Um blog do Ministério Fiel
Evangelização de intelectuais – Aprenda a evangelizar com Paulo (10/13)
Damos continuidade a série de postagem “Aprenda a evangelizar com o apóstolo Paulo”. Ela foi adaptada do eBook “Transtornando o Mundo” de John Crotts, disponível para download gratuito. Nesta postagem, Crotts explica mais dois pontos da mensagem evangelística de Paulo para intelectuais não-judeus.
3. Deus é o Senhor das nações
De um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos (Atos 17:26-28a).
Todas as pessoas, em última instância, encontram sua fonte na pessoa original, Adão. Os atenienses acreditavam que seus ancestrais haviam, literalmente, surgido do solo grego. Como os judeus, que enxergavam o mundo como formado por judeus e gentios, os atenienses separavam o mundo em gregos e bárbaros. Se, como Paulo afirmou, o mesmo Deus fez todas as nações a partir de um único homem, os atenienses teriam que engolir um enorme caroço de orgulho. É como se Paulo estivesse dizendo: “Vocês e os bárbaros são parentes. Vocês não são nada melhores ou diferentes deles”.43
Não importa a cor do cabelo, o tom de pele ou quaisquer outras características físicas, toda a humanidade veio de um único Deus, por meio de um homem e uma mulher. Em sua busca por proclamar, com fidelidade, a mensagem de reconciliação de pessoas pecadoras com um Deus santo, nunca a faça com um senso de superioridade contra qualquer pessoa. Todas as pessoas foram feitas por Deus, por meio de Adão; todas as pessoas caíram em pecado por meio de Adão; todas as pessoas precisam de salvação por meio do último Adão, Jesus Cristo.
Não apenas todas as pessoas do mundo se originaram com Deus, mas igualmente as diferentes épocas, períodos e limites de cada grupo de pessoas, ao longo da história. Isso parece enfatizar que Deus designou determinados momentos para nações específicas prosperarem.44
Deus é até mesmo aquele que determina todas as fronteiras de cada nação no planeta. Este fato foi colocado em música, muito tempo atrás, no Cântico de Moisés, em Deuteronômio 32:8: “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou os limites dos povos, segundo o número dos filhos de Israel”. Certamente, parece que algumas daquelas fronteiras se moveram para trás e para frente ao longo dos anos. Deus conhece e controla esses movimentos. Cada tirano que já tentou tomar o poder sobre as nações foi, em última análise, estabelecido por Deus. Eras antes da constituição das Nações Unidas, Deus determinou cada fronteira de cada país e império, que algum dia traçaria as linhas em um mapa. Isto foi verdade para a Grécia antiga, quer os atenienses reconhecessem este fato ou não! O domínio soberano de Deus se estende ao longo de toda a história.45
O evangelho não é uma mera mensagem tribal de uma pequena seita do Oriente Médio. Mas é, antes de tudo, boas novas globais do Deus cósmico. O propósito de Deus em ordenar tempos e locais para o bem-estar do homem é “para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar” (Atos 17:27).
Toda revelação geral torna a humanidade responsável por buscar a Deus. Deus proclama a verdade sobre si próprio, por meio da criação e da consciência das pessoas, graciosamente cuida de suas necessidades físicas e até mesmo as separa em nações com fronteiras. Assim sendo, a criatura deve buscar seu Criador. Este é o ritmo escutado ao longo de toda a Bíblia.
Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. (Isaías 55:6)
Do céu olha o SENHOR para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. (Salmo 14:2)
Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. (Jeremias 29:13)
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. (Mateus 7:7)
Pessoas sentem que o seu caminho até Deus é como procurar por um objeto escondido em um quarto escuro, ou como um homem clinicamente cego tropeçando ao seu redor, enquanto tenta encontrar seus óculos. De forma indireta, Paulo está dizendo que os atenienses falharam em sua busca por Deus. Como criaturas feitas à imagem de Deus, nós sabemos que Deus existe. Por causa da queda, no entanto, passamos a desejar mais o nosso pecado do que chegar ao conhecimento da verdade sobre Deus. Nós distorcemos a verdade revelada de Deus, suprimindo-a tanto quanto podemos. Adoramos criaturas, ao invés do Criador (Romanos 1.20).
Em sua busca por se engajar com incrédulos, a revelação geral de Deus é um ótimo ponto para começar.
Paulo continua seu discurso encorajando os atenienses de que o único Deus verdadeiro “não está longe de cada um de nós”. Não é culpa de Deus que as pessoas tenham se separado dele, tateando no escuro. Ele não está distante, irreconhecível ou desinteressado.46 No que se refere a Deus, a ignorância não é uma desculpa. Paulo finaliza seu discurso com uma poderosa citação de Epimênides de Cnossos, em Creta: “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17:28a). Trazendo esta ideia de um contexto pagão, Paulo a usa para fazer um argumento espiritual. Paulo cita este mesmo poema em Tito 1:12, onde ele diz: “Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos”. Há muitas oportunidades para emprestarmos frases da nossa cultura para fazer um argumento espiritual com as outras pessoas. Paulo construiu pontes para se conectar com seus ouvintes. Em 1 Coríntios 9:19, ele diz: “Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível”.
Jesus regularmente colocava conceitos familiares ao lado de verdades espirituais desconhecidas, em suas parábolas. Ele usava histórias da época sobre plantação de campos, pesca, cuidados com a vinha, compra de imóveis, caça ao tesouro e até mesmo panificação, para ensinar lições espirituais vitais.
Uma palavra de atenção deve ser dada aqui. Algumas vezes, a metodologia de Paulo tem sido usada para encorajar as pessoas a mergulhar profundamente nas águas perigosas da cultura contemporânea, a fim de aprender como as pessoas fora da igreja pensam. Conquanto seja nossa responsabilidade falar as palavras eternas da verdade de Deus, de forma que nossos ouvintes possam compreender, o mundo é um lugar perigoso. Há uma razão para o aviso de João: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2:15). Judas descreve a evangelização de linha de frente em uma linguagem terrível: “Salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne” (Judas 1:23). Quando você se envolve com pessoas que estão à beira do inferno, cuidado para não sair chamuscado! Em seus esforços para navegar pelo mundo, a fim de chegar a uma linguagem e ideias com as quais não-cristãos possam se conectar, você sempre precisa estar atento à correnteza do maligno.
Será que essa citação antiga, mencionada acima, e a que a segue na segunda metade do versículo 28 (“pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”, e, “Porque dele também somos geração”) é realmente tão ultrarrelevante como alguns a fizeram parecer? Eu entendo que Paulo vivia em uma época pré-internet, mas essas citações parecem longe de serem contemporâneas. A primeira citação de Paulo data do sexto século antes de Cristo. A segunda citação foi escrita por Arato, em torno de 280 a.C. Epimênides e Arato dificilmente se qualificam como estrelas do rock atenienses! Paulo transporta essas palavras poéticas por aproximadamente 600 e 300 anos até sua mensagem. Não sei se seria supermaneiro citar o primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington, para o cara no Starbucks. Ou, que tal alguém da Idade Média? Com certeza George Washington disse e fez muitas coisas memoráveis, mas ele não é exatamente a estrela principal de um dos filmes que arrebentaram nos cinemas na última semana.
Paulo usou a primeira citação para dizer que a vida é toda voltada para Deus. Sua existência corpórea, o exercício da sua mente, vontade e emoções, sua existência mental e espiritual, todas dependem de Deus. Tudo acontece nele. Vocês, atenienses, assumiram que são tão importantes. Vocês pensam que surgiram do solo da Grécia. Vocês acham que o mundo é constituído apenas de atenienses e bárbaros. Mas o verdadeiro Deus é muito maior do que vocês pensam!
4. Deus é o pai da humanidade
…como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.
Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem (Atos 17:28b-29)
A segunda citação, no versículo 28, nos leva à quarta forma de Paulo para direcionar seus ouvintes para longe da idolatria em direção ao caminho da verdade.
Conforme já vimos, Arato, o escritor estoico do terceiro século antes de Cristo, que era da Sicília, a terra natal de Paulo, foi a fonte de Paulo para a sua segunda citação pop. O vislumbre da verdade em Arato, que Paulo faz brilhar, é sobre a natureza de Deus. Os gregos pensavam que a natureza divina estava no homem, mas a Bíblia ensina que o homem é criado por Deus, à imagem de Deus. Arato estava escrevendo sobre Zeus. Então, embora ele tenha trombado com alguma verdade autêntica sobre a natureza de “Deus”, ela era incompleta e inadequada.47
De forma geral, pode-se dizer que Deus é o pai de todas as suas criaturas. De forma especial, ele é o pai adotivo apenas dos crentes em Cristo. É a forma geral, contudo, que Paulo usa para fazer sua argumentação a partir do poema pagão. Visto que todos somos geração de Deus, não podemos pensar que o ser divino é alguma forma de invenção humana.
Nós derivamos e dependemos de Deus. É ridículo pensar no Deus vivo como sendo uma estátua feita de ouro ou prata, não importa o quão talentoso ou hábil seja o artista, ou mesmo quanto o ouro possa valer. Um mero monumento feito por mãos humanas jamais poderia representar o Deus Pai da humanidade!48
- Ver a discussão de Marshall a respeito das opções interpretativas para esta frase, 288.
- Marshall, 288
- Stott, A Mensagem de Atos.
- ibid.
- Isaías 44:9-20.