A agridoce benção da maternidade

Esta semana nosso filho completou seu primeiro mês aqui fora. Tê-lo conosco tem sido uma das maiores bênçãos de nossas vidas! Temos experimentado um amor crescente e desafiador. Sua vida, tão pequena e frágil tem sido uma grande bênção para nós.

Por falar em bênção, de uns dias pra cá, tenho refletido muito sobre o significado dessa expressão. Afinal, o que, de fato, significa ser abençoado? Gozar de felicidade sem perturbação, de prazeres sem sofrimento? Bem, a maternidade tem me ensinado que não.

A bênção de ter um filho não diz respeito somente a alegria e prazer que ele nos proporciona, mas aos desafios que ele nos impõe e aos sacrifícios que esse relacionamento, quase unilateral, exige de nós. E, talvez seja justamente esse o ponto principal do que é a bênção, na perspectiva bíblica: o sacrifício.

A bênção não é somente a emoção, o abraço quentinho, os sons fascinantes e o riso frouxo que nos enchem de alegria e derretem o coração. A bênção é aquilo que acontece nas madrugadas insones quando o nosso corpo não quer se sujeitar a mais um sacrifício. É aquilo que acontece nos primeiros dias de amamentação, quando o desejo do coração é simplesmente retroceder. Quando precisamos nos sujeitar a uma rotina que não nos traz benefícios e prazeres imediatos. Quando nossas refeições ficam sobre a mesa para alimentarmos o filho que chora. E quando nossas terríveis e egoístas misérias são reveladas diante da luz.

Os filhos são bênção, não só por aquilo que são, mas por aquilo que impõem a nós.

Nunca vou me esquecer da primeira noite que passamos com o nosso filho em casa. Eu dormi o mínimo e acordei extremamente frustrada por isso. Ainda deitada na cama, o quarto escuro e de costas para o meu marido, minha frustração irrompeu em lágrimas. No meu íntimo eu pensei: minha vida mudou para sempre (aqui nasce uma mãe). Me senti perdida, consternada, meio no automático peguei o celular e, ao desbloquear a tela, me deparei com a postagem de uma amiga, que também é mãe, e aquilo foi como um abraço de Deus. A postagem trazia a seguinte legenda:

“O trabalho de uma mãe é espiritual. Não espiritual num modo pseudo-sacramental que as mães ‘conscientes’ alegam (como se o resto de nós fôssemos robôs desalmados sem intenções), mas espiritual porque estamos lidando com almas o dia todo. Às vezes, o tamanho de uma criança pode nos fazer esquecer que sua alma é tão grande quanto a nossa.” —Rebecca VanDoodewaard

“Às vezes, o tamanho de uma criança pode nos fazer esquecer que sua alma é tão grande quanto a nossa”, essa frase me capturou de tal forma; foi a resposta de Deus às minhas lágrimas e ao meu sentimento de perda. Renunciar dói, mas ali, diante dos meus olhos, estava o consolo de Deus. Deus estava me esticando já naquela primeira noite com o nosso bebê em casa; frustrando minhas expectativas, remodelando o meu coração, expondo minhas misérias e, sim, de uma forma antagônica ao pensamento do mundo, Ele estava me abençoando.

Quando meu marido acordou, percebendo o meu choro, ele colocou a mão no meu ombro e perguntou se eu estava bem.

– Sim, só estou cansada. Foi uma noite difícil – respondi.

Ele não sabia o que estava em meu coração, mas o Senhor sabia e o usou para dizer aquilo que eu precisava ouvir:

— Eu olho para o nosso filho e sei que a maioria das coisas que faremos por ele nesse momento ele não se lembrará. Ele nunca saberá, a menos que contemos a ele. E não é assim que Deus age também conosco? Nossa consciência em relação ao que Ele faz por nós é mínima, mas, ainda assim, Ele está sempre empenhado em cuidar de nós. Seu trabalho, silencioso e oculto, é o que nos sustenta. Nós devemos fazer o mesmo pelo nosso bebê.

Essas palavras me marcaram profundamente e, desde então, tenho vivido à sombra delas.

Nesse primeiro mês, Deus tem me esticado de todos os lados e me ensinado a olhar muito além das minhas próprias necessidades.  Então, se alguém me perguntar como tem sido ter o Asaph aqui fora eu vou responder, sem hesitar: bênção. E essa palavra expressará todas as alegrias, desafios, sacrifícios, amores e temores que a maternidade trouxe. Posso encarar cada uma dessas nuances como bênção porque elas fazem parte da amorosa porção do Senhor para mim.

A bênção do Senhor é muito mais larga do que ousamos imaginar, muito mais profunda do que as limitações de nossa mente. A bênção do Senhor é tão grandiosa, por vezes, pode ser esmagadora, assustadora e sacrificial, mas é sempre graciosa.

Posso dizer, sem dúvidas: Deus está me abençoando diariamente.