Sete lições para ser produtivo

Transcrição do Áudio

Então, pastor John, aqui estamos nós depois de meses e mais meses de gravações. Vamos dar um passo atrás e meditar sobre isso. Nos conte sobre o trabalho, especialmente seu próprio trabalho. As pessoas olham para seu ministério e dizem que você escreveu muito, falou muito, realizou muito. O que você aprendeu sobre sua própria produtividade? Que conselho sábio sobre produtividade ou criatividade você poderia compartilhar com a gente neste episódio do John Piper Responde?

[Piper] Bom, eu tenho algumas considerações, mas vou deixar que você e os ouvintes julguem se são sábias ou não.

Produtividade depende de muitas pessoas

Tony, você sabe tanto quanto eu que podcasts como esse não existem apenas por causa de uma pessoa. Ele não existiria se você não selecionasse as perguntas, se não cuidasse da tecnologia, se não editasse os episódios e se não os fornecesse ao Desiring God. Ele não existiria sem o time de especialistas em computadores no Desiring God, bem como os especialistas em marketing. Creio que a primeira lição, e talvez a primeira pérola de sabedoria que qualquer pessoa produtiva deve aprender, é que ninguém é uma ilha.

Somos parte de um corpo, e “não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti” (1 Coríntios 12.21). E se eu puder ir além, ouço o apóstolo Paulo falando em meus ouvidos: “Piper, o que você tem que não lhe foi dado? E, se foi dado a você, por que você se gloria como se não fosse um dom?” (veja 1 Coríntios 4.7). Então eu escuto ele dizer: “Trabalhei mais que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Coríntios 15.10). Paulo não quer receber crédito algum pela produtividade dele como apóstolo.

E, no mesmo caminho, percebo que tenho uma esposa que me apoiou de forma espetacular durante 52 anos, e jamais reclamou. Eu paro aqui, Tony, e penso: “Você não está exagerando, Piper?”. Minha memória é fraca, então todos devem me dar um desconto. Mas, pelo que me lembro, Nöel Piper jamais me criticou, seja gentil ou furiosamente, por estudar, escrever e falar da maneira que o faço. Então eu não consigo imaginar o que minha vida seria sem ela.

Mas recentemente eu estive pensando, olhando para trás e contemplando esses 50, 60 anos que passaram. Eu me pergunto: como isso aconteceu? Como esses livros, sermões, aulas e episódios de John Piper Responde se tornaram reais? Tenho alguns pensamentos que podem encorajar outros que estão no caminho para o céu junto comigo, e que querem dar fruto e ser produtivos enquanto caminham, sem desperdiçar a vida. Então aqui estão algumas considerações.

1. Saiba por que você está aqui

Tenha uma visão clara com relação a por que tudo existe, incluindo você. Poucas coisas me foram tão úteis quanto o que Jonathan Edwards chama de “o fim para o qual Deus criou o mundo”, incluindo o fim para o qual Deus me criou. Eu costumava carregar na carteira um pedaço de papel que dizia: “Você existe para espalhar uma paixão pela supremacia de Deus em todas as coisas, para a alegria de todos os povos”. Nunca, nunca, jamais esqueci disso. Carregue consigo na carteira, ou na sua consciência, em todas as horas. Saiba por que você está nesse planeta. Essa é a primeira coisa.

2. Abrace seu papel como subcriador

Para mim, é muito animador perceber que, como ser humano, meu destino é ser um criador. Eu tive essa percepção na faculdade, quando li “A mente do criador”, de Dorothy Sayers. Deus é o grande Criador Supremo, e ele criou os seres humanos à sua imagem, como criadores secundários. “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gênesis 2.15). Veremos como cultivar e guardar em um minuto.

“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras” (Efésios 2.10). Boas obras, boas realizações. E não falo somente de artistas e escritores; estou falando de todo ser humano. A palavra grega poieō significa “fazer” ou “criar”. Por quê? Isso não se aplica apenas ao grego. Em várias línguas, “fazer” também significa “criar”. Por que é assim? Eu creio que é porque todo “fazer” cria algo diferente do que era antes.

Então, todos somos criadores, realizadores em alguma medida. Cada ação, cada vez que fazemos algo, tornamos uma coisa em outra coisa nova, alguma situação em algo diferente do que era antes: um campo de pedregulhos em um jardim, um pedaço de madeira em uma lança, um terreno em uma casa, um animal em uma refeição; farinha e açúcar em uma torta, sons em melodias, fogo em lâmpadas, aquecedores e até combustível para trens; onze homens em um time de futebol, e assim vai. Todos somos criadores.

Essa verdade tomou conta de mim de tal forma que encontro muito prazer em criar coisas — no meu caso, principalmente com palavras: sermões, artigos, livros, poemas e episódios do John Piper Responde. E se você perguntar à minha esposa, ela diria: “Não apenas com palavras, mas quartos bagunçados”. Eu tenho pouca tolerância com o caos. De verdade, eu não gosto do caos. Onde eu encontro caos, tento resolvê-lo. Se encontro caos no pensamento, ou em uma sala, ou no modo como a grama cresce ou como as sementes se espalham, eu tento resolver logo. Não gosto de deixar o mundo como está. Ele deveria ser um lugar melhor: mais bonito, mais organizado e muito mais frutífero.

Então, eu amo compor coisas — coisas que tenham começo, meio e fim; coisas com coerência e beleza. Desde cedo eu amo ser um criador. Creio que seja da essência do ser humano.

3. Descubra a diferença entre preguiça e descanso

Precisamos descobrir e abraçar com zelo a diferença entre preguiça e descanso, entre apatia e repouso. Sete anos atrás, escrevi um poema chamado “O conflito do Peregrino com Preguiça”. Desde que deixei de ser pastor em tempo integral e passei a trabalhar apenas no Desiring God, Preguiça, personificada, tenta me seduzir distorcendo as palavras de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). Permita-me ler um trecho do poema, da minha resposta a Preguiça, pois é muito importante que as pessoas saibam a diferença entre preguiça e descanso. Eis o que eu disse:

Como vive o meu Deus, eu te direi, Preguiça:
Ele concede descanso sob um fardo;
Comprado com sangue, seu doce legado
Às costas dos santos cansados foi atado.

Eis a bênção de nosso plantio:
Jesus do pesado fardo concede alívio.
Toma nas mãos a carga que nos reduz,
E assim nos levanta e nos conduz.

Tudo o que fazemos é dom,
E Jesus é quem o faz bom.
A graça nos compra e fortalece,
De modo que toda obra permanece.

Preguiça, nós fomos criados
E à imagem do Criador renovados,
Deste mundo cocriadores
E um dia do céu contempladores;

Para tornar este mundo mais belo,
Para fazer do conhecimento um castelo;
Para criar, moldar e adornar
Para compor, produzir e transformar;

Para fazer do espinho um instrumento,
Para escrever o que antes era sentimento;
Para cantar, pintar e construir a realidade,
Para costurar e tecer o mundo com a verdade.

Para isto Deus falou e Jesus morreu,
Este é o fardo que ele nos deu,
O leve fardo pelo qual se deve trabalhar;
Preguiça, fomos criados para criar.

Tony, eu sei, e todos os ouvintes sabem, que há um lugar — um lugar muito importante — para o descanso e para o repouso. O princípio do Sábado permanece. Devemos conhecer a diferença entre preguiça e descanso, entre apatia e repouso.

4. Faça as pazes com a imperfeição

Se devemos fazer nosso trabalho com fé e abundância, tendo em mente 1 Coríntios 15.58: “sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão”, então não podemos ser paralisados pela ideia de perfeição e infinitude. Eu achei um artigo nos meus arquivos. Ele é de 1970. Eu li novamente. O historiador Arnold Toynbee disse: “Toda obra humana é imperfeita, porque a natureza humana o é; e essa imperfeição intrínseca não pode ser vencida pela procrastinação”.

Isso é incrível. Essa percepção é incrivelmente frutífera. Muitas pessoas não são produtivas porque olham para a imperfeição (que é inevitável) e dizem: “Acho que vou esperar mais um dia”, como se esperar mais um dia vai acabar com todas as imperfeições. Essa é uma percepção incrível e frutífera.

Então ele disse algo muito prático. Ele disse: “Sem perceber, eu me comparei com o infinito. Para me livrar dele, desenvolvi um jeito de banir o infinito, em vez de prosseguir adquirindo conhecimento ad infinitum“. Meu Deus, e a tentação na preparação de cada episódio de John Piper Responde? Cada pergunta merece um livro inteiro como resposta. Cada pergunta poderia demandar vários dias de pesquisa. O que posso fazer? Ele continua: “Comecei a fazer algo com o conhecimento que eu já possuía, e esse uso ativo do conhecimento deu direção ao futuro da minha aquisição de conhecimento”.

Creio que uma das razões principais por que sou tão produtivo é que décadas atrás eu fiz as pazes com a imperfeição e com a infinitude. Tony, eu não me iludo achando que tenho a última palavra em tudo. Minha tarefa, enquanto eu viver, é falar a verdade conforme vejo na palavra de Deus da melhor forma que puder e deixar Deus fazer o que ele desejar com essa imperfeição.

5. Aja imediatamente

Ouvi isto de Arnold Toynbee, Martyn Lloyd-Jones, Jonathan Edwards, entre outros. Aja imediatamente, assim que sentir que sua mente está pronta para agir. Em outras palavras, ótimas ideias e pensamentos que podem chegar longe vêm a nós à noite, quando estamos lendo, meditando, orando, caminhando ou brincando, e se você não capturá-los de algum modo por meio da escrita, você os perderá. Então, como o Toynbee diz, encontre uma forma de “agir imediatamente enquanto sua mente está fértil”.

6. Um pouquinho todo dia

Tenho mais dois princípios antes de encerrar, e eles se relacionam com o John Piper Responde e o fato de celebrarmos tantos episódios. Um dia pensamos que 400 seria uma grande marca, e chegamos a mais de 1500. Precisamos nos convencer de que algumas centenas de golpes pequenos e constantes com um machado afiado com certeza derrubarão uma árvore enorme.

Noite passada eu disse à minha esposa: “Você sabia que chegamos a mais de 1500 episódios de John Piper Responde?”. Ela sorriu e respondeu: “É como ler 15 minutos por dia”. Ela lembrou o fato de que, durante muito tempo da minha vida, eu fui um leitor vagaroso, mas decidi ler um romance enorme com apenas 15 minutos por dia. Eu ainda faço coisas assim. Um pequeno golpe diário e a árvore será derrubada. Pegue um bom machado, dê golpes constantes e você fará um enorme progresso.

Se você quiser ver uma árvore ser derrubada a cada vez que você pega o machado, você passará a vida em pequenos projetos. Existem grandes árvores que podem se transformar em belas casas, mas que só podem ser derrubadas após milhares de golpes pequenos, porém fiéis.

Em 1970, quando eu tinha 23 anos e estava no seminário, Geoffrey Bromiley era meu professor de história da igreja. Ele traduziu, a partir do alemão, todos os dez enormes volumes do Dicionário Teológico do Novo Testamento, algo muito complexo, dez volumes cheios de grego, hebraico, francês e alemão. E olha que ele é um professor de história da igreja! Eu perguntei a ele: “Você escreveria um artigo para o jornal do seminário sobre como você trabalha?”. Ele escreveu o seguinte: “Pode ser interessante notar que duas horas e meia por dia resultavam em duas páginas e meia do Dicionário, ou seja, 12 páginas e meia por semana, 560 páginas por ano — uma média consistente que permitiu uma publicação relativamente rápida”. Relativamente rápida significa talvez um volume a cada dois anos, levando cerca de 20 anos para o projeto inteiro. Que lição para um jovem de 23 anos! Apenas continue golpeando cada tarefa valiosa que você possui.

7. Anime-se com o que vem a seguir

Por fim, creio que devemos dizer a todos que tenham como lema o princípio do apóstolo Paulo: esquecendo o que para trás fica, prossigamos para o alvo (Filipenses 3.13-14). Ou seja, nunca chegue a um ponto na vida em que você esteja mais contente com o que já fez do que animado com o que ainda deve ser feito. A cada fase, 24, 44, 64, 74 ou 84 anos, ore de todo o coração: “Ó Deus, faça a próxima fase da minha vida a mais produtiva de todas, para a supremacia de Deus em todas as coisas e para a alegria de todos os povos”.

Tony, tantos episódios têm sido uma ótima jornada. Mas agora começamos uma jornada de ainda mais episódios. “Se o Senhor quiser, não só viveremos como faremos isto ou aquilo” (Tiago 4.15).

Amém. Sei que falo por muita gente quando digo obrigado, pastor John, por investir sua vida, pensamentos e centenas de horas que estão representadas nesses 1500 episódios. E se nos basearmos em quantas questões chegam todos os dias, teremos muito o que falar até o episódio 3 mil.

Não duvido que teremos questões suficientes, mas talvez não estejamos mais aqui cedo ou tarde. Mas o Senhor é quem governa essa questão.

Com certeza. Obrigado, pastor John!

Por: John Piper. © Desiring God Foundation. Website: desiringGod.org. Traduzido com permissão. Fonte: Seven Lessons for Productivity

Original: Sete lições para ser produtivo © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Tradução: Renan A. Monteiro. Revisão: Filipe Castelo Branco. Ministério Fiel. Narração: Filipe Castelo Branco e Thiago Guerra.