Uma entrevista com Mark Noll e George Marsden sobre Billy Graham

Em 1998, Mark Noll escreveu: “A morte de Billy Graham porá fim a uma era histórica importante”.

Eu gostaria de fazer perguntas a Noll e ao seu amigo e antigo colaborador, George Marsden, sobre a vida e o legado do grande evangelista que morreu em 21 de fevereiro de 2018.

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Muitas vezes é dito que jamais haverá outro Billy Graham. Supondo que você concorda com isso, por que não? Em outras palavras, o mundo mudou, ou o evangelicalismo mudou, ou simplesmente um homem com a combinação dos dons e circunstâncias de Graham é tão raro?

Noll: Todos estes são motivos fortes para a razão pela qual o ministério de Graham jamais será duplicado. Minha própria impressão, como historiador, tentando analisar as circunstâncias, é que várias coisas se uniram para tornar Graham tão eficaz e influente: seu carisma pessoal e sua fidelidade ao longo da vida em sua vocação de pregação, mas também o fato de ele ter emergido imediatamente (a) após a Segunda Guerra Mundial, quando o público estava preparado para uma nova mensagem do evangelho, (b) quando homens como Carl Henry e Harold John Ockenga lideraram uma grande parte do fundamentalismo norte-americano em direção a um testemunho evangélico mais amplo e positivo, (c) quando uma audiência formada por moderados do protestantismo conservador e os conservadores do protestantismo moderado conseguiram trabalhar juntos, e (d) os meios de comunicação tão modernos como a TV possibilitaram o grande impacto de personalidades atrativas.

Creio que tanto os evangélicos como o mundo cristão mais amplo tiveram líderes fiéis com dons iguais, mas que as circunstâncias que cercam as suas atividades não são as mesmas circunstâncias nas quais Graham foi capaz atuar de modo frutífero.

Os historiadores cristãos também falam sobre a providência divina de Deus como a principal causa de todas as coisas, mesmo que nunca possamos ver tudo o que Deus pode ver em sua condução do mundo.

Havia condições sociológicas ou culturais após a Segunda Guerra Mundial que preparou o país, em algum sentido, para a expansão do ministério de Billy Graham?

Marsden: Durante e logo após a Segunda Guerra Mundial, houve um aumento do interesse na religião na América em quase todos os níveis, desde avivalistas com ênfase em curas até intelectuais. Especialmente no final da década de 1940, mesmo alguns pensadores tradicionais falavam sobre a possibilidade de algum tipo de renovação cristã ser necessário para que a civilização ocidental se recuperasse de sua recente derrocada. A guerra e as consequências também geraram interesse popular na religião enquanto veteranos e outros se casavam, se mudavam para os subúrbios e criavam famílias. A Juventude para Cristo já tinha um ministério efetivo durante a guerra, e Billy era apenas um dos poucos evangelistas efetivos da época. Seu carisma pessoal e seu estilo de pregação intenso e eficaz apenas o levaram ao topo dentre estes. A combinação de um evangelho tradicional de salvação pessoal e declarações de que o futuro da civilização estava em risco (na era das ansiedades sobre a bomba e a Guerra Fria e também sobre a influência corruptora da prosperidade e da cultura de massa) o ajudaram a falar exatamente segundo o contexto daqueles tempos para muitas pessoas.

Por que as cruzadas do Madison Square Garden, de 1957, e a dolorosa ruptura de relacionamentos com fundamentalistas foram tão importantes no ministério de Billy Graham e o crescimento do neo-evangelicalismo?

Marsden: Até 1957, a maioria das pessoas ainda se referiria a Graham como “fundamentalista”, embora alguns de seus colaboradores, como Harold Ockenga, estivessem tentando construir um “novo evangelicalismo” menos estridente desde o início da década de 1940. Na década de 1950, muitos dos fundamentalistas mais estritos estavam se separando de denominações que toleravam os liberais em uma prova de sua comunhão. A vontade de Billy de cooperar com as igrejas locais de Nova York cujas denominações estavam associadas ao Conselho Nacional de Igrejas foi a última gota para ultra-fundamentalistas — como Bob Jones, John R. Rice e outros. A ruptura deles com Graham provavelmente ajudou a sua reputação e também ajudou a consolidar a ideia de que havia um movimento “evangélico” distinto do fundamentalismo. A fundação da revista Christianity Today nesta mesma época também ajudou. Tornou-se possível nas próximas décadas dizer que “um evangélico é alguém que gosta de Billy Graham”. Isso deu a impressão de que o movimento diversificado era mais unificado do que realmente era, mas construiu a identidade e a influência evangélicas.

Quais são os efeitos a longo prazo da influência de Graham no evangelicalismo?

Marsden: Não se pode medir as influências daqueles que foram convertidos por Graham ou inspirados por seu exemplo. Como eu disse, ele foi fundamental para construir uma sensação de uma identidade evangélica e de avançar essa identidade, no mínimo, um pouco mais para longe de todas as imagens negativas associadas ao fundamentalismo diante do público. Ele também fez muito para estabelecer a integridade do movimento, particularmente pela sua integridade pessoal. O seu respeito pelo intelecto também foi um fator significativo. Sua influência ajudou a apoiar os líderes e a construir instituições que se esforçaram para superar algum anti-intelectualismo de herança fundamentalista.

Quão importante Billy Graham foi para o evangelicalismo do século XX?

Noll: Na minha opinião, Billy Graham foi importante para mostrar a muitos, no mundo e na igreja, que uma forte mensagem evangélica poderia chegar ao mundo moderno, não precisava das tensões dos tradicionais “nãos” do fundamentalismo e poderia permanecer relativamente livre de preocupações políticas partidárias. Graham certamente foi importante como indivíduo, mas a sua influência foi multiplicada pela revista Decision, sua excelente equipe de especialistas em comunicação e música e pelas muitas instituições com as quais ele estava associado (Christianity Today, Wheaton College, seminários Gordon e Fuller, além de outros). Também é difícil medir a importância de uma celebridade pública amplamente conhecida — provavelmente não tão importante quanto a era de busca por celebridades pode assumir, mas importante para abrir portas e ganhar audiências para aqueles que se associam de alguma forma com a celebridade. Na minha opinião, Graham usava seu status de celebridade com o tipo certo de humildade e discrição (com apenas algumas falhas) cristãs.

Billy Graham disse que se tivesse que fazer tudo de novo, ele passaria mais tempo lendo a Bíblia, mais tempo com outros crentes em comunidade e mais tempo com a sua família. Sei que os historiadores muitas vezes estão relutantes falar em termos de “e se?”, mas ainda assim perguntarei: como você acha que a história poderia ter sido diferente se Billy tivesse passado mais tempo estudando, na igreja e com a sua família?

Noll: Certo, “e se” geralmente diz mais sobre hipóteses do que sobre eventos reais. A principal questão aqui é como Graham equilibrou as suas várias vocações. Quase todos os crentes sentem que poderiam agir melhor em sua vocação de pais; quase todos sentem que precisam ser melhores estudantes das Escrituras; e todos acham que deveriam trabalhar mais em prol do reino também. Penso que a maioria das atividades públicas de Graham tem sido positiva, embora seja errado concluir a partir de seu efeito positivo que outros deveriam aspirar “ser como Billy”, a menos que tivessem o mesmo chamado de Deus.

Você escreveu eloquentemente sobre a explosão do cristianismo na região sul do mundo. Graham atraiu de modo notável multidões ao redor do mundo, algumas em lugares bem fechados para o evangelho. Existe alguma conexão entre essas cruzadas e o crescimento do cristianismo global?

Noll: Minha percepção sobre a propagação do cristianismo no sul global é que as influências externas, seja de missionários ou de pregadores visitantes como Graham, geralmente desempenharam um papel crucial, ainda que relativamente pequeno. A história maior é o que ocorre com aqueles que, por assim dizer, cuidam da faísca que os estrangeiros podem trazer. Portanto, sim, há uma conexão entre as reuniões de Graham e o crescimento do cristianismo no mundo não-ocidental, mas provavelmente não em algum sentido direto e simples e, o mais importante, lembrando que o desenvolvimento dos cristãos locais são principalmente o resultado de ações cristãs executadas pelas populações locais.

Por: Justin Taylor. © The Gospel Coalition. Website: thegospelcoalition.org. Traduzido com permissão. Fonte: An Interview with Mark Noll and George Marsden on Billy Graham.

Original: Uma entrevista com Mark Noll e George Marsden sobre Billy Graham. © Voltemos Ao Evangelho. Website:  voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: William Teixeira.