Um blog do Ministério Fiel
Fidelidade vs. Sucesso – Como medir um ministério?
Como medir um ministério aprovado pelo Senhor? Será que devemos medir através de grandes números? Popularidade e fama? Enormes impactos aparentes?
O ministério é avaliado pela fidelidade
Sabemos que aqueles que receberão as doces palavras “entra no gozo do teu senhor” é o “servo bom e fiel” (Mt 25.21), aquele que apostou toda sua vida no trabalho de seu mestre, não escondendo seu talento debaixo do solo como “garantia” caso o mestre voltasse enquanto vivia para si próprio. Bom e fiel. Moisés também foi elogiado pelo Senhor por ser “fiel em toda a minha casa” (Nm 12.7)
Acredito que o texto mais claro sobre o assunto é 1 Coríntios 4.2: “requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel”. Paulo alerta contra aqueles que julgam o ministério de alguém antes do tempo: “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.” (1Co 4.5). Ou seja, o Senhor quando vier irá mostrar as coisas ocultas e revelar as intenções do coração e o que ele procurará? O que é requerido? Fidelidade.
Lembre-se que Paulo fala isso para uma igreja orgulhosa, que acha que já está farta, rica e reinante, mas que justamente falha em sua fidelidade. Muitos dons, pouco amor; grandes manifestações, pouca santidade. Igreja que tinha os super-apóstolos e Paulo, sabe aquele apóstolo atrasado que chegou a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos (1Co 4.13), aquele que no final da sua vida foi preso e martirizado – sem glamour. Porém ele sabia que havia combatido o bom combate, completado a corrida, guardado a fé e que a coroa da justiça lhe estava reservada (2Tm 4.7-8).
Sejamos sinceros. No final de uma vida de sucesso, imaginamos diversas pessoas chorando e sentindo nossa morte, ao nosso redor, enquanto fechamos os olhos, sem dor, e atravessamos o Jordão. Prisão e martírio não parecem muito triunfal.
Não esconda a indolência no manto da fidelidade
Até aqui muitos concordam. O problema é que muitos escondem sua indolência no manto da fidelidade, assim como o servo mau: “aqui está o talento que me deste; eu escondi e estou fielmente devolvendo”. Sim, pasme! A indolência usa o discurso da fidelidade. Porém, no fundo eis o que deveria ser dito: “eu não me esforcei com a sua obra, meu mestre; fiz o básico de esconder o talento para quando você voltar e gastei meu tempo em outras questões”.
Versões modernas disso podem ser algo como: “eu prego a verdade mesmo! Doa a quem doer! É por isso que ninguém quer me ouvir”. Caro irmão, já considerou que pode ser pelo fato de você não ter zero tato pastoral? Ou talvez você pregue mal mesmo… É, eu sei, dói pensar nessa possibilidade.
“Não!”, mas alguém dirá. “Isaías foi chamado para pregar e Deus falou que ninguém o ouviria”. Foi mesmo. Porém, minha aposta é que você não teve uma visão do trono de Deus e ele o convocou a pregar até que o povo ficasse surdo (espiritualmente) e morresse ou fosse exilado (literalmente). Então, quem sabe, assim, talvez, não seja melhor você cogitar um autoexame? Ou buscar a opinião de outras pessoas? Afinal, pode ser um ponto cego.
Ou ainda: “somos uma pequena igreja fiel”. Pode ser que sim. Sério. Contudo, pode também ser o fato de que a igreja é tão panelada que todo visitante se sente um intruso. Ou, claro, que deixaram de evangelizar. Ou que tudo na igreja indique que tanto faz se tem visitantes ou não: não há uma exposição clara do evangelho e do chamado à fé, não há ninguém procurando visitantes para cumprimentá-los, ninguém se incomoda com o fato de não ter nenhum rostinho novo há mais de 4 meses.
Lemos em Atos que a Palavra crescia, enquanto o Senhor acrescentava à igreja, conforme os ministros eram fiéis em plantar e regar. Sim, sim, é Deus que dá o crescimento (quantidade e qualidade – não só um, nem só o outro, certo?). E, sim, meu irmão, ele dá. E é algo que devemos pedir. Sim, devemos. Aliás, eu até diria que é algo que deveríamos esperar. Quando uma criança não cresce em estatura e força ficamos preocupado e buscamos examinar qual o problema em seu corpo. Afinal, falta de crescimento normalmente demonstra doença (percebeu o normalmente, né?). Assim, quando as coisas não parecem frutificar, nossa postura deveria ser de…? Sim, autoexame… e clamor a Deus.
Ações vs. Resultados
Tentando fugir da dicotomia “fidelidade vs. sucesso”, Tim Keller, em Igreja Centrada, afirma que devemos nos avaliar por frutificação. Ele sente o mesmo problema que mencionei acima: pastores que não tem se esforçado o suficiente, mas escondido seu comodismo sob o manto da fidelidade. Keller ilustra com um pastor de uma área rural que muda para um centro urbano e continua a fazer as coisas da mesma forma e as coisas parecem não estar dando muito certo. Ele entende que o pastor deveria olhar para sua falta de frutos, avaliar seu ministério e buscar contextualizar-se (simplificando, claro).
Jonathan Leeman, em uma resenha do livro, entende o ponto de Keller e concorda que todo ministro deve ter uma santa ambição e ser famintos por frutos, mas aponta um problema. A ideia de frutificação de Keller ainda olha para a mesma coisa que o sucesso: os resultados. Já a fidelidade olha para nossas ações. Ou seja, pode ser, de fato, que aquele pastor que mudou para uma grande cidade esteja encontrando um solo seco e que não há nada que ele possa fazer além de continuar pregando a Palavra. Entretanto, pode ser que lhe falte esforço e sabedoria. A questão é que se este é o problema, a falha está justamente na fidelidade, e não nos resultados. Como Leeman bem aponta, nossas ações estão em nosso controle, os resultados, não.
Pense, por exemplo, em evangelização. Se a definimos em termos de resultados, como “ganhar almas”, então colocaremos o alvo sobre algo que não controlamos (a conversão de uma alma) e poderemos ser tentados a fazer qualquer coisa para chegar a esse fim. Contudo, se a definirmos em termos de nossas ações e fidelidade, entenderemos que, como disse Bill Bright, “o êxito ao testemunhar consiste simplesmente em compartilhar Cristo no poder do Espírito Santo, deixando os resultados com Deus”.
O ministério é avaliado pela fidelidade ativa
Por isso, entendo que a melhor forma de avaliarmos nosso ministério é pelo que chamei de “fidelidade ativa”. Poderia muito bem ser chamado somente de fidelidade, mas para distinguir da “indolência transvestida de fidelidade” (ou fidelidade passiva), preferi adicionar um termo.
Em termos práticos, o que isso significa? Significa que precisamos pensar em fidelidade como algo que exige labor, autoexame, aperfeiçoamento e um desejo por frutos. Um pastor que não deseja o crescimento de sua igreja (novamente, qualidade e quantidade) possivelmente não está sendo fiel (cabe lembrar que o crescimento de uma igreja não significa necessariamente torná-la uma mega-igreja; existe a possiblidade de crescer multiplicando-se em novas igrejas). O resultado pode não estar em nossas mãos, mas o querer e o buscar, sim. Da mesma forma, um ministro que não procura aperfeiçoar-se em seu chamado não está sendo fiel.
Deixe-me colocar de outra forma: a menos que você esteja disposto a também falar e praticar os versículos abaixo, seria melhor você nem falar em fidelidade:
• “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1Co 9.22).
• “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” (1Co 9.24-27)
• “Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar.” (1Co 10.33)
• “Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo.” (1Co 15.10)
• “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.” (1Co 15.58)
Espero que você tenha reparado que todos estes textos vem de 1 Coríntios, o mesmo livro que afirma que “requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel”. Espero que isso nos ajude a entender que Paulo tem em mente mais do que somente fidelidade doutrinária.
Então, o que fazer se você não vê frutos em seu ministério? Se você for guiado por resultados, cairá no erro de que os fins justificam os meios. Ou seja, não tente fazer tudo que for possível (quer seja bíblico ou não), mas tente fazer de tudo dentro do escopo da fidelidade (mesmo que possa parecer estranho como “ser bárbaro para os bárbaros”). Então, a pergunta é: como posso esforçar-me para ser mais fiel? Ou: que áreas do meu ministério eu não preciso ser mais fiel? Não esconda sua indolência no manto da fidelidade passiva, nem oriente seu ministério pelos resultados. Busque ser ativamente fiel.