O Componente Corporativo da Conversão – Jonathan Leeman (1/2)

Parte 1  Parte 2 (17 de Julho)

Se sua doutrina da conversão carece do elemento corporativo, uma parte essencial do todo está faltando. Um cabeça da aliança vem com um povo da aliança.

Vertical em Primeiro Lugar, Horizontal Inseparavelmente em Segundo

Isso não significa dizer que nós deveríamos pôr o elemento corporativo na frente. Alguém poderia pensar na conhecida afirmação de N.T. Wright de que a justificação é “não tanto sobre soteriologia quanto sobre eclesiologia; não tanto sobre a salvação quanto sobre a igreja” (What Saint Paul Really Said, p. 119). Esse é um claro exemplo, na quase tão conhecida afirmação de Douglas Moo, de como colocar em segundo plano o que o Novo Testamento põe em primeiro, e colocar em primeiro plano o que o Novo Testamento põe em segundo (citado em D.A. Carson, “‘Faith’ and ‘Faithfulness’”).

Não pode haver verdadeira reconciliação entre humanos até que os pecadores sejam primeiro individualmente reconciliados com Deus. O horizontal necessariamente segue o vertical. A eclesiologia necessariamente segue a soteriologia. O que significa dizer: o elemento corporativo não pode vir primeiro, a fim de que não percamos a coisa toda.

Mas ele deve vir. De fato, o componente corporativo deve integrar a própria estrutura da doutrina da conversão. A nossa unidade corporativa em Cristo não é apenas uma implicação da conversão, é parte da própria coisa. Ser reconciliado com o povo de Deus é algo distinto, mas inserparável de ser reconciliado com Deus.

Às vezes isso é perdido em nossa ênfase na mecânica da conversão, como quando nossas discussões doutrinárias acerca da conversão não ultrapassam a relação entre soberania divina e responsabilidade humana ou a necessidade de arrependimento e fé. Contudo, um entendimento abrangente da conversão deveria também incluir um relato acerca de onde estamos vindo e para onde estamos indo. Ser convertido envolve mover-se da morte para a vida; do domínio das trevas para o domínio da luz. E  envolve mover-se de ser “não-povo” para pertencer a um povo, de ser uma ovelha desgarrada para pertencer ao rebanho, de ser algo desmembrado para tornar-se um membro do corpo.

Observe as afirmações paralelas de Pedro:

Vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus,

que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia. (1Pe 2.10)

Alcançar misericórdia (reconciliação vertical) é simultaneamente tornar-se um povo (reconciliação horizontal). Deus tem misericórdia de nós ao perdoar os nossos pecados, e uma necessária consequência disso é a nossa inclusão no seu povo.

A Natureza Corporativa das Alianças

Com efeito, não é preciso olhar além da estrutura pactual da Bíblia para ver o elemento corporativo da nossa conversão. É verdade que todas as alianças do Antigo Testamento encontram o seu cumprimento no descendente (singular) de Abraão. Jesus é o novo Israel. Contudo, é também verdade que todos aqueles que são unidos a Cristo por meio da nova aliança também se tornam o Israel de Deus e os descendentes (plural) de Abraão (Gl 3.29; 6.16).

Em outras palavras, um cabeça da aliança por definição traz consigo um povo da aliança (ver Rm 5.12ss). Pertencer à nova aliança, portanto, é pertencer a um povo.

Não é surpreendente que as promessas do Antigo Testamento acerca de uma nova aliança tenham sido feitas a um povo: “Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jr 31.34). A nova aliança promete perdão (vertical) assim como promete uma comunidade de irmãos (horizontal).

Vertical e Horizontal em Efésios 2

A história inteira é apresentada de modo maravilhoso em Efésios 2. Os versículos de 1 a 10 explicam o perdão e a nossa reconciliação vertical com Deus: “Pela graça sois salvos”. Os versículos de 11 a 20 então apresentam o horizontal: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade” (v. 14).

Observe que a atividade do versículo 14 está no tempo pretérito. Cristo já fez  com que judeus e gentios se tornassem um. Não há imperativo aqui. Paulo não está ordenando aos seus leitores que busquem a unidade. Ao invés disso, ele está falando no indicativo. Isso é o que eles são porque Deus o fez, e Deus o fez precisamente no mesmo lugar em que ele efetuou a reconciliação vertical – na cruz de Cristo (veja também a relação entre indicativo e imperativo em Efésios 4.1-6).

Por força da nova aliança em Cristo, a unidade corporativa pertence ao indicativo da conversão. Ser convertido é ser feito um membro do corpo de Cristo. A nossa nova identidade contém um elemento eclesiástico. Cristo nos tornou pessoas eclesiásticas.

Aqui está um modo fácil de ver isso. Quando a mamãe e o papai vão ao orfanato para adotar um filho, eles o trazem para o lar e o põem na mesa de jantar da família com um novo grupo de irmãos e irmãs. Ser um filho não é o mesmo que ser um irmão. E a filiação vem primeiro. Mas a irmandade segue necessariamente.

Jonathan Leeman, membro da Capitol Hill Baptist Church, é o diretor editorial do 9Marks e o autor de Church Membership: How the World Knows Who Belongs to Jesus e Church Discipline: How the Church Protects the Name of Jesus (ambos publicados pela Crossway, abril de 2012 [N.T.: sem tradução em português]).

Por Jonathan Leeman. Extraído do site www.9marks.org. Copyright © 2013 9Marks. Usado com Permissão. Original: The Corporate Component of Conversion

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. – © 2013 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: www.MinisterioFiel.com.br / www.VoltemosAoEvangelho.com. Original: O Componente Corporativo da Conversão – Jonathan Leeman (1/2)

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