Falando sobre sexo com filhos pequenos

Vivemos em uma sociedade sexualizada. Numa sociedade assim, somos tentados a imaginar que o mais adequado a fazer é não falar sobre sexo com os nossos filhos. Imaginamos algo do tipo: “quanto menos eles ouvirem sobre o assunto, melhor!” Mas, seria essa a postura mais adequada de pais cristãos?

Penso que não. Primeiro, porque Deus nos deu a tarefa de educar os nossos filhos, visando conduzi-los à sabedoria, cujo princípio é o temor do Senhor. Sabedoria nada mais é do que a conformidade à vontade de Deus no todo da vida, o que inclui a dimensão da sexualidade. Em segundo lugar, evitar o assunto não é o caminho porque evitá-lo não significa deixar os nossos filhos sem qualquer informação. Ao invés disso, significa permitir que o entendimento deles seja construído pela interação com outros formadores de opinião: os colegas da escola, os youtubers, as animações assistidas na TV, etc.

Por essas duas razões, pelo menos, pais cristãos devem falar sobre sexo com o seu filho. Mas, quando? E, o que?

Há tempo certo para tudo, inclusive para falar sobre sexo com os filhos. Quando pensamos nisso, costumamos fazê-lo de modo objetivo, como se existisse um momento único, uma idade específica, em que todas as crianças estivessem preparadas e/ou precisassem aprender sobre sexo. Eu penso que a coisa não é tão simples assim. Há um tempo adequado, mas esse tempo não está relacionado, exatamente e simplesmente, à faixa etária das crianças e não é o mesmo para todas elas. Ele está mais relacionado à maturidade que eles atingem no desenvolvimento pessoal e/ou à necessidade promovida por situações da vida.

Em meus sonhos ideais, tendo a pensar que o momento mais natural para este assunto vir à tona seria o da pré-adolescência, quando, em virtude do próprio desenvolvimento natural, as crianças começam a manifestar maior interesse pelo assunto. O problema é que não vivemos no mundo ideal. Vivemos em uma sociedade sexualizada, na qual, lamentavelmente, as coisas têm sido antecipadas. E isso, frequentemente, pode exigir a antecipação da conversa sobre sexo com os nossos filhos, apesar do nosso desejo original. Por mais responsáveis que sejamos na criação de nossos filhos, é impossível ter controle absoluto das circunstâncias a que eles serão submetidos ao longo do seu crescimento. É impossível controlar, por exemplo, tudo o que eles haverão de ver e ouvir. Bem antes da fase da puberdade, eles podem ser submetidos a situações que gerem questionamentos e exijam alguma resposta.

Isso significa que, no fim das contas, mais do que obter uma resposta precisa sobre quando falar sobre sexo com os nossos filhos, o importante é estar atento aos sinais enviados por eles e manter o canal de comunicação aberto para que eles tenham liberdade de enviar com naturalidade esses sinais. E ao receber esses sinais, é importante lembrar que eles não precisam saber tudo de uma vez. Não é porque uma criança ouviu alguma coisa e fez uma pergunta sobre sexo que ele precisa se tornar expert no assunto aos 6 anos de idade. Quando isso acontece, é preciso investigar cuidadosamente o quanto ele descobriu sozinho para oferecermos respostas suficientes, que resolvam a inquietação do momento e permitam a ampliação do conhecimento depois.

Isso que diz respeito ao “quando” também diz respeito “o que”. O conteúdo de nossa fala com os nossos filhos também deve variar de acordo com a maturidade adquirida por eles e/ou a necessidade imposta pela circunstância. Por isso, neste texto eu não pretendo oferecer uma grade de conteúdos objetiva, que você deve ministrar ao seu filho em momentos específicos,  nem frases prontas que você possa usar em um momento ou outro. Mas mencionar as ideias gerais que devem reger a nossa comunicação aos nossos filhos quando falamos sobre sexo com eles.

São as seguintes:

  • O sexo é bom. Frequentemente, na tentativa de livrar os seus filhos da imoralidade sexual, pais cristãos acabam exagerando e comunicando que o sexo em si é imoral. Além disso não ser a verdade sobre o sexo [ele foi criado por Deus e, portanto, é bom, como tudo aquilo que foi criado por Ele] isso pode gerar problemas para a criança no futuro, quando ela já estiver adulta. Uma das coisas que nossos filhos precisam aprender sobre o sexo é que ele é bom. Para comunicar isso a crianças, eu costumo usar a analogia do “presente”, dizendo que o sexo é um presente muito valioso que Deus deu ao homem.
  • O sexo possui um contexto adequado. O problema não é o sexo, mas o sexo fora do contexto. Esta é a segunda coisa que os nossos filhos precisam entender. Ainda, valendo-me da analogia do presente, eu costumo me referir aos limites impostos por Deus à prática sexual à embalagem. Costumo dizer que quando damos um presente às pessoas, sobretudo quando este presente é valioso, nós tomamos o cuidado de colocá-lo numa embalagem forte, que o proteja.
  • O contexto adequado para o sexo é o de um compromisso íntimo e duradouro: o casamento. Em nossa sociedade, as pessoas costumam ver o sexo apenas como questão biológica ou afetiva [na verdade, hoje, em dia, o segundo é o fator mais determinante]. É importante que nossos filhos aprendam que o contexto adequado para a prática sexual não é apenas biológico ou afetivo, mas, sobretudo, moral e espiritual. Deus criou o sexo para ser “o conector físico mais poderoso, para o relacionamento humano mais especial e mais íntimo que podemos ter nesta terra” (William P. Smith); um relacionamento tão especial que foi destinado a expressar a relação entre Deus e o seu povo. Enquanto presente, o sexo é daqueles que tem escrito na embalagem: cuidado, frágil! Para não quebrar o presente e evitar nos machucar com ele, é preciso abri-lo com cuidado, com a pessoa certa.

Certamente, há outras coisas que podemos ensinar aos nossos filhos sobre o assunto. Mas eu creio que aqui estão, resumidamente, os temas maiores e mais centrais.

Aqui vão algumas dicas práticas para você que está envolvido na situação:

  1. Crie espaços seguros. Se queremos ajudar os nossos filhos, é fundamental que eles confiem em nós e desfrutem de liberdade para nos dizer o que pensam e sentem. Onde há medo não costuma haver aprendizado.
  2. Trate do assunto com naturalidade. Ao invés de convocar o seu filho, regularmente, para conversas solenes, aproveite os momentos da vida comum em que o assunto sexo for naturalmente sugerido.
  3. Aproveite as perguntas de seus filhos. Não faça pouco da curiosidade deles. Ao invés disso, leve as questões deles a sério e procure respondê-las com seriedade. Procure fazer isso também de forma natural, mesmo que em seu coração você esteja pensando: “achei que fosse demorar bem mais tempo para falar sobre isso”.
  4. Não se limite às perguntas deles. Em conversas regulares, esteja atento à visão que eles estão construindo a respeito de relacionamentos e sexualidade. Sabe aquela história de testar as nossas opiniões colocando-as sobre um terceiro: “conheço uma pessoa”, então, os seus filhos poderão fazer isso, eventualmente – falar de si, nos outros. Esteja atento.
  5. Ore pelas conversas que você tem com o seu filho. Lembre-se que suas palavras são importantes, mas é a Palavra de Deus que fala ao coração. Portanto, lembre-se de pedir a Ele para que a Palavra dEle, entremeada às suas, entre no coração do seu Filho e o conduza ao caminho da vida.