O Senhor e Pastor que devemos buscar em oração

Deus deseja que o busquemos em oração

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A oração é a conversa da alma com Deus. (…) Um homem sem oração é necessária e totalmente irreligioso. Não pode haver vida sem atividade. Assim como o corpo está morto quando cessa sua atividade, assim a alma que não se dirige em suas ações a Deus, que vive como se não houvesse Deus, está espiritualmente morta. – Charles Hodge.[1]

A oração é tão vital e, ao mesmo tempo, tão difícil, que os discípulos, familiarizados com essa prática pessoal e com o Senhor orando de forma intensa, especialmente em momentos cruciais, fazem um pedido dos mais relevantes: “Ensina-nos a orar” (Lc 11.1).

O próprio o Senhor Jesus os ensina orar por meio da Oração do Pai Nosso. Nessa oração temos tudo o que é essencial às nossas orações e, por conseguinte, à nossa existência.

Conforme já tratamos de forma mais pormenorizada, Paulo nos diz que temos o Espírito que nos auxilia em nossas orações.

Apenas por esses indicativos podemos perceber a essencialidade da oração para a vida cristã. Além disso, certamente todos nós temos experiências relacionadas à oração.

Não há cristão que não tenha descoberto em maior ou menor escala a vitalidade da oração na manutenção de sua vida. Os salmistas sabiam bem a importância da oração.

A quem oramos?

Uma questão de suma importância é saber a quem nos dirigimos. Nossa oração é dirigida ao Senhor. Essa é a convicção dos salmistas; ela não é uma carta circular destinada “a quem possa interessar” ou com cópia para tornar outras “divindades” ou pessoas cientes. Esse é um princípio fundamental. Saber a quem oramos; quem é o nosso Deus.

Davi inicia a sua oração nesses termos: “A ti, SENHOR, elevo (nasa’) a minha alma” (Sl 25.1).

A oração é sempre um ato de elevar-se. Orar é falar com o Deus majestoso e glorioso. Ele é o nosso Pai mas, também, é o Rei de todo o universo e absolutamente Santo, a quem pertencem o poder e a glória eterna.

Em outro momento, Davi enfrenta uma situação muito difícil: Em uma de suas fugas de Saul que queria matá-lo, ironicamente, julgou-se mais seguro entre filisteus; justamente aqueles que tiveram seu grande guerreiro morto por ele.

Alguns líderes filisteus veem isso, não sem razão, como uma oportunidade que Davi poderia se valer dessa associação circunstancial para os trair e conquistar a confiança de Saul. Dentro de uma estratégia de guerra, esse pensamento era bastante razoável. Afinal, em idêntica situação, não se disporiam a isso?

Aquis, possivelmente não era sensível a essas questões e/ou fosse um político visionário. Mas, nem todos tem a mesma percepção. Portanto, como era de se esperar, os servos do rei Aquis não se esqueceram das humilhantes derrotas que Israel sob a liderança de Davi lhes infligira. E mais: E aquela música composta quando Davi em áureos e recentes tempos era cantada se tornava mais desafiadora e tripudiante? Isso era humilhante demais e, por outro lado, a transformação de olhar para Davi como grande guerreiro adversário para aliado; era muito difícil.

Davi logo percebeu a possível bobagem que fizera e o problema que se metera, que lhe poderia ser fatal.

10 Levantou-se Davi, naquele dia, e fugiu de diante de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate. 11 Porém os servos de Aquis lhe disseram: Este não é Davi, o rei da sua terra? Não é a este que se cantava nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares? 12 Davi guardou estas palavras, considerando-as consigo mesmo, e teve muito medo de Aquis, rei de Gate. 13 Pelo que se contrafez diante deles, em cujas mãos se fingia doido, esgravatava nos postigos das portas e deixava correr saliva pela barba. 14 Então, disse Aquis aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim? 15 Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis este para fazer doidices diante de mim? Há de entrar este na minha casa? (1Sm 21.10-15).

Nesse contexto de livramento, escreveu o Salmo 34: Busquei (darash) o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores” (Sl 34.4).

Percebam: Davi se valeu de recursos que considerou estratégicos dentro daquela situação de iminente perigo. Porém, buscou o Senhor. A sua salvação está no Senhor!

No Salmo 105, o salmista rememorando com louvor e adoração os feitos de Deus na história, instrui: Buscai (darash) o SENHOR e o seu poder; buscai (baqash) (= “Desejai”)[2] perpetuamente a sua presença” (Sl 105.4).

Falsas orações: não dirigidas ao Senhor

No Novo Testamento Jesus Cristo nos mostra que muitas das orações supostamente dirigidas a Deus, na realidade não o eram…

5 E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. 6 Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (…) 9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus….” (Mt 6.5,6,9).[3]

Orar em qualquer lugar e circunstâncias

Quando Davi estava escondido em uma caverna, atribulado, fragilizado e cercado por inimigos, escreveu o salmo 142.[4] Ora ao Senhor consciente de que Ele o ouvia. Não havia, como de fato não há, problemas de “sinal”; nenhum impedimento: “Ao SENHOR ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao SENHOR” (Sl 142.1).

 No Salmo 130, o salmista arrependido de seus pecados, pede perdão a Deus. A sua angústia é grande. Ele se sente nas “profundezas”: “Das profundezas (ma`amaq) clamo a ti, SENHOR” (Sl 130.1).

Essa figura também é empregada no Salmo Messiânico:

Estou atolado em profundo lamaçal, que não dá pé; estou nas profundezas (ma`amaq) das águas, e a corrente me submerge. (…) Livra-me do tremedal, para que não me afunde; seja eu salvo dos que me odeiam e das profundezas (ma`amaq) das águas. (Sl 69.2,14).

Há circunstâncias nas quais não temos palavras mais eloquentes para expressar a nossa dor, angústia e iminente perigo; sentimo-nos “nas profundezas”.

Em outro lugar, o salmista exclama, expressando sentimento análogo: “Puseste-me na mais profunda cova, nos lugares tenebrosos, nos abismos. Sobre mim pesa a tua ira; tu me abates com todas as tuas ondas. (…) estou preso e não vejo como sair” (Sl 88.6-8).

Sentimento semelhante encontramos no Salmo 42: “… todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” (Sl 42.7).

O nosso conforto, é que não há situações, por mais sombrias e tenebrosas que possam nos parecer, que nos impeçam de falar com Deus.

O contexto do Salmo 130 revela a condição extrema do salmista e, ao mesmo tempo, a sua convicção de que é ineficaz o socorro do homem. Por isso, consciente de sua situação, não nutre ilusões quanto à paliativos e panaceias espirituais; ele clama a Deus.

Calvino, o teólogo da Palavra e da oração, pregando em Gálatas 1.1-2 (1557), disse:

Embora nosso Senhor Jesus Cristo nos tenha assegurado que nós lhe fomos dados por Deus, seu Pai, e que os que estão sob seu cuidado jamais perecerão [João 17.12], não devemos pegar no sono nem deixar de invocar a Deus quando consideramos nossa grande necessidade de seu auxílio. A fé pode nos assegurar do infalível amor de Deus, mas também devemos estar cientes de nossa própria fragilidade pessoal e devemos, de nossa parte, orar pela inabalável fidelidade para com ele. Está escrito que a fé vencerá o mundo [1João 5.4], mas ainda precisamos estar envolvidos na luta! Já que, de nossa parte, não temos nenhuma força, devemos de extraí-la de outra fonte: devemos pedi-la da parte de Deus.[5]

Casos rasos

Existem alguns ramos de atividade que cuidam de forma especializada de aspectos estéticos e de determinados confortos. Ilustro. Há lojas de automóveis que com suas variações, cuidam de pequenos arranhões, limpeza interna, desodorização, retirada de algumas manchas, polimento, cristalização, espelhamento, etc. Essas lojas têm o seu lugar no mercado e podem prestar relevantes serviços para quem precise de algo assim e esteja disposto a pagar.

Porém, porque você gostou de alguns desses serviços, não pense em levar seu carro de volta lá para mexer no câmbio automático ou, quem sabe, recondicionar seu motor diesel. Certamente eles não poderão lhe atender. Da mesma forma, aqueles que prestam esse serviço agora desejado, não prestariam aquele com a mesma eficiência.

Notemos que o homem moderno costuma de forma cada vez mais intensa e aparentemente eficaz, buscar soluções para os seus problemas espirituais, ainda que nem sempre os denomine assim.

Desse modo, tornamo-nos especialistas em soluções de “casos rasos”; estamos acostumados a lidar com situações que parecem casos de gravíssima complexidade e, para isso, dispomos de um imenso arsenal metodológico e empírico: temos o lazer, o trabalho, o sexo, as drogas, os calmantes, relaxamento, as viagens, a filosofia, a religião, a meditação, o consumismo, as estatísticas (que nos oferecem números acerca de tendências e normalidade), etc.

No entanto, o salmo descreve a situação de um homem que está no seu extremo: ele não se ilude. Nenhuma metodologia de autoajuda o pode socorrer. Por isso, pode dizer, do mais profundo de seu coração; das “profundezas” de sua situação: “…Clamo a Ti, Senhor” (Sl 130.1). Ele sabe perfeitamente a quem se dirige.

Desse modo, vemos que “A oração é, pois, a resposta do homem quando compreende sua miséria e sabe que o socorro se aproxima”, enfatiza Barth (1886-1968).[6]

A Certeza de que Deus nos ouve

Como temos demonstrado ao longo dessas exposições, os salmistas entre diversos servos de Deus, em variadas situações de perigo e angústia, se fortaleciam na certeza de que Deus ouve as suas orações.

“Tens ouvido (shama), SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás (kûn) o coração e lhes acudirás (qashab)(Sl 10.17), expressa o salmista de modo confiante a sua fé.

Essa experiência é recorrente na vida do crente: “Na minha angústia, clamo ao SENHOR, e ele me ouve” (Sl 120.1). “Digo ao SENHOR: tu és o meu Deus; acode, SENHOR, à voz das minhas súplicas” (Sl 140.6)

Conforme vimos, no Salmo 6, o salmista se sente totalmente debilitado e abalado. Nessa condição ora: “Tem compaixão de mim, SENHOR, porque eu me sinto debilitado; sara-me, SENHOR, porque os meus ossos estão abalados” (Sl 6.2).

O salmista num período prologando de desprezo e escárnio, ora: “Tem misericórdia de nós, SENHOR, tem misericórdia; pois estamos sobremodo fartos de desprezo” (Sl 123.3).

O salmista suplica pela misericórdia de Deus para que possa continuar firme na Palavra: “Venham também sobre mim as tuas misericórdias, SENHOR, e a tua salvação, segundo a tua promessa” (Sl 119.41).

O Senhor não é indiferente aos desvalidos

A santa majestade de Deus não o torna distante ou indiferente a nós, antes, Ele em sua misericórdia atenta para nós e nos alivia. Essa é a continua e renovada confiança dos salmistas:

O SENHOR é excelso, contudo, atenta (ra’ah = “Vê”, “observa”, “presta atenção”) para os humildes (shaphal); os soberbos, ele os conhece de longe. (Sl 138.6).

SENHOR, meu Deus, clamei a ti por socorro, e tu me saraste. SENHOR, da cova fizeste subir a minha alma; preservaste-me a vida para que não descesse à sepultura. (Sl 30.2-3).

Dá-te pressa, SENHOR, em responder-me; o espírito me desfalece; não me escondas a tua face, para que eu não me torne como os que baixam à cova. (Sl 143.7).

Lloyd-Jones, conhecido como homem de oração,[7] escreveu algo que pode soar espantoso:

As vezes pensamos que orar é simples, mas não é: os grandes santos de todos os séculos são concordes em dizer que uma das coisas mais difíceis é saber orar. Se algum irmão ou irmã se sente abatido por achar difícil orar, ele ou ela não deve desanimar-se, porque essa é a experiência comum dos santos. A pessoa por quem me lamento é a que não tem nenhuma dificuldade com a oração; certamente há algo de errado com ela. A oração é a mais elevada realização do santo.[8]

Em momentos de angústia, os salmistas clamam por intervenção divina, reconhecendo que o auxílio do Senhor é indispensável para a restauração e preservação da vida. A oração não é uma tarefa simples, mas um exercício espiritual que exige esforço e dedicação. Como Lloyd-Jones observa, a dificuldade em orar é uma experiência comum entre os santos, e não deve ser motivo de desânimo, mas sim um sinal de sincera busca por uma comunhão mais profunda com Deus.

 


[1] Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans,1976 (Reprinted), v. 3, p. 692.

[2] Denota uma busca entusiasmada e alegre (Veja-se: Leonard J. Coppes, Baqãsh: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 210-2110.

[3] Na sequência, o mesmo princípio é ensinado por Jesus Cristo quanto ao jejum: “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer (fai/nw) aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa” (Mt 6.16).

[4]2 Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação. 3 Quando dentro de mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho em que ando, me ocultam armadilha. 4 Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse. (…) 6 Atende o meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu” (Sl 142.2-4,6).

[5] João Calvino, Sermões sobre Gálatas, Brasília, DF.: Monergismo, 2022, v. 1, p. 17 (Edição do Kindle).

[6]Karl Barth, La Oración, Buenos Aires: La Aurora, 1968, p. 28.

[7] David M. Lloyd-Jones (1899-1981) certamente foi um dos expositores bíblicos mais influentes do século XX. Em certa ocasião, alguns homens comentando a respeito de seus dotes variados, ouviram de sua esposa, Bethan Lloyd-Jones (1898-1991): “Ninguém entenderá o meu marido enquanto não perceber que ele é primeiramente um homem de oração e, depois, um evangelista” (Citado em Iain H. Murray, A Vida de Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 334). “Segundo as Escrituras, a oração é um importante e essencial elemento da vida piedosa” (D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 27-28). À frente: “Quanto mais santificada é a pessoa, quanto mais piedosa, mais tempo passa em oração” (p. 32). “Os que conhecem Deus melhor são os que falam mais com Ele” (p. 33). “Os santos sempre se refugiam na oração” (p. 35). Em 26/08/1752, John Shaw (1708-1791) pregando sobre Jr 3.15, na ordenação ao ministério do Rev. Moses Taft, disse: “Os ministros segundo o coração de Deus são homens de oração” (John Shaw (1708-1791), The Character of a Pastor According to God’s Considered, Morgan, Pa.: Soli Deo Gloria, 1992, p. 10). “Um ministro que ora está no caminho para ter um ministério bem-sucedido” (Ibidem). “Os ministros segundo o coração de Deus são homens de oração”. (Ibidem).

[8] D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 14.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.