Um blog do Ministério Fiel
Evangelização de intelectuais – Aprenda a evangelizar com Paulo (9/13)
Damos continuidade a série de postagem “Aprenda a evangelizar com o apóstolo Paulo”. Ela foi adaptada do eBook “Transtornando o Mundo” de John Crotts, disponível para download gratuito. Nesta postagem, Crotts explica dois pontos da mensagem evangelística de Paulo para intelectuais não-judeus.
Paulo já havia observado a cor local de Atenas por algumas semanas. Ele havia caminhado por entre a sua floresta de ídolos. Ele havia falado com pessoas nas sinagogas, na praça e no centro da cidade. Ele conhecia as crenças básicas dos filósofos de seus dias. Agora ele está no centro do palco, no próprio Areópago. Conforme ele abre sua boca, seu olhar vai se fixando sobre a incrível religiosidade dos atenienses.
Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. (Atos 17:22-23)
A assertiva sobre a profunda religiosidade deles poderia ser tomada de forma positiva ou negativa. A palavra “religião” possui uma vasta gama de significados potenciais. Positivamente, pode significar piedade. Negativamente, pode significar coisas tão tenebrosas quanto superstição ou adoração satânica. Quando Paulo começou a falar, seus ouvintes podem ter entendido, inicialmente, como um elogio. Mas, conforme ele continuou seu discurso, sua verdadeira opinião da religiosidade dos atenienses veio à tona: seus rituais e filosofias à parte de Deus eram vazios e tolos.
A prova da declaração de Paulo veio de suas observações dos objetos de culto deles. Um, em particular, chamou sua atenção. Ele descobriu um altar “ao deus desconhecido”. A própria existência de tal coisa é uma confissão impressionante de um povo orgulhoso, intelectual e sofisticado. “Eu não tenho a menor ideia da identidade desse deus que estou adorando! Eu compreendo, pelo menos um pouco, que posso não ter descoberto todos os mistérios da vida, afinal de contas!”
Arqueólogos falharam em encontrar um ídolo com essas exatas inscrições (“ao deus desconhecido”) nas ruínas da antiga Atenas, mas muitas fontes antigas fazem referência a inscrições similares. Um viajante grego chamado Pausânias, em 150 d.C., disse que próximo de Atenas havia altares de deuses tanto com nome, quanto sem.39
Paulo usou esse traço da cultura ateniense para apresentar um entendimento correto do único Deus verdadeiro. A confissão deles de sua ignorância tornou-se a base para a mensagem de Paulo, enchendo suas mentes vazias com fatos do verdadeiro Deus vivo.40
Eventos da atualidade e realidades culturais podem ser muito úteis para mudar o curso de uma conversa para as coisas de Deus. Que temas, hoje, podem se tornar pontes para uma conversa sobre o evangelho? Incertezas econômicas ou questões políticas podem se tornar um elo para falar do reino inabalável de Deus. Uma nova descoberta científica pode ser útil em apontar as pessoas para a criatividade e poder do Criador. Os padrões de certo e errado de Deus podem emergir de uma conversa que comece tratando de uma questão de ética no trabalho. Qualquer ato de sacrifício chama a mente para o sacrifício final que o Salvador fez pelos pecadores. Conquanto, talvez, nós não possamos construir uma ponte sobre cada assunto, a disciplina de intencionalmente fabricar alguns desses elos culturais fortalecerá suas habilidades no meio de conversas sobre essas questões.
Não havia qualquer conexão real entre o santuário ateniense de ídolos da ignorância e o verdadeiro Deus. O ponto de Paulo foi enfatizar as lacunas no conhecimento religioso deles. Ele não está dando crédito à ideia errada de que todas as religiões são iguais. A comparação que Paulo usou como plataforma de lançamento para sua apresentação do evangelho tinha como objetivo, unicamente, apontar a ignorância deles, não validar o culto idólatra. Ele expôs o fato de que eles adoravam em ignorância, mas não disse nada que pudesse confirmar a ideia de que eles estavam adorando o verdadeiro Deus naquela ignorância.
Perceba que o objetivo de Paulo é proclamar a Deus, não provar aos atenienses que ele é Deus. Todos sabem da existência de Deus, de uma forma limitada, por causa da criação e nossa própria consciência (Romanos 1:18-32). De acordo com a Palavra de Deus, mesmo quando as pessoas afirmam serem ateístas ou defensoras de alguma outra religião, elas estão cientes da verdade mais profunda em suas consciências – que Deus existe, que ele tem suas leis e que julgará suas criaturas. O grau de conhecimento de cada um é suficiente para condenar aqueles que rejeitam essa revelação geral, mas não é o bastante para salvá-los. Os pagãos trabalham arduamente para suprimir essas verdades e adorar deuses substitutos no lugar do que eles conhecem. Ao proclamar a verdade sobre Deus, não se esqueça de que você tem um aliado bem na mente do seu ouvinte – o conhecimento dele de que Deus existe.
Paulo busca preencher as lacunas no entendimento dos atenienses proclamando a visão geral das verdades sobre Deus. O conhecimento que as pessoas têm da criação e de suas consciências precisa ser preenchido com o evangelho. O restante do discurso de Paulo leva seus ouvintes aos elementos essenciais do próprio evangelho. Paulo proclamou Deus de cinco maneiras, direcionando-os para longe de sua idolatria e em direção à verdade.
1. Deus criou e governa sobre todas as coisas
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. (Atos 17:24)
Opondo-se diretamente à ênfase dos epicureus, de que os deuses ou não existem, ou foram removidos de toda sua relevância, Paulo simplesmente afirma isso! Deus existe. Deus fez você e todo o resto. Deus governa sobre tudo. Não há diálogo sobre o acaso, combinações aleatórias de átomos ou a eternidade da matéria. Ele simplesmente se abaixa e puxa o tapete de sob os pés dos epicureus com apenas uma mão.
Com a outra mão, ele puxa o tapete sob as sandálias dos estoicos. Sendo virtualmente panteístas, os estoicos adoravam seus deuses ao adorar a criação. Em contraste com suas ideias erradas, Paulo afirma que um único Deus fez toda a criação – esse Deus não está na criação; ele é Senhor sobre ela.
Embora o público não soubesse a fonte sagrada do discurso de Paulo, suas afirmativas derivavam do Antigo Testamento.
Assim diz Deus, o SENHOR, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz; que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que andam nela… (Isaías 42:5)
porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há. (Êxodo 20.11).
O problema com o debate entre criação e evolução é que pessoas pecaminosas não chegam com suas mentes objetivas e desenviesadas. Pessoas pecaminosas não querem que o design inteligente ou o criacionismo estejam certos, porque isso significaria que há um Criador. Se há um Criador, então ele terá algo a dizer sobre a forma como suas criaturas estão vivendo. Quando se combina o testemunho interior da consciência do cientista com aquilo que ele ou ela já sabe a partir da observação da criação de Deus, a verdade apoderada (ou adquirida por meio de pesquisa) é significativa e poderosa. A única forma para essa pessoa manter um senso de independência do Criador é suprimindo a verdade, ao dar preferência a filosofias rivais, ainda que falsas.
Os homens de Atenas, a quem Paulo estava se dirigindo, não acreditavam na criação ou em um criador pessoal. Paulo sabia disso, mas ele também sabia que os atenienses, debaixo de todo aquele seu discurso, estavam conscientes daquelas realidades por causa da revelação geral. Então, ele lhes fala da verdade que eles já conheciam, mas estavam suprimindo.
A criação é um bom ponto de partida ao se engajar em uma conversa com um cético. Embora a maioria das pessoas diga que elas não acreditam em Deus como criador, internamente elas sabem que é verdade. Provar seus pontos cientificamente pode ser a melhor saída em alguns ambientes, mas lembre-se de que você não está lidando com ouvintes objetivos. Na maioria dos casos, siga o exemplo de Paulo: simplesmente fale a verdade. Estabelecer a Deus como o Criador e Senhor é vital, ao mostrar a alguém a sua violação das leis dele. Quando elas reconhecem sua culpa perante o Criador do mundo, elas estão muito mais próximas de reconhecer a necessidade de um Salvador.
Este grande Deus que Paulo proclamou não pode ser aprisionado em estruturas feitas por mãos de homens. Aquele que criou e governa sobre todas as coisas não habita em caixas feitas por homens.41 As palavras de Paulo, mais uma vez, emergem do Antigo Testamento, embora ele não tenha citado exatamente capítulos e versículos.
Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei. (1 Reis 8:27)
2. Deus sustenta o universo
Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais. (Atos 17:25)
A insensatez que é ter de cuidar de deuses feitos por homens é um tema recorrente na Bíblia. O Deus verdadeiro ridiculariza aqueles que participam de tais costumes vazios.
Porque os costumes dos povos são vaidade; pois cortam do bosque um madeiro, obra das mãos do artífice, com machado; com prata e ouro o enfeitam, com pregos e martelos o fixam, para que não oscile. Os ídolos são como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve, porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, e não está neles o fazer o bem. (Jeremias 10.3-5)
Em contraposição, para aqueles que são necessitados, Deus é a fonte de toda a vida:
Escuta, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu testemunharei contra ti. Eu sou Deus, o teu Deus. Não te repreendo pelos teus sacrifícios, nem pelos teus holocaustos continuamente perante mim. De tua casa não aceitarei novilhos, nem bodes, dos teus apriscos. Pois são meus todos os animais do bosque e as alimárias aos milhares sobre as montanhas. Conheço todas as aves dos montes, e são meus todos os animais que pululam no campo. Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se contém. Acaso, como eu carne de touros? Ou bebo sangue de cabritos? Oferece a Deus sacrifício de ações de graças e cumpre os teus votos para com o Altíssimo; invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.(Salmo 50.7-15)
Atualmente, as pessoas domesticam Deus em suas próprias mentes. Embora elas não tentem produzir imagens dele a partir de troncos de árvores, apenas pergunte às pessoas qual elas pensam ser o papel de Deus nas questões atuais. Respostas como: “Meu Deus jamais permitiria uma tragédia dessas”, “Aquela situação também fez Deus chorar”, ou “Deus não tinha o poder para impedir o sofrimento”, enchem o coração de muitos em nossos dias. Será que nossa geração não é igualmente culpada de fabricar deuses, como aquela de Atenas?
Paulo fez afirmações audaciosas contra as crenças de seus ouvintes, que acreditavam em deuses distantes e apáticos com relação às suas vidas. “Deus”, Paulo proclamou, “está ativamente dando-lhes vida e fôlego, enquanto vocês se assentam aqui diante de mim!”. Para aqueles que acreditavam haver uma fagulha divina em todas as coisas, Paulo contra-argumentou que o Deus vivo, tanto está separado de sua criação, quanto é o seu sustentador.
- Marshall, 286.
- Kent, 140.
- Stott, A Mensagem de Atos.
- Bruce, 337.