“Eu não aguento mais!” – Ela gritou

As crianças começaram a chorar no quarto ao lado, assustadas com a raiva de sua mãe.

Megan chutou a secadora três vezes, deixando um amassado. “Essa é a gota d’água!”, ela gritou. “Alguma coisa mais pode dar errado? Eu não aguento todos esses problemas!”

O rosto de seu esposo apareceu na porta. “Você está doida? Pare com isso! Não quebre mais coisas”.

Megan olhou para Peter, momentaneamente tentada a chutá-lo também. Então a adrenalina a deixou, e ela abandonou a briga.

“Sim, você está certo. Mas eu estou seriamente estressada! Por que é que algo grande sempre acontece por aqui quando tenho um prazo para cumprir? Eu preciso terminar aquelas finanças hoje à noite. Meu dia inteiro foi perdido com reuniões. Você pode limpar aqui?”

O rosto de Peter se contraiu. “Acho que você esqueceu que meu artigo precisa ser entregue amanhã de manhã”.

Megan começou a dizer coisas amargas, mas então se segurou e manteve-se calada. A casa tinha um cheiro de queimado, as roupas — tanto limpas quanto sujas — que tinham sido recolhidas na área de serviço estavam além de qualquer esperança de serem usadas novamente; sem dúvida, uma das crianças precisava de ajuda com a tarefa da escola, e eles dois estavam apertados com o prazo.

“Bem, eu obviamente não sou uma supermulher”, ela disse finalmente. “Precisei completar 40 anos de idade para desistir dessa ilusão. Não posso ter tudo o que quero. Não posso fazer tudo. E não estou aproveitando coisa alguma. Sou apenas uma mulher irritada e cansada, com uma lista de coisas por fazer de três quilômetros de  comprimento.”

Ela deu um pequeno sorriso, tentando amenizar sua reclamação.

Peter suspirou. “Então vamos parar de tentar. Estou cansado da lista de coisas por fazer. E sinto falta da minha esposa divertida.”

“O que você quer dizer?”

“Apenas vamos viver de maneira mais simples. Ouça, os meninos precisam mais de nossa atenção agora. E, hum, a casa também. Por que estamos nos enlouquecendo? Vamos parar de fazer tanta coisa. Vamos tentar viver com só um salário. Vamos, pelo menos, pensar sobre isso, certo?”

Peter segurou a mão de sua esposa. “E vamos sair desse cômodo fedorento”.

Passaram-se alguns meses, mas aquela ideia maluca criou raízes. Megan arranjou trabalhos para fazer de casa na área de contratos e então pediu demissão de sua empresa. Quando eles contaram para as crianças que Megan estava deixando o trabalho de jornada integral, os meninos pularam de alegria. Megan ficou um pouco surpresa com o entusiasmo deles.

De início, ela se perguntou sobre como preencheria seus dias. Ela rapidamente fez uma tabela de horários, designando tarefas do cuidado com a casa em dias diferentes. Ela pensou que teria muito tempo para fazer scrapbooking e outros hobbies negligenciados, mas logo viu que o cuidado e a alimentação de quatro pessoas consumiam bastante tempo. Agora que ela estava em casa, havia tempo para fazer as coisas importantes que nunca se destacavam em relação a outras urgentes — preparar refeições para vizinhos doentes, hospedar um estudo bíblico, visitar alguma mulher idosa de sua igreja. Ela até tinha tempo para ser uma esposa divertida de novo. Os encontros românticos não tinham mais que consistir em ir a uma loja para comprar algum item para coisas que precisavam de conserto. De fato, ela descobriu que gostava bastante de ter seus fins de semana de volta — nada de ter de sair aos sábados para resolver coisas, com dois pequenos corpos presos nos assentos traseiros do carro o dia todo.

Certo dia, seu filho de cinco anos entrou no quarto e abraçou a cintura da mãe. “Mamãe, eu amo você agora”.

“Agora?”, Megan retrucou,  sorrindo.

“Sim, agora. Eu amo você agora porque você está muito mais feliz e isso me deixa mais feliz.” Ele apertou sua cintura bem forte e então correu de volta para o porão.

Megan começou a chorar, uma mistura de culpa e felicidade. As crianças eram tão pequenas; ela não pensou que tinham notado.

Alguns anos mais tarde, Megan teve a oportunidade de dar seu testemunho para uma classe da escola dominical para recém-casados. Em sua fala, ela desafiou os jovens casais a renovarem seu pensamento acerca do lar a partir da perspectiva da Bíblia:

Sabe, eu cresci pensando que o cuidado da casa não era grande coisa. Eu não gostava daquelas tarefas, então pensei que podia me virar contratando quem pudesse fazer tudo. A certa altura, tive uma faxineira e uma cozinheira particulares. Eu estava ocupada demais para limpar ou cozinhar. E isso funcionou por um tempo. Precisávamos de muito malabarismo, mas na minha mente valia a pena.

Mas quando o nível de estresse se tornou demasiado, realmente precisei reconsiderar minhas decisões com cuidado. Estava eu vivendo a vida que Deus traçou para mim em sua Palavra?

Levei tempo para descobrir a importância do cuidado do lar a partir de uma perspectiva bíblica. E descobri que cuidar da casa não se trata de coisas, nem de tarefas domésticas. É mais do que a forma como você cuida de seu espaço pessoal. É o que Tito 2 fala — como você cumpre seu papel na igreja e nos relacionamentos com outras pessoas, e como você aprende com elas e discípula outras. O ponto não é ficar em casa, isolar-se e ter uma casa bem decorada e arrumada. Eu posso compreender porque as pessoas são críticas quanto a isso.

Mas estar em casa envolve todo o gerenciamento prático — compra de alimentos, fazer o orçamento, manter as calhas limpas, certificar-se de que o sistema de aquecimento está funcionando. Também me certifico de que todos vão ao médico, têm o remédio correto, que todos comem e têm roupas limpas. Mas estar em casa também envolve oferecer hospitalidade, cuidar dos vizinhos, ajudar como babá de outras crianças, preparar refeições para alguém, hospedar pessoas de outros países ou igrejas. Tudo se trata de pessoas. Cuidar da casa não tem a ver com o espaço físico; mas tem a ver com as pessoas que estão indo e vindo desse lugar.

Mas serei honesta. Há momentos em que sinto falta de trabalhar fora. Há duas coisas de que sinto falta especificamente. Uma: você pode sair para almoçar ou tomar um café apenas porque quer uma pausa. E a outra: é fácil conversar com outras pessoas — conversas compridas e não interrompidas. Um dia, posso voltar à minha carreira, mas por enquanto eu não trocaria nossos horários mais tranquilos em família por coisa alguma!

Por: Carolyn McCulley. © 2017 Editora FIEL. Website: editorafiel.com.br. Traduzido com permissão. Fonte: Feminilidade Radical

 

Original: “Eu não aguento mais!” – Ela gritou. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.