Um blog do Ministério Fiel
Pelo que William Tyndale viveu e morreu (Parte 4)
(Leia a Parte 1 e a Parte 2 e a Parte 3)
O que custou a Tyndale traduzir a Bíblia
O que custou a William Tyndale permanecer fiel ao seu chamado como um tradutor da Bíblia e um escritor de fé Reformada nessas circunstâncias hostis?
Ele fugiu de sua terra natal em 1524 e foi morto em 1536. Ele nos dá um vislumbre desses doze anos como fugitivo na Alemanha e nos Países Baixos em uma das poucas descrições pessoais que temos a partir da carta de Stephen Vaughan em 1531. Ele se refere a…
…minhas dores…minha pobreza… meu exílio de meu país natal, e a amarga ausência de meus amigos…. minha fome, minha sede, meu frio, o grande perigo com que estou em todo lugar, e finalmente… inúmeras outras lutas árduas e dolorosas que eu suporto.[53]
Todos esses sofrimentos chegaram ao seu auge em 21 de maio de 1535, em meio aos grandes trabalhos de tradução do Antigo Testamento por Tyndale. Podemos sentir um pouco da feiura do que aconteceu por meio das palavras de David Daniell: “Malícia, autopiedade, vilania e engano estavam prestes a destruir tudo. Esses males vieram à Casa Inglesa [em Antuérpia], totalmente não convidados, sob a forma de um egrégio inglês, Henry Philips”. [54] Philips ganhou a confiança de Tyndale durante alguns meses e depois o traiu. John Foxe conta como isso aconteceu:
Na hora do almoço, Mestre Tyndale saiu com Philips. Na saída dá casa de Pointz havia um longo corredor, tão estreito que duas pessoas não podiam caminhar lado a lado. Mestre Tyndale queria que Philips fosse à frente, mas este de modo algum quis aceitar a precedência. Fez Tyndale caminhar diante dele, fingindo assim grande bondade. Mestre Tyndale, que não tinha alta estatura, foi à frente, seguido pelo alto e elegante Philips. Este havia postado guardas sentados em bancos dos dois lados da porta, para que vigiassem a entrada. Philips apontou com o dedo por sobre a cabeça de Mestre Tyndale, indicando aos guardas que ele era a pessoa que deviam prender… Eles o trouxeram para o advogado do imperador, onde jantou. Depois o procurador geral veio à casa de Pointz e apreendeu tudo o que era de Mestre Tyndale, livros e outros objetos. Tyndale foi levado ao castelo de Filford a dezoito milhas inglesas de Antuérpia [e lá Ele permaneceu até ser morto].[55]
O Castelo de Vilvorde localiza-se a seis quilômetros ao norte de Bruxelas e cerca da mesma distância de Louvain. Aqui Tyndale ficou por 18 meses. “A acusação era de heresia, discordância do santo imperador romano — em poucas palavras, a acusação era de que ele era um luterano”.[56] Uma comissão de quatro homens do centro Católico de Louvain foi autorizada a provar que Tyndale era um herege. Um deles chamado Latomus encheu três livros com suas interações com Tyndale e disse que o próprio Tyndale escreveu um “livro” na prisão para defender seu principal padrão doutrinário: Sola fides justificat apud Deum — A Fé Somente Justifica Diante de Deus. Esta foi a questão-chave no final. O mal da tradução da Bíblia se resumia a isto: somos justificados somente pela fé?
Aqueles meses na prisão não foram fáceis. Eram um longo morrer que conduzia à morte. Temos um vislumbre da prisão para ver a condição de Tyndale e sua paixão. Ele escreveu uma carta para em setembro de 1535, quando pareceu haver uma pausa nos interrogatórios. Foi endereçada a um oficial anônimo do castelo. Aqui está uma versão condensada da tradução de Mozley do latim:
Peço a vossa senhoria, e a do Senhor Jesus, que, se vou ficar aqui durante o inverno, que peça ao comissário que tenha a bondade de me enviar, dos meus bens, um chapéu mais quente; porque sofro muitíssimo de frio na cabeça, e sou afligido por um catarro perpetuo, que é muito agravado nesta cela; um casaco mais quente também, pois este que tenho é muito fino; um pedaço de pano também para remendar minhas perneiras. Meu sobretudo está desgastado; minhas camisas também estão desgastadas. Ele tem uma camisa de lã, que ele seja bondoso o suficiente para enviá-la. Tenho também com ele perneiras de tecido mais espesso para sobrepor; ele também tem cobertores muito quentes. E eu peço que seja permitido ter uma lâmpada à noite; é realmente cansativo ficar sozinho no escuro. Mas, acima de tudo, suplico e imploro a vossa clemência que seja urgente com o comissário, que ele me permita gentilmente ter a Bíblia hebraica, a gramática hebraica e o dicionário hebraico, para que eu possa passar o tempo nesse estudo. Em troca você pode obter o que mais deseja, tão somente que isso seja para a salvação de sua alma. Mas, se alguma outra decisão foi tomada a meu respeito, para ser realizada antes do inverno, serei paciente, cumprindo a vontade de Deus, para a glória da graça de meu Senhor Jesus Cristo, que o Espirito dele (eu oro) possa sempre dirigir seu coração. Amém. W. Tindalus[57]
Não sabemos se seus pedidos foram concedidos. Ele permaneceu na prisão durante o inverno. Seu veredito foi selado em agosto de 1536. Ele foi formalmente condenado como um herege e deposto do sacerdócio. Então, no início de outubro (tradicionalmente em 6 de outubro), ele foi amarrado à estaca e depois estrangulado pelo carrasco, depois consumido no fogo. Foxe relata que suas últimas palavras foram: “Senhor! Abra os olhos do rei da Inglaterra!”.[58] Ele tinha quarenta e dois anos, nunca se casou e nunca foi sepultado.
#53 Ibid., p. 213.
#54 Ibid., p. 361
#55 Ibid., p. 364.
#56 Ibid., p. 365.
#57 Ibid., p. 379.
#58 Ibid., pp. 382-383. “Os contemporâneos não observaram tais palavras, mas apenas que o estrangulamento foi mal executado e que ele sofreu terrivelmente”. Moynahan, O Bestseller de Deus, p. 377.