Um blog do Ministério Fiel
Como lidar com alguém que se automutila
“As pessoas falam que é por atenção, mas eu não penso assim. Eles apenas se sentem sem valor”. (mulher escocesa anônima)
Qual o primeiro pensamento que vem à mente quando usamos as palavras automutilação ou autolesão? Para muitos, será a imagem de uma pessoa jovem com cicatrizes ou queimaduras visíveis em seus braços. Mas definir o ato de deliberadamente causar mal a si mesmo inclui muito mais do que cortar e pode incluir asfixia, morder, bater a cabeça, surrar-se, furar-se, arranhar-se, autonegligência, quebrar ossos, transtornos alimentares, arrancar os cabelos, queimar-se, amputar membros, mutilação genital, auto-envenenamento e assim por diante. A lista é quase interminável.
Uma pesquisa com jovens escoceses afirmou que quase 20% das mulheres e 7% dos homens revelaram que a “automutilação” foi uma ocorrência na vida. O Reino Unido tem a maior taxa de automutilação na Europa e a maior proporção de pessoas que se automutilam estão estatisticamente entre 11–25 anos de idade. Infelizmente, a automutilação não se limita exclusivamente à juventude. É algo que estamos muito familiarizados em mulheres em todas as faixas etárias.
Um dos melhores recursos visuais que eu já vi para nos ajudar a entender a automutilação é o simples balão de festa. O balão é a imagem visual das nossas vidas quando o stress vem chamando. As provações aparecem e a pressão aumenta dentro (e o nosso balão explode). Agora, há muitas maneiras de lidar com essa pressão. Alguns simplesmente a deixam explodir em raiva (o balão deles explode fazendo um barulho enorme. Porém, a pressão imediata foi embora. O lado negativo é que o balão foi destruído, fez uma bagunça e deu àqueles mais próximos a eles um pouco de susto). Outros respondem ao stress ficando ausentes (exemplificado por largar o balão e vê-lo flutuar soprado pelo vento até que ele volte
a terra totalmente esvaziado). Depois, há aqueles que se automutilam (exemplificado por pegar o “pescoço” do balão puxá-lo apertando e cortar um pedaço da borracha com a tesoura. A pressão então é liberada lentamente, tal como uma válvula de segurança do balão enquanto esvazia-se pouco a pouco).
Por que alguém se automutilaria?
Muitos sugerem que é um mecanismo de enfrentamento para lidar com a turbulência emocional, mental e física indesejada. Ed Welch, em Self-Harm: When Pain Feels Good [Automutilação: Quando A Dor Faz Sentir Bem] fala que automutiladores “Simplesmente não sabem como viver com emoções turbulentas”. Mas eu acho que é mais complexo do que uma maneira de lidar com o stress emocional. Algumas pessoas claramente fazem como uma forma de autopunição, outros por reencenação do abuso, adoração, purificação, proteção, autoimagem distorcida e até mesmo controle (para citar apenas algumas razões).
É o último modismo?
A automutilação não é recente, como vemos em 1Reis 18:28: “E eles clamavam em altas vozes e se retalhavam com facas e com lancetas, segundo o seu costume, até derramarem sangue”. Eles acreditavam que se cortando satisfariam seus deuses. Na Idade Média, muitos cristãos praticaram a autoflagelação como uma forma de adoração. Assim, isso existe há algum tempo.
É verdade que as estatísticas mostram um aumento no número de pessoas que são automutiladoras, mas isso é evidência de um modismo? As pessoas estão apenas fazendo o que elas têm visto ou ouvido falar de amigos? A maior parte da pesquisa que eu li sugeriu que, no geral, não é um comportamento ensinado, porque a maior parte da automutilação é feita em particular. Há muitas camadas e perguntas que precisam ser feitas e tiradas antes de nós podermos simplesmente atribuir o aumento da automutilação registrada unicamente ao último modismo ou a uma fase que alguém esteja passando. Nós devemos ter cuidado, portanto, em nosso aconselhamento, para não presumirmos que é somente uma fase ou um modismo. Devemos ter cuidado ao simplificar questões e apenas dar técnicas de enfrentamento às pessoas até que sua fase percebida tenha acabado. Eu ouvi falar de muitas dessas técnicas, incluindo:
• Usar um marcador vermelho para marcar onde você geralmente poderia cortar;
• Bater em um saco de pancadas para soltar a raiva e a frustação;
• Socar travesseiros e almofadas, ou dar um bom grito em um travesseiro ou almofada;
• Esfregar gelo em toda sua pele onde você geralmente poderia cortar ou segurar um cubo de gelo na dobra do seu braço ou perna;
• Ficar ao ar livre e dar uma caminhada rápida;
• Escrever sentimentos negativos em um pedaço de papel e, em seguida, rasgá-lo;
• Manter um diário;
• Rabiscar em um pedaço grande de papel com um lápis de cera ou caneta vermelha;
• Colocar elásticos nos pulsos, braços e pernas e puxá-los ao invés de cortar ou bater.
O problema com essas técnicas é que elas são apenas um alívio e uma correção temporários que não resolvem as questões mais profundas. Algumas podem ser úteis, mas o aconselhamento cristão deve se preocupar não somente com respostas, mas com a abordagem do cerne das questões.
Esperança em Cristo
Eu raramente tenho encontrado este assunto sendo discutido em círculos cristãos com alguma profundidade. Eu não sei porque isso acontece, mas eu sei de uma coisa com certeza. Há cristãos que se automutilam, e isso pode trazer consigo uma camada adicional da culpa e da vergonha que um automutilador já experimenta.
A boa notícia é que há esperança e liberdade do ciclo de automutilação em Jesus Cristo. Contudo, muito frequentemente, há uma desconexão entre a verdade bíblica que nós professamos saber e a realidade de como vivemos.
A mentira em que se acredita | A verdade para o crente |
Eu sou culpado – Eu devo ser punido. | Nós podemos encontrar perdão em Cristo e no que ele fez, não no que podemos fazer. |
Eu mereço isso | Todo o julgamento de Deus caiu sobre Cristo. Ele tomou o nosso lugar, pagou a nossa dívida; nós somos perdoados por causa de Cristo. |
Machucar a mim mesmo é a única maneira de impedir os sentimentos. | Compartilhe a dor com aquele que nos ama. Volte-se par ele. |
Dessa forma eu ganho controle sobre… | O Senhor está no controle e nele podemos confiar. |
Eu sou feio, burro, gordo, medonho, difícil de amar. | Eu sou feito à imagem gloriosa de Deus. |
Me ajude! | Salmos 4.1: “Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração”. Os Salmos nos ensinam a clamar a Deus, ele ouve. |
“Não importa quanto pecado nós encontremos em nós mesmos, há graça e misericórdia mais que suficientes para nos perdoar e mudar. Deus tem alegria em nos perdoar.” (Ed Welsh)
Como nós podemos ajudar irmãos e irmãs a lidar com a sua automutilação? Encoraje-os no seguinte:
1. Esteja na Palavra diariamente: Conheça a Deus e suas verdades. Memorize a Escritura para que quando as mentiras começarem a se instalar, você possa lembrar a si mesmo da verdade. A luz da Palavra de Deus vai sempre dissipar as trevas das palavras falsas.
2. Ore e peça ajuda: Vá à fonte de toda ajuda.
Seja honesto! A automutilação gosta de privacidade e sigilo. É muito fácil quando você está em seu mundo secreto se retirar e esconder o seu comportamento. Seja honesto com Deus e com um bom parceiro maduro de prestação de contas. Não dê espaço a Satanás.
3. Seja sábio: A mudança é possível, mas você precisa ser sábio. Reconheça os seus hábitos e padrões de mutilação para que você possa fugir da tentação e mudar o seu padrão habitual. Desenvolva uma estratégia.
4. Fracasse bem: Velhos hábitos e comportamentos persistentes e prolongados são difíceis de serem mudados. Se e quando você fracassar e ceder à tentação, fracasse bem. O que eu quero dizer com isso é confessar imediatamente. Não esconda. Tudo o que isso vai fazer é agravar e provavelmente aumentar seu pecado. Corra rapidamente para Deus, busque e receba o seu perdão.
5. Continue perseverando: A mudança é difícil e confusa. É dolorosa e pode levar anos. Peça a Deus para nos ajudar a perseverar na tentação.
6. Mantenha o fim à vista: Olhe para a esperança da eternidade.
Se você conhece alguém que você suspeita que esteja se automutilando, a tentação pode ser agir sem pensar e instantaneamente tentar impedir o comportamento. Para ser honesta, é compreensível querer salvar aqueles que amamos do mal (mesmo deles próprios). Mas faça uma pausa e desacelere, converse com eles e compartilhe as suas preocupações. Por trás do comportamento deles, pode haver motivações que você pode até achar comuns, como medo, desejo por controle, desespero e raiva. Procure o conselho sábio dos seus presbíteros ou de um crente maduro de confiança. Aja sabiamente e com tato piedoso. Ore por eles. Aponte-os a fonte de toda ajuda e confie-os ao cuidado dele. Será uma longa caminhada ao seu lado e devemos agir sempre com o mesmo grande amor sofredor, paciente e gracioso que o nosso Pai celestial estendeu a nós em Jesus.