Um blog do Ministério Fiel
Mulheres, trabalho e a nossa crise de identidade
Há vários anos, falei em um evento da igreja com uma amiga que havia sido influente atuando como advogada pela causa e pela prática da liberdade religiosa. Ela fora solteira por muitos anos, mas na ocasião era recém-casada e mãe pela primeira vez. Quando conversávamos, ela confessou que a sua transição de ser advogada para ser mãe em tempo integral com uma criança era muito mais difícil do que ela esperava.
“Tanto quanto eu amo ser casada e mãe após todos aqueles anos sendo solteira, eu não percebi o quanto estimava o meu trabalho como a fonte da minha identidade”, ela disse com um sorrisinho.
É muito fácil confundir o que nós fazemos com quem nós somos. Como um sociólogo afirmou: “A maioria das pessoas se define por seu trabalho. Quando as pessoas se aposentam, precisam de uma narrativa sobre quem são agora”.
Qualquer mudança no que fazemos pode facilmente desencadear uma crise de identidade — qual é a história que agora contaremos aos outros sobre nós mesmos? Embora eu pense que isso seja verdade para os homens, acho que é diferente, e talvez mais evidente, para as mulheres, porque nossas escolhas quanto à produtividade são examinadas com mais frequência do que as dos homens. É por isso que os termos mais divisivos podem ser os temidos “mães que trabalham” versus “mães que ficam em casa”. Se esta fosse uma simples descrição da localização da produtividade feminina, seria uma coisa. Mas esses termos são carregados de culpa e julgamento.
Mudança de identidade
Quando o seu trabalho é a sua identidade, a mudança pode abalar esse senso de identidade. A comparação com outras pessoas pode levá-la a maximizar a sua identidade. Todas sentimos isso: é um anseio por significado, um anseio de ser conhecida e reconhecida, um anseio por sermos validadas por nossos trabalhos e realizações. Isso não é novidade. Até o autor do Eclesiastes percebeu isso:
“Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento” Eclesiastes 4.4
A versão do Novo Testamento desse discernimento vem de 1 Timóteo 6.6-7:
“De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele”.
Como a mudança pode desafiar as nossas próprias identidades, o tempo e a experiência também mudam frequentemente as nossas perspectivas sobre as identidades do outro. Porém, há uma mudança de perspectiva mais importante sobre a identidade a qual Jesus nos oferece.
Sentada aos pés de Jesus
Eu tenho essa imagem alucinante, uma captura de tela do momento em que o paraquedista austríaco Felix Baumgartner olhou para a terra de sua cápsula há 38.000 metros de altura acima do nosso planeta. Ele estava apenas há alguns momentos de se jogar e cair em direção à terra em velocidade supersônica. Meu estômago embrulhou-se com o pensamento nausenante de estar tão alto, mas não conseguia tirar os meus olhos da transmissão ao vivo. Fiquei paralisada pela perspectiva que ele teve. Todo nosso esforço, conflito, ganância e pecado pareciam pacificamente apagados de sua visão. No entanto, ele estava prestes a se lançar de volta a isso.
Você não precisa ser uma aventureira para mudar a sua perspectiva. Jesus já ofereceu a duas mulheres um escape dos seus pontos de vista terrenos, também. Sim, você sabe, eu falarei de nossas conhecidas Maria e Marta. Porém, eu não lhe direi para ser mais contemplativa, despreocupada, devotada ou menos ocupada, administrativa, irritada (ok, talvez você deva ser menos irritada). Nem vou lhe oferecer qualquer dica de gestão do tempo a partir dessas irmãs. Eu apenas quero que você considere a mudança de perspectiva que Jesus lhes deu durante todo aquele dia — para homens e mulheres igualmente.
No relato de Lucas, Jesus acabara de ampliar a questão da identidade com a história do bom samaritano. Um intérprete da lei havia o desafiado sobre quem era o próximo que ele deveria amar como a si mesmo (Lucas 10:29), e Jesus lhe falou sobre um samaritano misericordioso, um grupo étnico desprezado que vivia nas proximidades. Depois, “indo eles de caminho”, Jesus os levou para a casa de Marta e Maria. Marta imediatamente se apressou a engajar-se com o trabalho de hospedar Jesus e seus discípulos. Mas Maria sentou-se aos seus pés com os homens, ouvindo Jesus instruir os seus discípulos. Ao contrário da maioria dos rabinos de seu tempo, Jesus não apenas permitiu que uma mulher aprendesse as Escrituras, como também disse a todos que esta era a coisa mais sábia que Maria poderia fazer: “Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (versículo 42).
Nenhum dos maridos foi mencionado em relação a nenhuma dessas mulheres. Também nenhum filho foi mencionado. Talvez já os tivessem. Talvez os teriam no futuro. Nenhuma menção foi feita a respeito de sua posição social, seja quanto à riqueza ou relações sociais ou habilidades de trabalho. Mas, a única identidade delas, a mais importante, era a que existiria para sempre: ser uma seguidora de Cristo.
Jesus muda a nossa perspectiva
Essa é a identidade que precisamos afirmar entre nós mesmas, não os rótulos que provêm do tipo de trabalho que realizamos. Como cristãs, devemos nos basear nessa identidade, mesmo quando acrescentamos outros papéis e formas de expressar essa identidade em relação aos outros. Podemos ter um trabalho interessante por uma temporada. Podemos ser casadas por um período. Podemos ter filhos em casa por um tempo. Mas essas coisas podem ser tiradas de nós — ou nunca serão dadas a nós absolutamente. Estas são dádivas para essa vida somente.
Jesus prometeu que se escolhermos sentar aos seus pés, teremos feito a melhor escolha de todas. Nós herdaremos a melhor parte, aquela que nunca nos será tirada: um relacionamento com Deus, com sua palavra e a promessa de recompensas eternas e vida com ele no céu. Em uma simples frase, Jesus muda nossa perspectiva terrena e nos eleva acima de nossas vidas diárias para que vejamos a importância de sermos suas discípulas. Essa mudança de perspectiva é tudo o que nós precisamos para resolver uma crise de identidade.