Um blog do Ministério Fiel
Evangelização de céticos – Aprenda a evangelizar com Paulo (8/13)
Damos continuidade a série de postagem “Aprenda a evangelizar com o apóstolo Paulo”. Ela foi adaptada do eBook “Transtornando o Mundo” de John Crotts, disponível para download gratuito. Nesta postagem, Crotts fala sobre os dois sistemas filosóficos que Paulo se deparou em Atenas e aplica o modelo de Paulo aos nossos dias.
Subindo o Areópago
Sem dúvida, Paulo teve muitas conversas fascinantes com os atenienses e estrangeiros naqueles dias. Ao invés de listar cada uma delas, o historiador Lucas selecionou o evento mais significativo para o evangelho, em seu registro – o discurso de Paulo no Areópago. Começando no versículo 18, Lucas leva seus leitores ao longo daquele maravilhoso relato.
Já vimos Paulo lutando com os líderes rabis em três sinagogas diferentes. Mas, Paulo também não tem medo de se engajar com os transeuntes, ou até mesmo os filósofos pagãos. Em Atenas, Paulo encontrou dois sistemas filosóficos pagãos, que buscavam responder às grandes questões da vida:
E alguns dos filósofos epicureus e estoicos contendiam com ele, havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a ressurreição. (Atos 17:18)
Os epicureus formavam um grupo fundado por Epicuro (341 – 270 a.C.). Eles enfatizavam a importância do prazer e da tranquilidade, e buscavam desfrutar a vida apartados da dor, paixão e medo.31 Para os epicureus, ou não havia deus algum ou, caso eles existissem, estavam distantes demais para se importarem com os assuntos deste mundo.32 Eles ensinavam que o mundo era apenas o resultado do acaso. Não há vida após a morte e, consequentemente, nenhum julgamento.
Os estoicos foram fundados por Zeno (349 – 265 a.C.). O nome se originou da palavra stoa, que quer dizer colunata, que era o lugar onde Zeno ensinava. Zeno e seus discípulos enfatizavam a importância da razão como o princípio que estruturava o universo e a vida dos homens. Os estoicos enfatizavam o autodomínio na ética, e indiferença à dor ou ao prazer.33 Você é seu próprio rei, ou até mesmo deus! A versão de deus em que os estoicos acreditavam era panteísta: há uma chama divina em todas as pessoas e em todas as partes da natureza.
Lucas tinha razões importantes para mencionar essas duas escolas de pensamento. Em sua mensagem no Areópago, Paulo se pronunciará diretamente a respeito de suas crenças, como veremos. Embora cada uma dessas escolas tenha descoberto elementos da verdade, nenhuma delas foi longe o suficiente, a ponto de obter a verdade completa, levando-os à salvação.
O resultado imediato da obra de Paulo é registrado por Lucas. Eles pensaram que ele era um tagarela, ou simplesmente estava dizendo coisas estranhas. Aqueles que o chamaram de “tagarela” estavam, na verdade, chamando-o de cata-sementes. Literalmente, essa expressão era usada para designar um tipo de pássaro que ficava catando migalhas de comida nas sarjetas. Figurativamente, veio a ser usada para designar aqueles que juntavam migalhas de conhecimento.34 Eis um homem tentando fazer passar como profundo o que é, na prática, apenas migalha aleatória de filosofia das sarjetas! Ele deve estar fumando bituca de cigarro usado.35
Outros, simplesmente, pensaram que Paulo era esquisito. Sócrates foi acusado de rebaixar os deuses locais de Atenas e introduzir novos deuses; aparentemente, essa foi a avaliação que os atenienses fizeram de Paulo. É possível que o uso ateniense de múltiplas divindades significasse que eles compreenderam equivocadamente a palavra grega anastasis, ou ressurreição, como se fosse um segundo deus ao lado de Jesus. Da mesma forma, pode ser que eles estivessem desdenhosamente repudiando a própria ideia da ressurreição ensinada por Paulo. Após esta reação inicial, alguns atenienses levaram Paulo até o centro das atenções em Atenas, para checar tanto sua mensagem, quanto ele próprio com mais cuidado.
Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso. Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam, senão dizer ou ouvir as últimas novidades. (Atos 17:19-21)
O rótulo descritivo Areópago é uma combinação de dois termos. Ares era o deus grego da guerra. O nome latino para Ares era Marte. Pagus era a palavra grega para monte. Desta forma, o Areópago também é conhecido como Monte de Marte. Originalmente, este era um local de encontro dos eruditos e líderes de Atenas, em um monte a sudoeste da Acrópole, com vista para a Ágora, ou a praça. Mas o monte emprestou seu nome para a própria corte. Nos dias de Paulo, a corte também normalmente se reunia no Stoa Real, ou colunata, bem ao lado da Ágora.36 Assim como Wall Street, em Nova York, é tanto uma rua literalmente, quanto também um apelido para o mercado financeiro, o Areópago era um lugar, mas também um título da corte.
Sob o domínio romano, o poder da corte foi grandemente diminuído, mas no caso de Paulo não parece ter sido um julgamento propriamente dito. Não é usada uma linguagem jurídica, nem sequer se tem o registro de um veredito sendo emitido. Tratava-se apenas de uma audiência pública sobre seus pontos de vista.37
O estranho ensino de Paulo assustou e surpreendeu os eruditos atenienses. Era diferente das conversas costumeiras deles, e eles queriam compreender melhor aquele discurso. Paulo entendeu isso como um presente de Deus. Era uma oportunidade para esclarecer o evangelho, diante dos principais filósofos de uma das cidades mais importantes.
Lucas insere um comentário sarcástico sobre a profunda curiosidade dos atenienses em ouvir alguma coisa nova. Esses caras tinham tempo livre demais! Citações antigas mostram que os próprios atenienses admitiam que sua paixão por qualquer coisa nova podia ser excessiva.38
Se você compartilhar o evangelho com diferentes tipos de ouvintes, certamente encontrará variados níveis de receptividade. A experiência de Paulo não foi diferente. Em Atenas, houve uma grande receptividade para ouvir a mensagem de Paulo, pelo menos no início, mas nem de longe a disposição para acreditar na mensagem foi a mesma. Eles simplesmente queriam ouvir alguma novidade. Eles não se importavam se aquilo era verdade, ou se poderia ser aplicado na vida deles. Estimule minhas sinapses, não desafie meu coração. Tragicamente, os atenienses não se enxergavam como espiritualmente pobres.
Como transtornar seu mundo intelectual
Coloque-se na pele de Paulo, conforme ele segue esses homens ao Areópago. O que você, o cata-sementes, diria quando fosse cercado pelas mentes mais brilhantes da capital intelectual e religiosa do Império Romano? Trinta mil deuses pagãos adornavam o cenário. Paulo era o inesperado rabi judeu convertido ao cristianismo e, contudo, lá estava ele. Talvez, você nunca esteja na mesma situação, mas você tem o mesmo Salvador que merece ser proclamado. Seus amigos e seus vizinhos não estão adorando o verdadeiro Deus vivo. Eles não estão realmente preocupados em abandonar seus falsos deuses e filosofias, mas Deus colocou você diante deles com uma oportunidade para falar. O que você vai fazer?
Na próxima postagem, iremos estudar exatamente o que Paulo disse, quando Deus escancarou as portas para que ele falasse às elites atenienses. Mas, antes de considerarmos o conteúdo de Paulo, asseguremo-nos de compreender o seu coração. A necessidade pelo evangelho é tão ampla quanto os efeitos da queda; é universal.
Se você mora perto de uma grande livraria, já percebeu como a seção religiosa cresceu? Se você for até a seção de filosofia e outras ‘logias’, poderá descobrir uma grande variedade de homens e mulheres intelectuais com quem conversar. Tente ter sempre uma ou duas perguntas essenciais para iniciar uma conversa. Fazer uma pergunta sobre a verdade, ética ou Jesus pode lhe informar sobre o pano de fundo espiritual da pessoa e colocar você em um intercâmbio bastante útil. Conforme veremos, o discurso de Paulo no Areópago é um ótimo modelo para proclamar Deus a essas pessoas.
Livrarias e bibliotecas geralmente organizam discussões sobre livros. Se já não estiver ocorrendo uma, por que você não se voluntaria para iniciar um bate-papo desses? Ainda que a discussão formal não siga o percurso completo até a cruz, os relacionamentos que você estabelece com os participantes podem levar a excelentes oportunidades posteriores.
Sites na internet podem possibilitar a você a oportunidade de questionar intelectuais sobre os temas fundamentais da vida. Você pode começar um blog, procurando relacionar as respostas de Deus às perguntas deles. Talvez, você possa dar uma resposta inteligente a um artigo no blog de um intelectual.
Você já pensou em voltar para a escola? Matricular-se em um curso de filosofia noturno pode ser um fórum para levar as discussões à verdade absoluta. O simples fato de estar em um campus universitário também abrirá oportunidades para o evangelho entre alunos e professores. Que tal colar uma afirmação filosófica no quadro de avisos com o seu endereço de e-mail e a mensagem: “Procurando conhecimento?”. O avanço do pós-modernismo deixou uma atmosfera de abertura a novos pensamentos nos campi universitários. Toda ideia é boa, exceto pelo exclusivismo do cristianismo. Embora a oposição à nossa mensagem pareça ser uma verdade absoluta, Deus usa a proclamação dessa própria mensagem para abrir os corações, mesmo aqueles dos intelectuais que se opõem a ela. Os frutos da obra de Paulo em Atenas são uma fonte de encorajamento para perseverarmos nos esforços. Conforme veremos adiante, alguns creram!
Ser capaz de escrever sobre o evangelho pode ser uma ferramenta útil em torná-lo mais preciso na forma como você o comunica a outras pessoas. Intelectuais podem ser impactados pelo evangelho, se você escrever um editorial para o seu jornal local. Talvez, você possa tratar de um problema corrente em sua comunidade e criar uma ponte para a solução final de Deus. Mesmo se escrever uma carta sobre o evangelho ao editor, você pode se surpreender com o que acaba indo para impressão.
Quando Paulo se encontrou rodeado por homens superinteligentes, céticos a respeito da mensagem cristã, ele não retrocedeu. Nem nós deveríamos.
- ibid.
- Marshall, 281.
- ibid., 284.
- Homer Kent, Jerusalem to Rome: Studies in Acts [De Jerusalém a Roma: Estudos em Atos] (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1972), 284.
- Marshall, 284.
- Kent, 139.
- ibid.
- Ver Bruce, 332