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O temor ao nosso Rei e Pastor – parte III
O temor do Senhor positivamente considerado
1) Devemos pedir ao Senhor que nos ensine a temê-lo
Por mais paradoxal que possa parecer, o temor do Senhor é um aprendizado de amor. O temor do Senhor nos aproxima dele em alegre comunhão.
Por isso, diante de tantos poderes que nos angustiam e ameaçam, o servo de Deus deve pedir ao Senhor que nos ensine a só temê-lo. Este santo temor é um aprendizado da fé resultante do maior conhecimento de Deus.
O modo como caminhamos em nossa vida e as veredas que seguimos revelam a nossa lealdade ao Senhor a quem tememos em amor.
Assim ora o salmista: “Ensina-me (yarah)[1] SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração (לבב) (lêbâb) para só temer (yare’) o teu nome” (Sl 86.11).
Quando tememos a Deus, por encontrarmos nele uma piedosa segurança, o sentido da vida e da eternidade, aprendemos a vencer todos os outros temores que agora se mostrarão irrelevantes (Jo 6.20/Mt 10.26,28, 31; 14.27,30).[2]
Diante de tantas opções que se mostram querendo nos tornar cativos de suas percepções e ações, aprendemos que na realidade, o único caminho viável para aqueles que amam ao Senhor e confiam nos seus preceitos, é seguir as suas instruções e confiar em suas promessas.
Deus guia com clareza os que o temem
“Ao homem que teme (yare’) ao SENHOR, ele o instruirá (yârâh) no caminho que deve escolher” (Sl 25.12).
A instrução do Senhor é para todos. Porém, só os que o temem darão atenção a ela e procurarão seguir as suas prescrições. Escreve o salmista: “O temor (yir’ah) do SENHOR é límpido (tahor) (puro,[3] limpo) e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos” (Sl 19.9).
A Palavra de Deus é absolutamente clara no que Deus requer de nós e nos objetivos que ele tem em vista. Ela é direta em suas orientações. Não há obscuridade no mandamento de Deus nem impedimentos à nossa compreensão.
Confiante nas promessas
O nosso temor a Deus é totalmente confiante nas suas promessas, convictos de sua santidade e majestade. Por isso, podemos sincera e confiantemente atentar para a sua Palavra considerando a veracidade e objetividade de seus mandamentos.
Não há contradição em Deus nem nos seus mandamentos. Há uma perfeita harmonia essencial em todos os seus preceitos que fluem naturalmente da perfeita beleza e integridade da Trindade.
Em posição contrária, temos o pagão Senaqueribe (c. 701 a.C.), rei da Assíria. Pressionando Ezequias, rei de Judá à total rendição, tenta minar a sua fé. Manda lhe dizer: “Assim falareis a Ezequias, rei de Judá: Não te engane o teu Deus, em quem confias, dizendo: Jerusalém não será entregue nas mãos do rei da Assíria.” (2Rs 19.10; Is 37.10).
Observe que a “teologia” de Senaqueribe foi aplicada ao Senhor. Assim pensa: Ele, como os demais deuses, pode enganar aos que nele creem.
Ezequias era acusado de enganar o povo com uma falsa confiança (2Rs 18.29; Is 36.14). Porém agora, ele é acusado de ter um deus mentiroso. Era assim que os pagãos viam os seus deuses.
O já citado filósofo grego Xenófanes (c. 570-c.460 a.C.),[4] não isoladamente criticou com discernimento as práticas religiosas de seu tempo.
No entanto, Ezequias mesmo titubiando por mum momento em sua fé, sabia que Deus não é homem para que minta e engane aos que creem em suas promessas.
2) É um princípio orientador de nossa vida
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Não podemos sequer pensar em ser sábios se não dermos ouvidos, com humildade, a Deus e à sua Palavra. – Vern S. Poythress.[5]
No temor de Deus encontramos clareza de propósito e sabedoria de ensino. Nos seus princípios temos a origem da sabedoria e uma condução segura para a nossa vida. O fundamento de todo conhecimento verdadeiro está no temor do Senhor. Aqui temos a essência da sabedoria.
Diversos textos das Escrituras nos mostram esses aspectos:
O temor (yir’ah) do SENHOR conduz à vida; aquele que o tem ficará satisfeito, e mal nenhum o visitará. (Pv 19.23).
O temor (yir’ah) do SENHOR é a instrução da sabedoria. (Pv 15.33).
O temor (yir’ah) do SENHOR é o princípio (re’shiyth) do saber, mas os loucos (אֱוִיל) (‘eviyl) desprezam a sabedoria e o ensino. (Pv 1.7/Pv 15.5).
O temor do Senhor é o que dá norte à nossa vida em todos os aspectos. Esse temor é primeiro e melhor caminho que nos guia em segurança em todo o tempo e circunstâncias.
A loucura do insensato
As Escrituras demonstram que os insensatos, em sua loucura desprezam a instrução do Senhor porque têm prazer em suas loucuras. São sábios aos seus próprios olhos: “O caminho do insensato (אֱוִיל) (‘eviyl) aos seus próprios olhos parece reto” (Pv 12.15/Pv 14.3).
Em sua arrogância, acham graça, riem, se orgulham e se divertem com seus próprios pecados: “Os loucos (אֱוִיל) (‘eviyl) zombam do pecado” (Pv 14.9).
Contudo, eles sofrerão as consequências de seus atos: “Os estultos (אֱוִיל) (‘eviyl), por causa do seu caminho de transgressão e por causa das suas iniquidades, serão afligidos” (Sl 107.17/Pv 10.8,10,14,21).
Como temos visto, o caminho da sabedoria começa pelo temor do Senhor (Sl 111.10).
Cornélio, homem temente a Deus
As Escrituras referem-se a Cornélio desse modo: “Piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus” (At 10.2/At 10.22).
A Escritura ensina também a importância deste temor diante de Deus entre todos os povos. Pedro diante de Cornélio, persuadido por Deus, admite que: “Em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (At 10.35).
Ou seja: a questão da satisfação de Deus não é étnica ou cultural, antes, é de obediência sincera.
No Novo Testamento, somos informados por Lucas que a Igreja em Atos crescia e se desenvolvia com este estimulante e confortador sentimento: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galileia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31).
O temor do Senhor nos aproxima dele e daqueles que o temem. A Igreja é uma comunidade dos que temem ao Senhor.
Continuaremos no próximo post.
[1] Conforme já mencionamos, a palavra empregada figuradamente tem o sentido de mostrar, indicar, “apontar o dedo”, encaminhar (Gn 46.28); disparar (Sl 11.2; 64.4); apontar (Sl 25.8); atingir (Sl 64.4); desferir (Sl 64.7). No hifil, conforme o texto citado, tem o sentido de “ensinar”.
[2]“19 Tendo navegado uns vinte e cinco a trinta estádios, eis que viram Jesus andando por sobre o mar, aproximando-se do barco; e ficaram possuídos de temor.20 Mas Jesus lhes disse: Sou eu. Não temais! 21Então, eles, de bom grado, o receberam, e logo o barco chegou ao seu destino” (Jo 6.19-21). “5 Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais; porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. 6 Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia. 7 Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis. É como vos digo! 8 E, retirando-se elas apressadamente do sepulcro, tomadas de medo e grande alegria, correram a anunciá-lo aos discípulos. 9 E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. 10 Então, Jesus lhes disse: Não temais! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galileia e lá me verão” (Mt 28.5-10). “Ao temermos a Deus, os outros temores desvanecem” (William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 38).
[3] Jó 14.4; 17.9; 28.19; Sl 12.6; Ml 1.11.
[4]Xenófanes, Fragmentos, 11-16. In: Gerd A. Bornheim, org. Os Filósofos Pré-Socráticos, 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1977, p. 32. Para mais detalhes sobre esse assunto, veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e desencontros, Goiânia, GO.: Cruz, 2022.
[5]Vern S. Poythress, Teologia Sinfônica: a validade das múltiplas perspectivas em teologia, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 24.