Um blog do Ministério Fiel
Cuidado com o legalismo
“Mas nem mesmo Tito, que estava comigo, foi obrigado a circuncidar-se, apesar de ser grego.” (Gálatas 2.3)
No livro “O Peregrino” de John Bunyan, no capítulo seis, Cristão (o personagem principal) recebe ensinamentos preciosos do Sr. Intérprete. E um deles é este:
“Então Intérprete o tomou pela mão e o levou a uma sala bem grande, cheia de poeira, pois jamais era varrida. Depois de examiná-la, Intérprete mandou um homem varrê-la. Ora, começando-o a varrer, o pó ergueu-se tão abundantemente que Cristão quase ficou sufocado. Disse então o Intérprete a uma jovem que estava ali ao lado: — Traga água e borrife um pouco na sala. Feito isso, a sala pôde ser varrida e limpa com alegria.
CRISTÃO perguntou — O que significa isso?
INTÉRPRETE — Esta sala é o coração do homem que jamais foi santificado pela doce graça do evangelho. A poeira é seu pecado original e as corrupções interiores que contaminaram todo o homem. Aquele que começou a varrer primeiro é a lei, mas a que trouxe água e a borrifou é o evangelho. Ora, você mesmo viu que assim que o homem começou a varrer, a poeira levantou, tornando impossível limpar a sala. Você quase ficou sufocado. Isso foi para mostrar-lhe que a lei, em vez de limpar o pecado do coração, na verdade o faz reviver, o fortalece e o amplia na alma, ao mesmo tempo que o revela e proíbe, porque não concede o poder de reprimi-lo.
— Depois — continuou ele — você viu a jovem borrifar a sala com água, podendo então limpá-la com alegria. Isso é para mostrar-lhe que, quando o evangelho entra no coração com sua influência doce e inestimável, o pecado é conquistado e subjugado, da mesma forma como você viu a jovem fazer baixar a poeira borrifando o chão com água. A alma se faz limpa pela fé, preparando-se consequentemente para que o Rei da Glória a habite.”
Paulo escreveu a carta aos Gálatas, porque faltava aos crentes da Galácia firmeza doutrinária para não serem influenciados pelos judaizantes (crentes legalistas). Estes ensinavam que os gentios (aqueles que não eram judeus de sangue) tinham de se submeter a toda a lei mosaica, mesmo após a conversão.
O legalismo é algo que nos estrangula; é bem como Cristão aprende com o Sr. Intérprete, só levanta poeira. Muitos dizem: agora que vocês são crentes, devem se portar assim, e mostram listas e mais listas do que não se deve fazer, como: não bebam, não fumem, não façam tatuagem, se vistam assim, não comam determinadas coisas, etc… Pois se vocês fizerem isso alcançarão a salvação. E como se fôssemos varrer o pó, ele não limpa, só levanta poeira e o coração não é transformado.
Mas o evangelho é algo que nos liberta. O evangelho nos liberta do moralismo, pois o moralista tende a pressionar seus membros a adotarem regras e regulamentos específicos. Paulo foi a Jerusalém se encontrar com os apóstolos e lhes expor o evangelho que ele pregava entre os gentios, mas desta vez ele levou Tito com ele, por quê? Os judaizantes que rondavam a igreja queriam que os crentes gentios se tornassem judeus nos costumes; eles até diziam, vocês precisam crer em Jesus, mas também precisam guardar a lei e serem circuncidados. Foi crucial para Paulo ter levado Tito, pois ele era grego e um cristão incircunciso.
Com Tito, Paulo mostra aos outros apóstolos um estudo de caso concreto, de um gentil convertido. Ele diz: “nem mesmo Tito”. Se houvesse a necessidade de um gentil ser circuncidado, Tito teria que ser, mas os apóstolos de Jerusalém não o obrigaram ou o constrangeram a isso. Ele foi aceito. Tito continuou Grego, ele era um grego convertido e não era um judeu culturalmente.
Estariam com isso os cristãos livres da lei? Não, os cristãos não estavam livres da lei e nem estão, mas os cristãos estão livres dela como um sistema de salvação. Obedecemos não por medo e insegurança. Obedecemos na liberdade da gratidão. Cada um tem sua cultura, seu jeito de ser, por isso, quando pessoas se convertem, elas não precisam ser como nós, elas precisam ser como Cristo. Portanto, assim como Tito não foi obrigado a se circuncidar e a se tornar um judeu, não devemos hoje insistir que as pessoas devem ser como nós, se vestir como nós ou ser como os de nossa denominação; isso seria acréscimos ao Evangelho, e não temos permissão para isso.
Usos e costumes nas Igrejas podem nos levar a escravidão! O evangelho nos livra do moralismo. Isso, com certeza, nos faz olhar para os nossos irmãos com mais simpatia.
Deus abençoe sua vida!