Um blog do Ministério Fiel
O Nome de Deus – Uma Animação
Agora, nós do Voltemos ao Evangelho estamos em parceria com o Full of Eyes, um projeto que existe pra proclamar em forma visual a glória de Deus em Cristo como ensinado nas Escrituras. Através do blog Voltemos ao Evangelho, você poderá encontrar os recursos do Full of Eyes, como imagens, artigo e vídeos, que serão disponibilizados em português por nós.
Mais um recurso à serviço da igreja de fala portuguesa!
Mostra-me a tua glória
Em Êxodo 33.18, Moisés pede para ver a glória de Deus e ele responde dizendo que revelará a Moisés o seu nome. Nas escrituras, um nome é muito mais do que um modo de se referir a alguém. Antes, um nome tem a intenção de expressar algo essencial sobre o seu detentor, como um resumo da identidade de alguém. Assim, quando Deus proclama o seu nome no capítulo seguinte (34.6-7), ele está de fato revelando o seu caráter a Moisés (e a nós), ele está apresentando a sua identidade, ele está mostrando ao seu povo quem ele é. É impressionante que esta seja a resposta de Deus ao pedido para ver a sua glória. O que é a glória de Deus? Segundo Êxodo 33-34 é a proclamação do nome de Deus, a revelação de sua identidade, sua beleza interior comunicada exteriormente, é Deus feito conhecido.
Mas enquanto ele proclamava a sua identidade a Moisés, o próprio YHWH passaria, e o esplendor de sua presença teria destruído Moisés (Ex.20). Assim, para que Moisés pudesse se regozijar em vez de ser destruído pela glória de Deus, YHWH coloca Moisés na “fenda da penha” e cobre o profeta com a mão (v. 22). Bem, isso é significativo por pelo menos quatro razões.
Quatro coisas a serem observadas
Em primeiro lugar, Deus é frequentemente referido nas escrituras como a rocha e refúgio do seu povo (Dt. 32.4,15,18; Sl. 18.2, 57.1, 61.2-3, etc.). Nenhuma palavra ou situação na Bíblia é sem propósito, e por isso não devemos pensar que é uma coincidência que Moisés se refugie em uma rocha. Não creio que possamos ler este relato à luz de toda a escritura, sem lembrarmos que o próprio Deus é tão frequentemente a rocha do nosso refúgio.
Em segundo lugar, deve ser observado que uma “fenda” em uma rocha é algo como uma fissura, rachadura ou greta. Moisés é escondido em uma rocha que foi quebrada; trata-se de uma rocha ferida. E mais que isso, ele é escondido na fenda da rocha. Aqui vemos Moisés se refugiando da presença destruidora de Deus na ferida de uma rocha… ecos do Calvário devem começar a preencher as nossas mentes.
Em terceiro lugar, há pelo menos alguma razão para crer que a rocha em que Moisés está escondido é, na verdade, a rocha que foi ferida e da qual fluiu água em Êxodo 17. Antes de prosseguir, preciso ressaltar que devo ao meu colega seminarista John Supica a maioria das ideias a seguir.
Em Êxodo 17.6 lemos que a rocha que Moisés feriu estava “em Horebe”, e muitos creem que Horebe é outro nome para o Sinai. Sabemos que quando a rocha foi ferida, ela se abriu para que água jorrasse como um rio (Sl. 105.41, Is. 48.21), o que significa que deve ter havido pelo menos algum tipo de fissura nela. Não poderia ser esta mesma fenda — a mesma “ferida” — em que Moisés é colocado por Deus para que não pereça? Se este for o caso, então temos a garantia de ver figuras cristológicas neste evento por duas razões. Primeiramente, Paulo nos diz que a rocha ferida no deserto era um tipo de Cristo (1 Cor.10.4). E, em segundo lugar, a história da ferida da rocha em Êxodo 17 é apresentada de forma muito intencional como um ato de entrega substitutiva do próprio YHWH (a explicação completa desse evento, no entanto, é tema para outro artigo — talvez pelo próprio John Supica). Sem dúvida, Êxodo 17 prenuncia a obra de Cristo na cruz; e, como eu já disse, há evidências para crer que a rocha de Êxodo 17 é a mesma em cuja ferida Moisés se refugia em Êxodo 33.
Em quarto lugar, observe que YHWH cobre Moisés com a sua mão. É claro que esta é uma linguagem antropomórfica já que antes da encarnação do Filho na história humana, Deus não tinha corpo. Contudo, o uso de figuras referentes a “mão” não é insignificante. Muitas vezes, a “mão” de Deus é sinônimo de sua força salvadora e preservadora em relação ao seu povo (Ex.15.6; Sl.17.7, 60.5, 63.8; Is.41.10). Esta figura atinge o seu clímax na cruz, onde a mão de YHWH encarnado, Deus o Filho, é estendida e erguida no supremo ato de redenção. Não acho que podemos ler um texto sobre a mão de Deus operando para salvar aqueles que lhe pertencem (ou, neste caso, cobri-los da destruição) sem ver — como Tomé — as mãos de nosso Senhor e nosso Deus — feridas para salvar o seu povo.
Deus coloca Moisés na ferida de uma rocha doadora de vida e cobre-o com a sua mão, para que o profeta desfrute da glória de Deus e não seja destruído por ela. A preparação de Deus para declarar a sua glória a Moisés é rica em figuras cristológicas. E devemos ter isso em mente quando nos voltamos para o capítulo 34 e vemos YHWH fazer a proclamação definitiva do Antigo Testamento a respeito de sua identidade — seu nome — a Moisés.
O nome declarado no Sinai
“YHWH, YHWH, Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado…”. (Ex. 34.6-7)
O nome de Deus proclamado em Êxodo 34.6-7 é paradigmático de como o povo de Deus o percebe em todo o restante das escrituras. Embora muito — na verdade, infinito — pudesse ser dito sobre isso, neste artigo eu simplesmente desejo observar a descrição da característica central: “… grande em misericórdia e fidelidade”.
À medida que a história da redenção revelatória de Deus continua, essas duas palavras parecem formar uma espécie de referência “abreviada” que remente à revelação da identidade de Deus no Sinai. Elas frequentemente aparecem em contextos onde o pacto da graça de Deus é estabelecido ou revelado, e tendem a ser expressivas do amor misericordioso, inexorável e perdoador de Deus por seu povo da aliança (Sl. 40.11, 57.1-3, 69.13-14; 85.4-10, 89.23-26 – palavra variante usada para fidelidade -, 108.3-5, 115.1; Os. 4.1). Ninguém que confia totalmente no nome de Deus, como revelado no Sinai, será envergonhado…
No entanto, há uma tensão presente quando um pecador apela para a clemência de um Deus cujo nome é “grande em misericórdia e fidelidade”. Embora ele seja cheio de amor infalível e perdoador, a sua fidelidade à sua aliança parece exigir a destruição daqueles que se opõem a ele. Essa tensão na essência do nome de YHWH permanecerá sem solução até chegarmos ao Novo Testamento. Por agora, é suficiente reconhecermos que a expressão “misericórdia e fidelidade” a) pode ser usada como uma abreviação para todo o nome de Deus revelado no Sinai e b) aponta especialmente para o amor soberano, perdoador e redentor do Senhor.
O verbo se fez carne
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. (Jo 1.14)
O verbo — a auto-revelação eternamente existente de Deus — se fez carne e foi vista por testemunhas oculares na terra. E João diz que a glória que viu na encarnação do Filho era cheia “de graça e verdade”.
Isso é impressionante porque as duas palavras para “graça e verdade” são amplamente reconhecidas como os equivalentes gregos às palavras hebraicas “misericórdia e fidelidade”. Ao aplicar uma das descrições de identidade de YHWH favoritas da Bíblia hebraica ao homem Jesus Cristo, João está fazendo uma declaração teológica ousada e revolucionária. Ele essencialmente está afirmando que a glória de YHWH revelada no Sinai agora foi encarnada na pessoa de Jesus Cristo. João nos diz que esse homem é a resposta final à súplica de Moisés para ver a glória de Deus. Jesus não apenas ensina de modo correto sobre o nome de Deus, ele é o nome de Deus encarnado.
João 1.1-18 é a maior introdução a um livro já escrito. Nessa introdução, João faz a surpreendente afirmação de que Deus, o Filho, que é o eterno e não criado Verbo de Deus, entrou na história humana como Jesus de Nazaré. E que esse homem — em sua vida e ministério humanos — revelou o nome, a identidade e a glória de Deus YHWH. João nos diz que “Ninguém jamais viu a Deus” (uma alusão intencional a Êxodo 33 e a Moisés ser escondido na rocha), mas o homem de carne e sangue, Jesus Cristo, que é Ele mesmo Deus, ele tornou o Deus todo-poderoso conhecido a nós.
Absolutamente surpreendente. João nos enche de antecipação quando começamos a ler o seu evangelho: “Como Jesus nos mostrará YHWH?”, “Como a sua glória se manifestará?”, “O que YHWH fará para mostrar de modo culminante a sua “misericórdia e fidelidade”, a sua “graça e verdade”? Por causa da ênfase do prólogo no papel de Jesus como exegeta de Deus, tudo o que ele diz e faz no evangelho de João é carregado de peso revelatório. Não se trata apenas da vida de um profeta, esta é a vida de Deus conosco, e ver algo verdadeiro sobre Jesus é ver algo verdadeiro sobre Deus.
O nome declarado no Calvário
Então, que maravilha, que mistério, que esplendor e glória é percebermos que esta vida — a vida de Deus feita conhecida — culmina com a morte. Mais do que qualquer outro autor evangélico, João enfatiza que a crucificação de Jesus foi em si o ato supremo da redenção auto-reveladora de Deus e, portanto, a comunicação suprema da glória de Deus — a glória falada no Sinai (como um comentário adicional, eu não creio que seja coincidência que João fale tanto do amor e da glória da cruz de Cristo e também foi — até onde sabemos — o único escritor evangélico fisicamente presente na crucificação).
Quando Jesus está à beira do Calvário, ele volta o seu coração para o Pai e diz: “… Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome” (Jo. 12.27-28). O propósito da cruz é o Pai glorificado (e lembre-se do que dissemos acima, a glória de Deus é Ele mesmo feito conhecido). Ou novamente, depois que Judas possuído por satanás sai para trair Cristo, Jesus proclama: “Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele; se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará nele mesmo; e glorificá-lo-á imediatamente”. E então, quando ele está a apenas alguns minutos da prisão e a algumas horas da cruz, o Filho ergue a sua voz e roga ao Pai: “e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo. 17.5).
Glória, glória, glória… no evangelho de João a cruz está repleta de glória. Por quê? Porque a “glória” de Deus é a revelação de sua identidade, sua beleza interior, seu Nome e — como João 1.14-18 deixou claro — é isso que Jesus veio fazer. Toda a vida de Jesus foi uma revelação do nome de Deus, mas essa obra de comunicação do nome culmina em sua morte voluntariamente escolhida na cruz.
Quando vista sob a luz radiante da ressurreição, a cruz de Cristo se torna o ato definitivo da redenção revelatória de Deus. É na cruz, na natureza humana frágil e sangrenta que Jesus soberanamente uniu a si mesmo, que Deus YHWH se proclama de modo definitivo à sua criação. É oferecendo a sua humanidade para ser amaldiçoada pelas assolações da lei divina, em lugar de seu povo, que YHWH se mostra fiel tanto para punir como para salvar. É por tecer a mortalidade na tapeçaria de sua própria vida infinita, para que ele possa dar essa vida totalmente na morte do seu amado que nosso Senhor e Deus revela toda a extensão da sua misericórdia. É casando a vida de Deus com 5 litros de sangue humano derramado sob açoites romanos em terra judaica que YHWH se mostra verdadeiramente como aquele que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado. E é se tornando a pedra de moinho da culpa do pecado de seu povo e se afogando sob os golpes da ira torrencial de Deus, que o todo-poderoso Senhor do Sinai se proclama como aquele que não inocenta o culpado. O nome sussurrado em palavras no Sinai é proclamado em alta voz em carne, osso, lágrimas e amor encarnado no Gólgota. Ah, incompreensível Senhor, a ti seja a glória!
A imagem explicada
O nome de Deus é comunicado de modo culminante e com definitiva clareza na pessoa de Jesus Cristo e, mais especialmente, naquele ato supremo de redenção revelatória: a crucificação e a ressurreição. Isso é o que eu estava tentando comunicar tanto nesta imagem quanto na animação da qual ela foi extraída, O Nome de Deus. A princípio, a imagem acima é uma representação da cena de Êxodo 34.6-7, onde YHWH passa por diante de Moisés e proclama o seu nome. As letras são o “tetragrama” das consoantes hebraicas que formam o nome do Deus único e verdadeiro. Como já falamos acima, este evento e este nome fazem muito mais do que nos lembrar do que Deus é chamado; antes, este é um momento em que Deus revela quem ele é.
Por causa disso, você observará que eu chamei a atenção para a pessoa e a obra de Cristo, em quem o nome aqui proclamado encontrará a sua expressão culminante. A fenda na qual Moisés está escondido é vermelho-carmesim e se alinha com a mão coberta de YHWH, de modo a evocar a imagem da mão ferida de Cristo. Isto é apropriado já que as feridas de Cristo representam o ato redentivo final da misericórdia e fidelidade de YHWH em favor do seu povo, e porque é — metaforicamente — “nas” feridas de Cristo que eles se refugiam da tempestade da ira de Deus. Assim como Moisés foi coberto por YHWH na fenda da rocha, também todo o povo de Deus que confia em Cristo é coberto pela mão do Deus encarnado. Estamos cobertos para que nos regozijemos em vez de sermos destruídos pela glória de nosso Deus — glória que vemos com maior clareza neste mesmo ato de redenção pelo qual fomos cobertos: a morte e a ressurreição de Deus, o Filho.
Desse modo, oro para que tanto esta imagem quanto a animação O Nome de Deus ajudem você a contemplar com admiração e olhos cheios de alegria que Deus é definitivamente feito conhecido na pessoa e obra revelatória e redentora de seu Filho. Seria blasfêmia afirmá-lo se o próprio Deus não nos tivesse ensinado a dizê-lo… e esta é a verdade mais doce que a mente humana pode conceber… se desejamos conhecer a Deus: olhemos para o Jesus crucificado e ressurreto.