Um blog do Ministério Fiel
Em todas estas coisas…
Romanos 8.36,37, “Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.
Uma nota sobre a tradução[i]
Primeiro, observe que eu traduzi a palavra após a citação do Salmo 44.22 como “porém”, ao invés de “não”. Isto é atestado em algumas traduções inglesas (Berean Literal, NASB, NAS 1917), mas na maioria das vezes é traduzido como “não”. Eu optei por usar “porém” porque essa parece ser a tradução mais natural da palavra grega em particular neste contexto. “Não” poderia dar a impressão de que Paulo está refutando a ideia principal da citação (a morte diária do povo de Deus), enquanto “porém” concorda, implicando algo como: “Sim, somos entregues à morte diariamente (como Paulo deixa claro em outros lugares, 2Coríntios 4.17-18 por exemplo) PORÉM nessa morte diária somos abundantemente vitoriosos por meio daquele que nos amou através da morte e em vitória”.
Ambas as traduções, é claro, funcionam, em ambas, Paulo não está admitindo a afirmação aparente do texto – que o povo de Deus está caminhando como perdedor para o fim da história – ao invés disso, ele afirma a realidade de seu sofrimento, mas mostra como ele é transformado à luz do seu Salvador que o amou através de sua própria morte e ressurreição.
Como o sofrimento se transforma em vitória?
Somos mais que vencedores em meio aos nossos sofrimentos, de que maneira? Por aquele que nos amou. Através da ação pessoal daquele que nos amou … é assim que somos vitoriosos em nossos sofrimentos. Agora, isso é interessante porque de que maneira ele nos amou? Ele nos amou tornando-se “como um cordeiro para o matadouro” … Ele nos amou suportando em si mesmo tudo aquilo que equivale ao que Paulo relaciona nos versículos 35 e 38-39 como sendo coisas incapazes de nos separar do seu amor.
Essas coisas não podem nos separar do seu amor porque o seu amor o levou a suportar estas coisas em si mesmo por nossa causa. Sim … De fato, quando nos tornamos como aqueles afligidos pela pestilência, perigo, nudez ou espada, nós somente poderemos nos encontrar se estivermos em um contexto de comunhão com o Senhor vivo que se tornou em todas essas coisas por amor de nós … estaremos longe de nos separar de seu amor, longe de nos separar dele, longe de sentir que ele esteja contra nós, se – e quando – nos encontrarmos nestas situações de sofrimento, estivermos – de alguma forma – mais conscientes do seu amor sabendo que ele suportou isso por nossa causa.
Portanto, o sofrimento não nos derrota, antes, transforma a situação para nossa superação, porque o caminho da vitória foi aberto diante de nós pelo amor de Cristo que sofreu e ressuscitou por nós … e é um caminho através do sofrimento. O amor de Jesus Cristo que morreu e ressuscitou transformou a Via Dolorosa na Via Victoria – para si mesmo e para todos os seus amados.
Vencedores porque são inseparáveis do seu amor
“… Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que [nada]… poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Por que Paulo pode dizer que os cristãos são mais que vencedores por meio daquele que os amou? Porque nada pode separá-los do amor de Deus em Cristo Jesus. Cristãos são mais do que vencedores através de (ação) Cristo que os amou e eles são mais do que vencedores porque (motivo) nada pode separá-los do seu amor. Nos parágrafos anteriores, tentei explicar o que significa ser mais do que um vencedor em meio ao sofrimento através de Cristo (cuja morte e ressureição amorosa transformou a via Dolorosa na via Victoria) … mas agora eu quero considerar o que significa, essa dinâmica – nossa vitória no sofrimento por meio de Cristo – estar fundamentada na realidade de que não podemos ser separados de seu amor.
Uma implicação simples é que, se alguma coisa pudesse nos separar do amor de Deus em Cristo, então Paulo não poderia dizer que somos mais que vencedores “em todas estas coisas”. Estar separado do amor de Deus em Cristo é ser conquistado, não um conquistador … é ser vencido, não um vencedor. Ser amado é vencer, ser isolado do amor é ser vencido.
Então, por que é que estar inseparavelmente ligado ao amor de Deus em Cristo é vencer? Não é porque esse amor é o amor que é “tão forte (e mais forte do que) a morte” (Ct 8.6)? Não é porque esse amor é o amor que amansa os garanhões selvagens do sofrimento e os transforma em puxadores da carruagem da vitória de seus amados? Não é porque esse amor é o amor que morreu e ressuscitou e assim – como eu disse acima – transformou a morte no caminho da conquista do mundo pelo discípulo? Assim como uma formiga atada a uma flecha irá para onde a flecha vai, assim também o cristão ligado à “flecha” do amor de Deus em Cristo irá para onde a flecha for: através do sofrimento para a vitória.
Resumindo
Em meio ao sofrimento nós o superamos através da intermediação pessoal de Jesus Cristo que nos amou com sua própria morte e ressurreição, transformando assim todo o nosso sofrimento – que ele assumiu indiretamente – em um caminho de comunhão e vitória em si mesmo (mais do que vencedores, porque não apenas suportamos o sofrimento e saímos como vencedores, mas o próprio sofrimento serve para o avanço da nossa comunhão com a alegria e a semelhança com Cristo, que é a nossa vida).
E essa dinâmica é invencivelmente verdadeira, porque nada pode quebrar o vínculo do amor de Deus por nós em Cristo, o que nos leva a ser contados entre aqueles por quem o Filho morreu e ressuscitou transformando o sofrimento em um caminho de vitória.
Uma analogia final
Podemos imaginar Cristo como um bote salva-vidas que não pode afundar e que – por amor – foi jogado nas corredeiras de nível cinco de nosso sofrimento. O amor de Deus pode ser visto como o motivo que lançou o bote ao rio, também com a escolha em atirar o bote ao rio e também como todo o plano para que o bote nos leve ao oceano. A graça soberana de Deus pode ser retratada como um homem forte que nos impede de cair do bote. Finalmente, a vitória está saindo do rio para o oceano largo, ainda resplandecente …
Somos mais do que vencedores no meio das corredeiras furiosas através da ação do bote que entrou nas corredeiras conosco (“Aquele que nos amou”) … e sabemos que essas corredeiras servirão apenas para nos levar à vitória. (“Mais do que vencedores”) através da ação do bote porque o homem que está no bote conosco (graça soberana) não deixará nada nos tirar do bote, mas nos manterá dentro dele até que cheguemos ao oceano (“[nada] poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor”).
[i] NdT: Essa explicação se aplica ao texto original em inglês no entanto julgamos ser útil para o contexto do artigo em português.