Um blog do Ministério Fiel
Ele chorou quando eles o acolheram
A esperança e a tristeza do Domingo de Ramos
Quando Jesus se aproximou de Jerusalém, momento que ficou lembrado na história como o Domingo de Ramos, ele chorou por aquela cidade. Para um observador pouco atento, poderia parecer que Jesus chorou em momentos inapropriados.
Ele chorou no túmulo de Lázaro para então chamá-lo para fora momentos depois (João 11. 35-44). As multidões entusiasmadas que tinham ouvido falar desse grande milagre (João 12: 17-18) o escoltavam com entusiasmo à cidade de Davi, clamando as palavras do Salmo 118: 25-26: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é o Rei de Israel!” (João 12.13). Todos os judeus teriam entendido essas palavras como uma saudação messiânica – e Jesus respondeu com lágrimas.
“Se você compreendesse neste dia, sim, você também, o que traz a paz! Mas agora isso está oculto aos seus olhos. Virão dias em que os seus inimigos construirão trincheiras contra você, e a rodearão e a cercarão de todos os lados… Não deixarão pedra sobre pedra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus a visitaria”. (Lucas 19.42–44)
Essa é uma resposta que vale a pena a reflexão – o que o salmista poderia chamar de momento selah. O grande Rei chorou na cidade do grande Rei pouco antes de sua “entrada triunfal” através de seus portões, para a alegria profetizada de muitos (Lucas 19:41; Zacarias 9: 9).
Pedra rejeitada, obra do Senhor
O Salmo 118 estava nos ouvidos e olhos do Salvador quando a Semana Santa começou – aquela semana consumada, quando tudo o que o templo e os sistemas sacrificiais prenunciavam (Hebreus 10: 1) seriam cumpridos em um único grande sacrifício definitivo conduzido pelo próprio grande sumo sacerdote (Hebreus 4.14; 9.26).
Jesus ouviu o salmo enquanto a multidão gritava “Hosana!” e também viu o salmo nos planos assassinos dos líderes judeus: “A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos. (Salmo 118. 22-23). Foi isso o que partiu o coração de Jesus enquanto ele montava no jumento em direção a Jerusalém em meio às palmeiras. Isso foi maravilhoso.
Foi surpreendente que Jerusalém, “a alegria de toda a terra” (Salmo 48: 2), não reconheceu quando o motivo da sua alegria chegou depois de longos séculos de espera.
Foi maravilhoso que o soberano Rei dos reis (1 Timóteo 6:15), o Filho e Senhor de Davi (Mateus 22: 44-45), que ordenou desde épocas passadas que os construtores rejeitariam sua pedra angular, sentiu profunda tristeza pela cegueira e rejeição dos judeus e desejou profundamente que eles soubessem tudo o que ele estava fazendo para trazer a paz (Lucas 19.42).
Foi maravilhoso que o Messias judeu, que veio para responder ao “Hosana!”, chorasse e trouxesse paz não apenas para o povo judeu, mas também para os povos gentios da terra – um mistério “oculto nos tempos passados” (Romanos 16.25) que em breve seria proclamado aos gentios por um fariseu judeu (Efésios 3: 1-6) que, se estivesse presente quando Jesus entrou na cidade, teria odiado zelosamente tudo o que a procissão implicava.
E tudo isso foi “obra do Senhor” (Salmo 118.23). Sim, porque o Senhor havia dito: É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas e seja rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, seja morto e ressuscite no terceiro dia”. (Lucas 9.22).
Oh, pelas coisas feitas para a paz!
O dia que o senhor fez
A maravilha não é apenas que os construtores rejeitaram a pedra angular, mas que o abençoado se tornou uma maldição para todos nós que mais tarde o chamaríamos de bem-aventurado (Gálatas 3.13).
O grande salmo celebra: ” Juntem-se ao cortejo festivo, levando ramos até as pontas do altar” (Salmo 118.27). Quem, naquele dia da grande chegada do Rei, teria imaginado que esse Rei tinha vindo para ser o Sacrifício dos sacrifícios e que a cruz romana, na qual ele seria amarrado, se tornaria o altar mais sagrado já construído?
Ninguém, exceto o Rei Jesus. Foi por isso que ele veio e porque sua alma estava tão perturbada no meio da multidão alegre (João 12.27).
Contudo, a alegria da multidão foi a resposta certa. De fato, o salmo exigia isso: “Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. (Salmo 118.24). Algo que perturbou profundamente o grande Libertador foi uma obra apresentada a ele que expiaria o pecado de uma miríade de milhões de pecadores (Efésios 1.7).
Esse foi o dia que o Senhor fez, um dia de regozijo e alegria para os pecadores. Contudo, um dia de choro para o Senhor. Pois, oh, as coisas que fizeram pela paz!
Seu amor imutável dura para sempre
Entretanto a dor de Jesus não era desesperançada. Não, ele sabia que seu choro duraria apenas uma noite, e a alegria viria ao amanhecer (Salmo 30. 5). Ele sabia que era a vontade de seu Pai esmagá-lo e fazê-lo sofrer (Isaías 53.10). Ele também sabia que depois de ter feito a oferta suprema pelo pecado, depois de ter suportado as iniquidades de muitos para que eles pudessem ser considerados justos, depois que a angústia de sua alma passasse, ele veria sua descendência espiritual redimida e conheceria a satisfação suprema (Isaías 53.10-11). Mesmo em meio às lágrimas, Jesus olhou para a alegria que estava diante dele (Hebreus 12.2) e voltou seu rosto para o que estava por vir em Jerusalém (Luke 9.51).
Essa foi a resolução de um amor insondável – um amor mais forte do que a morte e mais feroz do que a sepultura – a própria chama do Senhor (Cânticos 8.6). Foi um amor tão bom, tão constante, tão duradouro, tão alto, tão amplo, tão longo, tão profundo que requer a própria força de Deus até mesmo para compreendê-lo (Efésios 3.18-19). Foi assim que Deus amou o mundo (João 3.16), um mundo que o rejeitou (Salmo 118: 22). Foi o amor que chegou a extremos inimagináveis para realizar as coisas que contribuíram para a paz – por nós.
Portanto, em honra de tal Rei, nós nos juntamos àquela multidão antiga para nos alegrarmos no dia que o Senhor fez, levantando nossas mãos, como se estivéssemos segurando palmas festivas e declarando,
Bendito o que vem em nome do Senhor! . . . Tu és o meu Deus; graças te darei! Ó meu Deus, eu te exaltarei! Dêem graças ao Senhor, porque ele é bom; o seu amor dura para sempre” (Salmos 118.28,29).