Um blog do Ministério Fiel
Depois do protesto, do boicote e do abaixo-assinado
O caso da turma do fundão se tornou o assunto do momento entre nós [cristãos] nos últimos dias. Escrevemos posts de protesto, discutimos o boicote, fizemos abaixo assinado… todas ações legítimas e importantes.
O problema é que semana que vem tem Flamengo no Mundial; na outra é natal; depois da virada do ano tem sal e sol… e, então, tudo tende a voltar ao normal. Nós, na correria, muitas vezes atrás do que não satisfaz; filhos entregues à escola para serem educados por ela; pastores num ativismo só, indo despreparados ao púlpito; povo na igreja meio que por obrigação; tudo exatamente como antes, inclusive nossa consciência tranquila, afinal, demonstramos nossa coragem na defesa do Evangelho nas mídias sociais mais uma vez.
Sim! É uma caricatura! Uma generalização apressada! Mas não deixa de ser verdadeiro – pelo menos parcialmente – e de revelar um problema. Vivendo numa cultura estética, no sentido negativo da palavra [depois leia Sérgio Buarque de Holanda e Mario Vieira de Mello] costumamos imaginar que o impacto do Evangelho resulta de feitos particulares, grandes e populares; e não do esforço pequeno e cotidiano, geralmente anônimo. Dizemos que Lutero fez a Reforma quando afixou as 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg ou que Wilberforce promoveu a abolição da escravatura na Inglaterra quando corajosamente apresentou petição ao parlamento inglês, sem perceber que essas foram apenas algumas das ações deles; que, na verdade, essas transformações históricas só ocorreram por que eles fizeram muitas outras coisas que não ficaram conhecidas, e por que eles estavam cercados de heróis anônimos que compartilharam do mesmo estilo de vida. Jesus disse que o Reino dele é assim: ele é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado.
Por isso, a pergunta que não quer calar agora é a seguinte: o que faremos depois de nos expressarmos publicamente? Por que, embora posts de protesto tenham o seu lugar, o que costuma fazer o Evangelho conhecido é a proclamação e a demonstração deste Evangelho em nossa vida regular. Boicotes podem até chamar a atenção de nossos filhos, mas o que determinará se eles farão da turma do fundão o referencial de boa vida na adolescência e juventude é o tempo que gastamos com eles enquanto eles estão na educação infantil. Abaixo-assinados podem até redundar em decisões que garantem a nossa liberdade religiosa, mas é o sermão bem preparado e a Escola Dominical bem planejada e executada que ajudará os membros da igreja a exercitar sua liberdade na hora de apertar ou não o botão do controle remoto.
Aproveita que 2020 está aí, e responda para você mesmo: e depois do protesto, vai ficar tudo na mesma ou vou fazer algo diferente?