Um blog do Ministério Fiel
Mulher idônea, sim, mas auxiliadora?
O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro O Que Deus Diz sobre as Mulheres, de Kathleen Nielson, Editora Fiel.
O que dizer da palavra “auxiliadora” (Gn 2.18)? Mesmo que conservemos todos os nossos bons “preconceitos” estabelecidos por Gênesis 1, lembrando que o homem e a mulher são igualmente criados à imagem de Deus, ainda podemos indagar: a palavra “auxiliadora”, aplicada à mulher, implica que ela seria uma cidadã de segunda categoria (em uma sociedade de dois!)? Quando pensamos em “auxiliadora”, é comum imaginarmos uma ajudante doméstica, ou uma criança que é “a pequena ajudante da mamãe”, entre um sem-número de papéis aparentemente de menor importância ou de menor responsabilidade.
Mas vamos pensar na palavra em si. Um auxiliador (ou uma auxiliadora) é simplesmente alguém que ajuda outrem. O ato de auxiliar não diminui o auxiliador. De fato, é exatamente o contrário. Em diversas ocasiões recentes, quando eu estava em outros países, senti-me incapaz de me comunicar em língua estrangeira — e os tradutores que me ajudaram, a meu ver, foram grandes heróis. Senti-me maravilhada e humilhada por sua habilidade de transitar de uma língua para outra. Eu é que não tinha essa capacidade; eles tinham. E, quando eu precisei, sua ajuda me salvou!
O termo “ajudante” (em hebraico, ezer) denota força — com frequência, a força que vence as batalhas. De fato, em todo o Antigo Testamento, essa palavra é usada para descrever Deus, na medida em que ele ajuda seu povo — “O Senhor está comigo entre os que me ajudam; por isso, verei cumprido o meu desejo nos que me odeiam” (Salmos 118.7). A ajudadora que Deus deu a Adão era uma extensão da ajuda do próprio Deus, pois ele cria a mulher e a leva até Adão. A ajudadora é o modo como Deus torna o “não é bom” em “muito bom”. A ajudadora é o ponto mais alto, o ápice da finalização por Deus na história da criação. Esse papel de auxiliadora que a mulher tem é um chamado elevado: algo por meio do qual ela reflete a imagem de Deus, seu Criador — e por meio do qual ela serve a Deus ao andar conforme sua Palavra.
Mesmo assim, temos de perguntar o que significa, na prática, dizer que a mulher é uma “auxiliadora idônea”. Em Gênesis 2, esse papel elevado de auxiliadora aplica-se claramente ao primeiro casamento (e a todos os casamentos subsequentes, conforme veremos adiante, cada vez com maior clareza). Mas isso se aplica a todas as mulheres, em todos os seus relacionamentos com todos os homens? Todas as mulheres devem ser ajudadoras de todos os homens? Essa natureza de “ajuda” seria intrínseca à condição feminina, conforme o plano de Deus? Se, ao respondermos sim a essa pergunta, estivermos pensando em “ajudadora” de modo depreciativo ou humilhante, a resposta é não. Não existe ensino na Escritura que nos leve a isso.
Se, ao respondermos sim a essa pergunta, confundirmos os papéis biblicamente definidos com outros papéis, a resposta é não. Chegaremos a passagens que tratam dos papéis tanto no casamento como na igreja, e a Escritura é clara quanto a ambos os contextos. O ensino da Bíblia nessas duas esferas remonta a Gênesis, para sua verdade fundamental. Mas, se aplicarmos o ensino da Escritura a respeito desses papéis em contextos que a Palavra de Deus não aborda, entramos em uma enrascada.
Daqui a pouco, vou analisar que essa história da criação nos oferece vislumbres de um padrão criacional e universal que se aplica a todos os homens e a todas as mulheres, de modo que há um sentido em todas as mulheres serem chamadas para atuar como “auxiliadoras”. Mas, se eu tomar esse modelo universal como significando, por exemplo, que uma mulher não deve dirigir uma empresa ou ser reitora de uma faculdade, ou ser presidente de um país, eu estaria confundindo papéis biblicamente definidos com outros papéis sobre os quais a Escritura não fala. Eu estaria impondo restrições nada bíblicas sobre as portadoras femininas da imagem de Deus.
Mas nós podemos dizer sim a essa questão, de modo a manter os “bons preconceitos” de Gênesis 1, ao mesmo tempo que asseveramos que esse primeiro homem e essa primeira mulher nos ensinam algo profundo e universal. Assim como Gênesis revela a verdade fundamental de que homem e mulher (e não apenas esposos e esposas) foram criados à imagem de Deus, parece que haveria uma verdade fundamental na criação da primeira mulher (não apenas da primeira esposa) como ajudadora do homem. É difícil definir essa verdade com princípios específicos, porque a verdade do que ocorre na Criação cresce e espalha sua luz por toda a Escritura. Precisamos chegar ao contexto da igreja para descobrir a operação plena e aberta dessas verdades criacionais dentro do corpo de irmãos e irmãs (casados e solteiros) no âmbito da família de Deus. E é no contexto das congregações locais da igreja que eu tenho visto mais nitidamente a beleza da parceria entre mulheres que ajudam, de modo ativo, todos a seu redor, e homens que recebem e apreciam essa ajuda, quando o povo de Deus serve e trabalha em conjunto.
Há uma mulher solteira na minha congregação que é brilhante em questões financeiras, e todos celebram esse brilho; eu não sei o que faríamos sem a sua ajuda, a qual, há anos, ela tem dado sem reservas à igreja — eventualmente, como membro da equipe de direção. Ela é uma mulher que respeita, celebra e ajuda os homens da liderança. O elevado papel das mulheres como ajudadoras, quando elas abraçam isso de coração, tende a dar sabor a tudo que fazem, dentro e fora da igreja. Essa mulher era muito valorizada na instituição financeira na qual, durante anos, ela trabalhou, ocupando uma posição de grande responsabilidade. Imagino que você consegue pensar em mulheres que, com seu espírito de ajudadoras, dão sabor à sua vida e à sua igreja, e em homens que se alegram em fazer parceria com essas mulheres, recebendo humildemente sua ajuda, sem se importar com quem está ou não no comando, em qualquer tipo de trabalho ou empreendimento. Mais adiante, falaremos mais especificamente a respeito dessas aplicações. De fato, muito mais luz virá dessa próxima razão que encontramos para a ordem de Deus na criação.