A celebração das mães sem usurpação

Todos os anos me vem o mesmo sentimento no dia das mães, algo agridoce, intrigante e até incômodo.

A parte doce com certeza vem da minha maternidade, meus filhos que me alegram e enchem meus dias, minhas semanas e meu coração. Estas vidas que Deus me deu para cuidar e nutrir são as vidas que mais anelo que tenham Vida em Cristo. É certo que a doçura nem sempre me acompanha nos momentos difíceis de disciplina, nem sempre minha paciência é doce, nem tão doces são todas as minhas palavras. Preciso de Cristo me transformando diariamente para que seu Amor permeie meus dias e atitudes para com estes pequenos corações.

A parte azeda (agri) provavelmente tem relação ao fato de que há muitos anos eu não comemoro esta data com minha mãe, pois ela faleceu há quase 25 anos. Hoje, já vivi muito mais anos sem ela, do que vivi com ela no passado. Gostaria de tê-la comigo em muitos momentos em minha vida, nos momentos difíceis e nos dias alegres, no nascimento de cada filho e nos primeiros dias de puerpério, nos dias que fico doente e preciso de uma sopinha, nos passeios e primeiros passinhos das crianças ou até neste domingo para poder lhe ligar ou lhe dar um abraço.

Este dia é tão sentimental e romantizado pela sociedade, que faz o comércio girar como se fosse Natal, traz muitas lágrimas e também longas declarações de amor. Porém, tenho pensado que este é um dia que pode se tornar perigoso por endeusar a figura da mãe (muitas vezes em desprezo e detrimento total pelos pais), dando a nós, mães, a sensação de que nada aconteceria se não fosse pelas nossas mãos, pela nossa astúcia e capacidade de realizar várias coisas ao mesmo tempo.

Não nego a inteligência e capacidade de grandes realizações através da vida das mulheres (e mães!), mas precisamos nos lembrar de quem nos fez assim, quem nos deu capacidade de realizações e tarefas complicadas, muitas ao mesmo tempo. Aquele que nos formou no interior de nossas mães, tecendo nossos tecidos e dando-nos forma, aquele que nos conheceu antes mesmo de sermos um embrião e que nos escolheu na eternidade, Deus!

É justo, amável, de boa fama e respeitável darmos honra àquelas que nos nutrem, cuidam, amam e nos socorrem. Mas não são estas características do nosso Deus também? Sim, são! Por sermos feitas à sua imagem temos algumas de suas características em nós, mas isto não nos torna deusas. A despeito de vida nascer em nossos úteros e corações, estas características devem nos lembrar que somos criadas e não criadoras, somos servas e não rainhas.

Este domingo que é tão celebrado ao redor do mundo, pode ser celebrado em seu lar também. Porém, lembre-se de que muito antes de ele ser instituído dia das mães, o domingo já era celebrado, já era dia de festa, dia de comemorar a vida, a ressurreição e a salvação que vem de Deus.

Então comemore este dia, não de maneira egoísta, como sendo seu dia, lembre-se de que domingo é primariamente o Dia do Senhor, dia de honrar ao Deus que nos criou, que nos fez mães e nos capacitou a fazer tudo o que fazemos. Comemore agradecendo ao Deus da Vida pela oportunidade de ser mãe e ter mãe, comemore louvando a Cristo que foi um filho obediente ao seu Pai dando sua vida por mães, pais e filhos.

Celebre este dia com alegria, celebre o Dia do Senhor!