O temor ao nosso Rei e Pastor

Amando reverentemente a Deus

Como é de comum acontecer, conhecimentos e experiências semelhantes não nos conduzem necessariamente à mesma indução, interpretação e comportamento.

O suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) – um dos maiores historiadores do século XIX –, referindo-se à sua obra magna, A Cultura do Renascimento na Itália (1860),[1] admitiu que: “Os mesmos estudos realizados para este trabalho poderiam, nas mãos de outrem, facilmente experimentar não apenas utilização e tratamento totalmente distintos, como também ensejar conclusões substancialmente diversas”.[2] Os documentos não são a palavra final. Há sempre as interpretações associadas a seus pressupostos. É por isso que fazemos história não só com os documentos; mas também, com os usos que fazemos deles.

A vida não é tão simples como sendo constituída de estímulo e reação dentro de um quadro totalmente previsível e controlado. Nada que é humano pode ser exaustivamente calculado.

A abundância, por exemplo, pode nos estimular à generosidade, à parcimônia ou à arrogância.

A carência por sua vez, pode nos tornar mais sensíveis aos outros como também, conforme à nossa apreensão dessa experiência, estimular à nossa ansiedade pelos nossos parcos bens e, nos tornar menos sensível às necessidades de nosso próximo.

O desejo piedoso pela compreensão mais intensa sobre a soberania majestosa de Deus e o seu cuidado paternal para conosco, ao invés de nos conduzir à indolência irreverente, deve propiciar em nós um santo temor,[3] que me inclino a denominar de amor reverente.

Visita à Itaipu

Como já contei em outro momento, em certa ocasião visitei a Usina hidrelétrica de Itaipu, fiquei abismado com o tamanho da construção e das turbinas. O que me chamou muito a atenção foi quando verifiquei um caminhão parado perto de uma das turbinas. De forma comparativa o caminhão me pareceu muito pequeno ainda que não seja, exceto relativamente.

As referências são muito importantes para podermos dimensionar diversos aspectos da realidade. Não é estranho alguns produtos vendidos pela internet apresentar as medidas para que possamos ter uma visão mais clara a respeito de suas dimensões.

Lembro-me de uma vez comprar um torno de bancada que imaginava capaz de suportar uma bicicleta sobre ele enquanto, por exemplo, mexia nas rodas… Quando ele chegou e observei o tamanho e peso, desconfiei. Descobri em seu uso, que ele era capaz de manter relativamente seguro um cabo de vassoura enquanto o cortava com uma serra “tico-tico”. Eu superdimensionei o produto.

Quando pensamos em Deus, quais as referências que temos? O oceano pode nos parecer assustador especialmente se estivermos navegando em alto mar em meio a uma tempestade (Um “Ciclone Tropical), por exemplo.[4]

Um avião comercial voando a 11 kms de altitude enfrentando uma indesejada turbulência, pode nos inspirar medo pela grandeza do espaço e por estarmos suspensos e de forma bastante insegura.

O tremor de terra por mais ameno que seja, nós, não acostumados a isso, nos assustamos… Porém, nada disso pode se comparar a Deus e ao seu poder.

Santo temor: obediência e culto

O temor que Deus inspira é notório nas páginas das Escrituras. Esse temor não ocorre por não conhecermos o seu amor e bondade, antes, pela dimensão de sua grandeza e santidade que ultrapassam qualquer padrão e se mostra, portanto, a nós, de modo terrível, impenetrável e incomensurável. Desse modo, Deus é para ser amado, mas, também, temido. Nada se compara a Ele. Por isso, o nosso temor a Deus se manifesta em amor reverente.

A compreensão correta deve nos conduzir a atitudes compatíveis. Assim sendo, o senso da grandeza incomensurável de Deus deve produzir em nós não o desejo por especulação  mas, o senso reverente de santo temor em obediência e culto.

Contrariamente, o sincretismo religioso em Samaria após o domínio assírio (722 a.C.) – e a sua prática de espalhar os povos conquistados em várias regiões −, é uma expressão de um falso temor de Deus e, consequentemente, uma manifestação cultual estranha à aliança.

28 Foi, pois, um dos sacerdotes que haviam levado de Samaria, e habitou em Betel, e lhes ensinava como deviam temer o SENHOR.  29 Porém cada nação fez ainda os seus próprios deuses nas cidades em que habitava, e os puseram nos santuários dos altos que os samaritanos tinham feito.  30 Os de Babilônia fizeram Sucote-Benote; os de Cuta fizeram Nergal; os de Hamate fizeram Asima;  31 os aveus fizeram Nibaz e Tartaque; e os sefarvitas queimavam seus filhos a Adrameleque e a Anameleque, deuses de Sefarvaim.  32 Mas temiam também ao SENHOR; dentre os do povo constituíram sacerdotes dos lugares altos, os quais oficiavam a favor deles nos santuários dos altos.  33 De maneira que temiam o SENHOR e, ao mesmo tempo, serviam aos seus próprios deuses, segundo o costume das nações dentre as quais tinham sido transportados.  34 Até ao dia de hoje fazem segundo os antigos costumes; não temem o SENHOR, não fazem segundo os seus estatutos e juízos, nem segundo a lei e o mandamento que o SENHOR prescreveu aos filhos de Jacó, a quem deu o nome de Israel. (…)  41 Assim, estas nações temiam o SENHOR e serviam as suas próprias imagens de escultura; como fizeram seus pais, assim fazem também seus filhos e os filhos de seus filhos, até ao dia de hoje.  (2Rs 17.28-34,41).

A reta Palavra de Deus

Os salmistas confiantes na Palavra de Deus que se concretiza na história dos povos, quer em sua obediência, quer em sua desobediência, colhendo os amargos frutos desse comportamento, escrevem:

Os juízos  (jP’v.mi) (mishpat) do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente (x;y:) (yahad) (= completamente), justos (qd;c) (tsadaq). (Sl 19.9).

 Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos (qd,c,)(tsedeq). (Sl 119.75/Sl 119.128).

Não há injustiça nos mandamentos de Deus: “A minha língua celebre a tua lei, pois todos os teus mandamentos são justiça (qd,c,) (tsedeq) (Sl 119.172).

Os mandamentos de Deus não são apenas para determinados grupos, privilegiando castas ou nichos sociais, antes, permanecem com justiça para todos.

Refletindo a sua justiça absoluta, Ele nos instrui por meio de caminhos justos. Os caminhos de Deus são coerentes com a sua natureza justa, correta. Os seus atos são sempre retos.

Por isso, o aprendizado do temor a Deus começa pela leitura e meditação da Palavra, o refletir sobre a gloriosa e majestosa natureza de Deus, seus mandamentos e atos na história.

Ilustremos isso.

Festa dos Tabernáculos

Moisés preparando o povo para entrar na Terra Prometida incumbiu aos sacerdotes de organizarem a Festa dos Tabernáculos, uma das três solenidades obrigatórias a todos os judeus.[5] Essas Festas solenes tinham como propósito manter o povo unido em torno da Aliança, demonstrando às nações vizinhas a condição de povo eleito de Deus e, reafirmar a sua identidade de nação santa escolhida do Senhor, a quem deveriam honrar, obedecer e celebrar.[6]

Nessa solenidade o povo apresentava ofertas a Deus como reconhecimento de suas bênçãos (Dt 16.17):[7]

Quando todo o Israel vier a comparecer perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que este escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel.12 Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam (arey) (yare’) o SENHOR, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei; 13 para que seus filhos que não a souberem ouçam e aprendam a temer (arey) (yare’) o SENHOR, vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, para a possuir. (Dt 31.11-13).

O temor do Senhor – o senso de sua grandeza e majestade – deve estar diante de nós, de nossos desejos, projetos e atitudes. Este deve ser o princípio orientador de nossa vida.

Calvino (1509-1564) faz uma analogia pertinente e esclarecedora:

Visto que os olhos são, por assim dizer, os guias e condutores do homem nesta vida, e por sua influência os demais sentidos se movem de um lado para o outro, portanto dizer que os homens têm o temor de Deus diante de seus olhos significa que ele regula suas vidas e, exibindo-se-lhes de todos os lados para onde se volvam, serve de freio a restringir seus apetites e paixões.[8]

Qual o princípio de todas as coisas?

Deixe-me fazer uma digressão.

Davi foi um homem fascinado com a Criação de Deus. O Salmo 8 e 19, ainda que não exclusivamente, demonstram isso. Séculos depois de Davi, encontramos admiração semelhante entre os gregos. Todavia, a admiração dos gregos, ao contemplar o universo, os conduziu em outra direção. Na realidade, eles suprimiram a revelação. Por isso, em suas reflexões surgem as explicações a respeito da origem da vida. Eles diziam que a admiração conduz o homem à filosofia.

Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) estão acordes neste ponto. Platão escreveu: “A admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia”.[9]

Aristóteles, na mesma linha:

Foi, com efeito, pela admiração que os homens, assim hoje como no começo, foram levados a filosofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades mais óbvias, e progredindo em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores: por exemplo, as mudanças da Lua, as do Sol e dos astros e a gênese do universo.[10]

 Nestas reflexões surgem as explicações a respeito da origem da vida e, consequentemente do princípio que termina por orientá-los.

Assim, encontramos algumas teorias:

  1. a) Tales de Mileto (c. 640-547 a.C.). Por meio do estudo doxográfico, sabemos que Tales, considerando a necessidade da água para a sobrevivência de tudo, afirmava ser a água a origem de todas as coisas (por rarefação e condensação), e a Terra flutuava como um navio sobre as águas.[11] Os terremotos são explicados pelo movimento das águas (, 1). Deus criou todas as coisas da água (Dox., 9). Plutarco atribuiu esta concepção aos egípcios.[12] No que talvez ele tenha razão.
  2. b) Anaximandro (c. 610-547 a.C.): Foi o primeiro a usar a palavra “princípio” (a)rxh/). (, 1).[13] O princípio (a)rxh/) de todas as coisas é o “Ápeiron” (a)/peiron = “sem fim”, “ilimitado”, “indeterminado”, “indefinido”). (Dox., 1,2,6).
  3. c) Anaxímenes (c. 585-528/525 a.C.): O Ar é o princípio de todas as coisas (, 1-2); inclusive dos deuses e das coisas divinas; sendo o ar um deus (Dox., 3). O homem é ar, bem como a sua alma; esta nos sustenta e governa (Frag., 1; Dox., 5-6).
  4. d) Heráclito de Éfeso (c. 540-480 a.C.): Todas as coisas provêm do fogo – que é eterno – e para lá retornarão (, 30,31,90, Dox., 2).

A partir dessas explicações podemos entender o princípio que regia cada pensamento. Toda cosmovisão reflete a concepção que cada um sustenta sobre o princípio, o início de todas as coisas.

Em outra ponta temos a dimensão bíblica tipificada aqui por Davi.  A admiração de Davi o conduziu a glorificar a Deus e, num ato subsequente, a indagar sobre o homem nesta vastidão da Criação. A sua pergunta assume também, uma conotação metafísica,[14] não podendo ser respondida apenas a partir de um referencial material. “O homem é um enigma cuja solução só pode ser encontrada em Deus”, resume Bavinck.[15]

Deus revelou de forma magnífica o homem ao homem. Se a antropologia pode ser definida como a “autocompreensão do homem”,[16] devemos entender que esta “autocompreensão” é um dom da graça que começa pelo conhecimento do Deus que se revela e nos capacita a conhecê-lo.[17] Sem a consideração da Queda e de suas implicações, como as Escrituras nos apresentam, não há como obtermos um conhecimento adequado do homem nem encontrar o sentido da vida.[18]

Nas Escrituras não temos sínteses[19] entre pensamento pagão e a revelação de Deus. O temor de Deus é o princípio que deve nos guiar em tudo que fazemos.

Por meio deste princípio orientador e regulador temos os nossos olhos abertos para as maravilhas de Deus. Longe de ser algo inibidor, é libertador de uma visão míope e cativa de sua percepção enferma.

Veith Jr., escreve sobre esse ponto:

Temer a Deus não é o fim da sabedoria, mas o começo. Uma pessoa que teme a Deus pode se abrir para as alturas vastas e vertiginosas do conhecimento. Aqueles que “praticam” esse temor de Deus podem ter um “bom entendimento” de tudo.[20]

A educação bíblica

A educação bíblica é magnificamente completa, envolvendo o ensino sobre a santidade e a misericórdia de Deus.

Mostra-nos o Deus absoluto e, o quanto carecemos dele. Portanto, biblicamente, devemos caminhar dentro dessa perspectiva:

Deus é santo/majestoso, isto nos leva a reverenciá-lo com santo temor.

Mas, também, Deus é misericordioso, portanto, devemos amá-lo com toda a intensidade de nossa existência.

A santidade de Deus ressalta em seu relacionamento conosco a sua justiça.

 A misericórdia nos conduz a refletir sobre o seu incomensurável amor que fez com que Ele se desse a conhecer, consumando a sua revelação em Jesus Cristo, o Deus encarnado (Hb 1.1-4).

A eliminação de uma dessas duas percepções do ser de Deus nos conduziria a uma compreensão equivocada de quem é Deus e, consequentemente de nosso relacionamento com Ele.

Uma teologia equivocada promove uma fé distorcida e uma ética estéril. A genuína vida cristã parte sempre de uma compreensão adequada do Deus infinito e pessoal; o Deus que se revela. Somente as Escrituras nos apresentam Deus dessa forma. Isso, porque é assim que Ele graciosamente se revela.[21]

Downs enfatiza corretamente: “O amor por Deus deve estar enraizado apropriadamente no solo de nosso temor de Deus”.[22] Portanto, devemos não simplesmente temer o castigo de Deus, antes temer pecar contra Deus, o nosso Santo e Majestoso Senhor.

Ensinar o temor de Deus

O salmista Davi depois de grande prova e livramento, escreve: “Vinde, filhos e escutai-me; eu vos ensinarei (dml) (lamad)[23] o temor (ha’r>yI) (yir’ah) do SENHOR” (Sl 34.11).

Restaurado por Deus  − após ter pecado, se arrependido e confessado −, Davi propõe-se a ensinar o caminho de Deus: “Então, ensinarei (dml) (lamad) aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti” (Sl 51.13).

O ensino sobre Deus, envolve, portanto, a sua justiça e misericórdia perdoadora.

Deus é o nosso Pai. É um Pai justo, santo, majestoso e, também amoroso e misericordioso. Quanto mais conhecermos a Deus, mais nos apresentaremos diante dele com  amor reverente.

 


[1] Jacob Burckhardt, A Cultura do Renascimento na Itália: Um Ensaio, São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

[2]Jacob Burckhardt, A Cultura do Renascimento na Itália: Um Ensaio, São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 21. Do mesmo modo Delumeau (1923-2020): “Identificar um caminho não implica achá-lo sempre belo, como não implica que não haja outro possível” (Jean Delumeau, A Civilização do Renascimento, Lisboa: Editorial Estampa, 1984, v. 1, p. 21).

[3]“Nada há de melhor, para desenvolver esse santo temor, do que o reconhecimento da soberana majestade de Deus” (A.W. Pink, Deus é Soberano, São Paulo: Editora Fiel, 1977, p. 140).

[4]Vejam-se: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclone_tropical e https://nxboats.com.br/blog/tempestade-em-alto-mar/   (Consultados em 08.05.2025).

[5]Ela ocorria no final do ano, quando eram reunidos os trabalhadores do campo. Nesses dias todos os judeus deveriam habitar em tendas de ramos: “Sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais em Israel habitarão em tendas; para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito” (Lv 23.42-43). Esta festa era caracterizada por grande alegria: Alegrar-te-ás, na tua festa, tu, e o teu filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão dentro das tuas cidades” (Dt 16.14). Assim descreve Edersheim (1825-1829): “A mais alegre de todas as festas do povo israelita era a Festa dos Tabernáculos. Ela caía justamente num tempo do ano, em que todos os corações estavam repletos de gratidão, de contentamento e de esperança. Já as colheitas estavam guardadas nos celeiros; todos os frutos estavam também sendo recolhidos, a vindima estava feita, e a terra aguardava apenas que as ‘últimas chuvas’ amolecessem e refrescassem o chão, a fim de que nova colheita fosse preparada. (…) Ao lançar os olhos para a terra dadivosa e para os frutos que os havia enriquecido, deveriam os israelitas lembrar-se de que só pela miraculosa intervenção divina tinham eles conquistado esta pátria, cuja propriedade, entretanto, Deus sempre reclamara por direito Seu” (Alfredo Edersheim, Festas de Israel, São Paulo: União Cultural Editora, [s.d.], p. 83). Veja-se também: A. Edersheim, Bible History: Old Testament,  © 1887. This edition published in 2017. Genteel Books. Edição do Kindle, p. 610-611.

[6] Cf. Matthew Henry, Comentario Exegético-Devocional a toda la Biblia – El Pentateuco, Barcelona: CLIE, 1983, (Dt 16.1-17), p. 825.

[7]“Cada um oferecerá na proporção em que possa dar, segundo a bênção que o SENHOR, seu Deus, lhe houver concedido” (Dt 16.17).

[8]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 36.1), p. 122-123.

[9]Apud Platão, Teeteto, 155d: In: Teeteto-Crátilo, 2. ed. Belém: Universidade Federal do Pará, 1988, p. 20.

[10]Aristóteles, Metafísica, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 4), 1973, I.2. p. 214.

[11]Doxografia, 1-4. A concepção da água como elemento primordial já estava presente nos escritos de Homero. (Vejam-se Homero, Ilíada, Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint, [s.d.], XIV. 200, 244 e 301; Platão, Crátilo, Belém: Universidade Federal do Pará, 1988, 402b; Platão, Timeu, São Paulo: Hemus, [s.d.], 40 D-E). “Certamente, a ideia da água como princípio primordial deriva de uma vasta tradição mitológica, comum a todas as teogonias ou cosmogonias do Oriente antigo, sumério, caldeu, egípcio, hebreu, fenício, egeu: todos representando o mito de um Caos aquoso primordial de que seria gerado o cosmos” (R. Mondolfo, O Pensamento Antigo, 3. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1971, v. 1, p. 40. Veja-se: G.S. Kirk; J.E. Revan, Os Filósofos Pré-Socráticos, 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 4-12; 86-89).

[12]Plutarco, Os mistérios de Ísis e Osíris, São Paulo: Nova Acrópole do Brasil, 1981, 34, 364 D.

[13] Para um estudo sobre o sentido da palavra Princípio entre os gregos, veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e Desencontros, Goiânia, GO.: Cruz, 2022, p. 73-78.

[14] “Homem é uma síntese de infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade, é, em suma, uma síntese” (S.A. Kierkegaard, O Desespero Humano, Doença Até à Morte, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 31), 1974, p. 337).

[15]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 24. Do mesmo modo Dooyeweerd: “A questão: quem é homem?, contém um mistério que não pode ser explicado pelo próprio homem” (Herman Dooyeweerd, No Crepúsculo do Pensamento, São Paulo: Hagnos, 2010, p. 248. Veja-se também a página 265).

[16]Emil Brunner, Dogmática: A Doutrina Cristã da Criação e da Redenção, v. 2, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 107.

[17] Calvino desenvolve com clareza e profundidade a relação causal entre conhecer a Deus e o nosso conhecimento (João Calvino, As Institutas, I.1.1ss). Temos um sumário da posição de Calvino em: W. Gary Crampton, A Epistemologia de Calvino: In: Felipe Sabino, ed. Calvino: Mestre da Igreja, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 153-159.

[18]“O homem perdeu o verdadeiro autoconhecimento desde que perdeu o verdadeiro conhecimento de Deus” (Herman Dooyeweerd, No Crepúsculo do Pensamento, São Paulo: Hagnos, 2010, p. 265). Veja-se: R. Albert Mohler Jr., O modo como o mundo pensa: Um encontro com a mente natural no espelho e no mercado. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 51.

[19] Veja-se: John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology, Phillipsburg, New Jersey: P&R Publishing, 2015, p. 46-47. As sínteses que por vezes fazemos, tendem a ignorar as reais antíteses de nosso pensamento – ora as minimizando, ora as ocultando –, demonstrando, a inconsistência de nossa percepção ou, talvez de nosso caráter, o que é bem pior. As tentativas de síntese entre o Cristianismo e a Cultura Clássica levada a cabo por humanistas em algumas academias gerou aberrações consideráveis. (Veja-se: Hermisten M. P. Costa, Raízes da Teologia Contemporânea, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 86-90).

[20]Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 135.

[21] Vejam-se: Francis A. Schaeffer, O Grande Desastre Evangélico. In: Francis A. Schaeffer, A Igreja no Século 21, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 272; John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology, Phillipsburg, New Jersey: P&R Publishing, 2015, p. 48.

[22]Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 180.

[23]Conforme já vimos de modo mais completo, a ideia básica de (למד) (lamad) é a de aprender, ensinar, treinar, educar, acostumar-se a; familiarizar-se com.

Autor: Hermisten Maia. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Vinicius Lima.