Como a gentrificação afeta os mais pobres

A gentrificação é uma questão emocional para muitos em nossa comunidade de moradias sociais. Muitas das antigas habitações e cortiços, do que era, historicamente, considerado como “a velha” Niddrie, se foram. Em seu lugar, estão campos verdes, canteiros de obras, novos apartamentos, casas e uma variedade de agências governamentais e de serviços voluntários.

Quase tudo parece reluzente e novo. A escola, o consultório médico, a biblioteca, o minimercado e nossa própria igreja. Até os blocos de apartamentos próximos de nós receberam um “facelift”. Há pouco tempo, o conselho dragou o local da queima de lixo (o rio) e construiu um sistema de estradas que leva ao novo hospital infantil. Está tudo bem. A regeneração, nesse nível, é nossa amiga.

Mas há um lado sombrio nesse fenômeno.

Perda da Comunidade

Parece que a vida comunitária foi empurrada para as margens. Por exemplo, “Niddrons” nativos se reúnem no “Clube dos Mineiros” local e socializam ali. A nova classe média, jovem e promissora, por outro lado, não seria vista sendo morta ali. (Mas, novamente, você precisa ser recomendado para poder frequentar um local). O centro comunitário local administra um clube estranho para jovens e idosos, mas eles não fazem muito pelas centenas de desempregados, nem pela nova classe média trabalhadora. Depois, há os imigrantes, que simplesmente trancam as portas e mantêm suas cabeças baixas à noite.

Em todo esse novo trabalho de construção, parece haver pouco pensamento sobre como reunir todos esses grupos sociais. Os habitantes nativos têm um forte senso de comunidade, a classe média que chega traz um forte senso de individualismo materialista, e os imigrantes importaram o compromisso de manter sua identidade cultural. Mesmo que ainda no princípio, o tribalismo já é evidente.

Mas os sociólogos falam da regeneração como uma oportunidade de “reinvestir” em comunidades como Niddrie, como se isso fosse simples. Reinvestir o que? As empresas de construção estão ficando ricas, certamente. Subsídios estão sendo distribuídos a todos os grupos de influência sobre questões sociais que você pode imaginar – então eles estão se saindo muito bem. Há muitos aqui que trabalham em nossa comunidade, mas não fazem parte dela.

Experiência socioeconômica

Niddrie, sob vários aspectos, tornou-se um gigantesco experimento socioeconômico e uma espécie de campo de prova para políticas urbanas progressivas. Remodelar o local, construir algumas casas dec(ad)entes, atrair jovens compradores de primeira vez, distribuir um pouco de habitações sociais e garantir um lugar para a crescente população imigrante da cidade. Geralmente, tudo isso é feito em detrimento (e não em benefício, como costuma ser vendido) dos mais pobres. Para onde eles estão indo? Essa é a minha pergunta. Nenhum dos nossos problemas sociais está sendo resolvido pela regeneração aqui em Niddrie. Eles estão apenas sendo diluídos e, como peças de xadrez, pessoas problemáticas estão sendo deslocadas pelo o outro tabuleiro que é a cidade de Edimburgo.

Por exemplo, muitas das reuniões da “nova comunidade”, das quais participei, foram realizadas por pessoas de fora. Da mesma forma, muitas das reuniões da “velha comunidade” em que participei são realizadas por pessoas de dentro da cultura. Não parece haver mais de que um real consenso ou fusão dos dois mundos do que os poderes se impondo um ao outro.

Positivamente, o problema das drogas diminuiu um pouco (embora ainda seja muito predominante). As ruas parecem mais seguras, certamente mais limpas. Em alguns locais, pelo menos. Por outro lado, os mais pobres estão sendo expulsos das casas em que vivem há gerações. Muitos estão assustados com forças fora de seu controle, que lhes dizem para acompanharem a mudança ou irem embora. Para muitos moradores, parece que eles são apenas ouriços olhando o maciço rolo compressor da mudança social. Bob Lupton concorda:

“Resistir à gentrificação é como tentar conter a maré alta do oceano. Certamente está chegando, implacavelmente, com poder e impulso crescente. Jovens profissionais e ninhos vazios estão inundando nossas cidades, comprando lofts em condomínios e residências históricas em ruínas, abrindo estúdios de artistas de vanguarda e restaurantes gourmet. Se somente as forças do mercado governarem o dia, os pobres serão gradual e silenciosamente deslocados, pois o mercado não tem consciência. Mas aqueles que entendem o coração de Deus pelos pobres têm um desafio histórico de inserir os valores de compaixão e justiça no processo. Mas isso exigirá novos paradigmas de ministério”.

Admito, ele está falando do contexto americano, mas ainda assim acho seu argumento é válido. Toda essa preocupação dos governantes com a regeneração urbana e o “aprimoramento” de nossa comunidade, não se estende a nenhum elemento espiritual. Prédios e instalações melhores não farão muita diferença para a vida de muitos aqui, principalmente se a classe média enxergar “investimento comunitário” em termos puramente financeiros.

Investimento abrangente

Se eles não investem de todo o coração na comunidade, nós, cristãos, precisamos fazê-lo. Precisamos fazer mais do que apenas entrar nessas áreas. De fato, mover mundos e fundos para a comunidade deve ser mais do que um vago “idealismo encarnado”, deve ser sobre investir em nossa comunidade de maneira abrangente. Como seria isso? Aqui estão quatro sugestões.

  1. Os cristãos devem procurar participar de comitês e conselhos da comunidade (escolas, vigilância de bairro, festivais comunitários, etc.). Deveríamos ter interesse em discussões e decisões locais. Dentro disso, devemos viver de acordo com os princípios de justiça da Bíblia, procurando falar por aqueles que não podem falar por si mesmos ou encontram problemas para se comunicar efetivamente. Sento-me em alguns conselhos locais e as pessoas confiam em mim para falar por elas, porque moro em Niddrie. Elas sabem que eu amo as pessoas e minha comunidade.
  2. Poderíamos oferecer aulas noturnas para treinamento e desenvolvimento. Você tem uma habilidade específica que poderia ensinar? Deveríamos passar o conjunto de habilidades que tivermos para os que estão à nossa volta, procurando ativamente maneiras de compartilhar isso, na comunidade, para o benefício de todos.
  3. Devemos ser inovadores na maneira como realizamos nossa divulgação pessoal. Obviamente, o evangelho e a igreja local devem permanecer no centro. Deveríamos alimentar nossos membros com uma boa dieta bíblica, ao mesmo tempo em que encorajamos uma comunidade mais ampla. Certamente, a igreja não deve ser envolvida em ação social por causa da ação social. Nossa missão é eterna. Ao mesmo tempo, não devemos usar os erros do passado para justificar uma abordagem intelectual “somente de palavras” à nossa vida comunitária. “Primazia do evangelho, Palavra no centro e missão constante” deve ser o nosso lema.
  4. Os cristãos devem trabalhar mais para tentar construir uma comunidade rica e autêntica. Devemos ser os catalisadores para aproximar pessoas de todas as faixas. Devemos moldá-los em nossa comunhão e devemos bater o tambor em nossas comunidades. As pessoas só compram aquilo que, primeiro, veem em ação. Procure formas pelas quais sua igreja possa fazer isso.

Por toda a conversa sobre “intencionalidade missionária” nos círculos de plantação de igrejas, devemos ser intencionalmente bíblicos e focados no evangelho, enquanto trabalhamos em como responder a essas questões que, para nós, embora dolorosas, não vão desaparecer.


Nota do Editor: Este texto foi publicado pelo autor considerando o contexto escocês, porém nós, do Voltemos ao Evangelho, cremos que seu ensino geral é importante também para o nosso contexto.

Por: Mez MecConnell. © 20schemes. Website: 20schemes.com. Traduzido com permissão. Fonte: How Gentrification Affects the Poorest.

Original: Como a gentrificação afeta os mais pobres. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Paulo Reiss Junior. Revisão: Filipe Castelo Branco.