Um blog do Ministério Fiel
Minha filha crente está se desviando! O que devo fazer?
Episódio do Podcast John Piper Responde
Transcrição do vídeo
Seja bem-vindo a mais um episódio do podcast John Piper Responde! Hoje falaremos de um tema delicado. O episódio de hoje é uma resposta ao seguinte relato, de uma ouvinte anônima que está de coração partido por causa de sua filha. Vamos ao e-mail dela:
“Querido Pastor John, estou enfrentando uma situação difícil e gostaria muito do seu conselho. Minha filha adulta é cristã professa e, após enfrentar a decepção de não encontrar um namorado cristão, começou a namorar um jovem não cristão há cerca de um ano. Apesar das minhas preocupações, eu a apoiei, esperando que ela pudesse evangelizá-lo.”
No entanto, há cerca de quatro meses, ela foi morar com ele, o que me deixou arrasada. Tivemos uma conversa franca na qual expliquei o pecado da decisão dela, mas ela permaneceu impenitente, chegando a questionar o amor de Deus e o plano dele para a felicidade dela. Recentemente, ela se mudou para outra cidade para cursar a pós-graduação, e o namorado dela também. Optei por não ajudá-la com a mudança, pois não podia concordar com a decisão deles. Isso causou uma nova tensão em nosso relacionamento. Desde então, a comunicação se tornou limitada e distante. Minha pergunta é: como posso manter um relacionamento significativo com minha filha nessa situação? E como devo abordar o namorado dela? Devo convidá-lo, por exemplo, para o jantar de Natal em família, apesar de não aceitá-lo como parte da nossa família? Obrigada pela sua sabedoria. Atenciosamente, Uma Mãe de Coração Partido.
Sinto muito que você esteja passando por esse doloroso rompimento de relacionamento, e quero que sinta que não está sozinha. Na minha igreja, no meu círculo de amigos, entre as pessoas que nos escrevem aqui no John Piper Responde, essa situação é tragicamente familiar. A maioria de nós sente que não tem respostas específicas. (A palavra específica é fundamental aqui.) Não temos respostas específicas para o porquê de um filho ou filha parecer tão espiritualmente vital, engajada e feliz em uma fase da vida e parecer perder tudo — tudo o que antes era aparentemente belo e que parecia graça divina. Podemos fazer afirmações gerais da Bíblia, da Palavra de Deus, sobre o porquê dessas coisas acontecerem, mas são os detalhes que nos confundem.
Quando nos deparamos com essas tristezas pela primeira vez — digamos, o primeiro telefonema ou a primeira mensagem que recebemos — sentimos algo como um soco no estômago. Todos os outros prazeres da nossa vida parecem desaparecer. No começo, é extremamente desorientador e deprimente. Entramos e saímos de fases de dúvidas sobre o que fizemos ou deixamos de fazer como pais, e entramos e saímos de fases de certeza sobre o que devemos fazer agora. Então, se servir de algum consolo, saiba que existem milhares de nós que se sentem como você, o que suponho que me leva ao meu primeiro pensamento sobre como seguir em frente.
Ore e fale a verdade
Reúna alguns amigos espirituais ao seu redor e peça a eles que orem fervorosamente com você. Tenho certeza de que você já fez isso, mas faça-o pelo despertar de sua filha. Por mais misteriosa que seja a oração, o que está claro é que o apóstolo Paulo pediu a outros cristãos que orassem por ele. Eu chamo isso de misterioso porque alguém poderia dizer a Paulo: “Bem, Paulo, você é um cristão maduro e obediente; por que precisa pedir a outra pessoa para orar? Suas orações não são suficientes? Deus não ouvirá você e responderá?” Bem, elas podem ser. Deus pode responder. Mas o que vemos na Bíblia é que Paulo pede aos cristãos que se juntem a ele em oração, para que, quando a resposta vier, haja mais louvores (2 Coríntios 1.11). Essa é uma razão, pelo menos. Ele nos ensina que devemos orar uns pelos outros, e o mesmo faz Tiago (em Tiago 5.16).
Não consigo conhecer o seu coração à distância, mas aprovo o que vejo na sua pergunta. É contrário à vontade de Deus que um crente esteja em jugo desigual com um descrente. É contrário à vontade de Deus que eles tenham relações sexuais fora do casamento (1 Coríntios 7.1-2). É contrário à vontade de Deus que sua filha seja tão desafiadora aos seus conselhos (Efésios 6.2). Portanto, parece-me que você tem sido fiel em “falar a verdade em amor”, como Paulo diz em Efésios 4.15 .
Muitos pais pensam que, se a verdade corre o risco de ser rejeitada, não devemos dizê-la. Acho que, em geral, isso é um erro. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8.32). Não há outra maneira de sua filha ser liberta de Satanás e do pecado senão pela verdade. E isso é verdade, mesmo que o problema mais profundo não seja a ignorância da verdade, mas a escravidão a Satanás. Acho que Satanás é muito ativo em enganar os jovens sobre as verdades que aprenderam em sua criação.
Poder da verdade no amor
E a razão pela qual digo que falar a verdade em amor é relevante — não apenas para ajudá-los a saber o que devem saber, mas também para libertá-los da escravidão do maligno — é que há um texto incrível em 2 Timóteo 2.24-26, e eu a encorajo a meditar em cada parte dele. Deixe-me lê-lo, e você verá a relevância imediata dele para a sua situação e, creio eu, para muitas outras.
Aqui está o que ele diz: “Ora, é necessário que o servo do Senhor” — que seria você — “não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem” — perceba que o ensino e correção permanecem, mas com mansidão. Então, essa é a sua parte: mansidão e ensino sólido carregado de verdade. E então ele diz, quando você faz isso: “na expectativa que Deus lhes conceda arrependimento”. Esta é uma obra divina e soberana de Deus, mas ele usa você para isso. “Na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade. (2 Timóteo 2.24-26). Que diagnóstico e libertação incríveis!
Acredito que existam milhões de jovens precisamente nessa condição. Eles precisam, em primeiro lugar, de um conhecimento mais profundo — não apenas intelectual — da verdade. Em segundo lugar, precisam recobrar a sensatez. Esta palavra significa literalmente “sair de um estupor de embriaguez”, onde você não consegue ver a realidade como ela é. Em terceiro lugar, precisam ser libertados das armadilhas do diabo.
Não é notável que Paulo considere a verdade dita com clareza e amor como o meio pelo qual uma pessoa pode despertar de um estupor espiritual embriagado e se libertar das garras do diabo? Que declaração poderosa sobre a verdade e o amor juntos, como vemos no versículo 24.
Alcançando
Você precisará de sabedoria — todos nós precisaremos de sabedoria — e do Senhor, para saber com que frequência se comunicar com sua filha e o namorado dela. Você não quer importuná-los, mas também não quer ficar em silêncio só porque eles podem se ofender. Repetidamente, a Bíblia diz que Deus estendeu a mão ao seu povo rebelde. Por exemplo, em Jeremias 35.15: “vos tenho enviado todos os meus servos, dizendo: Convertei-vos agora, cada um do seu mau caminho”. Deus não ficou em silêncio. Ele enviou palavras — como mensagens de texto e e-mails por exemplo; eles são os profetas — repetidamente.
Acredito que existam maneiras de manter contato regular com sua filha que são mais variadas do que simplesmente repetir o pecado dela. Por exemplo, você pode simplesmente enviar a ela, de vez em quando, algo que tenha sido significativo para você, de suas devoções matinais ou algo que você tenha lido, e dizer a ela: “Estava pensando em você esta manhã. Isso me fez lembrar de você”. E diga a ela algo que tenha sido doce para sua alma, alguma promessa ou algo sobre Cristo, sem aplicá-lo a ela de forma alguma. Não se trata de pregar para ela; trata-se de transbordar do coração de uma mãe o que essa mãe valoriza.
Este colapso relacional não é culpa sua. Lembre-se, Paulo disse em Romanos 12.18: “Se possível, no que depender de vocês, vivam em paz com todos”. Note – “Se possível”. Não podemos fazer a paz acontecer sozinhos. Ela envolve ambos os lados. Não carregue um peso maior do que você é chamada a carregar.
Dois cenários diferentes
Se eles afirmam ser cristãos obedientes, sua filha e o namorado dela — frequentando a igreja, dando a impressão ao mundo de que o modo como vivem é o caminho de Cristo — acho que a Bíblia diz que você não deve ter comunhão com eles, o que eu acho que incluiria refeições festivas. E digo isso por causa de Paulo em 1 Coríntios 5.9, onde ele diz:
Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo… pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. (1 Coríntios 5.9-11)
Mas se sua filha e seu namorado deixaram de se chamar cristãos e não estão comunicando a ninguém que esse é o caminho de Cristo — isso é exatamente o que você faz quando não é cristão — então acho que você está livre para convidá-los e tentar conquistá-los como faria com qualquer outro descrente.
Às vezes, essas linhas entre crente e descrente não são tão nítidas e fáceis de traçar quanto se poderia pensar. E, nesse caso, você busca a sabedoria do Senhor e faz o que parece mais bíblico, sábio e amoroso, e agradece pelo sangue de Cristo que cobre todos os nossos pecados — os seus pecados, os meus pecados — que, no fim das contas, é o que temos para oferecer a eles em qualquer caso.
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