isso agora mesmo em sua vida? Você sabe o que é a sua carne? Você sabe o que é viver, o que é morrer; você sabe o que é o céu e o inferno? Estou falando com você.” E ele faz isso enquanto faz uma exposição. Ele não é abstrato, como se estivesse fora da sala durante a exposição e dentro da sala durante a aplicação.
Não. Toda explicação não é uma explicação abstrata, mas uma explicação, por assim dizer, de alguma dinâmica em nossas vidas. Eu chamaria isso de “exposição aplicativa” ou “explicação aplicativa”. O pregador não espera até que a explicação seja concluída para pressionar essas realidades aos ouvintes. Você olha nos olhos deles e diz: “Você sabe o que é a sua carne?” E ele diz isso durante sua exposição sobre o que é a carne. Se você não sabe o que é a sua carne, como você obedecerá a este texto?
Em outras palavras, você está criando um problema existencial para essas pessoas ao fazer a exposição para mostrar a elas como a exposição em si é muito relevante para suas vidas agora, neste momento. “Você quer saber o que é a sua carne? Ou você está apenas sentado aí, indiferente se vai viver ou morrer, de acordo com este texto?” Esse tipo de pergunta gera uma conexão olho no olho. Eles não precisam esperar pela aplicação.
É assim que você fala enquanto explica. Se “viver segundo a carne” significa vida diária sem referência a Deus, digamos, você chama a atenção para o fato de que é com a sua vida que estamos lidando agora. “Enquanto faço esta explicação, estou lidando com sua vida. Você vai morrer se viver segundo a carne. Preste atenção no que estou fazendo aqui. Isto é para você. Esta exposição tem enorme significado de aplicação imediata para sua vida. Sua vida é vivida sem referência a Deus na maior parte do tempo?” Se “morrer” significa permanentemente e no inferno, pergunte a eles: “Quando foi a última vez que você ponderou sobre a possibilidade do inferno? Isso faz algum sentido na sua vida? Este versículo certamente o chama para ter essa convicção em sua vida.”
Outro nome que você pode dar a esse tipo de exposição ou explicação é “urgência da exposição”. A exposição em si pode ser feita academicamente ou existencialmente com um senso de urgência, porque tudo neste texto importa em última análise. Você não precisa esperar até os últimos dez minutos do sermão para insistir urgentemente com essas realidades que você está expondo nos corações dos ouvintes.
Exposição ilustrativa
Agora, aqui está a segunda etapa da exposição depois desse tipo de exposição aplicativa urgente. Eu poderia chamar isso de “exposição ilustrativa”, e acho que é nisso que muitas pessoas pensam quando pensam em aplicação. Você olha para o seu povo e pergunta: “Qual seria um exemplo hoje à tarde, às três horas, de viver segundo a carne?” E você faz uma pausa e espera. Deixe-os pensar.
E ele pode dizer: “Marido, você estará vivendo segundo a carne esta tarde às três horas, se sua esposa disser algo que pareça humilhante ou desdenhoso, e você mergulhar em uma sequência de emoções como autopiedade, raiva, mau humor e até mesmo fazer bico e ficar sem falar com ela. Esse não é o caminho de Cristo. Esse não é o caminho do Espírito, homens. Esse é o caminho da carne. E se você viver dessa maneira sem arrependimento, você irá para o inferno. É muito prático, rapazes.” Isso é o que eu chamaria de “exposição ilustrativa”. E note, eu digo que é exposição. Sim, eu digo que é uma exposição, não apenas uma ilustração. Porque naquele momento, este texto pode se abrir com seu devido significado para aqueles maridos que estavam sonhando acordados até eu acertá-los.
Exposição penetrante na alma
Deixe-me mencionar mais uma etapa da exposição, que poderíamos chamar de “exposição penetrante na alma”. Neste ponto, o pregador pode fazer a pergunta: “Como este versículo motiva vocês, congregação, a não viverem segundo a carne? Como isso te motiva?” Pause. Espere. Deixe-os olhar para o texto. A resposta é: “Ele ameaça você com a morte e o inferno se você viver de acordo com a carne. É assim que isso te motiva.”
Agora, isso vai deixar as pessoas realmente desconfortáveis, certo? Você acabou de criar um grande problema, porque todo mundo sabe que essa não é uma motivação boa o suficiente. Mas então você faz uma pergunta mais penetrante: “O medo do inferno, que este versículo cria — ou ao menos deveria — é uma motivação adequada para matar a carne?” E você faz uma pausa e espera. Veja o que eles responderiam em suas cabeças. Tudo isso é uma aplicação com urgência. E então você dedica mais dez minutos do seu sermão para explicar como é que você mortifica as obras do corpo pelo Espírito — e não apenas pelo medo — e o que isso significa.
Então, o que estou dizendo é que há uma maneira de fazer uma exposição que seja aplicativa, ilustrativa e penetrante. E não devemos insistir que os pastores dividam seus sermões entre a exposição e a aplicação. Quero encorajar os pastores a terem um sabor e um espírito de exposição penetrante, urgente e aplicativa em cada momento do sermão.
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