Evangelismo na cidade – Aprenda a evangelizar com Paulo (7/13)

Damos continuidade a série de postagem “Aprenda a evangelizar com o apóstolo Paulo”. Ela foi adaptada do eBook “Transtornando o Mundo” de John Crotts, disponível para download gratuito. Nesta postagem, Crotts mostra a reação de Paulo ao se deparar com Atenas, a cidade infestada de ídolos e intelectuais.

Há uma expressão, em Atos 17:17, que responde o porquê de você e eu não nos engajarmos mais frequentemente com não cristãos. A expressão é “por isso”.

Por isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali” (ênfase adicionada). Paulo foi energicamente trabalhar contestando gregos e judeus com o evangelho de Cristo nas sinagogas. O restante do dia, Paulo investia na praça, desafiando atenienses com as implicações de alguém que foi ressuscitado dentre os mortos.

Para aqueles que frequentaram a Escola Dominical, que aprenderam as histórias sobre Paulo, o seu ministério em Atenas pode não parecer tão memorável assim. Lembre-se, contudo, que Paulo era um homem de carne e osso. No espaço de alguns meses, ele havia sido impiedosamente espancado e aprisionado em Filipos, precisou escapar de Tessalônica, devido às multidões revoltosas de incrédulos, e foi forçado a fugir de Bereia antes que a próxima revolta começasse. O que poderia motivar um homem tão sofrido a abrir sua boca em Atenas, para falar de Jesus?

A expressão “por isso”, no versículo 17, é como a palavra “portanto”, que se liga a um conceito dito anteriormente e baseia uma conclusão sobre ele. Antes do versículo 17, lemos: “Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade. “Ele abriu sua boca com a mensagem de Deus, por causa de seu santo zelo pela glória de Deus. Seu coração era como uma tempestade furiosa. A paixão crescia, conforme ele conhecia a cidade. Em seu discurso posterior, Paulo faz menção ao fato de que vinha “passando e observando os objetos” do seu culto (versículo 23).

Paulo assimilou o seu entorno. Conforme examinava os objetos que os atenienses adoravam, ele queimava por dentro. E porque ele queimava, ele falava. Uma coisa é declarar em oração as palavras “santificado seja o teu nome”, mas é outra completamente diferente queimar por dentro, quando o nome de Deus não está sendo honrado.

Nessas horas em que você não abre a boca por Cristo, quando a oportunidade se apresenta, será que a razão é mais vertical que horizontal? Em outras palavras, não seria mais do que simplesmente não saber como iniciar uma conversa, ou não querer ficar constrangido pela pessoa não gostar do que você tem a dizer? Será que não lhe falta zelo pela grandeza e louvor de Deus?

A reação de Paulo a Atenas

Paulo, neste momento, estava sozinho em Atenas. Logo Silas e Timóteo se juntariam ao seu líder, mas antes que eles pudessem estar lá, o cenário estava preparado para um confronto espiritual. Aqui estava, sem sombra de dúvidas, o maior representante do cristianismo, na cidade conhecida por abrigar as mentes intelectuais mais brilhantes do mundo pagão. Certamente, sairia faísca.

O relato do tempo que Paulo passou em Atenas é descrito em duas partes principais: (1) suas intensas interações na sinagoga, na praça e no Areópago (Atos 17:16-22), que examinaremos nesta postagem, e (2) sua mensagem mais importante nesta “Meca da filosofia” (Atos 17:22-34), que trataremos na postagem seguinte.

Infestação de Ídolos!

Atenas ficava na província romana de Acaia, que se encontra na porção sul da Grécia moderna. Havia experimentado sua Era de Ouro entre os séculos IV e V antes de Cristo. Os filósofos Sócrates e Platão eram nativos, mas outros pensadores influentes, tais como Aristóteles, com alegria adotaram a cidade como seu local de moradia.22 Quando menino, Paulo certamente ouviu muitas coisas sobre a grande Atenas, famosa por mais de meio milênio.

No primeiro século, Atenas estava em declínio, mas ainda vivia de seu passado glorioso. A cidade ainda desfrutava da reputação de ser a capital intelectual e religiosa de Roma. Eruditos de todo o mundo antigo afluíam para lá, a fim de aprender em sua universidade. John Stott chama Atenas de uma cidade “esteticamente magnífica e culturalmente sofisticada, mas moralmente decadente e espiritualmente enganada, morta”.23

Paulo andava pela cidade como um turista, observando todas as atrações. Ao olhar para a Acrópole, ele podia ver o maravilhoso Partenon. A gigantesca estátua de ouro e marfim de Atenas segurava uma lança reluzente, que podia ser vista a mais de 60 km de distância! Paulo não era um bárbaro sem cultura. Nós podemos chamá-lo de um bacharel das universidades de Tarso e Jerusalém. Ele era um cidadão romano muito viajado. Provavelmente, ele se divertiu em alguma medida e ficou fascinado com toda aquela arte, arquitetura, história e sabedoria dançando em frente aos seus olhos.24 Infelizmente, aquela arte impressionante tinha profundo significado religioso. Qualquer diversão que Paulo experimentou foi rapidamente destruída por seu conhecimento dos males de tal idolatria.

Os relatos dizem que a cidade era cheia de ídolos. Na verdade, era infestada de ídolos. Um comentarista estimou que Atenas tivesse em torno de 10.000 habitantes e 30.000 ídolos!25 Era três vezes mais fácil encontrar um ídolo em Atenas que um ser humano. Xenofonte se referiu a Atenas como um “grande altar, um grande sacrifício”.26 Estátuas de ídolos de todos os tipos e de todos os tamanhos se alinhavam em praticamente todas as ruas. Templos pagãos com seus deuses estavam em toda parte. Paulo vai além, e descreve os atenienses como “acentuadamente religiosos” (Atos 17:22).

Os atenienses não estavam sofrendo de uma falta de religião sincera, mas estavam adorando o deus errado. Devoção sincera a falsos deuses leva ao inferno.

Agitado

O que estava acontecendo no coração de Paulo, conforme seus olhos eram tomados de assalto por essa feira de idolatria? A descrição inspirada diz que “o seu espírito se revoltava”. Lucas usou um termo de seu contexto médico, com a conotação de uma convulsão ou um ataque epilético. A expressão finalmente veio a significar “provocado”, “irado” ou “furioso”. Paulo não estava irado pecaminosamente, mas seu espírito irrompeu com zelo pela glória de Deus. O tempo verbal indica uma ação contínua no passado, de forma que não se tratava de uma reação explosiva e violenta, mas antes uma crescente disposição de espírito.27

Henry Martyn, missionário entre os muçulmanos da Pérsia, disse: “Eu não poderia suportar minha existência, se Jesus não fosse glorificado; seria o inferno para mim, se ele fosse sempre… desonrado”.28

Você parou para observar sua cidade recentemente? Sem dúvida, há muito para revoltá-lo. A glória de Deus é desprezada ao nosso redor, a cada dia. Você se importa? Ou seu coração já se acostumou com essas afrontas? Você não tomará qualquer atitude, até que seu coração comece a queimar.

Abra sua Boca

É no contexto dessa descrição da revolta de Paulo que Lucas, o autor deste relato, inseriu a expressão “por isso”. Ele não tirou férias do ministério, enquanto estava em Atenas. O coração de Paulo se inflamava. Ele tinha que falar. A experiência de Paulo faz um paralelo com o profeta Jeremias, que certa vez disse: “Quando pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu nome, então, isso me foi no coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais” (Jeremias 20.9).

Paulo não perdia tempo com murmurações inúteis, ou ficava preocupado sem ação. Em seus lábios não se formavam resmungos imprecatórios contra os pagãos atenienses. Recuar do evangelho, em nome da separação, também não estava na agenda do apóstolo. Ao invés disso, ele falava.

Primeiro, Paulo empregou sua estratégia tradicional de discutir sobre o evangelho com os que estavam nas sinagogas, como ele havia feito antes, em Tessalônica (v. 3) e em Bereia (vv. 10 e 11). Ele também abriu sua boca na praça. A Ágora era mais que apenas o mercado de pulgas local, com uma imensidão de lojas enfileiradas. Ela também tinha uma segunda função como o centro da vida pública. Os templos, fóruns e a sede do governo ficavam todos ao redor dos alpendres com colunata, que formavam o coração da cidade.29

Paulo não começou um “louvorzão”, nem fez uma encenação teatral para juntar uma multidão. Ele simplesmente foi até o lugar onde as pessoas se encontravam. E ele fez isso “todos os dias, entre os que se encontravam ali” (Atos 17:17). Nossas praças podem ser praças literalmente. Mas você também pode ir a um parque, ao mercado, cafeterias, avenidas, shoppings, universidades, lanchonetes ou clubes. Vá onde quer que as pessoas se encontrem para conversar. John Stott disse bem: “Há uma necessidade por evangelistas talentosos, que possam fazer amigos e conversar sobre o evangelho em situações tão informais quanto estas”.30 Você consegue puxar assunto com a pessoa mais próxima de você em uma cafeteria? Você consegue falar naturalmente alguma coisa sobre Jesus? Tente uma vez. A fidelidade de Paulo em pequena escala, em seu ministério na praça, eventualmente o levaria a um lugar muito maior para proclamar a Cristo.

  1. Bruce, 329.
  2. Stott, A Mensagem de Atos.
  3. ibid.
  4. ibid.
  5. ibid.
  6. ibid.
  7. Citado por John Stott, de Constance E. Padwick, Henry Martyn, Confessor of the Faith [Confissor da Fé] (IVF, 1953), 146.
  8. ibid.
  9. ibid.

Por: John Crotts. © Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Traduzido com permissão. Fonte: Trecho do eBook “Transtornando o mundo – aprendendo a evangelizar com o apóstolo Paulo”.

Original: Evangelismo na cidade – Aprenda a evangelizar com Paulo (7/13). © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.