Um blog do Ministério Fiel
Dois princípios para experimentar mais de Deus (Parte 2)
Na postagem anterior, vimos que há mais de Deus, que podemos experimentar mais de Deus. Aprendemos o primeiro princípio que diz que “Deus é conhecido por meio das três pessoas, de modo que nós nos relacionamos com o Pai, o Filho e o Espírito.” Hoje veremos o segundo princípio.
Podemos conhecer mais de Deus: o princípio da união e comunhão
A vida de Moisés está longe de ser exemplar, mas, por causa de um único momento, ele é meu herói.
Deus havia resgatado seu povo da escravidão no Egito. Agora, no deserto, eles fazem um bezerro de ouro e o adoram em lugar de Deus (Êx 32.1-6). Ainda assim, Deus reitera a sua promessa de lhes dar a terra de Canaã. Porém acrescenta: “eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho” (Êx 33.3).
Pense por um momento sobre tal oferta. O povo poderia ter as bênçãos de Deus sem as exigências da sua santa presença. Imagine se oferecessem a você um ingresso para o céu, sem a necessidade de ser santo. Você aceitaria a oferta?
Isto é o que Moisés diz em resposta:
Se a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar. Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra? (Êx 33.15,16)
É uma resposta extraordinária. Em certo sentido, Moisés está recebendo como oferta a realização do seu objetivo de vida — e ele pode alcançá-lo sem a obrigação de ser o povo peculiar de Deus. Mas conhecer a Deus e ser o seu povo é o que realmente importa para Moisés. Deus oferece a Moisés tudo, exceto Deus, mas Moisés não quer tudo. Ele quer Deus. E, assim, ele recusa a oferta. As bênçãos da terra prometida são secundárias em relação à verdadeira bênção, que é o próprio Deus. Nós não somos apenas salvos do pecado; nós somos salvos para Deus.
A vida cristã envolve uma experiência viva e palpável de Deus. Há uma verdadeira relação: um relacionamento de mão dupla que envolve dar, receber, ser amado e amar. O cristianismo não consiste apenas de verdades sobre Deus nas quais devemos crer, nem apenas de um estilo de vida que devemos adotar. É um verdadeiro relacionamento de mão dupla — um relacionamento que experimentamos aqui e agora. No passado, os cristãos designavam esse relacionamento de “comunhão com Deus”. Hoje, normalmente usamos a palavra “comunhão” apenas para nos referir à Ceia do Senhor. Mas eles a usavam mais amplamente para falar sobre nossa experiência de Deus (incluindo a experiência na Ceia do Senhor).
Aqui entra o nosso segundo princípio: nossa união com Deus em Cristo (que é obra inteiramente de Deus) é a base para a nossa comunhão com Deus na experiência (que é um relacionamento de mão dupla). De forma mais simples, a nossa união com Deus é a base para a nossa comunhão com Deus.
Esse princípio nos protege de dois perigos opostos. O primeiro é pensar que o nosso relacionamento com Deus é algo que nós conquistamos. Se nos devotarmos à oração, ou aprendermos certas técnicas de meditação, ou servirmos arduamente, então, supomos, podemos verdadeiramente conhecer a Deus. Mas a união com Deus é uma via de mão única. Ela se baseia inteiramente na graça de Deus. Ela começa com a amorosa escolha do Pai, é conquistada pela obra do Filho e aplicada a cada um de nós pelo Espírito. Não é, de modo algum, algo que conquistamos. Nós nem sequer contribuímos de qualquer maneira. É uma dádiva que Deus nos concede em seu amor. Toda a ação é unidirecional.
Pode ser que você nunca tenha tido uma sensação de relacionar-se com Deus. Talvez isso se deva ao fato de que você nunca tenha se entregado aos cuidados de Cristo. Jesus diz: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Não há nenhuma maneira de relacionar-se com Deus senão por meio de Jesus.
O segundo perigo é contentar-se com pouco — pouco de Deus.
Minha mãe é cristã há quase sessenta anos. Recentemente, ela me disse: “Jesus hoje é mais precioso do que nunca para mim”. Um mês antes, ela me falou: “Este ano, eu e seu pai temos tido a bênção de ler a Bíblia mais do que em qualquer outro momento de nossa vida”. Sessenta anos depois de sua conversão, minha mãe tem se deleitado em Deus mais do que nunca.
Você também pode conhecer mais de Deus. Deus nos salvou para que possamos desfrutar de um relacionamento com ele — e esse relacionamento com Deus é uma via de mão dupla. Deus se relaciona conosco e, em contrapartida, nós nos relacionamos com Deus. Então, nós contribuímos para o relacionamento. Aquilo que fazemos afeta a nossa experiência de Deus.
Imagine dois irmãos. Jack faz o café da manhã para o seu pai todos os dias e eles conversam por meia hora, enquanto comem juntos. Mais tarde naquele dia, Jack e seu pai passam tempo juntos — empinando pipa, jogando futebol, lendo um livro. Ao contrário, Phil, o irmão mais velho de Jack, não se envolve com seu pai. Phil passa o dia inteiro em seu quarto, ouvindo música no volume máximo. Nas raras ocasiões em que Phil se comunica com o pai, geralmente tudo o que se ouve são resmungos desinteressados.
Quantos são os filhos desse pai? A resposta, claro, é que são dois. E o que eles fizeram para se tornarem filhos? Nada. Eles simplesmente nasceram como filhos. Mas apenas Jack deleita-se em ser filho. Apenas Jack experimenta um bom relacionamento com seu pai.
Orar e ler a Bíblia não tornará você mais cristão. E não fazer tais coisas não tornará você menos cristão. Mais ou menos como Jack e Phil, nós nos tornamos filhos de nosso Pai celeste simplesmente porque nascemos — a diferença é que, como cristãos, nós nascemos de novo. Somos salvos pela graça somente, por meio da fé em Cristo. Nosso status como filhos de Deus é uma dádiva. Mas o quanto nós desfrutamos dessa comunhão depende do que nós fazemos. Paulo capturou com clareza essa dinâmica ao dizer: “prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp 3.12).
O que fazemos importa?
Compreender essa distinção entre união e comunhão nos protege, por um lado, de pensar que nossas ações fazem toda a diferença, e, por outro, de pensar que as nossas ações não fazem diferença nenhuma.
- Nossas ações não nos tornam cristãos, nem nos tornam mais cristãos, nem nos mantêm cristãos — pois a nossa união com Deus é obra inteiramente dele.
- Nossas ações fazem uma real diferença no nosso desfrute de Deus — pois a nossa comunhão com Deus (nosso desfrute da nossa união com Deus) envolve um relacionamento de mão dupla.
É por isso que, mesmo sendo um cristão, o seu relacionamento com Deus pode parecer fraco quando você negligencia esse relacionamento. Contudo, ao mesmo tempo, é por isso que você sempre pode afirmar que a sua união com Deus está fundamentada na rocha firme que é a obra consumada de Cristo. A despeito do quanto você maltrate ou negligencie sua comunhão com Deus, você sempre pode começar de novo, pois você está para sempre unido a Deus em Cristo.
Nosso foco será a nossa comunhão com Deus — como nós podemos desfrutar um relacionamento vivo com Deus. Mas nunca podemos nos esquecer de que o fundamento da nossa comunhão com Deus é a nossa união com Deus em Cristo. A maravilha da graça de Deus é que o nosso relacionamento com ele não é algo que temos de conquistar. É uma dádiva do começo ao fim.
Em cada capítulo do livro, eu ofereço algumas ações práticas para ajudá-lo a crescer em intimidade com Deus. Espero que esta tarefa inicial possa encorajá-lo a começar de novo se sua comunhão com Deus está fria.
Durante uma semana, a cada dia, passe algum tempo em oração ao Pai, depois ao Filho, depois ao Espírito. Em cada uma delas, ofereça louvores ou faça petições que estejam peculiarmente relacionadas ao papel específico daquela pessoa na sua vida.
Artigo adaptado do livro Experimentando mais de Deus, de Tim Chester. Publicado pela Editora Fiel.