Dois “Adões”

“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Romanos 5.18,19

Qual é o “Um só ato de justiça”?

Qual é o “um só ato de justiça” de Cristo nesse texto? Seja o que for, é um ato de “obediência” paralelo e desfaz a injustiça e desobediência de Adão.

Uma resposta natural seria sua morte na cruz, especialmente porque esta é a ênfase de Romanos 5.6-11. No entanto, se tudo o que era necessário para resgatar um povo da velha humanidade em Adão para a nova humanidade em Cristo era o sacrifício de si mesmo na cruz, por que Jesus viveu uma vida humana plena? Por que ele amou, serviu, ministrou e ensinou por trinta e três anos? Será que todos os outros atos de justiça de Jesus em sua vida não “contam”? Foi apenas o da cruz?

De certo modo, acho que a resposta para essa pergunta é: “Sim”. Sim, Jesus veio e ofereceu a si mesmo na cruz e por essa morte – que é obediência por amor – ele anula o pecado do primeiro Adão e se torna o definitivo e verdadeiro Adão de nossa raça. No entanto, isso não desconsidera o restante de sua vida terrena. Não acho que seja correto dividir a vida de Jesus em vários atos de obediência (isto é, alimentar os cinco mil, ensinar seus discípulos, amar os pobres, morrer na cruz); antes, toda a existência encarnada do Filho de Deus (e, de fato, sua existência eterna) é um ato único e contínuo de obediência gerada do amor ao Pai.

Obediência Eterna e Incessante

Nós vemos isso em Filipenses 2.6-9. Desde sua eterna igualdade com Deus, sua encarnação como servo, sua morte na cruz – a vida inteira de Cristo é um ato de obediência ao Pai (ou, novamente, com clareza ainda maior, em João 5.19-20). Sob essa luz, a cruz não é um exemplo único de obediência, mas é o ato culminante da vida de Jesus, na qual o caráter total de sua vida é perfeitamente exibido; é a melodia na qual cada momento de sua vida tem sido uma nota; é o nome no qual todo ato de sua vida tem sido uma sílaba; é ele mesmo – como ele eternamente esteve em glória com o Pai (João 17.5), como ele foi em cada momento de sua encarnação – é ele mesmo proclamado na íntegra. E, portanto, é seu Pai proclamado nele (João 8.28; 14.6; 17:1, 26).

O Filho ama eternamente, infinitamente e perfeitamente o Pai. Portanto, o Filho eternamente, infinitamente e perfeitamente obedece ao Pai (e – parece-me – é por essa eterna, infinita e perfeita obediência nascida do amor ao Pai que o Filho é a imagem eterna, infinita e perfeita do Pai, em quem nós vemos o Pai, João 5.19, 12.45, 14.6 …, mas isso fica para outra hora). Quando Paulo fala da obediência de Cristo pela qual muitos são feitos justos, sim, ele está falando sobre a cruz. Mas a cruz não pode ser separada da existência inteira do Filho (e, de fato, ainda antes de encarnado) … em vez disso, o Calvário é a manifestação histórica suprema, culminante e definitiva da obediência eterna do Filho.

Contada para sua noiva

E por essa obediência, muitos são feitos justos. Se confiamos em Jesus Cristo como Senhor, Deus e Salvador, então ele é a nossa cabeça, ele é o nosso verdadeiro Adão, ele é o noivo em quem estamos escondidos, por cuja justiça somos considerados justos. Assim como o nome e classe de um homem são contados para sua esposa quando eles são casados, assim também a justiça de Cristo – o ato eterno de perfeita obediência de Cristo – é contada para sua noiva, a Igreja (individualmente e corporativamente) quando ela está unida a ele pela fé. Ele somente é o nosso firme fundamento de esperança enquanto caminhamos nesta vida e nos dirigimos para a próxima.

Por: Chris Powers. © Full of Eyes. Website: fullofeyes.com. Traduzido com permissão. Fonte: Two Adams.

Original: Dois “Adões”. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.