A submissão não começa em Efésios 5

Imagine se você nunca tivesse ouvido o Evangelho e alguém chegasse até você lhe ordenasse que se sujeitasse a Cristo. Você se sujeitaria? Obviamente que não. Pois não faria sentido. Uma ordem assim soaria bastante arbitrária e não produziria em você o desejo de se sujeitar.

Talvez, pelo contrário, você seria tomada por indignação e se revoltaria contra essa ordem. Ou seja, no fim das contas, a ordem produziria um efeito contrário ao proposto: ao invés de submissão, revolta.

Geralmente, quando falamos de submissão, logo, corremos para Efésios 5.22-24 e anunciamos o veredicto: as mulheres devem se submeter, ponto. Fim de conversa.

Mas, veja só, como Paulo caminha ao longo de toda a epístola aos Efésios. Ele não começa com uma ordem, aquilo que devemos fazer, mas com um anúncio, aquilo que Deus fez:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”

E Paulo passa a discorrer acerca das bênçãos espirituais concedidas por Deus ao seu povo. O livro de Efésios é uma majestosa carta de anúncio da obra de Deus em favor dos seus eleitos. É uma boa-nova.

Paulo quer que os seus leitores, primeiramente, conheçam a Deus, então, ele o apresenta; ele quer que eles amem a Deus, então, lhes anuncia que Deus os amou antes da fundação do mundo; e quer que eles se relacionem com Deus, e lhes anuncia o que Deus fez para tornar esse relacionamento possível.

Então, Paulo lhes diz que Deus fez tudo isso para formar um povo inteiramente seu, um povo santo e irrepreensível. Um povo que anda, não mais segundo a carne, mas pelo Espírito. Um povo que, antes, vivia em rebeldia, mas agora é chamado a viver em sujeição.

Quem poderia resistir a esse chamado à luz de tudo aquilo que foi anunciado acerca da obra de Deus? Quem, tendo recebido tamanha dádiva, poderia se recusar a responder ao seu doador em sujeição? Quem poderia julgar a Deus por injusto, tendo conhecimento de que Ele deu seu Filho Unigênito por pecadores como nós? Ninguém que tenha compreendido genuinamente o Evangelho da graça de Deus.

É por isso que Paulo não inicia sua epístola com regras, mas com o Evangelho. O Evangelho não é sobre regras, mas sobre uma notícia, uma boa notícia. Aqueles que a ouvem, a recebem e creem — como crianças ávidas por uma boa história — têm seus corações reorientados para andarem em obediência.

É por isso que Paulo não encerra sua epístola com o anúncio, mas avança ensinando aos Efésios como eles deveriam viver a partir de então, tanto como indivíduos, quanto como uma comunidade de fé. Aqueles que antes viviam para si mesmos deveriam viver uns para os outros, sujeitando-se uns aos outros em amor (Efésios 5.21).

E é nesse contexto de mudança de vida fundamentada na obra de Cristo que Paulo apresenta orientações práticas para os diferentes contextos do capítulo 5. Paulo sabia que aqueles cristãos, oriundos do paganismo, precisavam saber como se portar de forma particular.

Após falar aos crentes, de modo geral, Paulo, então, se dirige às esposas:

“As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido.” (Efésios 5.22-24)

É sob o prisma da gloriosa obra de Cristo em favor do seu povo que a ordem de submissão, dada às esposas, é vista como graça e não como tirania.

À luz de tudo quanto Paulo apresenta ao longo da epístola aos Efésios, fica claro que a ordem de submissão não se deve a qualquer sentido de inferioridade da mulher, seu valor não está em discussão aqui, o que está sendo dito às esposas é como o seu Senhor deseja que elas se portem para a sua glória.

Ele não está pedindo muito, afinal, assumiu para si todo o trabalho árduo para que pudéssemos carregar um jugo suave e um fardo leve. E agora que já somos parte dessa família, Ele ordena que nos submetamos a Ele em diferentes esferas, não para garantirmos nossa salvação, mas para realizarmos as boas obras para as quais nos predestinou de antemão.

Por mais difícil que esse chamado possa soar, qual filha de Deus não responderia a ele com um claro: “Eis-me aqui, Senhor”?

É somente à luz do grandioso anúncio do Evangelho que a submissão ganha sentido. Para um mundo caído, submissão é sinônimo de inferioridade, mas em nosso mundo, aquele pelo qual aguardamos, submissão é um reflexo da glória de Deus.

Nos sujeitamos em amor porque compreendemos que fomos amadas com amor eterno, e resgatadas mediante a submissão de Cristo. De fato, sem o amor de Cristo como fundamento, a ordem submissão não faria sentido para nós.

Portanto, se você deseja compreender a submissão pelas lentes do Evangelho, e não pelas lentes da cultura, comece lendo Efésios conforme Paulo escreveu, do início ao fim, ao invés de fazer apenas um recorte em Efésios 5.22-24. O contexto maior é o glorioso alicerce da submissão.

Não é sobre o nosso valor enquanto mulheres, mas sobre Cristo e sua Igreja; nós, como filhas da graça, devemos expressar, ainda que não perfeitamente, a submissão da Noiva redimida ao seu Senhor. Nos sujeitando a liderança de nossos maridos em honra a Cristo.

Por causa de sua obra em favor de nós, nós o honramos e servimos, conforme Ele deseja ser servido. A submissão não começa em Efésios 5.22, a submissão é uma resposta ao Evangelho de Cristo.