Um blog do Ministério Fiel
Evangelização de religiosos – Aprenda a evangelizar com Paulo (3/13)
Damos continuidade a série de postagem “Aprenda a evangelizar com o apóstolo Paulo”. Ela foi adaptada do eBook “Transtornando o Mundo” de John Crotts, disponível para download gratuito. Nas postagens anteriores, Crotts explicou duas estratégias de Paulo para alcançar religiosos, e agora apresenta mais duas.
3. Identifique os Convertidos
Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres. (Atos 17:4)
Alguns dos judeus fiéis que vinham aprendendo a Torá, programando-se para a páscoa, circuncidando seus filhos e passando seus sábados na sinagoga, agora acreditavam que Jesus era seu tão esperado Messias. De uma perspectiva humana, caso Paulo e seus amigos tivessem deixado Tessalônica de lado, aqueles judeus étnicos teriam permanecido judeus religiosos. Ao invés de deleitarem-se à luz do evangelho, eles teriam permanecido nas sombras.
Estes judeus foram persuadidos. Em outras palavras, eles foram convencidos da verdade do cristianismo. Sua convicção pessoal foi seguida por uma confissão pública e uma admissão na igreja.7 O fato de que eles se uniram a Paulo e Silas provavelmente indica que eles formaram um grupo (ou seja., uma nova igreja) que se encontrava separadamente da sinagoga, provavelmente na casa de Jasom.8
Além dos judeus que se uniram a Paulo, uma numerosa multidão de devotos gregos, homens e mulheres, também se converteram. A diferença numérica chama a atenção – alguns judeus contra numerosa multidão de gregos. Estes gentios podem ter sido completamente convertidos ao judaísmo, ou apenas aqueles que se encontravam regularmente nas reuniões da sinagoga. As mulheres que vieram a Cristo eram, aparentemente, líderes e de alta posição social. O mais provável é que elas fossem casadas com cidadãos de destaque da capital. Estes gentios estavam ouvindo cuidadosamente as Escrituras do Antigo Testamento, que eram lidas e ensinadas na sinagoga. Eles estavam crescendo no conhecimento do único Deus verdadeiro, conquanto fosse um conhecimento limitado. Eles precisavam experimentar a luz brilhante por trás das sombras. Quando Paulo trouxe o evangelho à cidade, estes poucos judeus e uma grande multidão de homens e mulheres gentios foram iluminados. A verdade encheu suas mentes com um esplendor capaz de transformar suas vidas.
Nenhum número específico de convertidos foi dado, mas a descrição revela alguma coisa do impacto poderoso que o simples evangelho discutido e proclamado teve na capital da Macedônia. Como muitos já observaram, é necessário plantar para poder colher. Estes convertidos a Cristo eram facilmente identificados, em contraste com a crescente animosidade que se formava contra Paulo e sua mensagem.
4. Enfrente Oposição
Os judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem, ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para o meio do povo. Porém, não os encontrando, arrastaram Jasom e alguns irmãos perante as autoridades, clamando: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui, os quais Jasom hospedou. Todos estes procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei. Tanto a multidão como as autoridades ficaram agitadas ao ouvirem estas palavras; contudo, soltaram Jasom e os mais, após terem recebido deles a fiança estipulada. (Atos 17:5-9)
O povo tessalonicense entrou em conflito, uns com os outros, por causa da pregação de Paulo; uma divisão furiosa surgiu. Embora possa parecer que é sempre ruim quando grupos se opõem ao evangelho, essa oposição pode criar alguns resultados positivos. Em primeiro lugar, se torna mais fácil identificar os verdadeiros cristãos, quando as linhas entre seguir a Cristo e permanecer no judaísmo, ou no paganismo, são traçadas de forma tão audaciosa. Em segundo lugar, o evangelho se torna mais lúcido àqueles que estão olhando de fora.
A região sudeste dos Estados Unidos, onde eu vivo, é comumente conhecida como o Cinturão da Bíblia. Uma significante maioria de pessoas que vivem nessa região assume serem cristãs. Naturalmente, os verdadeiros crentes não se destacam tanto naquela parte do país, e nem o evangelho parece tão radical como na verdade é. Identificar verdadeiros cristãos e o que significa tornar-se um deles é menos ambíguo em um contexto de oposição. Além disso, outro resultado da perseguição é um número crescente de oportunidades para o evangelho. Conforme a perseguição cresceu em Tessalônica, essas vantagens apareceram.
A motivação dos oponentes é revelada na expressão: “Os judeus, porém, movidos de inveja”. Você não é capaz de ouvi-los reclamando? “Todos os gentios que nós juntamos na sinagoga estão indo atrás deste rabi renegado, Paulo!”
A fim de fazer sua oposição funcionar, os judeus precisaram recrutar alguns ajudantes. Eles, “trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem” ou, como a tradução na língua inglesa Versão James King coloca de forma tão vívida, “certos homens lascivos do tipo mais vil” (tradução livre). O erudito em grego A. T. Robertson, de forma sucinta, os chamou de “vagabundos”.9 Basicamente, os líderes judeus encontraram os vilões da cidade para iniciar uma revolta, esperando com isso prender os missionários.
Aparentemente, Paulo era hospedado por um homem chamado Jasom, visto que sua casa foi o alvo da violência da turba. Parece razoável acreditar que Jasom tinha vindo à fé em Cristo. Se Paulo seguiu seu padrão de buscar hospitalidade entre os fabricantes de tenda, como ele faz mais tarde com Áquila e Priscila, em Corinto (Atos 18:1-3), Jasom pode ter sido um fabricante de tendas também. Jasom era um nome grego comum que judeus tomavam para si, quando se juntavam à Dispersão para viver em terras de gentios, caso se chamassem Josué ou Jesus.10
Lucas nos conta que a turba queria forçar os cristãos para fora, para enfrentarem a multidão. Visto que não conseguiram encontrar Paulo, com frustração eles se contentaram em arrastar Jasom aos oficiais da cidade. Você pode sentir a intensidade dos gritos de acusação reverberando por entre as ruas estreitas, no caminho até o fórum. A reputação cristã deles os precedia.
“Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui”. O ponto desta acusação, como notou John Stott, é que os cristãos e sua mensagem haviam causado uma perturbação social.11 Eles eram agitadores, atiçando uma agitação.12 A palavra traduzida como “mundo” é usada para indicar o mundo habitado que, da perspectiva dos que falavam, era todo o Império Romano. Este sentido da palavra dá significado à ordem de César para que “todo o mundo” fosse recenseado (Lucas 2:1), e à predição do profeta Ágabo, de uma grande fome que sobreviria a “todo o mundo” (Atos 11:28-29). De maneira indireta, as bárbaras acusações dos judeus testificavam o maravilhoso impacto do evangelho. Após somente umas poucas décadas, desde que Jesus se revelara ressurreto dentre os mortos para um punhado de discípulos incrédulos, o Império Romano havia sido abalado pela realidade da proclamação da ressurreição de Jesus.
O hospitaleiro Jasom é, então, culpado por ter abrigado esses agitadores, que foram acusados de pregar um rei rival acima de César. Era uma alegação muito séria. O notável erudito do Novo Testamento, F. F. Bruce disse: “Esta foi uma acusação astuta; mesmo uma acusação infundada deste tipo era suficiente para arruinar qualquer um contra quem ela fosse trazida. No caso de Paulo, havia cheiro de verdade suficiente na alegação deles para torná-la uma acusação mortal”.13
O que você acha que Paulo andava dizendo nas sinagogas para atrair este tipo de acusação? Ele certamente falou do reino de Deus e do senhorio de Cristo. Talvez, ele tenha dito que Jesus “foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos” (Romanos 1.4); ou, “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).
Paulo não pregou o evangelho como quem vende um seguro contra o fogo do inferno, por meio do qual os pecadores são chamados a mentalmente acreditar em alguns fatos a respeito de Jesus, meramente adicionando-o ao seu estilo de vida pecaminoso. O evangelho de Paulo incluía uma transferência de reino, do reino de Satanás para o reino de Cristo (Colossenses 1.13). De forma intencional ou não, os judeus perverteram o discurso do reino de Paulo, que originalmente significava uma mudança espiritual, e fizeram com que parecesse que os crentes estavam preparando um reino físico para rivalizar com o poder romano. É fácil perceber como uma discussão séria, a respeito de Jesus como Rei e Senhor, poderia levar a esta acusação.
Os oficiais da cidade levaram as acusações em consideração, mas agiram discretamente. Tomar o dinheiro de Jasom foi, provavelmente, mais do que simplesmente uma libertação sob fiança. Jasom pode ter sido forçado a depositar uma soma de dinheiro que seria perdida, se houvesse qualquer prosseguimento à perturbação civil daquele dia. Ele se tornou responsável por manter a paz. Foi isto que levou Paulo e Silas a serem enviados para fora da cidade, e provavelmente a cuidar também para que eles não retornassem tão cedo para lá. Paulo pode ter feito uma alusão a essas circunstâncias em sua carta posterior aos crentes tessalonicenses, na qual ele disse: “quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho” (1 Tessalonicenses 2.18).14
A saída de Paulo nos fornece a última parte de sua estratégia.
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- J.A. Alexander, Acts of the Apostles [Atos dos Apóstolos] (Edimburgo, Escócia: Banner of Truth Trust, reimpresso em 1991, publicado originalmente em 1857), 136.
- Marshall, 278.
- A.T. Robertson, Word Pictures in the New Testament, Volume III, The Acts of the Apostles [Quadros Verbais do Novo Testamento, Volume III, Os Atos dos Apóstolos] (Grand Rapids, MI: Baker Book House, reimpresso em 1930), 270.
- John B. Polhill, The New American Commentary: Acts [O Novo Comentário Americano: Atos] (Nashville, TN: Broadman Press, 1992), 361.
- Stott, A Mensagem de Atos.
- F.F. Bruce, The New International Commentary on the New Testament: The Book of Acts [O Novo Comentário Internacional no Novo Testamento: O Livro de Atos] (Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Co., 1988), 321.
- Bruce, 325.
- Polhill, 362.