Plantando igrejas em comunidades carentes mesmo não vindo desse contexto

Uma das perguntas que, rotineiramente, me é feita por (principalmente) pessoas da classe média, pessoas educadas que estão interessadas neste tipo de trabalho é: “Eu posso fazer isso mesmo que eu não tenha a experiência de vida ou o “background” cultural daquela comunidade?” Minha resposta é (quase sempre) um retumbante: “Sim”! Nós não deveríamos desqualificar pessoas que querem plantar igrejas em um certo contexto cultural só porque elas não nasceram nele, caso contrário, não teríamos um movimento missionário moderno, porque todos teriam ficado “em casa” ou só teriam alcançado pessoas como eles mesmos!

Na verdade, o que precisamos é engolir nosso orgulho (e equívocos) e perceber que a Escócia[i] é tão “não alcançada” quanto as mais escuras regiões da África há centenas de anos atrás. Existem comunidades habitacionais carentes, e esse é um ponto muito importante, onde igrejas após igrejas foram fechadas, realocadas ou deixadas sob os cuidados de uma liderança socialmente consciente, mas teologicamente liberal, que continuam fazendo muitas “boas ações”, mas administrando uma instituição moribunda. Eu não considero injusto dizer que muitas igrejas nessas comunidades estão sepultando muito mais do que batizando e estão fazendo isso por muitas décadas. Por causa disso, simplesmente não existe uma geração de líderes de igrejas culturalmente nativos dessas comunidades. Por mais que queiramos ver uma liderança local, ela simplesmente não está lá! Ela precisa ser gerada, tem que ser desenvolvida e treinada, e isso vai nos tomar muito tempo. Quando, pela primeira vez, cheguei ao subúrbio de Niddrie, em Edimburgo, eles não viam um convertido local por mais de dez anos, todos os crentes mais jovens tinham sido enviados da igreja-mãe no centro da cidade, à medida que procuravam “revitalizar” aquela igreja, e, de fato, não havia um crente local no prédio com menos de 60 anos de idade. Eles iam perdendo as esperanças!

Um pouco mais de cinco anos depois as coisas já estão visivelmente diferentes. Estamos finalmente começando a ver algum progresso. Mas como fizemos isso? Para responder, precisamos entender as seguintes categorias “missiológicas”.

Em Niddrie, eu categorizo as pessoas da seguinte maneira (para os propósitos deste artigo, não necessariamente da forma como normalmente entendemos).

1. Os forasteiros culturais. Em outras palavras, aqueles que não vêm de uma comunidade habitacional carente e / ou não têm histórico ou experiência de vida nessas comunidades.

2. Os culturalmente nativos. Aqueles de nós que cresceram nessas comunidades habitacionais e entendem a cultura da comunidade mas ainda assim não são nativos daquele local onde estamos servindo.

3. Os Totalmente nativos. Aqueles que foram salvos em suas próprias comunidades habitacionais carentes e agora estão empenhados em alcançá-la com o evangelho.

Quando cheguei a Niddrie, eu e uma mãe solteira trabalhávamos em nosso café comunitário. Nós dois éramos “culturalmente Nativos”, mas havia minha esposa, que era uma completa “forasteira cultural”. Não havia convertidos locais, então tivemos que importar nossos líderes, ou seja, nossos “Recursos Humanos” eram integralmente compostos por “forasteiros culturais”. Nós precisávamos deles para gerar o impulso inicial. Para esse fim, empregamos um jovem trabalhador e um pastor assistente, passei os primeiros anos preparando e desenvolvendo-os em termos de envolvimento com a comunidade, discipulado e treinamento, e então começamos um programa de “estágio”. Relembrando, com muitos poucos convertidos, tivemos que, inicialmente, importar líderes sem a cultura da comunidade. Cinco anos depois, estamos vendo brotar os frutos de nossos objetivos de longo prazo.

Atualmente, no nosso programa de aprendizagem, temos duas mulheres totalmente nativas ativamente engajadas no ensino e discipulado dentro da comunidade e um brasileiro que reside em Niddrie há mais de quatro anos. Em nosso programa inicial de discipulado intensivo temos quatro homens, todos “nativos culturais”. Eles estão sendo ensinados a não apenas receber, mas a servir a comunidade, e esperamos que eles progridam para aprendizes em período integral nos próximos doze à vinte e quatro meses. Todos estão (ou estarão) reunindo-se, estudando e orando com pessoas de toda a comunidade, pessoas de todos os tipos de origens culturais. Isso é saudável e levou tempo para se desenvolver. Minha equipe é propositalmente “heterogênea” à medida que procuramos refletir a composição cultural dos que nos rodeiam e construir um modelo eficaz para treinar futuros líderes.

O ponto é que, embora possamos estar a anos de distância da formação de presbíteros e líderes na igreja, não poderíamos ter feito os avanços que fizemos sem o sacrifico dos “forasteiros culturais” com sua ajuda inicial e constante. Essas pessoas estavam prontas para admitir suas fragilidades e falta de percepção do contexto, mas abertas o suficiente para se sacrificarem em nossa comunidade e abraçar nossa visão, de longo prazo, de produzir líderes nativos que treinarão novos líderes nativos que vão pastorear e plantar igrejas por toda a Escócia. (e ainda mais longe!).

Por favor, orem pelo trabalho do “20chemes” e para que rapazes e moças de todo o mundo se disponham a vir se juntar a nós e à nossa visão, não apenas de alcançar os perdidos em nossas comunidades carentes, mas também discipulá-los e treiná-los para se tornarem futuros líderes e pregadores do evangelho nas comunidades carentes da Escócia.


[i] Nota do Editor: Este texto foi publicado pelo autor considerando o contexto das comunidades que vivem nos “Schemes” que são moradias sociais para a população carente da Escócia, porém nós, do Voltemos ao Evangelho, cremos que seu ensino geral é importante também para o nosso contexto.

Igreja em Lugares Difíceis

Como a Igreja Local Traz Vida ao Pobre e Necessitado

Nos últimos anos, cristãos e organizações cristãs têm aumentado seu interesse em ajudar pessoas que sofrem com a miséria e a pobreza. Mas este interesse renovado em aliviar a pobreza está fadado ao fracasso se não tiver raízes na igreja local, que é o meio estabelecido por Deus para atrair pessoas miseráveis para um relacionamento transformador com ele. Enfatizando a prioridade do evangelho, Mez McConnell e Mike McKinley, ambos pastores de igreja local em regiões de pobreza, oferecem direção bíblica e estratégias práticas para o trabalho de plantação, revitalização e crescimento fiel de igrejas em lugares difíceis, em nossa própria comunidade e em outros lugares ao redor do mundo.

CONFIRA

Por: Mez McConnell. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: Can I Plant A Church In A Deprived Area Even If I Don’t Come From That Background?

Original: Plantando igrejas em comunidades carentes mesmo não vindo desse contexto. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.